Conseguir arranjar professores é só o primeiro passo porque depois é preciso arranjar maneira deles não se irem embora. Isso vai ser extremamente difícil. Os jovens de hoje não são como as pessoas da minha geração ou até aquelas que andam agora nos 40 anos. Não. Hoje-em-dia há muita falta de mão-de-obra especializada em todo o lado e uma facilidade muito grande em ir trabalhar para outro sítio ou país.
Os jovens dos dias de hoje mudam facilmente de trabalho e às vezes nem têm uma razão específica, só querem variar. Vivem em casa dos pais e não têm encargos com rendas, alimentação e outros custos que nós tínhamos. Não fazem sacrifícios pelo trabalho. Por isso, não os vejo a aturar muito tempo alunos indisciplinados, pais mal educados e agressivos, direcções de escolas autoritárias, horários de trabalho esgotantes e mal pagos, falta de perspectivas de carreira, etc. Coisas que nós aguentámos, até porque saíamos de casa dos pais e não nos podíamos dar ao luxo de ficar sem trabalhar.
Portanto, o problema não é idêntico ao que tínhamos nos anos 80 quando havia milhares de estudantes a quererem ter acesso à educação e havia um país cheio de optimismo e vontade de educar a população num sistema democrático e de qualidade. Agora já não há esse espírito de optimismo nas virtualidade da educação e da democracia. Pelo contrário. Mesmo a esquerda, usa a educação para preencher tabelas de sucesso e desenvolver ideologias. A direita quer privatizar o ensino para manter privilégios.
Portanto, o meu prognóstico é muito negativo. Largou-se no sistema de educação um Cérbero mortal e as suas três cabeças foram, a destruição dos professores, a instrumentalização dos currículos para efeitos políticos (estatísticas de sucesso, reduzir custos) e a ossificação das direcções rodriguistas. Tudo isto num contexto de descrédito da educação, de degradação do ensino universitário e de desvalorização do esforço, do trabalho e dos conhecimentos científicos em geral e utilização errada da tecnologia.
(os alunos estão a recusar áreas científicas porque têm disciplinas onde têm de fazer algum trabalho fora da sala de aula, como seja estudar ou fazer exercícios, que roubam tempo às redes sociais, de que não abdicam. E, de qualquer modo, já não sabem concentrar-se num trabalho e persistir. Se propomos actividades que eles gostam, dizem que gostavam de fazer mas não querem se implica algum trabalho)
Na minha modesta opinião passou-se o rubicão e a situação já não tem volta atrás, até porque os políticos não estão dispostos a planos de longo prazo. De maneira que a educação vai continuar a degradar-se bastante e acabará na situação de antigamente de sistema de elitismo e é aí que vai estacionar.
Na escola pública o ensino será um sistema baseado na sorte. A sorte dos alunos diferentes e interessados -que os haverá sempre- encontrarem-se com professores diferentes e empenhados, que também hão-de sempre haver mas, uns e outros, serão pequenas ilhas no meio do deserto. Os nossos políticos, vendo a escola pública como custos e querendo acabar com o insucesso e o elitismo por decreto, enraizaram ainda mais o problema.
Como vemos agora com a eleição de Trump, as lideranças têm muita importância. Trump ainda não entrou em funções e já ameaça toda a gente de que não gosta, Elon Musk já diz que vai acabar com o FBI (não querem ser investigados...), Trump diz que ele vai cortar 2 triliões nas despesas (não para beneficiar os pobres, mas para aumentar as suas fortunas) escolhe pessoas que querem acabar com as vacinas para a saúde, etc. Mas eles vêem-se como salvadores da pátria e os seus seguidores acreditam piamente que ele é o 'homem forte' que vai resolver tudo.
Nós tivemos um Trump na educação que foi a Lurdes Rodrigues. Dividiu os professores, pois os pais contra os professores, premiou as más práticas, sempre com um discurso populista contra os professores e uma acção de agregação de controlo total através das direcções. Tenho a certeza que ela não se vê como um Trump e até se julga muito competente e sabedora - tal como Trump se julga. Calculo que seja contra o Trump e tudo.
Tivemos umas gerações de professores muito bons que ela não deixou florescer, não deixou desenvolver, fez questão de assediar, discriminar, envenenar com campanha públicas e, pior, exportou as suas práticas para as escolas. Tudo pelo controlo e poder.
Na minha escola os professores estão todos a reformar-se. Todos os anos vai uma dezena embora. Tivemos ali, durante uns vinte anos, muito professores muito bons. E se formos ver os resultados dos alunos nos exames até há uns 15 anos, havia sempre disciplinas que tinham resultados muito bons, não só em termos do Concelho mas em termos nacionais e havia outras disciplinas que tinham bons resultados com muita frequência. Pois quem for ver agora os resultados dos exames da minha escola destes últimos 15 anos só vê coisas más - havendo sempre aquelas excepções dos alunos que são muito bons, auto-motivados e têm pais com a perceção correcta da educação e dos professores que também são bons e resistem a tudo.
Isto que se passou na minha escola, passou-se nas outras escolas públicas também e pelas mesmas razões. A Maria de Lurdes Rodrigues tirou a vida democrática às escolas e transformou-as em telenovelas de mau gosto. E, à medida que os alunos se deslocaram para as escolas privadas, dados os estragos nas públicas, o problema agravou-se. Como ninguém está disposto a pensar nos problemas ou a encarar os factos, havemos de ir decaindo até estacionarmos naquela situação de sistema elitista que tivemos em outros tempos. Se será por umas décadas apenas ou definitivamente, não sei, já cá não estarei. Quem cá ficar é que saberá.