Este é um artigo enorme que compara a realidade portuguesa com a de outros países onde os adultos, em vez de declinarem nas competências de compreensão de linguagem e de cálculo, progridem. Fala de imensas variáveis e, sem ter sequer analisado metade das variáveis a que alude, conclui logo que os alunos precisam de mais contacto com dispositivos digitais sobretudo de competências numéricas.
Uma coisa interessante de notar é que os países onde os alunos não começam o seu declínio precocemente, não têm o ensino obrigatório até aos 18 anos como nós, mas até aos 16.
Outra coisa interessante foi que, países que notaram uma decadência nos desempenhos e que nos últimos anos voltaram a melhorar, tiraram os dispositivos digitais da educação escolar (manuais digitais, tablets em vez de cadernos, etc.) e só permitem o seu uso em situações muito controladas e orientadas pelo professor.
Hoje ouvi uma conversa na sala de profs entre dois colegas que falavam dos resultados de uma turma do 8º ano. O professor de português dizia que a maioria dos alunos se queixa por ter que estudar 4 verbos. Dá muito trabalho. A professora de matemática dizia que uma grande porção das más notas que tem nos testes deve-se a que os alunos não compreendem o que lêem no enunciado e portanto não percebem o que têm de fazer. É a mesma linguagem que a professora usa nas aulas, mas como eles ouvem as palavras e aquele tipo de construção frásica, apenas nas aulas, não retêm nada. Não há nenhum reforço extra aulas porque a vidas deles é a internet medíocre das redes sociais. O professor de matemática de uma turma do secundário, que é supostamente uma das melhores, dizia que tinha feito uma boa porção dos exercícios do teste com exercícios do manual escolar que usaram nas aulas e mesmo assim falharam quase todos.
Temos uma cultura de muitos anos de desleixo no trabalho: os alunos sabem que não têm de estudar e nem sequer têm de ir às aulas para passar de ano. São educados pela internet, pelas redes sociais, de maneira que têm uma linguagem conceptual muito pobre, sem elementos lógicos de ligação dos termos, com frases simples, quase sempre com os verbos no indicativo, no futuro simples ou no passado simples e tudo o que sai fora desse esquema não compreendem. Chegam ao secundário a turmas científicas sem nunca terem conseguido uma positiva a matemática e tendo tido 10% no exame de matemática do 9º e chegam às turmas de humanidades sem nunca terem lido um livro na sua vida. Até mesmo os livros obrigatórios dos currículos são substituídos por resumos da internet - obrigada João Costa por esta mediocridade. (leio por aí que isto já chegou às universidades e que a maioria dos alunos universitários também fazem o curso sem nunca lerem um livro) Porque é que o número de alunos interessados em cursos de ciências está a declinar? Porque obriga a estudar qualquer coisinha e não estão para ter nenhum tipo de trabalho.
Como é que se pensa ser possível, continuando nesta senda (e agora com professores que sairam antes de ontem do secundário ou estão a estudar biologia e vão ensinar português) melhorar as suas competências?
Penso que já disse aqui que um colega novo que anda a fazer formação para se profissionalizar como professor me disse há dois anos que a formadora só fala das emoções, da meditação e das questões de género... as pessoas que estão à frente das instituições vivem numa realidade alternativa e acreditam em magias, como aquela situação do Rui Tavares defender que os alunos à saída do secundário, fossem passear um ano à universidade para 'absorverem' conhecimentos e cultura... absorver... tipo... não sei, pensos higiénicos...? É abaixo da crítica séria.
Hoje um colega disse-me que a proposta do ME para orientadores de professores novos, nas escolas, não só não contempla nenhuma redução do horário lectivo como propõe pagar ao orientador 28 euros por mês por cada formando que orienta...??? O que pensarão ser um trabalho de orientar professores novos? Dizer olá nos intervalos e falar com ele uma vez por mês numa horinha? Não percebo se isto é a gozar... mas olha, boa sorte com isso de arranjarem professores experientes (ou não experientes) nas escolas que queiram orientar colegas novos.
Portanto, penso que já o disse aqui, estamos nesta senda de destruir os alunos (vai para 10 anos) e a carreira de professor (vai para 20 anos) e cada governo que entra faz mais do mesmo, de maneira que não acredito que isto tenha volta atrás nos próximos 30 ou 50 anos. Passou-se um rubicão e estamos a caminhar para uma escola de elites e de pobrezinhos, à maneira americana. Não é possível sermos uma democracia plena, nem pouco mais ou menos, nestas condições.
Declínio das competências dos adultos portugueses começa logo aos 25 anos
Cerca de 40% da população adulta tem dificuldades em ler e escrever, utilizar números e resolver problemas, o que pode ser explicado por um “histórico atraso” nas qualificações dos portugueses.
Público
É exactamente o que se passa!
ReplyDeleteJoão Moreira
Ando há quase 20 anos a dizer a mesma coisa como um papagaio. Não serve de nada.
DeleteEu tenho gente ao meu lado a defender o uso do Chat GPT para, por exemplo, escrever textos para eu, depois, avaliar.
ReplyDeleteÓtimo, disse há dias a uma mãe: dou 20 ao Chat e 0 à sua filha.
Pois.
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