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March 24, 2025

Os EUA começam a parecer muito a Rússia

 

Nos últimos dois meses, uma assessora de Biden na Casa Branca e uma advogada de Biden morreram, misteriosamente, com 28 e 43 anos de idade. A advogada investigava crimes russos e pôs alguns indivíduos na cadeia.

March 17, 2025

Que interessa o que a Rússia diz?

 


Anton Gerashchenko
@Gerashchenko_pt

Peskov disse que a Rússia é contra o envio de forças de manutenção da paz ocidentais para o território ucraniano.

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A Ucrânia também é contra a Rússia estar no seu território, ter tropas norte-coreanas e talvez chinesas no seu território e armas iranianas a atacá-los. Por acaso Putin pediu autorização aso ucranianos ou aos europeus? Que interessa o que a Rússia diz?



January 21, 2025

Uma entrevista com Ben Hodges

 

Se os líderes europeus dizem que a China é a verdadeira preocupação, então, ajudarem a Ucrânia a derrotar a Rússia enviará uma forte mensagem de dissuasão à China” - Ben Hodges




00:02 - 01:08 Introduction 
01:11 - 03:08 The US strategies for resolving the conflict
03:09 - 04:50 Trump's approach to the war in Ukraine 
04:51 - 06:42 The best way to end the war for the US 
06:45 - 08:59 Nuclear status of Ukraine 
09:00 - 09:44 Potential reaction from the US and EU 
09:46 - 11:29 Alternative military bloc 
11:30 - 12:30 NATO Article 5 
12:31 - 13:54 The borders of post-war Ukraine 
13:55 - 14:59 Sanctions against Russia 
15:00 - 16:51 Defensive strategy of Ukraine 
16:52 - 19:04 The shadow of a new "iron curtain" hangs over Europe 
19:07 - 19:58 A deal behind Ukraine's back 
20:00 - 21:23 Russia after Putin 
21:29 - 23:13 Personal motivation for being on Ukraine's side 
23:20 - 25:15 About Westerners who are tired of helping Ukraine

January 19, 2025

O Problema da Rússia não vai desaparecer por milagre e é preciso lidar com ele

 


É melhor ser agora que estão por um fio que depois, se a deixarem fortalecer de novo.


January 09, 2025

Já repararam como em nenhuma análise da situação internacional a ONU de Guterres tem relevância?

 



No passado recente, a ONU, por muito que por vezes, na prática, tivesse dificuldade em conseguir o que queria, era ouvida e respeitada como um diapasão ético da Ordem Internacional. Um presidente, por muito poder que tivesse, não dizia publicamente que queria tomar à força países soberanos porque lhe dá jeito alargar o seu domínio competitivo. E, embora às vezes o fizesse, a ONU tomava imediatamente uma posição, lembrando os princípios da Carta das Nações Unidas e pressionando para que fossem respeitados. Hoje-em-dia a ONU está descredibilizada e Musk já disse várias vezes que quer retirar o financiamento dos EUA à ONU. Tudo isto é um desastre.

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As ambições de Trump em relação à Gronelândia tiveram eco junto de alguns comentadores russos. O comentador televisivo Sergey Mikheyev, por exemplo, disse que a proposta de Trump está de acordo com “a mentalidade americana” que os seus antecessores tentaram “disfarçar e esconder”. “Trump diz simplesmente de forma direta - nós somos tudo e vocês não são nada”, observou Mikheyev. “Isto é especialmente interessante porque abre uma brecha entre ele e a Europa, mina a arquitetura mundial e abre certas oportunidades para a nossa política externa”, acrescentou, argumentando que se Trump ‘quer realmente impedir a terceira guerra mundial, a saída é simples: dividir o mundo em esferas de influência’.

Stanislav Tkachenko, um académico influente da Universidade Estatal de São Petersburgo, também manifestou o seu apoio e disse que a Rússia devia “agradecer a Donald Trump, que nos está a ensinar uma nova linguagem diplomática. Isto é, dizer as coisas como elas são. Talvez não consigamos cortar o mundo como uma maçã, mas podemos certamente delinear as partes do mundo onde os nossos interesses não podem ser questionados”.

É claro que um mundo onde as nações mais fracas são tratadas como meros peões a serem “pacificamente” divididos entre as potências imperiais - assumindo que esta é a direção que estamos a seguir - dificilmente é o tipo de ordem multipolar que a maioria das pessoas imagina. Nem é a ordem que a Rússia e a China ostensivamente defendem, deixando em aberto a questão de como poderão responder às propostas de Trump.

Thomas Fazi in unheard (aviso à navegação: esta revista digital é putineira e contra a Ucrânia, em geral)


December 23, 2024

É por isto que é preciso desmantelar a Rússia

 


Não é só Putin que está a fazer a guerra. Os russos têm orgulho nos seus líderes totalitários, terroristas,  assassinos em massa.

Há pouco tempo vi o filme The Hunt for The Red October. Já não o via há muitos anos e já não me lembrava que o KGB ranhoso que os soviéticos põem no submarino a espiar e envenenar a vida de toda a gente e que o Comandante mata logo no início do filme, chama-se Putin. O filme é de 1990 mas quem o escreveu já tinha topado Putin.


December 10, 2024

Rússia: Crimes de guerra

 


Tetiana Tanya Kotelnykova

@TKotelnykova

Imaginem isto: Uma criança na Ucrânia ocupada, forçada a sentar-se numa sala de aula e a aprender uma história reescrita, a jurar lealdade à Rússia e a odiar a sua terra natal. Os seus pais enfrentam ameaças de multas, prisão ou perda da custódia se resistirem.

Esta é a guerra do Kremlin contra a identidade - militarizar as crianças em idade escolar, coagir as famílias e desmantelar o espírito de uma nação.

No entanto, dezenas de milhares de crianças desafiam esta situação, estudando online com professores ucranianos, apesar dos imensos riscos.

A invasão russa não é apenas uma questão de território - é um ataque à alma da Ucrânia, a começar pela sua geração mais jovem. 


September 07, 2024

🇺🇦 A Europa deve reforçar o seu apoio à Ucrânia e não depender da ajuda dos EUA - somos 500 milhões


Joni Askola

@joni_askola

Mais de 500 milhões de europeus não deviam depender de 333 milhões de americanos para se defenderem contra 144 milhões de russos e a sua pequena economia. A Europa deve reforçar o seu apoio à Ucrânia e não depender da ajuda dos EUA.

A Europa não se pode dar ao luxo de adiar o aumento da sua ajuda à Ucrânia até depois dos resultados das eleições nos EUA. A Ucrânia faz parte da Europa e é nossa responsabilidade prestar-lhe um apoio maior do que o prestado pelos Estados Unidos.

A Europa no seu conjunto poderia facilmente duplicar ou mesmo triplicar a sua ajuda militar à Ucrânia, o que será necessário se o apoio dos EUA diminuir ou cessar. O impacto sobre nós seria mínimo; ainda nem sequer começámos a fazer um esforço significativo.

Muitos países europeus são capazes de fazer muito mais. Por exemplo, a Noruega está a ganhar dezenas de milhares de milhões por ano com esta guerra, mas a sua ajuda continua a ser, comparativamente, mínima. A Noruega poderia facilmente triplicar a sua ajuda sem que isso tivesse um impacto significativo na sua própria economia.

Temos muitas opções. Se não tivermos armas próprias suficientes para doar, podemos comprar armas ucranianas para a Ucrânia. São também mais baratas do que as suas equivalentes ocidentais e a sua capacidade de produção ainda não foi totalmente explorada devido à falta de financiamento.

A guerra injusta iniciada pela Rússia na Ucrânia não é apenas existencial para a Ucrânia, mas também para a Europa no seu conjunto. Não temos desculpas válidas para não fazermos tudo o que estiver ao nosso alcance para apoiar a Ucrânia, mas, até à data, continuamos significativamente atrasados nos nossos esforços.

August 25, 2024

A Rússia é como um criminoso de violência doméstica

 


Depois de bater na mulher porque é segunda-feira, avisa-a, 'se vais pedir ajuda aos vizinhos ou chamar a polícia, depois não te queixes que eu escale a situação e me torne mais violento. Eu só quero a paz de me deixares bater-te até à morte'. Depois grita para os vizinhos, 'não sei porque é que não gostam de mim mas se vierem ajudá-la mato-a'.

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A propósito da celebração hoje, em Lisboa, do 33.º aniversário da independência da Ucrânia, Mikhail Kamynin divulgou uma comunicação na qual defendeu que "em vez de participar na aventura russófoba imprudente de Washington e da NATO, Portugal e outros países da UE (União Europeia) devem ponderar seriamente a iniciativa do Presidente da Rússia Vladimir Putin que visa construir na Eurásia 'uma arquitetura de segurança igual e indivisível'".

Na mensagem divulgada no 'site' da embaixada, Kamynin referiu que com os "recentes ataques contra a região de Kursk (na Rússia), a Ucrânia voltou a sabotar uma eventual resolução do conflito", argumentando ainda que Portugal tem responsabilidade na "futura escalada".

"Lamento muito que uma das mais desenvolvidas repúblicas da União Soviética tenha sido tanto devastada", concluiu.

JN


August 09, 2024

Ainda estamos a pagar os erros da Segunda Guerra Mundial

 


No final da guerra os americanos (os outros aliados estavam completamente falidos e materialmente destruídos) não quiseram afrontar os russos e impedir a anexação de metade da Alemanha e a dos países de Leste libertados dos nazis e ficou a vê-los serem serem imediatamente esmagados pelo totalitarismo soviético. Em resultado disso, parte da Alemanha manteve-se russa após a queda do Muro e continua russa: as pessoas têm familiares russos, amigos russos, mentalidade russa, laços políticos e comerciais russos. Nasceram e cresceram nessa cultura soviética cancerígena. Desde a queda do Muro que a Alemanha nos impõe os seus laços russos para beneficiar economicamente da situação. E agora estamos a pagar esses erros. A Ucrânia mais que todos, mas se não paramos os russos agora, vamos todos pagar ainda mais no futuro. E para parar a Rússia é necessário lembrar aos alemães que a ideologia e práticas dos founding fathers da Alemanha actual devem ser combatidas e não seguidas e admiradas. Claramente a Volkswagen ainda não percebeu isso.


Tecnologia alemã para as estradas russas

A Volkswagen retirou-se da Rússia, mas agora os automóveis com tecnologia VW vão voltar a ser vendidos oficialmente na Rússia. © VCG/Getty Images



March 10, 2024

Uma entrevista importante com Mikhail Khodorkovsky

 

Para perceber a mentalidade de Putin, a disposição da Rússia e o perigo que espreita os ocidentais medrosos ou de fraco juízo político.


December 12, 2023

A Rússia está a ser destruída pela Ucrânia

 


No entanto, este artigo é um aviso acerca da necessidade da Europa se tornar autónoma na sua própria defesa.


Duas lições importantes: 

1) Os países europeus precisam de reconstruir os seus exércitos. 
2) A Ucrânia está realmente a defender toda a Europa dos bárbaros russos.


Aumenta o alarme sobre as forças armadas enfraquecidas e os arsenais vazios na Europa. 

The Wall Street Journal

As forças armadas britânicas têm apenas cerca de 150 tanques e talvez uma dúzia de sistemas de artilharia de longo alcance operacionais. A França, também uma grande gastadora militar, tem menos de 90 peças de artilharia pesada, o equivalente ao que a Rússia perde todos os meses no campo de batalha na Ucrânia.
A Dinamarca não tem artilharia pesada, nem submarinos, nem sistemas de defesa aérea. O exército alemão tem munições suficientes para dois dias de combate.
Durante décadas, os governos ocidentais suportaram o enfraquecimento dos exércitos europeus porque os EUA têm sido a espinha dorsal da NATO e da política de defesa na Europa.
No entanto, as preocupações estão a aumentar à medida que os Estados Unidos assumem uma posição cada vez mais isolacionista e a compreensão da potencial ameaça da Rússia para a Europa está a ressurgir após quase dois anos de guerra na Ucrânia.
A Europa precisa de voltar à produção total em tempo de guerra e reconstruir os seus exércitos. A economia da folha de cálculo minou e arruinou a Europa de muitas maneiras.
A Europa não está pronta para uma guerra com a Rússia se for preciso. 
Nesta situação, ajudar completamente a Ucrânia a vencer a guerra é a única solução. Isso dá à Europa tempo para reforçar as suas forças.
Já é mau o suficiente que tenham deixado a situação chegar a este ponto, mas não vejo sinais de que estejam a resolver a situação, a afetar os recursos necessários e a contratar a indústria para fazer mais do que um aumento pouco convicto das taxas actuais. A construção de uma nova produção de armamento leva tempo e tem de começar agora.

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Este artigo não leva em consideração a supremacia aérea da NATO. A supremacia da frota naval, o poder humano. Mesmo sem os EUA, os países europeus são muito mais fortes do que a Rússia. A Rússia está a ser destruída pela Ucrânia.



November 14, 2023

Como Putin manobrou os partido políticos europeus



Djesus! Os serviços de informação alemães são um perigo... arrogantes e incompetentes, uma combinação fatal.

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Nathalie Vogel é investigadora no Centro de Estudos Intermarium do Instituto de Política Mundial em Washington, D.C. A Sra. Vogel estuda as respostas de informação a ameaças híbridas. 
O Centro de Iniciativa de Resiliência Europeia conversou com a Sra. Vogel sobre:

🦹‍♀️ Como os serviços de informação russos operam na Europa
💶 Se todos os políticos pró-russos na Alemanha são corruptos 
🛟 As capacidades das agências de contra-informação alemãs para proteger o país
🥊 Prontidão da população alemã para reconhecer a Rússia como uma ameaça 


0:00 Russian foreign policy of elite cooptation 
2:50 How Russia exploited Germany’s ex-chancellor Schröder 
5:22 Ways to become a Russian intelligence agent 
12:26 Grooming for decades: Russian recruitment technics 
16:46 Germany has “castrated” its counter-intelligence agencies 
22:22 Germany’s intelligence collection paradox 
25:45 German 007 agents: unprofessional & arrogant 
29:33 Why Germany has failed to see Russia’s invasion run-up 
36:12 How Germany should reform its intelligence network



September 17, 2023

Tristes aniversários: neste dia, em 1939, a URSS invadiu a Polónia pelo Leste conforme combinado secretamente com os nazis

 

Não havia nenhuma declaração de guerra à Polónia, apenas quiseram apropriar-se de outro país. Pouco mudou desde então...


Como é que a invasão foi anunciada? A Rússia teve que invadir a Polónia para defender as minorias - como se vê, Putin não inventou nada, só se estalinizou - é um copycat

September 04, 2023

Os russos ainda acreditam em, 'Czar bom, boiardos maus'

 


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A Rússia recusa-se a receber de volta 58 prisioneiros de guerra feridos, apesar de a Ucrânia estar disposta a enviá-los sem qualquer troca (não é "um por um", não há acordo, basicamente, é só levarem-nos). E isto diz tudo o que é preciso saber sobre "o segundo exército do mundo".

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Uma História de Cartas aos Czares da Rússia

Se vivia na Rússia e desejava qualquer coisa, desde uma vaca a uma democracia parlamentar, podia sempre contar com a velha tradição russa de escrever uma carta ao czar. Esta tradição russa renasceu no início do século XX, quando a confiança da população russa no czar estava a desaparecer rapidamente...

A primeira petição colectiva das massas populares ao Czar russo assumiu a forma de uma manifestação religiosa. Em 9 de janeiro de 1905, 100 000 pessoas marcharam em direção ao Palácio de inverno, lideradas pelo padre Gapon, um sacerdote ortodoxo. Pretendiam apresentar um conjunto de reivindicações moderadas de igualdade universal e de direitos dos trabalhadores a conceder pelo próprio czar. 
A procissão levava bandeiras e ícones brancos para garantir ao Czar que não eram socialistas, anarquistas ou outros malfeitores, mas fiéis ortodoxos que respeitavam a sua autoridade. A polícia imperial respondeu disparando contra a multidão, matando quase 1000 pessoas. Diz-se que o Padre Gapon, perturbado, exclamou: "Já não há Deus. Não há Czar!" 

Tradição russa: Czar bom, boiardos maus

Porque é que o clero e as massas empobrecidas de São Petersburgo acreditavam que as suas manobras iriam resultar? Não sabiam que a sua sociedade era uma autocracia brutal? É bem possível que não soubessem. Durante séculos, em toda a Europa, os regimes monárquicos mantiveram-se no poder principalmente através da ideia do direito divino - a crença, apoiada pelas várias igrejas cristãs, de que os monarcas têm o direito, dado por Deus, de governar os seus súbditos. Esta crença, porém, não era suficiente por si só.


Um aspecto fundamental do mito monárquico era a fé na benevolência do governante. Mesmo que os súbditos se apercebessem da injustiça, da pobreza ou da opressão, esta estava sempre longe do monarca. A ira dos governados era dirigida à aristocracia e às figuras da administração imperial. Estes tinham muito mais interacções quotidianas com as pessoas comuns e não tinham o verniz místico do governante. Na Rússia, esta crença foi até resumida no ditado popular "Czar bom, boiardos maus".

Father Gapon leads the crowds in front of the Narva Gate in Saint Petersburg in 1905, via Google Arts & Culture

Um boiardo era um membro da nobreza do mais alto nível na Rússia e em toda a Europa de Leste. Por outras palavras, se o Czar tivesse conhecimento das injustiças que os seus subordinados cometiam sobre o povo, reagiria imediatamente e corrigi-las-ia. Foi com essa ideia que os cem mil manifestantes de São Petersburgo se aproximaram do palácio do Czar. A sua ingenuidade ficaria para a história como o Domingo Sangrento de 1905.

O que fez o Czar?

Curiosamente, o Czar Nicolau II não ordenou este massacre - nem sequer se encontrava no Palácio de Inverno na altura. 
Não se trata de o exonerar enquanto figura histórica. Nicolau II foi um autocrata brutal que desde muito cedo ganhou a alcunha de Nicolau, o Sangrento. 
Embora a alcunha tenha começado por lhe ser associada devido a um acidente - uma debandada durante a cerimónia da sua coroação - mais tarde ficou associada à fome, à má gestão económica, à repressão política e às guerras sem sentido que a Rússia viria a perder. No entanto, nesse incidente específico de janeiro de 1905, Nicolau II simplesmente não estava presente. Descreveu o acontecimento no seu diário como "um dia doloroso".

No entanto, aqueles que foram alvejados em frente ao seu palácio não sabiam disso. Para eles, tratava-se de uma resposta clara às suas reivindicações moderadas, o que abalou o seu grande respeito pelo Czar. Alguns acreditavam certamente que o próprio Nicolau tinha ordenado o massacre. Juntamente com as já mencionadas fomes, guerras e pobreza que gradualmente corroeram a sua legitimidade, o Domingo Sangrento foi um acontecimento dramático que contribuiu grandemente para o fim do mito do "bom Czar". Foi o início da Primeira Revolução Russa, que, apesar da sua brutal repressão, resultou em concessões por parte da autocracia. Dela resultou a primeira Constituição russa de sempre e a criação da assembleia nacional, conhecida como Duma.

Com a testa no chão

Para preservar a sua legitimidade em ruínas, o czar Nicolau II reinstitucionalizou a redação de petições populares. A petição ao governante já era uma tradição russa, embora o contacto direto com o Czar tivesse sido limitado nos anos 1700, tornando-se um privilégio das classes altas. 
Os pobres só podiam apresentar petições aos administradores locais e à nobreza (talvez uma das razões para o estereótipo dos "boiardos maus"). Estas petições e cartas conferiam às classes altas um nível significativo daquilo a que hoje se chamaria liberdade de expressão e, pelo menos, um sentimento de envolvimento nos processos políticos. 
Antes de uma revolta na cidade de Moscovo, em 1648, os cidadãos tinham enviado ao Czar uma petição em que expunham as suas queixas. Este facto demonstra que, em mais do que uma ocasião, a instituição da petição podia mesmo evitar revoltas e que as revoltas eram vistas como um último recurso.

Antes do século XVIII, as cartas estavam abertas a qualquer súbdito do Czar. Eram conhecidas como Chelobitnye (Челобитные). A tradição russa traduz-se literalmente por "bater na testa". Por outras palavras, pretendia evocar a situação de estar na presença física do governante, o que implicava que o sujeito se curvasse com a testa no chão. 
A instituição da escrita de cartas criou a sensação de uma linha direta para o czar, permitindo a cada pessoa do Império fazer ouvir a sua voz e reforçando a impressão de benevolência do Czar. Em 1608, por exemplo, um pobre padre implorou ao Czar Vasili IV que obrigasse um nobre local a dar-lhe uma vaca para que o clérigo pudesse alimentar a sua família (os padres ortodoxos podem casar). Apesar de parecerem banais, estas petições eram muitas vezes uma questão de vida ou de morte para os seus autores e talvez se situassem entre a lealdade e a revolta aberta contra a autoridade.

A tradição das petições regressa

No século XVIII, esta tradição russa extinguiu-se gradualmente, ou melhor, sofreu uma mudança qualitativa: os ricos eram os únicos que podiam apresentar petições diretamente ao Czar. No entanto, a imagem do Czar benevolente persistiu, assim como a crença de que se deve escrever-lhe. O facto de só os ricos escreverem não significa que as cartas se limitem aos assuntos da aristocracia. De facto, os sectores liberais da nobreza continuaram a escrever aos czares sobre questões de importância social mais vasta.

Talvez a mais famosa das cartas tenha sido escrita por Tolstoi, um dos maiores escritores russos, também de origem nobre. Embora fosse um aristocrata, Tolstoi era profundamente contra a sociedade feudal hierárquica e procurou activamente aliviar a miséria dos pobres da Rússia, especialmente dos camponeses. Era um anarquista cristão e um pacifista, tendo como base da sua crença uma interpretação literal do Sermão da Montanha de Jesus Cristo.

Em 1901, Tolstoi escreveu uma carta ao Czar Nicolau II, que chegou a ser publicada no New York Times. Tolstoi escreveu ao Czar para protestar contra os maus-tratos dos Dukhobortsy (Духоборцы, os "lutadores espirituais"), uma seita cristã pacifista inspirada no protestantismo. A existência deste grupo religioso radical não foi um acaso. Era um sinal da mudança dos tempos e das convulsões que se avizinhavam. O próprio Tolstoi o disse, escrevendo profeticamente na segunda carta: 
"É possível que o atual movimento, tal como os que o precederam, possa ser suprimido pelo emprego da força militar. Mas pode acontecer que os soldados e polícias, em quem o Governo deposita tanta confiança, se apercebam de que cumprir as suas instruções a este respeito envolveria o horrível crime de fratricídio e se recusem a obedecer às ordens."
Essa altura chegou menos de quatro anos depois. Já em 18 de fevereiro de 1905, cerca de quarenta dias após o Domingo Sangrento, o Czar Nicolau II autorizava petições sobre praticamente qualquer assunto imaginável. 
Estas petições são uma fonte histórica fascinante que nos dá uma imagem das queixas populares numa época turbulenta e, de facto, transformadora. Podemos ler sobre o domínio arbitrário dos senhores locais e a crença nas mudanças que os camponeses do campo esperavam. Uma vez que uma parte significativa da população era analfabeta, as cartas eram frequentemente um produto da acção colectiva, articulada numa assembleia de aldeia. A carta era assinada por aqueles que sabiam escrever, mas era um trabalho de todos os que estavam presentes. Estas cartas são, assim, o testemunho de um impulso para a governação popular numa época em que a autocracia estava nos seus estertores.

Petições e Revoluções: A tradição como subversão

No final de 1905, o número de petições aumenta rapidamente. O facto de o Czar ter prometido uma Constituição e de ter restabelecido a tradição de escrever cartas só veio reforçar o sentimento da população de que as suas queixas eram justificadas. As cartas começaram a conter ameaças veladas e não tão veladas dirigidas à monarquia. 
Os camponeses começam a afirmar a sua identidade colectiva, dizendo que são uma população pacífica, mas que não hesitariam em pegar em armas se as suas condições não fossem satisfeitas, uma vez que já tinham sido condenados a uma vida insuportável. Começam também a referir-se cada vez mais aos manifestos e proclamações políticas da época, tanto do Czar como dos revolucionários, demonstrando uma maior consciência política e, portanto, novos sinais de desestabilização do regime.


O Tribunal Regional por Mikhail Ivanovich Zoshchenko, 1888, via runivers

1905 foi um prelúdio da Revolução Russa de 1917 e as suas cartas camponesas eram um sinal das mudanças radicais que se avizinhavam: embora dirigidas ao czar e reminiscentes da antiga tradição russa, eram um sinal claro de modernidade. 

Apesar de invocarem ostensivamente a autoridade da monarquia, exemplificavam, de facto, o desmoronamento do seu poder e a constituição política da classe baixa russa numa força política. A população maioritária estava a caminho de outra revolta, ainda mais volátil do que a de 1905.

por por Stefan Guzvica, Mestre em História Comparada, Licenciatura em Humanidades, Sociedade e Cultura
Stefan é estudante de doutoramento em História na Universidade de Regensburg, Alemanha. É um investigador do comunismo e está atualmente a terminar a sua dissertação sobre os partidos comunistas dos Balcãs no período entre guerras. 

August 07, 2023

A 'Lisboa' desta guerra é Genève

 

Genève, um ninho de espiões russos

Desde o início da guerra na Ucrânia, no ano passado, os países ocidentais expulsaram dezenas de espiões russos sob disfarce diplomático, exceto a Suíça que está cheia de espiões. Moscovo aproveita a oportunidade para aumentar a sua presença no país.



CARTA DE GENÈVE

Atualmente, há 221 pessoas oficialmente acreditadas como diplomatas da Federação Russa a viver na Confederação Suíça. Trata-se de um número enorme para um país com a dimensão da Suíça, apesar de ter duas capitais de renome internacional. 
A primeira, Berna, é uma aglomeração de 300.000 habitantes onde se situa o governo - um Conselho Federal - e todos os principais ministérios, mas não todas as administrações federais, uma vez que a arquitetura institucional do país permite a descentralização nos cantões. 
A segunda capital, Genève, tem 700.000 habitantes e alberga a sede europeia das Nações Unidas e numerosas agências internacionais. Subsequentemente, a diplomacia russa sempre deu prioridade ao campo de jogo suíço.

Contudo, desde o início da guerra na Ucrânia, no ano passado, tornou-se cada vez mais importante, uma vez que a Suíça é o único país ocidental que não expulsou nenhum agente russo. 
Há pouco mais de um ano, o escritor russo Mikhail Shishkin foi o primeiro a dar o alarme. Exilado na Suíça germanófona desde 1995, crítico virulento do Presidente russo Vladimir Putin, disse: "Moscovo está a reposicionar na Suíça os espiões que outros países europeus expulsaram".

Christian Dussey precisou de mais doze meses para chegar à mesma conclusão. Em 26 de junho, o novo chefe do 'Serviço Federal de Informação' (FIS) reconheceu que a Suíça é atualmente um dos países "mais visados" pela espionagem russa. Dos 221 indivíduos estacionados na Suíça, "pelo menos um terço trabalha para os vários serviços de informação russos", disse ele, reconhecendo que sua agência emprega apenas 450 pessoas para lidar com essas novas ameaças. Para além do activismo russo, o último relatório do FIS documenta também a presença crescente de agentes chineses, que actuam sob a capa de homens de negócios ou de cientistas interessados na investigação levada a cabo nos 'Institutos Federais de Tecnologia de Zurique e Lausanne'.

Acampamento base

Porém, é em Genève que o novo activismo dos agentes russos é mais sensível. É para aqui que milhares de diplomatas de todo o mundo convergem, para as reuniões anuais dos organismos multilaterais da ONU, como o Conselho dos Direitos Humanos, a Assembleia Mundial da Saúde e a Conferência Internacional do Trabalho. Estas são oportunidades para os agentes dos serviços secretos, sob disfarce diplomático, se misturarem e estabelecerem contactos numa cidade onde se misturam muitos financeiros, líderes empresariais e políticos. Delegações de África e do Médio Oriente.

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(para ler o resto tinha de pagar... mas agora vou interessar-me por este assunto)

August 02, 2023

Como continuar a exportar para a Rússia disfarçadamente

 





@RobinBrooksIIF

Um livrinho notável de premonição da situação europeia actual

 


Ontem ofereceram-me este livro que tem pouco mais de 70 páginas. Está cheio de frases memoráveis e com muita sabedoria, que podiam ser ditas hoje com toda a actualidade.

O livro consiste em dois textos de Kundera. O primeiro é o discurso ao Congresso dos Escritores da Checoslováquia, em 1967, durante a Primavera de Praga, onde um dos momentos fortes foi a leitura da Carta de Soljenitsyne à União dos Escritores Soviéticos. É apresentado por Jacques Rupnik num excelente prefácio. Foi também nesse Congresso que o escritor, Ludvik Vaculik, falou abertamente contra a confiscação do poder por "um punhado de pessoas que querem decidir sobre tudo". 
O segundo é um artigo que Kundera escreveu para a revista, Le Débat, em 1983, já a viver em França. Kundera considera os anos 60 do século XX como a idade de ouro da cultura checa, quando esta se liberta das limitações do regime soviético sem se submeter à lógica do mercado. 

Neste artigo Kundera analisa com um olhar profundo o papel determinante da identidade cultural na sobrevivência das pequenas nações que gravitam em torno das grandes nações de impulsos barbáricos hegemónicos. Ele fala amplamente no exemplo e no perigo da Rússia comunista. Quando as pequenas nações se deixam absorver pelas grandes nações desaparecem e delas ficam apenas resíduos que se expressam como mero folclore local. 

Kundera defende que "o que define a Europa central não são as fronteiras políticas (sempre inautênticas, impostas por invasões, conquistas, ocupações) mas as grandes experiências comuns que juntaram os povos (...) e nas quais subsistem uma comunhão de tradições", mas que essa experiência cultural comum está a desaparecer. Onde estão, pergunta, os grandes representantes espirituais da Europa: escritores, pintores, filósofos e outros vultos culturais? 

Onde dantes se discutia ao jantar o último livro de um escritor, a peça de teatro de outro o artigo de um poeta, passou a discutir-se o último capítulo da novela da TV. Onde está a Europa? No passado, as revoltas centro-europeias foram preparadas por esses guias espirituais da literatura, poesia, teatro, diz ele, não pelos mass media e, acrescentaríamos, as audiências da TV. É por isso que os russos, ao ocuparem a Checoslováquia se preocuparam em destruir, em primeiro lugar, a cultura checa, para atingirem de uma vez só a oposição, a identidade e os valores próprios dos checos, enfim, o 'Eu' checo. 

Que premonição, hein? Vemos isso a acontecer em directo na TV na invasão russa da Ucrânia e o modo como os ucranianos resistem heroicamente a essa aniquilação da sua identidade (o objectivo também do rapto de milhares de crianças ucranianas enviadas para campos de re-educação) e rejeitam a sua colonização. E foi por um triz que a Europa os reconheceu como uma nação própria com direito a existir, para além dos negócios e comércios entre as grandes nações. 

Este é um livro muito bom que vale muito a pena ler - e pensar, com ele, que estamos num momento único para criar condições de voltarmos a ter uma Europa com uma alma comum, digamos assim.


August 02, 2022

Para que quer a China, o segundo maior país do mundo, Taiwan?

 


Vejamos, Taiwan tem:


- 2,5 vezes o PIB per capita da China

- um coeficiente Gini* muito inferior (= uma sociedade mais igualitária)

- o ar mais limpo

- cobertura de saúde universal

- casamento entre pessoas do mesmo sexo

- um parlamento livremente eleito 

Dados estes indicadores, o que faria a China de Taiwan que não implicasse destruir, danificar, prender e matar?

Os dois maiores países do mundo, um deles grandemente responsável pelo excesso de população do mundo, querem ainda mais território e poder do que já têm num acesso qualquer de loucura megalómana, um deles claramente fascista, o outro ditatorial.

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*Em economia, o coeficiente de Gini, também conhecido como índice de Gini ou rácio de Gini, é uma medida de dispersão estatística destinada a representar a desigualdade de rendimentos ou a desigualdade de riqueza dentro de uma nação ou de um grupo social. O coeficiente de Gini foi desenvolvido pelo estaticista e sociólogo Corrado Gini. Wikipédia