Neste artigo defende-se que a álgebra é difícil para a maioria dos estudantes e que impede que sigam os seus sonhos e que por isso pode muito bem acabar-se com ela ou ensinar estatística em vez de álgebra. O autor do artigo queixa-se que quando era novo não foi para veterinária ou engenharia porque não conseguia fazer a matemática e que por isso se deve acabar com a matemática difícil, pois esmaga os sonhos das pessoas -
soul-crushing é o termo que usa. Dá como exemplo um ex-reitor da universidade de Berkeley que defende uma matemática diferente.
A questão é: esse reitor defende um ensino diferente de matemática para quem não está nas STEM (Science, Technology, Engineering, and Mathematics), não para pessoas que sonham ser engenheiros mas não têm o talento ou a capacidade para a matemática necessária. O conhecimento não tem que ver com equidade. Eu gostava muito de saber pintar como o Ruisdael, mas não tenho esse talento nem essa capacidade. Gostava de saber perceber a física e a química do ponto de vista da matemática, mas não tenho essa capacidade. Isso não me diminui em nada. Uma universidade não é um local de conforto psicológico ou de realização de desejos, mas um local de avanço do conhecimento.
Uma coisa é defender uma mudança no modo de ensinar matemática (aqui no país é o descalabro porque não há professores e daqui para a frente qualquer um vai dar matemática); defender, como eu mesma defendo, que haja um program de matemática para os que querem seguir cursos de ciências que dão acesso a engenharia, medicina e certas áreas tecnológicas e outro program para quem quer outras coisas que não exijam essa matemática. Aliás, já foi assim. Em tempos havia Matemática A e Matemática B consoante as áreas que os alunos escolhiam no secundário.
Outra coisa muito diferente é reduzir o ensino da matemática ao menor denominador comum para os alunos sentirem que são todos um sucesso. Isso é uma fraude e no geral, baixa o nível de conhecimento, do progresso científico e melhoria de vida a que nos habituámos.
Dito de outra maneira, quero atravessar a ponte confiante que o engenheiro soube fazer a matemática necessária e não foi ensinado por alguém que teve umas cadeiras de estatística na faculdade.
Outro dia Borrel fez um discurso numa reunião na UE que pus aqui no blog. Ele enumera correctamente os problemas com que nos enfrentamos, mas depois oferece como soluções: não sermos, nós europeus, racionalistas (não sermos kantianos, diz), sermos mais emocionais, ter muita empatia e ouvir os outros povos. Não sou contra a empatia ou ouvir outros povos, pelo contrário, mas desde quando abandonar o pensamento e a racionalidade ajuda a resolver problemas? E quem lhe disse a ele que os outros povos não europeus não são racionais? O facto de se terem cometido 'pecados' de excesso de confiança na razão não torna razoável que se abandone a racionalidade.
Da mesma maneira, o facto de o ensino da matemática não ser fácil e de haver excesso de matemática em todas as áreas dos estudos secundários (excepto humanidades), não torna razoável adulterar o programa apenas para que todos os alunos possam dizer que têm sucesso e se sintam bem consigo mesmos.
-------
Os estudantes precisam de mais exposição à forma como as coisas do dia-a-dia funcionam e são feitas. Em nenhum outro lugar isto é mais óbvio do que no ensino da matemática, onde persistimos numa abordagem rígida que recompensa aqueles que "o conseguem" e deixa os outros - incluindo aqueles com o tipo de mentes que a nossa economia e o nosso futuro mais desesperadamente necessitam - com uma sensação de profundo fracasso.
Há uma década, um artigo do cientista político Andrew Hacker, Is Algebra Necessary?, aterrou como uma bomba no mundo da educação. Hacker assaltou a insistência de ensinar álgebra nas escolas, salientando que a matemática ali ensinada não era nada como a que as pessoas usam nos seus trabalhos. "Tornar a matemática obrigatória", escreveu Hacker, "impede-nos de descobrir e desenvolver jovens talentos". No interesse de manter.
(...)
A ironia nunca se perdeu em mim: ensino ciência animal em veterinária, mas não consegui entrar na escola veterinária como estudante, porque não consegui fazer a matemática. Na faculdade, tive de abandonar um curso de física e de engenharia biomédica. Isto fez-me sair da escola de veterinária e engenharia. Tive de escolher licenciaturas com requisitos de matemática mais baixos, tais como psicologia e ciência animal, e recebi tutoria para me ajudar a passar. Hoje em dia, mesmo essas portas estariam fechadas para mim, porque esses graus têm agora requisitos matemáticos ainda mais elevados. Recebi recentemente um e-mail de um estudante que me informou que tinha de fazer cálculo para a sua licenciatura em biologia. A biologia era o meu tema favorito, mas nunca teria ultrapassado essa barreira.
(...)
Mais especialistas em educação parecem finalmente questionar porque é que, como disse Hacker, "pensamos na matemática como um enorme pedregulho que fazemos todos puxar, sem avaliar o que toda esta dor alcança".
Christopher Edley Jr., por exemplo, está numa missão para mover a rocha. Antigo reitor da Faculdade de Direito da UC Berkeley, Edley quer colmatar o fosso de equidade e aumentar as taxas de graduação, eliminando os requisitos de álgebra para os estudantes que não estão numa STEM, observando que tais requisitos são "largamente arbitrários".
Dos 170.000 estudantes universitários da comunidade da Califórnia que são colocados em matemática correctiva com base num teste padronizado, mais de 110.000 não completarão os requisitos para obter um diploma de associado ou transferência para a Universidade da Califórnia ou para a Universidade do Estado da Califórnia. Um programa piloto na California State University que permite aos estudantes substituir uma série de cursos de estatística por álgebra, mostrou que as taxas de conclusão das aulas de matemática aumentam quando a álgebra não é necessária.Temple Grandin -
theatlantic/against-algebra