December 13, 2024

Como o Público escreve as notícias

 


Só nesta quinta-feira
, 12 de Dezembro, Israel matou pelo menos 71 palestinianos na Faixa de Gaza, incluindo 13 pessoas que, segundo as autoridades de saúde locais, estavam a assegurar a protecção de uma caravana de ajuda humanitária.

Já na versão das Forças de Defesa de Israel (IDF), foram lançados dois ataques por via aérea para garantir a entrega de ajuda humanitária em segurança, uma vez que o Hamas estaria, alegadamente, a tentar desviá-la para "apoiar a continuação de actividades terroristas".

Carolina Amado in Israel mata pelo menos 71 pessoas num dia e atinge ajuda humanitária em Gaza - 
Público

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Só nesta quinta-feira, é uma maneira de passar a ideia que a finalidade de Israel é matar palestinianos e não defender-se de um ataque bárbaro e de uma guerra iniciada por uma liga de terroristas árabes de vários países liderada pelo grupo terrorista do Hamas. 

As autoridades locais são o Hamas, um grupo terrorista que tem, não só reféns israelitas mas os próprios palestinianos cativos, escudos e reféns do seu terrorismo. Porém, são citados como fonte fidedigna. No parágrafo a seguir, a autoridade israelita, é apresentada como uma versão dos factos e as suas afirmações como meras alegações. Aliás, o título da notícia chama logo a atenção para Israel e dá a entender que os ataques de Israel são para matar ajuda humanitária. 

Isto, apesar de ser notícia em todo o mundo -excepto aqui em Portugal que está amordaçado de dizer os estragos que Guterres tem feito na ONU e no mundo- que os palestinianos têm desviado a ajuda humanitária e têm morto os condutores dos camiões (há muitos vídeos na internet onde isso se pode ver), a ONU tem pedido a Israel e não à autoridade palestiniana (terroristas do Hamas) para proteger os camiões da ajuda humanitária (o que mostra que sabe que quem os desvia são os terroristas palestinianos), Israel tem avisado a ONU, previamente, dos ataques que vai fazer e onde e tem pedido para que tirem de lá os da ajuda humanitária e estes têm recusado, calculo que para depois poderem dizer que algum deles foi atingido e que Israel é o demónio, etc.

Isto é o jornalismo que temos. Carolina Amado, um nome a guardar para ter cuidado com as suas «informações».

Insomnia

 

How many thousand of my poorest subjects
Are at this hour asleep! O sleep, O gentle sleep,
Nature's soft nurse, how have I frighted thee,
That thou no more wilt weigh my eyelids down
And steep my senses in forgetfulness? . . . . .

      Shakespeare - Henry IV, Part II,




December 12, 2024

Nocturna - What's Done In The Dark (Will One Day Come To Light)

 








Citação do dia

 



“A vitória da Ucrânia só é 'irrealista' se deixarmos Putin definir a realidade. Devemos deixar de fazê-lo”. 

         - Ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis.

@Erin_Molan foi sumariamente despedida da Sky News Australia por ter um cérebro funcional

 


O Irão não é um país muçulmano

 

Imigração - um discurso realista



Imigração, segurança social e miopia temporal

José António C. Moreira

Não está em causa a real importância dos imigrantes para o país. Está em causa, sim, a necessidade de definir uma política de imigração que regule o fluxo de entrada de acordo com a capacidade do país para os acolher e integrar

Seja mera perceção dos cidadãos, seja um facto real, a imigração em modo “porta aberta” tornou-se um problema.

Para quem considera que a imigração nos moldes atuais não é um problema, olhe à volta e veja o modo como os imigrantes são (mal)tratados, a começar pelo Estado, incapaz de os regularizar, integrar e proteger; passando pela burocracia que impede que muitos deles vejam reconhecidas as respetivas habilitações académicas, ficando impossibilitados de serem melhor aproveitados e remunerados; a terminar na exploração de que muitos são objeto às mãos de “empresários” nada escrupulosos e de máfias que os introduzem no país. É uma vergonha nacional o tratamento que lhes é propiciado, indigno do que se esperaria de um país do primeiro mundo.

Não está em causa a real importância dos imigrantes para o país. Está em causa, sim, a necessidade de definir uma política de imigração que regule o fluxo de entrada de acordo com a capacidade do país para os acolher e integrar.

Trata-se de um problema onde a ideologia está presente, o que poderá explicar, no todo ou em parte, que sucessivos governos não tenham tido coragem de lançar uma discussão aberta e estruturada do mesmo.

Porém, informalmente, essa discussão tem vindo a ter lugar, de um modo desordenado, servindo apenas para confundir e extremar posições. A título ilustrativo, refira-se o destaque noticioso que as contribuições dos imigrantes para a Segurança Social (SS) têm merecido, aquando da disponibilização das estatísticas periódicas sobre as receitas deste organismo. No que respeita aos jornais, títulos como “Imigrantes deram mais de 1600 milhões de lucro à Segurança Social” e “Segurança Social lucrou 5,2 mil milhões com imigrantes” são, com ligeiras variações, exemplos recorrentes, ao longo dos últimos anos. A mensagem, subliminar, é que uma política de imigração de “porta aberta” não é perniciosa, pois tem a vantagem de encher os cofres da SS. No entanto, são os mesmos meios de comunicação social que se insurgem (e bem) com a falta de integração dos imigrantes, com a exploração de que são vítimas, com as condições degradantes em que muitos vivem nas grandes cidades, seja acampados nos jardins públicos, seja amontoados em espaços habitacionais sem um mínimo de condições.

Mas volte-se ao respetivo contributo para a SS. Muito embora já se tenha ouvido governantes utilizarem-no para defender a imigração, trata-se de um pseudo argumento, que reflete a miopia temporal de quem o utiliza. Mesmo que inconscientemente, o sujeito que o esgrime está a pressupor que a SS não passa de um esquema piramidal, que um dia vai colapsar e deixar de pagar aos contribuintes que entraram por último no sistema, no caso os imigrantes. Não sendo esse o entendimento que se pretende veicular sobre a natureza da SS, o referido argumento cai por terra pois aquilo que os imigrantes descontam hoje ir-lhes-á ser devolvido no futuro, capitalizado, através da atribuição de uma pensão de reforma. Justificar a imigração com as contribuições para a SS não é, pois, argumento sério, muito menos convincente, até porque instila a ideia de que não há fortes e verdadeiras razões para se defender o acolhimento de imigrantes.

Não é necessário fazer grande pesquisa para as encontrar. Basta cada um contar, no seu dia a dia, as vezes em que utiliza serviços que são prestados por imigrantes, serviços que não encontram nacionais que os queiram prestar. Ou seja, uma parte do conforto de que cada cidadão usufrui no presente é devido à existência de imigrantes.

Eles têm um inegável contributo positivo para a nossa vida comum, não diretamente por causa do que descontam para a SS, mas pelo que contribuem para o funcionamento e crescimento do país. Porém, para que possam ser integrados na sociedade, para que possam ser tratados condignamente, como nacionais, é necessário que exista uma verdadeira política de imigração que se afaste dos extremos e reflita a posição da maioria dos cidadãos. Uma política que proporcione uma “porta entreaberta”.

Expresso

Perguntas milenares - A matemática é uma ideia nossa ou da própria realidade?





 A irmandade secreta que moldou a matemática

Na Grécia Antiga, um grupo misterioso chamado os mathematikoi revolucionou a forma como entendemos os números. Fundado por Pitágoras por volta de 530 a.C., não se tratava apenas de uma reunião de matemáticos - era uma irmandade secreta que acreditava que os números eram a chave para desvendar os mistérios mais profundos do universo.

Os mathematikoi viviam em comunidade, seguindo regras estritas e partilhando as suas descobertas matemáticas apenas com os membros iniciados. Viam padrões sagrados em todo o lado: na música, na natureza, na poesia e nas estrelas. Para eles, a matemática não era apenas uma ferramenta de cálculo - era a linguagem da própria realidade.

Mas a sua devoção aos números puros e racionais enfrentou uma crise quando descobriram algo que abalou as suas crenças até ao âmago: os números irracionais. Diz a lenda que, quando Hippasus provou que a raiz quadrada de 2 não podia ser expressa como uma simples fração, causou uma tal perturbação na irmandade que teve um fim trágico.

Embora não possamos verificar os pormenores do destino de Hippasus, sabemos que a descoberta dos números irracionais desafiou profundamente a visão do mundo dos mathematikoi. Eles acreditavam que tudo na natureza podia ser expresso através de razões simples de números inteiros. Esta descoberta provou que estavam errados.

A influência dos mathematikoi estende-se muito para além da Grécia antiga. O seu trabalho lançou as bases da geometria, da teoria musical e da matemática moderna. Ainda hoje, a sua tentativa de encontrar padrões matemáticos na natureza continua a inspirar cientistas e matemáticos de todo o mundo

Sick History 

December 11, 2024

Madame Gisèle Pelicot - pessoa do ano






Quando perguntam a Gisèle Pelicot porque continua com o nome do marido:

GP: “...Mas eu tenho netos que se chamam Pelicot. Quero que eles não tenham vergonha de ter esse nome, que tenham orgulho na avó. Quero que as pessoas se lembrem da Madame Pelicot e não do Monsieur Pelicot”.

(nos últimos dias de depoimentos, os filhos de GP -dois homens e uma mulher- falaram em tribunal. O mais velho dos filhos instou o pai a dizer o que fez à irmã mais nova, já que esta aparece nos ficheiros de fotografias do pai, nua em cima da cama. Há a suspeita de que ele terá feito à filha o que fez à mãe. Isto revela um nível de conluio entre dezenas de homens, verdadeiros talibãs camuflados das sociedades ocidentais)


Concluir antes de sequer analisar

 


Este é um artigo enorme que compara a realidade portuguesa com a de outros países onde os adultos, em vez de declinarem nas competências de compreensão de linguagem e de cálculo, progridem. Fala de imensas variáveis e, sem ter sequer analisado metade das variáveis a que alude, conclui logo que os alunos precisam de mais contacto com dispositivos digitais sobretudo de competências numéricas.

Uma coisa interessante de notar é que os países onde os alunos não começam o seu declínio precocemente, não têm o ensino obrigatório até aos 18 anos como nós, mas até aos 16. 

Outra coisa interessante foi que, países que notaram uma decadência nos desempenhos e que nos últimos anos voltaram a melhorar, tiraram os dispositivos digitais da educação escolar (manuais digitais, tablets em vez de cadernos, etc.) e só permitem o seu uso em situações muito controladas e orientadas pelo professor.

Hoje ouvi uma conversa na sala de profs entre dois colegas que falavam dos resultados de uma turma do 8º ano. O professor de português dizia que a maioria dos alunos se queixa por ter que estudar 4 verbos. Dá muito trabalho. A professora de matemática dizia que uma grande porção das más notas que tem nos testes deve-se a que os alunos não compreendem o que lêem no enunciado e portanto não percebem o que têm de fazer. É a mesma linguagem que a professora usa nas aulas, mas como eles ouvem as palavras e aquele tipo de construção frásica, apenas nas aulas, não retêm nada. Não há nenhum reforço extra aulas porque a vidas deles é a internet medíocre das redes sociais. O professor de matemática de uma turma do secundário, que é supostamente uma das melhores, dizia que tinha feito uma boa porção dos exercícios do teste com exercícios do manual escolar que usaram nas aulas e mesmo assim falharam quase todos. 

Temos uma cultura de muitos anos de desleixo no trabalho: os alunos sabem que não têm de estudar e nem sequer têm de ir às aulas para passar de ano. São educados pela internet, pelas redes sociais, de maneira que têm uma linguagem conceptual muito pobre, sem elementos lógicos de ligação dos termos, com frases simples, quase sempre com os verbos no indicativo, no futuro simples ou no passado simples e tudo o que sai fora desse esquema não compreendem. Chegam ao secundário a turmas científicas sem nunca terem conseguido uma positiva a matemática e tendo tido 10% no exame de matemática do 9º e chegam às turmas de humanidades sem nunca terem lido um livro na sua vida. Até mesmo os livros obrigatórios dos currículos são substituídos por resumos da internet - obrigada João Costa por esta mediocridade. (leio por aí que isto já chegou às universidades e que a maioria dos alunos universitários também fazem o curso sem nunca lerem um livro) Porque é que o número de alunos interessados em cursos de ciências está a declinar? Porque obriga a estudar qualquer coisinha e não estão para ter nenhum tipo de trabalho.

Como é que se pensa ser possível, continuando nesta senda (e agora com professores que sairam antes de ontem do secundário ou estão a estudar biologia e vão ensinar português) melhorar as suas competências?

Penso que já disse aqui que um colega novo que anda a fazer formação para se profissionalizar como professor me disse há dois anos que a formadora só fala das emoções, da meditação e das questões de género... as pessoas que estão à frente das instituições vivem numa realidade alternativa e acreditam em magias, como aquela situação do Rui Tavares defender que os alunos à saída do secundário, fossem passear um ano à universidade para 'absorverem' conhecimentos e cultura... absorver...  tipo... não sei, pensos higiénicos...? É abaixo da crítica séria.

Hoje um colega disse-me que a proposta do ME para orientadores de professores novos, nas escolas, não só não contempla nenhuma redução do horário lectivo como propõe pagar ao orientador 28 euros por mês por cada formando que orienta...???   O que pensarão ser um trabalho de orientar professores novos? Dizer olá nos intervalos e falar com ele uma vez por mês numa horinha? Não percebo se isto é a gozar... mas olha, boa sorte com isso de arranjarem professores experientes (ou não experientes) nas escolas que queiram orientar colegas novos.

Portanto, penso que já o disse aqui, estamos nesta senda de destruir os alunos (vai para 10 anos) e a carreira de professor (vai para 20 anos) e cada governo que entra faz mais do mesmo, de maneira que não acredito que isto tenha volta atrás nos próximos 30 ou 50 anos. Passou-se um rubicão e estamos a caminhar para uma escola de elites e de pobrezinhos, à maneira americana. Não é possível sermos uma democracia plena, nem pouco mais ou menos, nestas condições.


Declínio das competências dos adultos portugueses começa logo aos 25 anos


Cerca de 40% da população adulta tem dificuldades em ler e escrever, utilizar números e resolver problemas, o que pode ser explicado por um “histórico atraso” nas qualificações dos portugueses.

Público


Síria: Vingança popular em vez de justiça

 


Este vídeo mal titulado -Hama é uma região da Síria e não tem nada a ver com o grupo islamita terrorista Hamas- é horrível de ver. É sobre Talal Dakkak, uma figura sombriamente famosa -que não conhecia- enquanto torturador, carrasco e assassino de sírios prisioneiros. Diz-se que dava prisioneiros a comer aos leões que criava. Num destes vídeos vê-se ele a assistir a um dos seus leões matar um cavalo que aprisionou para ser estripado pelo leão. Horrível.

A questão é que o indivíduo foi arrastado e executado -linchado- na praça pública. Isto tem estado a acontecer na Síria com os carrascos da famosa prisão que aparece nas notícias. 

Os sírios não aprenderam nada com as atrocidades de Assad e preparam-se para uma matança vingativa num reverso da medalha. Que Estado pode sair daqui?

O novo primeiro ministro nomeado provisoriamente, um jihadista, está a fazer uma operação de charme igualzinha à dos talibãs quando tomaram o poder deixado vazio pela saída completamente irresponsável dos EUA do Afeganistão. Mudou de nome e fala em pluralismo e liberdade: 

“Precisamente por sermos islâmicos, garantiremos os direitos de todas as pessoas e de todas as seitas na Síria”, disse Mohammad al-Bashi

Já se declaram-se como um Estado islâmico. A minha questão é: mostrem-me um único Estado islâmico, um só, onde os direitos das pessoas foram respeitados, onde as mulheres são cidadãs de pleno direito, onde haja pluralismo político e, em geral, se vive melhor, com liberdade de opinião, de construir num projecto de vida, de ter um religião diferente da oficial ou, nenhuma religião.


Com estas credenciais vai ser convidada para muitos almoços de trabalho

 

A nova embaixadora dos EUA para a Grécia.

Kimberly G., namorada de um dos Trumps jrs


Se a ONU actual comentasse este vídeo o que diria?

 


Que o arguido ter atacado a juíza não aconteceu num vácuo pois, afinal, ele vem de uma comunidade negra que há duzentos anos ainda era escravizada por brancos e a juíza é branca. 


Leituras pela madrugada - Information Overload is Killing Us

 


“We are drowning in information, while starving for wisdom.” — E.O. Wilson


(os destaques a negrito são meus)


Todos os pequenos dados

Falar a língua dos robots.

Nicholas Carr

Numa terça-feira recente, às duas e trinta e sete da tarde, recebi um e-mail da UPS informando-me de que uma encomenda tinha sido entregue em minha casa. Em anexo, como prova, estava uma fotografia desfocada de uma pequena caixa de cartão, ligeiramente amolgada, mas sem qualquer descrição, que tinha sido colocada na minha entrada, junto à porta da garagem. Um minuto depois, às duas e trinta e oito, recebi um segundo e-mail a anunciar a chegada da encomenda, este do vendedor online que tinha enviado a caixa e me tinha vendido a camisa. A empresa felicitava-me pela compra, elogiava o meu bom gosto em roupa masculina e dava-me algumas sugestões de outros artigos de vestuário que eu poderia estar interessado em comprar.

As duas mensagens de correio eletrónico encerraram uma série de mensagens. Tudo começou cinco dias antes, quando, ao clicar no botão «Encomendar a camisa», uma aplicação bancária no meu telemóvel me notificou de que estavam a ser cobrados 79,95 dólares no meu cartão de crédito. (Era uma camisa bonita.) Segundos depois, recebi um e-mail e uma mensagem de texto do vendedor, confirmando a compra e informando-me de que receberia mais comunicações quando a camisa fosse enviada. E foi o que aconteceu, no dia seguinte, quando tanto o vendedor como a UPS me enviaram por correio eletrónico uma confirmação de envio com uma hiperligação de seguimento. (Quando cliquei no link, fiquei a saber que a encomenda tinha sido recolhida e tinha chegado a uma instalação da UPS em Tacoma, Washington). Também recebi mensagens de correio eletrónico das duas empresas, bem como outra mensagem de texto do vendedor, no dia anterior à entrega, informando-me de que a camisa chegaria no dia seguinte - “Prepara-te!”, dizia o retalhista - e ainda outra mensagem de correio eletrónico da UPS, na terça-feira de manhã, confirmando que a camisa tinha sido carregada num camião num armazém local e estava oficialmente “pronta para entrega”. Houve ainda uma última mensagem: No dia seguinte à chegada da camisola, o vendedor enviou um e-mail a manifestar a esperança de que eu gostasse da peça e a sugerir que eu publicasse uma crítica no seu sítio Web.

Atualmente, estou na posse de muita informação. Estou no circuito. Estou em muitos ciclos, todos a girar em simultâneo. Não são apenas as minúcias do comércio - encomendas, envios, entregas - que estão ricamente documentadas. Quando estou a conduzir, o painel de instrumentos do meu carro, ligado ao meu iPhone através do CarPlay, mostra-me exatamente onde estou, indica-me o limite de velocidade e as condições de trânsito actuais e permite-me saber a distância que tenho de percorrer até chegar ao meu destino e a hora prevista de chegada. (Há também uma leitura disponível sobre a cidade que estou a visitar: população, altitude, área, coordenadas GPS). 

A aplicação meteorológica do meu telemóvel dá-me um relatório meteorológico personalizado de uma minúcia notável. Neste preciso momento, a aplicação diz-me que estão oitenta e quatro graus e está nublado lá fora. Uma chuva fraca começará dentro de dezassete minutos e terminará quarenta e oito minutos depois disso, altura em que ficará parcialmente nublado. O vento sopra de oeste-sudoeste a seis milhas por hora, a humidade relativa é de 58% e a pressão barométrica é de 30,18 inHg. O índice UV é seis, que é Alto, e o índice de qualidade do ar é cinquenta e um, que é Moderado. O sol vai pôr-se esta noite, às 20:11, e dentro de quatro dias a lua estará cheia. 

Hoje dei 4.325 passos. O filtro de água do meu frigorífico tem apenas 10 por cento da sua vida útil. A minha notação de crédito desceu oito pontos. Tenho 4.307 e-mails não lidos, mais dois do que tinha há cinco minutos.

Até o meu consumo de bens culturais - uma frase feia, sim, mas adequada - é ensombrado por metadados. Quando a interface gráfica do utilizador foi introduzida nos computadores pessoais no início dos anos 80, a barra de deslocamento habituou-nos a um indicador visual do nosso progresso num documento. Atualmente, praticamente todas as visualizações, audições e leituras são acompanhadas, visual ou numericamente, em tempo real. Quando estou a ouvir uma música, um olhar para a barra de progresso diz-me, ao segundo, quanto tempo passou desde que a música começou e quanto falta para terminar. O mesmo acontece com programas de televisão, filmes e vídeos. Quando estou a ler um livro eletrónico, sou informado sobre a percentagem de texto que já consegui percorrer. Quando estou a ver a página inicial de um site de um jornal ou revista, dizem-me quanto tempo demora a ler cada artigo. Aqui está uma “leitura de 3 minutos”. Ali está uma “leitura de 7 minutos”. (Este ensaio, para que conste, é uma leitura de treze minutos, e faltam nove minutos). Cada fotografia no meu telemóvel oferece o seu próprio pequeno depósito de dados: onde e quando foi tirada, as definições de abertura e ISO, o tempo de exposição, o tamanho da imagem em pixels e bits. As minhas fotografias tendem a ser amadoras, mas os dados parecem sempre profissionais.

Hoje em dia, fala-se muito de Big Data, esses amontoados de informação digitalizada que, alimentando os motores de pesquisa e de recomendação, os feeds das redes sociais e, agora, os modelos de inteligência artificial, governam grande parte das nossas vidas. Mas não damos muita atenção ao que se pode chamar de pequenos dados - todos aqueles pedaços de informação fugazes e discretos que nos rodeiam como mosquitos numa noite húmida de verão. Medições e leituras. Previsões e estimativas. Factos e estatísticas. 

No entanto, são os pequenos dados, pelo menos tanto quanto os grandes, que moldam a nossa perceção de nós próprios e do mundo à nossa volta, à medida que clicamos e percorremos os nossos dias. As nossas aplicações recrutaram-nos a todos para a fraternidade arcana do gestor de logística e do engenheiro de controlo de processos, do meteorologista e do técnico de laboratório, e o que estamos a monitorizar e a medir, com um detalhe tão requintado, é a nossa própria existência. 

“O software está a comer o mundo”, declarou o capitalista de risco Marc Andreessen num famoso artigo de opinião do Wall Street Journal há uma década. Também nos está a comer a nós.

Em Minima Moralia, o seu livro de 1951 de reflexões aforísticas, o filósofo alemão Theodor Adorno fez uma observação incisiva sobre a relação íntima que via desenvolver-se entre a humanidade e a sua tecnologia cada vez mais elaborada e abrangente. As pessoas estavam cada vez mais sintonizadas e protectoras do “funcionamento do aparelho, no qual não só estão objetivamente incorporadas, mas com o qual se identificam orgulhosamente”. 

Adorno não estava apenas a repetir o tropo sobre os trabalhadores se tornarem engrenagens da máquina industrial, tão memoravelmente expresso quinze anos antes por Charlie Chaplin em Tempos Modernos. O seu ponto de vista era mais subtil. As máquinas não são os nossos patrões. Nem sequer estão separadas de nós. Como seus criadores, nós imbuímo-las com a nossa própria vontade e desejo. São nossos familiares, e nós somos os deles. À medida que estreitamos os laços, as nossas intenções fundem-se. Vibramos ao mesmo ritmo, adoptamos a mesma postura perante o mundo.

Os aparelhos mecânicos do tempo de Adorno, desde as máquinas-ferramentas nas fábricas até aos aspiradores em casa, enfatizavam o ethos industrial da rotinização, normalização e repetição. Orientavam as pessoas para a produção eficiente de resultados. Transformaram toda a gente num maquinista. Mas os aparelhos não eram uma presença constante na vida das pessoas. Os trabalhadores afastavam-se das suas máquinas no final dos seus turnos. Os aspiradores de pó voltavam para o armário quando os tapetes estavam limpos. 

A Internet é diferente. Graças à omnipresença do smartphone, está sempre presente. A rede é menos uma ferramenta do que uma habitação, menos um aparelho do que um ambiente. Não a usamos apenas para fazer coisas. Somos, como Adorno previu, incorporados nela como componentes. Somos nós, recebendo e transmitindo continuamente sinais. O ethos do sistema é o da documentação e da representação. Estamos todos conjuntamente empenhados na produção de um fac-símile do mundo - um “mundo-espelho”, para usar um termo do cientista informático David Gelernter, criado puramente de informação - e nesse fac-símile fixámos residência.

Limpo e arrumado, o mundo dos espelhos tem um valor prático. Faz com que a vida corra melhor. Se sei que vou ter de assinar uma encomenda, é útil saber quando é que ela vai chegar. Se estou numa auto-estrada e sou alertado para um acidente, posso sair antes de ficar preso num engarrafamento. Se sei que vai começar a chover dentro de dezassete minutos, posso adiar o passeio que ia dar. Mas a visão da realidade que os pequenos dados nos dão é estreita e distorcida. A imagem no espelho tem baixa resolução. Obscurece mais do que revela. Os dados só nos mostram o que pode ser explicitado. Tudo o que não pode ser reduzido aos zeros e uns que passam pelos computadores é eliminado. 

O que não vemos quando vemos o mundo como informação são qualidades do ser - ambiguidade, contingência, mistério, beleza - que exigem profundidade perceptiva e emocional e o envolvimento total dos sentidos e da imaginação. Não parece ser coincidência o facto de nos sentirmos pouco à vontade para discutir ou mesmo reconhecer essas qualidades hoje em dia. No seu carácter aberto, desafiam a 'dataficação'.

Ainda assim, as simplificações dos pequenos dados são tranquilizadoras. Ao reduzirem o mundo ao que é bem definido e mensurável, dão um sentido de ordem e previsibilidade às nossas vidas desarticuladas. As situações sociais costumavam ser delimitadas no espaço e no tempo. Estava-se num lugar, com um grupo de pessoas, e depois, algum tempo depois, estava-se noutro lugar, com outro grupo. Esta “segregação de situações” servia como “um amortecedor psico-social”, explicou o professor de comunicação Joshua Meyrowitz no seu livro de 1986, No Sense of Place
Ao expormo-nos seletivamente a acontecimentos e a outras pessoas, controlamos o fluxo das nossas acções e emoções.
As redes sociais eliminam as fronteiras espácio-temporais. Os contextos sociais misturam-se. Estamos em todo o lado, com toda a gente, ao mesmo tempo. Sem o amortecedor de choques, o sistema nervoso é afectado por uma série de eventos e conversas que se sobrepõem. Os registos de tempo, as barras de progresso, os mapeamentos de localização e outros indicadores informativos ajudam a moderar a ansiedade gerada pelo fluxo. Dão-nos a sensação de que ainda estamos situados no tempo e no espaço, que existimos num mundo sólido de coisas e não num mundo vaporoso de símbolos. A sensação pode ser uma ilusão - a informação oferece apenas uma representação estéril do real - mas não deixa de ser reconfortante. A minha camisa está em Tacoma, e tudo está bem no mundo.

O conforto é bem-vindo. É uma das razões pelas quais os dados exercem tanta atração sobre nós. Mas há uma razão maior. Os pequenos dados contam-nos pequenas histórias em que nós desempenhamos papéis de protagonistas. Quando sigo uma encomenda que atravessa o país de armazém em armazém, sei que sou o principal interveniente no processo - aquele que o pôs em marcha e aquele que, quando abro a caixa, o vai encerrar. Aquela pequena seta branca que viaja com tanta confiança pelo mapa no painel de instrumentos? Sou eu. Vou a algum lado. Vale a pena ver-me. Quando monitorizo o avanço da barra de progresso de uma canção, sei que posso parar a música em qualquer altura, por mero capricho meu. Eu sou o DJ. Sou o criador de gostos. Eu digo quando uma música termina e a próxima começa. Tão carinhosamente personalizados, tão indulgentes, os pequenos dados colocam-nos no centro das coisas. Dizem-nos que temos poder, que somos importantes.

E, no entanto, à medida que nos apoiamos nos dados para nos orientarmos e exercermos a nossa ação, perdemos a nossa definição enquanto indivíduos. O eu, sempre nebuloso, dissolve-se em abstração. Começamos a existir simbolicamente, um padrão de informação dentro de um padrão de informação mais vasto. Sentimos isto de forma mais aguda quando moldamos uma identidade para a adaptar aos parâmetros das redes sociais. Tudo o que fazemos em plataformas como o Facebook, o Instagram e o X é registado, e os dados resultantes são muitas vezes imediatamente visíveis para nós (e para os outros) sob a forma de contadores de gostos e visualizações, contagens de amigos e seguidores, pontuações de comentários e retweets e outras medidas quantitativas de atividade e afeto. Mesmo o número de segundos que decorre entre uma publicação e uma resposta torna-se carregado de significado. O estatuto social e o carácter pessoal assumem formas numéricas e, tal como outras medidas, exigem ser monitorizados, geridos e optimizados. Tal como os actuais pilotos de avião, rodeados por ecrãs de dados nos seus “cockpits de vidro”, pilotam os seus aviões mais pelo número do que pela visão e pelo tato, também nós parecemos destinados a navegar nas nossas vidas mais através de sinais registados do que através da experiência direta. Os acontecimentos só se tornam reais quando são apresentados após o facto como informação. Fotos ou não aconteceu, como diziam os Instagrammers.

Quando as relações sociais são conduzidas através de dados, assemelham-se a relações económicas. Tornam-se transaccionais. Antes de o meu motorista da Uber me ver como uma pessoa, vê-me como um conjunto de informações - uma localização num mapa, uma classificação numa escala de cinco pontos, um nome próprio - e eu vejo-o da mesma forma. A economia gig, tal como o sistema de redes sociais, é construída com poucos dados. Funciona transformando as pessoas e as suas actividades em abstracções, sinais digitais que podem ser processados por computadores. É lógico que, em cidades como São Francisco, Phoenix e Austin, os motoristas estejam agora a ser automatizados até deixarem de existir. Os algoritmos de condução autónoma podem efetuar as transacções necessárias com ainda mais precisão e eficiência. No entanto, para aperfeiçoar verdadeiramente o sistema, seria necessário transformar também os passageiros em autómatos. A viagem não teria lugar no asfalto, mas inteiramente no ecrã, um fluxo de dados através do mundo dos espelhos. Podemos não o querer admitir, mas quando comunicamos utilizando poucos dados, estamos a falar a linguagem dos robôs.

Em 2004, numa entrevista à revista Playboy, Sergey Brin, um dos fundadores da Google, disse algo que me marcou. “Toda a informação do mundo”, sugeriu ele, pode um dia tornar-se ‘apenas um dos nossos pensamentos’. Estava a especular sobre a possibilidade de a Google inventar uma espécie de implante eletrónico para ligar o sistema nervoso de um indivíduo à Internet. Na altura, a ideia pareceu-me rebuscada, e continua a parecer. Mas quando penso em como a minha mente funciona hoje em dia, apercebo-me que Brin pode ter sido mais presciente do que ele ou eu imaginámos. Não precisamos de dongles pendurados nos nossos crânios. O fluxo de pequenos dados já é um fluxo de consciência. Está a passar pelas nossas cabeças a toda a hora. Nos próximos anos, à medida que os sensores digitais proliferam, que cada vez mais objectos se transformam em interfaces de computador e que a IA se torna mais apta a ler os nossos interesses e intenções, o fluxo de dados sempre crescente pode tornar-se a nossa linha de pensamento dominante, o nosso aparelho polivalente para o trabalho de fazer sentido e de nos fazermos a nós próprios.

Há uns meses, no âmbito do meu exame físico anual, fizeram-me uma colheita de sangue para um painel de análises de rotina. No dia seguinte, mais tarde, o meu telemóvel vibrou para me informar que os resultados estavam disponíveis através da aplicação “portal do doente” do meu médico. Fiz o login (introduzindo um código de seis dígitos para me autenticar), cliquei no separador Resultados e fui recebido por uma longa lista de números. Devia haver duas dúzias deles, cada um medindo uma função metabólica importante, cada um ocupando um ponto dentro de um intervalo de pontos. O sangue, a mais vital e visceral das substâncias, tinha sido transformado numa série de dados num ecrã de computador. O sangue tinha ficado sem sangue. Talvez estivesse num estado de espírito mórbido - os testes médicos fazem-nos isso - mas enquanto percorria os números, não pude deixar de sentir que estava a olhar para uma metáfora de algo maior, algo central para a condição humana atual. O que é a dataficação senão um processo de transformação dos vivos em mortos?

Devolvi a camisola. Não me servia.

Dois minutos de Bach por dia nem sabe o bem que lhe fazia

 


December 10, 2024

It's Christmas time

 


... and that's not nothing. 


Rússia: Crimes de guerra

 


Tetiana Tanya Kotelnykova

@TKotelnykova

Imaginem isto: Uma criança na Ucrânia ocupada, forçada a sentar-se numa sala de aula e a aprender uma história reescrita, a jurar lealdade à Rússia e a odiar a sua terra natal. Os seus pais enfrentam ameaças de multas, prisão ou perda da custódia se resistirem.

Esta é a guerra do Kremlin contra a identidade - militarizar as crianças em idade escolar, coagir as famílias e desmantelar o espírito de uma nação.

No entanto, dezenas de milhares de crianças desafiam esta situação, estudando online com professores ucranianos, apesar dos imensos riscos.

A invasão russa não é apenas uma questão de território - é um ataque à alma da Ucrânia, a começar pela sua geração mais jovem. 


"Putin e Assad são os que merecem ser presos"





Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський

@ZelenskyyUa

O “corajoso” Assad fugiu para Putin. Para onde é que Putin vai fugir?

O Dia dos Direitos Humanos deste ano é marcado por imagens desoladoras de prisões sírias e câmaras de tortura, que foram abertas depois que Assad fugiu. Há muitos anos que as pessoas são aí humilhadas. Homens e mulheres. Foram espancados, torturados, violados. Milhares e milhares de pessoas passaram por esta fábrica de violência.

Durante décadas, o regime de Assad baseou-se exclusivamente na violência. E é assim que todos os regimes apoiados por Putin se parecem. Já vimos este tipo de prisões, câmaras de tortura, violência indescritível, humilhação, espancamento, tortura, violação e outros crimes no nosso território, em todos os locais ocupados por invasores russos.

A Rússia é um Estado-prisão e só consegue manter o controlo da terra roubada de outrem colocando aí as suas prisões e câmaras de tortura.

Desde o início da ocupação russa, os tanques têm sido seguidos de repressão e tortura. Vimo-lo pela primeira vez na nossa terra, na Crimeia, em 2014, quando a ocupação russa resultou na repressão da população indígena, da maior comunidade muçulmana da Ucrânia, os tártaros da Crimeia, bem como de jornalistas e figuras políticas. Depois, a Rússia continuou as suas horríveis violações dos direitos humanos no Donbas ocupado, incluindo a famosa prisão de Izolyatsia. 

Desde fevereiro de 2022, a Rússia alargou estas práticas ao resto dos territórios ocupados. As atrocidades aumentaram em termos de alcance e brutalidade. 

É por isso que nós, ucranianos, nos sentimos tão comovidos quando vemos sírios a sair das prisões e câmaras de tortura de Assad.

Assad e Putin são mais do que simples vassalos e senhores. São cúmplices da violência. Ditadores como Assad não podem sobreviver sem ditadores como Putin. E Putin vai tentar vingar-se da queda de Assad.

É por isso que precisamos de unidade e força para enfrentar regimes que apenas semeiam humilhação e não deixam nada para além de sofrimento, dor e ruínas no seu rasto. Ao ajudar a Ucrânia na sua luta contra a ditadura de Putin, a comunidade internacional está a ajudar muitas outras regiões a restaurar a segurança e a proteção contra a violência.

Tem de haver justiça para as atrocidades horríveis e as violações dos direitos humanos. De facto, Putin e Assad são os que merecem ser presos, não as pessoas inocentes que têm vindo a prender há anos.

No mundo dos Merkels, seja Callas!

 


(Muita gente que não vê nada vai parar a cargos onde é fundamental ter boa visão. Pagamos todos.)

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Callas impediu Merkel de convidar Putin para a cimeira da UE pouco antes da invasão em grande escala da Federação Russa, - Politico

Em 2021, antes do início da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, a nova chefe da diplomacia da UE, Kaya Callas, impediu a então chanceler da Alemanha, Angela Merkel, de convidar o ditador russo Vladimir Putin para a cimeira de líderes da União Europeia em Bruxelas.

A então primeira-ministra da Estónia, Callas, sublinhou que não se pode confiar em Putin e que este não pode ser apaziguado ou apaziguador.

Olena Wave


Poemas de Hannah Arendt

 

Hannah Arendt escreveu 74 poemas.

Setembro de 1947, seis anos após a chegada aos Estados Unidos e embora nessa altura já se tivesse estabelecido no Upper West Side de Nova Iorque, Arendt reflecte sobre o que deixou para trás na viagem da sua vida neste poema melancólico:
This was the farewell:
Many friends came with us
And whoever did not come was no longer a friend.

Esta foi a despedida:
Muitos amigos vieram connosco
E quem não veio deixou de ser amigo.

Desde a sua abertura melancólica até à sua conclusão confusa, o poema de Arendt reflecte a passagem emocional de muitos que deixam o seu país para se instalarem numa terra estrangeira. Começa como uma aubade, ou canção de despedida, e termina com o enigma da chegada:
This is the arrival:
Bread is no longer called Brot
and wine in a foreign language changes the conversation.

Esta é a chegada:
O pão já não se chama pão
e o vinho numa língua estrangeira muda a conversa.