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January 30, 2024

Como é que o Público publica um artigo dum machismo tão primário e racista?




Como é que o Público publica um artigo dum machismo tão primário e racista? Este artigo defende que Michelle Obama não passa de uma mulher negra popular entre as minorias (justamente por ser negra), que não vale um chavo e só é conhecida por ter sido casada com Obama. Obama não presta porque manteve guerras e a mulher (é assim que esta machista a considera) iria ser igual, porque...  ela é só uma negra sem valor que nunca fez nada e defende o maridinho...? Isto tudo porque a Carmo Afonso é uma defensora de Putin e da sua paz terrorista com sacrifício da Ucrânia e detesta tudo o que seja americano (que deve achar ser de extrema direita) ao ponto de escrever esta sujeira ideológica machista e racista. E já agora, quem é que adorou este artigo machista e racista? MEC... que surpresa...

Michelle Obama, uma mulher negra com apelido



Esta é uma maneira péssima de referenciar uma mulher e não poderia estar mais de acordo com tal reparo. Sucede que se Michelle não fosse mulher de Obama eu não estaria a escrever sobre ela.

Carmo Afonso



June 18, 2023

Quando se distorce os factos para forçar um ponto de vista

 

A jornalista começa por dizer que acha que is cartazes são racistas, mas não apresenta uma única razão para essa afirmação, o que é estranho, dado afirmar tão convictamente que o são. Depois dá muitas razões que não têm que ver com os cartazes, como se o tivessem, para deixar essa impressão de que os professores são racistas.
Diz que as pessoas não sabem, porque não se ouviu na TV, mas alguém na assistência dirigiu expressões como 'preto' e monhé' ao primeiro-ministro. Ora, os cartazes e estas expressões que alguém diz ter ouvido são duas coisas completamente distintas, que esta jornalista cola a cuspo para dar a ideia de que os cartazes têm implícitas aquelas expressões racistas e, por isso, são racistas.
Mais à frente cita 1 pessoa, uma deputada municipal que lê racismo na sua conta de Twitter, como legitimação de que os portugueses,em geral, são racistas contra Costa, de onde fica sub-entendido que as manifestações contra Costa têm motivos racistas e, por isso, as manifestações dos professores são racistas.
Dá ideia que é aí que ela quer chegar. Parece-me uma generalização abusiva.
Eu também sou 1 pessoa e, se bem que não tenha a importância que ela atribui a deputados, sou professora e embora não me dê com os 150 mil professores do país, dou-me regularmente com muitas centenas e sigo blogs de professores com milhares de comentários e nunca ouvi nenhum colega chamar  'preto' e/ou monhé' ao primeiro-ministro.
Quer isto dizer que posso generalizar ao ponto de afirmar que nenhum professor é racista? Claro que não, isso seria uma improbabilidade que desafia a lógica. Porém, o facto de haver pessoas racistas no país e até, de haver professores que serão racistas, não permite concluir que todos os portugueses são racistas, que os professores em particular são racistas e que os cartazes do 10 de Junho são racistas e parece-me que esta jornalista distorce os factos para forçar esse ponto de vista. Chega ao ponto de dizer que o presidente da Frente Anti-Racista que não entendeu os cartazes como obviamente racistas, não percebe o que é o racismo...


Costa foi vítima de racismo? Foi no 10 de Junho e milhões de vezes antes

O discurso habitual de António Costa sobre o racismo de que foi vítima sempre tentou corresponder à ânsia da maioria dos portugueses, que é, efectivamente, negá-lo ou minimizá-lo.

Ana sá Lopes

A sociedade portuguesa divide-se sobre se os cartazes que rodearam o primeiro-ministro no 10 de Junho são ou não racistas. Eu acho que sim, que são racistas. Mas até o presidente da Frente Anti-Racista, Henrique Chaves, admitiu ao PÚBLICO ter dúvidas sobre a questão.

Se a discussão sobre o teor racista dos cartazes permite divergências, o que já é totalmente claro é que António Costa foi vítima de racismo durante aquele passeio a pé entre o local das comemorações e o do almoço. O Expresso conta que expressões como “preto” e “monhé” foram dirigidas ao primeiro-ministro pelos manifestantes. Nas imagens que a televisão passou, não se ouvem os insultos, mas apenas António Costa a gritar “racista”.
O racismo estrutural em Portugal afectou e afecta todos os não brancos, qualquer que seja o seu estatuto social, embora seja imensamente mais duro para os mais pobres. António Costa sempre passou por isso – basta ler como é tratado nas redes sociais para ficar a saber o que a casa gasta.
(...)
... o discurso habitual de António Costa sobre o racismo de que foi vítima sempre tentou corresponder à ânsia da maioria dos portugueses, que é, efectivamente, negá-lo ou minimizá-lo
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(...)
Esta semana, a deputada municipal Sofia Vala Rocha, do PSD, escreveu no Twitter: “Quase todos os dias recebo 'whatsapps' em que António Costa é chamado 'chamuça' ou 'indiano'. No meio político em que me movo, a ‘cor’ dele é usada como argumento.


August 30, 2022

About “Reverse Racism”

 


March 14, 2022

A Europa tem uma crise racista?

 


Esta ideia de que os europeus são racistas até à medula pela maneira como recebem os refugiados ucranianos e como receberam os refugiados da Síria faz-me lembrar aquela piada,  

Na segunda-feira bebi quatro bagaços e uma Coca-Cola e acordei com dores de cabeça. Quarta-feira bebi três Brandys e três Coca-Colas e fiquei cheio de dores de cabeça. Sexta-feira bebi seis uísques e duas Coca-Colas e mais uma vez fiquei com dores de cabeça. É evidente que tenho de deixar de beber Coca-Cola senão nunca mais me livro das dores de cabeça.

O que fica evidente nesta piada, é a facilidade com que se raciocina pela superfície sem olhar a elementos não visíveis. E é exactamente o que se faz neste twitt: como os ucranianos são brancos e os sírios não, assume-se que esse foi o elemento diferenciador (a coca-cola) do tratamento dos refugiados desses países.

Acontece que há diferenças grandes entre os refugiados sírios e os ucranianos e não têm que ver com a cor da pele. Em primeiro lugar, os ucranianos que fogem da guerra são quase todos mulheres e crianças.

Não há, entre os ucranianos, uma percentagem de bombistas radicais que entram misturados para criar células de terroristas contra os europeus, homens que enchem as mesquitas de ódio e incitamento à violência contra os europeus. Os refugiados sírios -mas também afegãos e de outros países do Médio Oriente- são muçulmanos enquanto os ucranianos são cristãos. Esta é uma grande diferença, porque os muçulmanos trazem consigo um modelo cultural quase medieval que choca com o europeu: não valorizam sociedades laicas e por isso, não reconhecem a autoridade política como sendo superior à religiosa, logo, não respeitam os princípios organizadores das sociedades democráticas, da mesma maneira que não reconhecem as mulheres como cidadãs de pleno direito e como seres humanos dignos de respeito; não são capazes de revisão racional em questões sócio-culturais e por isso, também, proíbem ou restringem o contacto dos filhos, sobretudo as raparigas, com os europeus, por medo de revisão racional e afastamento da sua mundivisão. São culturas que não valorizam o conhecimento e a educação, não religiosa, dois grandes valores que definem os europeus.

Perturbam imenso as escolas com exigências de abandono do princípio do laicismo e de respeito pelos dogmas do islão: ora as raparigas têm que sentar-se atrás para não perturbar a educação dos rapazes, ora as professoras não podem vir de saias, ora não podem ralhar com os rapazes por serem mulheres ou exigem que as raparigas sejam separadas dos rapazes nas aulas de educação física ou da natação, ora querem proibir que os professores critiquem a religião do Profeta e os seus líderes religiosos... há um ano um aluno decapitou um professor, em França, por os pais acharem que o professor tinha criticado o islão. Em França, os professores têm medo dos alunos muçulmanos. Nós, europeus, valorizamos a discussão e a crítica, os muçulmanos valorizam a obediência e ainda praticam a justiça de Talião. 

São pessoas que têm dificuldade em integrar-se na cultura ocidental e criam imensos problemas sociais e culturais como temos visto que o fazem, na Alemanha, na França, na Suíça, etc., sobretudo quando as comunidades são muito grandes, como em Marselha, por exemplo. Por conseguinte, se calhar não é a cor da pele o elemento diferenciador, mas outras considerações sociais e culturais. 

Aqui na Europa levámos séculos a estabelecer sociedades laicas, democráticas, com valores de respeito universal pela dignidade humana e de direitos sociais. É um trabalho que custou muitas vidas humanas e que ainda não está acabado. Os refugiados muçulmanos, os homens, sobretudo, ao contrário dos ucranianos, são estressores culturais porque trazem consigo um modelo quase medieval de sociedade e cultura: teocrático, teocêntrico, violento na justiça, desigual nas oportunidades, sem respeito pela dignidade humana - não por causa de um líder despótico que, de vez em quando, sobe ao poder, mas pela própria estrutura organizacional teocrática e ditatorial das suas sociedades. Daí a resistência em receber refugiados sírios e de outros países muçulmanos. Não quero dizer com isto que não há racismo na Europa, que o há, mas a Europa não se reduz a racismo, não é o que a define. Temos muitos valores positivos de hospitalismo. Há muita auto-crítica, há vontade de melhorar, há uma constante revisão racional, valores que os refugiados ucranianos também partilham e respeitam e os muçulmanos em geral não, sejam sírios, afegãos, sauditas ou de outro país qualquer. 

também publicado no blog delito de opinião


December 06, 2021

Isto é grave - um relatório de peritos da ONU conclui que somos muito mais racistas do que pensamos




Que temos um problema com chefias da polícia já sabíamos. São muitas as denúncias de brutalidade e como todos nos lembramos, não há muito tempo, dois ou três deles torturaram um homem até à morte, no aeroporto. Claramente precisamos que as novas gerações da polícia sejam pessoas mais bem formadas e melhor treinadas para lidar com grupos sociais diferentes dos seus porque estes racistas que existem na polícia já são velhos demais para serem capazes de mudar. Uma outra maneira de acabar com o racismo nas polícias era abrir a carreira de polícia a grupos étnicos diferentes.

Bem, mas segundo este grupo o racismo não é só policial, está disseminado um pouco por todo o lado. Ainda passou pouco tempo desde a descolonização e ainda se vêm os africanos como 'das colónias'. Talvez por serem poucos e ainda viverem muito separados em comunidades próprias, não sei. São cerca de 160 mil, dos quais 70 mil são cabo-verdianos, sendo estes muito parecidos connosco. Acho eu. 

Estava aqui a pensar que não tenho muitos alunos de origem africana. Uma média de um por turma. Dantes via racismo entre os alunos e acontecia muito ter de intervir e explicar mas há anos que deixei de ver isso entre os alunos. Penso que o racismo é mais das gerações mais velhas. Da minha geração e de outras abaixo da minha mas ainda muito próximas da colonização.

Parece-me que a par da história dos feitos marítimos devia abordar-se a história dos actos de colonização, nomeadamente a escravatura. No início do século XX anda havia escravos em Portugal. Isso não é pouca coisa.

Peritos da ONU surpreendidos com relatos de brutalidade policial sobre pessoas africanas em Portugal



Os peritos do grupo de trabalho das Nações Unidas sobre Pessoas de Ascendência Africana, que estão em Portugal, ficaram surpreendidos e chocados com os relatos sobre brutalidade policial, mas também com a presença do passado colonial português.

A delegação está em Portugal desde o dia 29 de novembro, a convite do Governo português, para reunir informação sobre quaisquer formas de racismo, discriminação racial, xenofobia, afrofobia ou outras intolerâncias, a fim de avaliar a situação global dos direitos humanos das pessoas com ascendência africana em Portugal.

As primeiras conclusões e algumas recomendações foram apresentadas hoje numa conferência de imprensa, em Lisboa, na qual a presidente do Grupo de Trabalho de Peritos das Nações Unidas sobre Pessoas de Ascendência Africana disse ter ficado "surpreendida com o número e a dimensão de relatos credíveis sobre brutalidade policial".

"As operações STOP, as buscas, a constante invasão da privacidade e dos corpos das pessoas, da paz de espírito das pessoas, era constante em algumas comunidades", apontou Dominique Day.

Referiu, por outro lado, que quando a delegação tentou visitar o Bairro da Cova da Moura, na Amadora, nenhum taxista os levou até ao bairro ou foi buscar depois, estranhando esse comportamento quando constataram que se trata de uma "comunidade vibrante, onde as crianças não tinham medo de brincar na rua".

"Foi surpreendente ver como a identidade de Portugal permanece agarrada a uma narrativa colonial e até a ideia de diversidade de linguagem não é vista como algo forte, mas tornou-se uma fonte de pureza de dialeto e para menorizar estudantes baseada não no seu intelecto, mas no tipo de língua que falam", criticou.

Outro dos membros da delegação, a ativista e especialista em direitos humanos Catherine Namakula, disse ter ficado chocada com o facto de o passado colonial de Portugal ainda estar tão presente no dia-a-dia, nomeadamente o uso de insultos racistas em espaços públicos.

"Isso não alinha com as normas de um país que se diz aberto e progressista", apontou Catherine Namakula.

Já Miriam Ariella Ekiudoko apontou a brutalidade policial como o que a mais surpreendeu na sua visita a Portugal, mas afirmou que o que mais a chocou foi a negação da existência de racismo no país.

Entre as conclusões preliminares, o grupo de trabalho diz estar preocupado com a "prevalência de discriminação racial e a situação dos direitos humanos das pessoas de ascendência africana em Portugal", sublinhando que a identidade portuguesa continua a ser definida pelo seu passado colonial e o seu envolvimento direto no tráfico de escravos.

Entre as recomendações, o grupo de especialistas deixa a sugestão ao Governo português para criar um mecanismo independente que investigue as alegações de brutalidade policial e defende que a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) seja independente e com autonomia financeira.

Defende também que os manuais escolares sejam revistos e que os professores sejam formados para ensinar a todos os estudantes portugueses "história exata, incluindo com referências ao colonialismo português, esclavagismo e tráfico de escravos e a sua relação com as manifestações atuais de racismo sistémico".

Pede também que as medidas temporárias implementadas durante a pandemia em relação aos migrantes se tornem definitivas.

Estas e outras conclusões, bem como as recomendações foram já dadas a conhecer ao Governo português, sendo expectável que o relatório final seja divulgado em setembro de 2022.


September 26, 2021

O Cristiano Ronaldo vai de Bentley para o emprego e ninguém vê mal...

 


Namorada de Nelson Évora e medalhada olímpica arrasada nas redes por comprar carro de luxo

Ana Peleteiro respondeu aos comentários com uma citação onde aponta à inveja dos muitos críticos. Atleta tem criticado abertamente o racismo e os partidos que o incitam.

July 09, 2021

Quando o legislador não tem bom senso o povo é que paga

 


Nos EUA, no rescaldo dos crimes racistas recentes e do movimento, BLM, está a haver uma guerra sobre como ensinar nas escolas a história racista dos EUA. Alguns extremistas não querem que se fale, sequer, nos assuntos. A maioria quer que o assunto seja abordado mas não se põem de acordo sobre a maneira de o fazer.

Há um movimento que advoga o ensino da Teoria Crítica da Raça (TCR). Esta teoria que vem dos anos 60 do século passado é baseada na Teoria Crítica da escola de Frankfurt de Horkheimer, Marcuse e outros, de inspiração marxista (dos anos 30 do século XX) que defendem que a estrutura social é mais forte que o indivíduo, portanto, os problemas sociais são influenciados pela cultura e pelas estruturas de poder mais do que por factores individuais das pessoas individuais. 

TCR transfere essa ideia para o racismo americano e defende que as leis que 'garantem' a igualdade de direitos por si só não chegam, já que as estruturas de poder efectivo perpetuam o racismo nas suas práticas e na sua cultura. Os críticos da TCR dizem que ensinar que os direitos garantidos na lei não têm relevância é muito perigoso, digamos assim, de maneira simplista.

Alguns legisladores conservadores que pensam mais em si que nos alunos (isto é universal...), para impedir que a TCR seja ensinada, sem que sejam acusados de racistas, entenderam legislar da seguinte maneira: 

Mas o que é menos conhecido é que em vez de proibir o uso da teoria racial crítica pelos professores na sala de aula, as leis propostas na maioria dos estados proíbem qualquer pessoa de fazer um aluno na escola sentir "desconforto, culpa, angústia ou qualquer outra forma de angústia psicológica por causa da sua raça ou sexo".

- ou seja, porque ensinar aos alunos que os avós dos avós, os avós e os pais foram racistas ao ponto do crime indiscriminado ou da cumplicidade com esse crime (porque estava embutido na cultura das estruturas do país) pode pôr os alunos brancos desconfortáveis, legislaram de uma maneira que impede que se fale seja do que for. Até das notícias do dia.

Este não é um problema simples de resolver. Já foi um problema na Alemanha do pós-guerra. É um problema porque implica interiorizar a ideia de que o racismo não foi um erro de uns quantos fanáticos mas uma prática embutida na própria cultura americana, aceite e apoiada pela esmagadora maioria. 


February 23, 2021

September 14, 2020

Desviar o debate da desigualdade social para a questão racial não ajuda à melhoria das condições de vida





Adolph Reed is a son of the segregated South, a native of New Orleans who organized poor Black people and antiwar soldiers in the late 1960s and became a leading Socialist scholar at a trio of top universities.

Along the way, he acquired the conviction, controversial today, that the left is too focused on race and not enough on class. Lasting victories were achieved, he believed, when working-class and poor people of all races fought shoulder to shoulder for their rights


“An obsession with disparities of race has colonized the thinking of left and liberal types,” Professor Reed told me. “There’s this insistence that race and racism are fundamental determinants of all Black people’s existence.”

... in years past, the D.S.A. had welcomed Professor Reed as a speaker. But younger members, chafing at their Covid-19 isolation and throwing themselves into “Defund the Police” and anti-Trump protests, were angered to learn of the invitation extended to him.
...
Professor Reed and his compatriots believe the left too often ensnares itself in battles over racial symbols, from statues to language, rather than keeping its eye on fundamental economic change.

“If I said to you, ‘You’re laid off, but we’ve managed to rename Yale to the name of another white person’, you would look at me like I’m crazy,” said Mr. Sunkara, the editor of Jacobin.



September 03, 2020

Ora aqui está uma iniciativa que não percebo

 


A universidade de Nova York vai organizar residências segregadas no campus a pedido de um grupo de 1.105 estudantes negros -os Black Violets- , uma pequena percentagem dos estudantes negros da universidade, porque não estão para ter que educar os colegas acerca do que é o racismo e então querem ter um espaço onde não tenham que aturar outras raças.

Pelos vistos estas petições já aconteceram em outras universidades do país.


New York University moves to implement racial segregation in student dorms


Since late June, the Office of Residential Life and Housing Services at New York University (NYU) has been working closely with a small, student-led task force to make racially segregated housing a reality in undergraduate student dorms.

A little over two months ago, a recently organized advocacy group called Black Violets created an online petition demanding that the university “implement Black student housing on campus in the vein of themed engagement floors across first-year and upperclassmen residence halls.” In its petition, the group argues that “Too often in the classroom and in residential life, black students bear the brunt of educating their uninformed peers about racism.” African American students, the group states, desperately require a “safe space” where they can escape from students, staff and faculty of other races.

This irrational and anti-scientific ideology lies at the heart of similar proposals made at several major academic institutions across the country in recent years. This includes the moves towards racially segregated housing at Syracuse University and the recent calls for the implementation of racial quotas at several elite American universities. These demands do not stem from an egalitarian and progressive desire to make education easily available for everyone and eliminate the real dangers that face the majority of students and youth (massive debt, unemployment, homelessness, hunger, poverty, etc.), but from a desire to advance the interests of a very small, privileged layer of the population.

Entretanto:


The decision to hold in-person classes at NYU will prove to be disastrous. Over the last few weeks, several major US schools, including the University of North Carolina at Chapel Hill, Notre Dame, Princeton and the University of Southern California, have been forced to revert to online instruction after explosions of COVID-19 amongst their students, staff and faculty. Despite this, NYU has decided to go ahead with a full reopening, knowingly sacrificing the lives of students staff, and faculty to increase its profits.

It is imperative that all students realize the danger they are facing in returningto school. What is needed is not the division of students along identity-based lines, but their unification against the present, barbaric social order.
The fight against all forms of exploitation and oppression is inherently linked to the fight against capitalism. Students at NYU and universities around the world who seek to fight for genuine social equality must turn to the international working class, the great, powerful, progressive force in society. It is only by uniting workers of all races, ethnicities, genders, sexual orientations and nationalities behind a clear socialist program and perspective that capitalist barbarism will be overcome.

July 29, 2020

Acerca das raízes do racismo em Portugal



O documento abaixo, uma mera folha de papel era o quanto bastava para que uma pessoa adquirisse a liberdade. E foi conhecido como Carta de Alforria.
Escrita de próprio punho pelo meu bisavô Guilherme Cândido Pinheiro em 1883.
Por trás desse acto de aparente bondade há interesses bem menos humanitários.
Em Portugal a história da escravidão só começa a ser estudada à sério após o 25 de Abril. Apesar do decreto do Marquês de Pombal de 1761 estabelecer o fim do trabalho escravo em território português somente em 1869 terminaria essa nódoa no passado da humanidade. A última pessoa escravizada em Portugal foi uma mulher centenária, figura muito conhecida aqui em Lisboa onde viveu entre o Poço dos Negros e o Bairro Alto e que faleceu em 1930 e que era vendedora ambulante de amendoim.
Transcrevo o texto que já conheço de cor e passo a citar:

Eu abaixo assinado pela presente declaro que concedo plena liberdade a meu escravo Tibúrcio, africano de 50 anos mais ou menos a fim de que dela goze como se de Ventre Livre nascera. E para constar mandei passar a presente que assino.

Ora bem, o pobre do Tibúrcio foi trazido algures de África e trabalhou uma vida toda sendo considerado propriedade de outrém. Com cerca de 50 anos iria fazer o quê? Quando eram jovens batiam a porta e iam à vida mas por medo e insegurança muitas vezes permaneciam em casa dos antigos senhores em troca de um salário irrisório.
O bisavô Guilherme, como já disse, tinha negócios na terra natal, Melgaço e no Rio de Janeiro.
Não era fazendeiro, tudo girava em torno do comércio e na sua casa brasileira possuía cinco escravos domésticos, cujas respectivas cartas de alforria estão em meu poder. Dois homens maduros, ambos africanos de nascença, o Tibúrcio e o António. E duas mulheres mais novas, ditas crioulas ou ladinas por já terem nascido numa sanzala no Brasil. E finalmente uma jovem, natural da antiga Província do Ceará e que fora comprada no Mercado do Valongo aos 14 anos de idade, descrita de forma brasileira como parda, o que quer dizer que era mestiça.
Primos meus que vieram em Angola contavam que geralmente a cozinha era comandada por homens. No Brasil era o contrário. Certamente o António e o Tibúrcio tinham entre seus ofícios cocheiro, jardineiro, encarregado das obras de manutenção da casa e do cuidado da horta caso houvesse. Se sobrasse tempo livre a legislação permitia que o senhor alugasse seu escravo ao dia para diferentes actividades e esses homens eram chamados de negros de ganho. O dinheiro que recebiam durante a jornada seria entregue ao seu senhor. Às duas mulheres cabia o trabalho interno, a cozinha, a limpeza de dentro, lavar, engomar e brunir a roupa. A rapariga novinha foi baptizada com o curioso nome de Syomara e imagino que a ela foi destinado o serviço menos pesado, servir a mesa, os trabalhos de costura e eventualmente de dama de companhia da bisavó Maricota.
E eis que em 1883 o Guilherme se levanta todo pimpão e bem disposto, roído de remorsos e pleno de graça cristã e decide que aquelas pessoas livres seriam.
Da mesma forma que o Coelhinho da Páscoa e o Pai Natal não existem crises de consciência nem sempre ocorrem de forma gratuita e espontânea.
É preciso rever o contexto histórico. O Segundo Império no Brasil sob a figura soberana de Dom Pedro II vive seus momentos de agonia e o seu fim se anuncia. A República é iminente e os Movimentos Abolicionistas pululam por todo lado. Prevendo o inevitável o Imperador reconhece que é preciso preparar terreno e suavizar o impacto no modelo económico do país na altura da transição.
Assim promove a emancipação da população escravizada em larga escala concedendo aos senhores títulos honoríficos em troca da liberdade de seus servos.
O bisavô Guilherme conquistou fama, dinheiro e poder e para coroar com êxito sua ascensão social só lhe faltava mesmo um título de Barão ou Visconde. E trata de alforriar toda gente e munido de muitos documentos troca imensa correspondência com a Corte onde solicita que o agraciem com um título de nobreza à medida de sua ambição e vaidade?
Mas conseguiria chegar lá?
Depois eu conto...

 

Carlos Pinheiro  
(publicado com autorização do autor)



July 26, 2020

Equívocos e contradições de Fernanda Câncio



FC começa logo por tratar as pessoas como estúpidas dizendo que a maioria pensa que poder é um termo que se restringe a governo ou muito ricos e que não percebem que toda a estrutura social está marcada por relações de poder. Esse é o primeiro equívoco, partir do princípio que é uma elite entre ignorantes.

Em seguida fala de 'cultura de cancelamento' dando o exemplo da carta assinada pelos 153 intelectuais americanos que terá sido motivada, em sua opinião, pela polémica à volta dos tuítes de J.K. Rowling sobre a expressão, 'pessoas que menstruam' no âmbito de uma campanha de produtos higiénicos (tradicionalmente chamados femininos). Esse é o segundo equívoco de FC porque J.K. Rowling, ao falar acerca do assunto, está a dar voz às pessoas que critica e não a silenciá-las. Ora, a cultura de cancelamento é justamente o oposto: trata-se de silenciar pessoas não lhes dando voz, tirando-lhes a voz ou ignorando-as como se não existissem. 
Não estou aqui a concordar ou a discordar da opinião de J.K. Rowling, estou a fazer notar que criticar (entenda-se criticar como um processo analítico) e argumentar são modos de dar aos outros um estatuto de igualdade e por isso a crítica e a argumentação estão presentes em democracia e não em ditaduras.

Cultura de cancelamento era -e ainda é- o que se fazia aos negros e às mulheres e não só, que eram ostracizados e ignorados, quer dizer, nem sequer se lhes reconhecia voz. Como se faz em muitas culturas de modo generalizado.

 Ora, J.K. Rowling dá voz aos seus opositores a partir do momento em que os reconhece como interlocutores, mesmo que seja para criticá-los. A reacção dos opositores que se sentiram atingidos não foi a de argumentar e criticar mas de chamar-lhe nomes e peticionar para que fosse ostracizada. Imediatamente apareceram pessoas a dizer que se recusavam a trabalhar com ela ou a participar na edição dos seus livros. Nem um argumento contra, apenas castigo. 
Cá em Portugal também se escreveu uma carta aberta a pedir que calassem o André Ventura por ser fascista. Não me lembro de ver FC criticar essa carta como critica esta. Será porque está de acordo com o conteúdo da carta? Esse é o equívoco e a contradição: sermos a favor de cartas abertas que mandam calar alguém de que não gostamos e contra cartas abertas que pedem para que se possa falar do que não gostamos.

Como a FC muito bem sabe, hoje-em-dia o twitter tornou-se uma guilhotina e nos EUA, sobretudo, um professor universitário, um dirigente de uma empresa, um autor, etc, ser acusado de racismo ou homofobia ou machismo, sem um único argumento que seja, dá origem a despedimentos sem apelo nem agravo, porque, felizmente, os que não tinham voz, agora têm, mas, infelizmente, às vezes usam-na exactamente da mesma maneira que os antigos opressores usavam:  mandam calar e castigar. Tem havido casos escandalosos. Não me parece que isso seja um benefício social, que melhore o racismo, a homofobia, a transfobia, o machismo ou outro 'ismo' qualquer.

Há muito me confunde o tipo de raciocínio que combina uma defesa maximalista da liberdade de expressão com a aflição face às reações - também discursivas - de desagrado que certas expressões de liberdade ocasionam. Esta frase não é séria pois ninguém, e FC sabe-o, defende a total liberdade de expressão. É difícil e complexo saber onde está a linha de demarcação entre liberdade de expressão e abuso, mas ninguém defende que possa dizer-se tudo e mais alguma coisa, de modo que basear uma argumentação neste falso princípio de que as pessoas que defendem a liberdade total de expressão querem calar os oprimidos está manchada de equívoco e falsidade, logo nos pressupostos.

Finalmente, FC admira-se que pessoas que são feministas possam assinar uma carta contra 'oprimidos', em seu entender. De facto, muita gente, e a FC é uma dessas pessoas, pelo que lemos nas suas crónicas de jornal, abstêm-se de criticar as mulheres, sendo mulheres, os gays, sendo gays, os negros, sendo negro, os políticos de esquerda, sendo de esquerda, os partidos de direita, sendo de direita, etc. Para essas pessoas, eu estar aqui a criticar a FC, uma feminista, é um erro. Como nunca devia ter criticado a Lurdes Rodrigues ou esta Ministra da Saúde ou outra qualquer mulher, porque na opinião dessas pessoas, se critico mulheres estou a dar armas ao inimigo, por assim dizer. Só que a mim parecem-me esses serem são maus princípios para se construir uma sociedade mais justa e igualitária e não critico ou elogio pessoas na base do sexo, cor, credo, orientação política, etc.

Liberdade de expressão e de crítica, que estão na base de uma cultura de 'não cancelamento' e não opressão, só se preservam e fortalecem se defendermos regimes políticos que as valorizem, desde logo dando voz às pessoas, dando instrumentos de controlo à oposição, valorizando vozes críticas, dando força à imprensa livre. Não me lembro de uma única vez, sequer, ter lido crónicas de FC a criticar governos que se destacaram na censura de opositores, na tentativa de controlo dos meios de comunicação social, nem sequer me lembro de ler críticas a indivíduos extremamente machistas da esquerda, ou mulheres ministras que usavam do cancelamento para calar tudo e todos. Dir-me-à que nas suas crónicas fala do que quer. Pois, é exactamente isso a liberdade expressão. Não estou de acordo com ela neste aspecto (embora concorde com muitas das suas crónicas) mas defendo o seu direito a falar do que quer, como quer.

No que me diz respeito sou a favor de argumentar e criticar e não de mandar calar. Já me tentaram calar muitas vezes à força, com bullying, com calúnias vergonhosas. Continuei a falar. Nunca na minha vida colaborei para que alguém deixasse de ter voz. De vez em quando tenho alunos muito racistas e machistas. Podia, pura e simplesmente, mandá-los calar e não lhes dar voz, como vejo outros fazerem. Não deixo que ofendam ninguém, mas não os mando calar. Argumento e obrigo-os a argumentar até que não tenham argumentos. E faço isto uma e outra vez com muita paciência e sem me irritar até que são os próprios a reconhecer que não têm razão. Alguns são teimosos e nunca dão o braço a torcer mesmo não tendo argumentos. Não fico a embirrar com eles por causa disso. São fruto de uma educação e sei muito bem não consigo chegar a todos e há quem não goste mim... A diferença entre mim e a FC é que, muito provavelmente, a FC entende que a mera opinião racista ou machista deles já é, por si, ofensiva para essas minorias, e que isso é razão suficiente para os mandar calar. Não é a minha maneira de pensar.

Lembro-me de um deputado do Parlamento Europeu, há pouco tempo, ter defendido no plenário que as mulheres deviam ganhar sempre menos que os homens pela razão de os homens, serem, obviamente, mais inteligentes que as mulheres. Houve logo petições para o destituir, como castigo de ser tão machista e de o PE não querer que se pense que ele é representativo da casa. A questão é que ele é mesmo representativo pois representa todos os que votaram nele. O que é preciso mudar é a mentalidade das pessoas que votam em homens como ele e não cancelá-lo. 

Estou convicta que para se mudar as mentalidades de maneira sólida e não provisória, é preciso persistência e resistência, argumentos convincentes, firmeza e coerência, coragem. Acredito na educação como modo de melhorar as sociedades, mas não à força. Pela palavra. É preciso atitude filosófica de distanciamento e paciência para perceber que a sua luta de hoje vai ser aproveitada, não por si, mas pelos que vieram depois. E que até podem deitar tudo a perder. 


Embora falar de "cancel culture", então
Fernanda Câncio

Não é fácil consciencializar que a despeito dos nossos sentimentos, das nossas ideias e intenções, fazemos parte de uma estrutura de poder. Até porque para a maioria das pessoas, aparentemente, "poder" é sinónimo de governo ou cargo político ou muito dinheiro; a ideia de que existem relações de poder historicamente codificadas na estrutura social e cultural, que essas relações nos precedem e transcendem e estão inscritas na linguagem, por exemplo, tem sido, como se sabe, objeto de enorme resistência - aquela que se tem erguido face ao que é denominado de "politicamente correto" e também ao que tem sido referido como "cancel culture", duas noções relacionadas entre si.

É sobre essa denominada "cultura de cancelamento", representada como associada à esquerda, a carta aberta surgida a 7 de julho no site da revista americana Harper com o título "Uma carta sobre a justiça e o debate livre". Assinada por 153 intelectuais, muitos deles vistos como de esquerda, e incluindo os escritores Salman Rushdie (o qual, recorde-se, foi alvo em 1989 de uma fatwa do então supremo líder do Irão, aiatola Khomeini, sentenciando-o à morte por causa de Os Versículos Satânicos), Margaret Atwood, J. K. Rowling e Martim Amis, a histórica feminista Gloria Steinem e o filósofo Noam Chomsky, adverte para aquilo que identifica como "restrição do debate, seja por um governo repressivo ou uma sociedade intolerante" e "o clima de intolerância que se instalou em todos os quadrantes", considerando que "a troca livre de informação e de ideias, sangue vital de uma sociedade liberal, está a ser mais constrangida a cada dia que passa".

A escolha da expressão "sangue vital" ganha uma tonalidade sarcástica se soubermos que a carta surge um mês após J.K. Rowling, autora de Harry Potter, ter sido acusado de transfobia na sequência de uma série de tuítes nos quais reagia à frase "pessoas que menstruam" (a qual refere o facto de haver homens transexuais que têm o período, assim como hermafroditas ou outras pessoas que não se identifiquem como mulheres), ironizando: "Estou certa de que existia uma palavra para isso, qual era?" Perante a maré de críticas, manteve a sua posição: "Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo impede que muitos possam falar das suas vidas. Não é ódio dizer a verdade."
...
Há muito me confunde o tipo de raciocínio que combina uma defesa maximalista da liberdade de expressão com a aflição face às reações - também discursivas - de desagrado que certas expressões de liberdade ocasionam. E mais me confunde ainda que quem repita "palavras são só palavras, não são ações", se transtorne com tempestades tuiterianas (a última vez que vi, o Twitter é feito de palavras), protestos vocais ou mesmo apelos a boicote. Raios, isso não é tudo palavras? Tão palavras como dizer que uma mulher trans não é uma mulher, ou que só as mulheres menstruam, e que se menstrua é mulher - o que é afinal uma forma não particularmente subtil de boicotar vários grupos de pessoas, recusando-lhes o direito a definir a sua identidade e, decorrentemente, a, como a minha amiga, entrar numa casa de banho identificada com o género com que se identificam.

Assim, o que Rowling fez, do seu considerável lugar de poder, foi participar no "cancelamento" daqueles grupos de pessoas - grupos de pessoas historicamente perseguidas, anuladas, obliteradas, assassinadas. E o que esta carta faz, ao afirmar que há menos liberdade discursiva e de debate hoje, é fazer de conta que antes não havia grupos inteiros de pessoas "canceladas", sem direito a voz ou a sequer se autonomearem, e que esse cancelamento, derivado de estruturas relacionais de poder que se perpetuam, não continua a subsistir.

Para dar um exemplo que vai ao encontro das preocupações feministas de Rowling, basta atentar ao que sucede às mulheres no espaço público - à forma como são sistematicamente alvo de tentativas de intimidação, humilhação e silenciamento (ou seja, cancelamento) através da perpetração de violência, seja ela simbólica, discursiva ou física. Como explicou Alexandria Ocasio-Cortez de forma cristalina esta semana no Congresso dos EUA, essa é ainda hoje a realidade das mulheres, incluindo das que como ela ocupam "lugares de poder".

Que haja feministas a assinar uma carta na qual se certifica existir menor liberdade de debate porque os historicamente oprimidos e silenciados agora falam, se irritam e contra-atacam, disputando o poder, é mesmo muito deprimente.

July 13, 2020

Isto é um erro tão grande



Why does philosophy have a problem with race?

Unthinkable: Racist views must be confronted honestly, says philosopher Aislinn O’Donnell




No longer can one pretend that the Enlightenment figure David Hume was speaking out of character when he ranked black people as “naturally inferior to the whites”. Nor can one pass off Immanuel Kant’s lowly regard for “the Negroes of Africa” as an aberration. Nor indeed can Voltaire’s anti-Semitism and offensive baiting of non-whites be treated like a minor blip in an otherwise unblemished intellectual record.

As John Gray writes in his book Seven Types of Atheism, “Voltaire’s racism was not simply that of his time. Like Hume and Kant, he gave racism intellectual authority by asserting that it was grounded in reason.”

Philosophy has largely been taught through the eyes of male, pale thinkers. Is it time for an overhaul?

Aislinn O’Donnell: “Philosophy departments’ lack of diversity when it comes to both curricula and staff
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Querer ajustar contas com os filósofos por terem sido racistas. Também foram machistas. Ainda ontem fui dar com uma frase de Hegel -A mulher pode ser educada, mas sua mente não é adequada às ciências mais elevadas, à filosofia e algumas das artes- chocante. Hegel viveu até quase meados do século XIX. Mas pior que Hume, Kant ou Hegel serem racistas ou machistas, são os autores contemporâneos ainda o serem. Na semana passada li um livro de Byung-Chul Han, um pensador coreano que vive e ensina na Alemanha, chamado, A Agonia de Eros. O autor fala da tendência actual de se reduzir os sentimentos a emoções e afectos positivos e superficiais e da importância da negatividade no que é autêntico e conclui dizendo que o amor se efeminou... quer dizer, as mulheres só são capazes de emoções fúteis e pueris e infectaram os homens com essa incapacidade. Que diabo! Como não podemos partir do princípio que o indivíduo não se dá conta do seu machismo, só podemos concluir que não se dá conta da sua estupidez. No entanto, o livro tem muitas ideias que me parecem válidas e certeiras. É claro que este indivíduo não é Hume, nem Kant, nem Hegel. É só um pensador. Para mim um filósofo é outra coisa. Mas eu aproveito do livro as ideias que me parecem bem pensadas e não renego o que me parece bem pensado só porque o homem é um machista idiota. Nem percebo essa maneira de pensar. Se fossemos a rejeitar os autores machistas, em todas as áreas da cultura, sobravam uns cinco...

Tem que se aceitar que os homens, e em particular, os brancos, na generalidade, sobretudo de uma certa idade, têm uma grande incapacidade de se des-subjectivarem, são muito auto-centrados e por isso falta-lhes compreensão e respeito pela alteridade da humanidade. 

A ideia de que os filósofos são sábios está tão impregnada na mente que em geral não se lhes perdoam estes erros. Ou melhor, não se lhes reconhecem erros, de modo que estas particularidades de carácter aparecem como pecados que têm que ser constantemente purgados.

O que interessa dizer vinte vezes que os filósofos eram racistas ou machistas? Ou que viveram num tempo de colonizadores e que não rejeitaram essa visão, até a aceitaram? Basta sabermos uma vez. 
É mais importante tentar perceber porque é que essas pessoas que tão bem pensam em tantas dimensões da realidade, não conseguem pensar-se fora da cultura que os formou e livrar-se dos seus preconceitos. Isso e diversificar os departamentos que, como se diz no artigo, têm uma falta de diversidade que não ajuda ao debate de ideias.

Não me faz mossa nenhuma ler as barbaridades que esses indivíduos, e até algumas mulheres, dizem sobre as mulheres. Hanna Arendt, numa entrevista que anda no YouTube, diz que as mulheres que têm profissões masculinas perdem a feminilidade ou algo do género, agora não me recordo ao certo se eram as profissões se era outro aspecto. Era uma mulher com um intelecto muito forte mas com uma mentalidade, em muitos aspectos, do seu tempo e não estava habituada a ver as mulheres a fazerem certas coisas e essa visão colidia com a sua estética de vida. Isso não retira valor ao seu pensamento, embora seja uma pena, claro.

Na verdade, o que me surpreende são aqueles que escaparam ao 'enformamento' das suas pessoas no processo de socio-endoculturação. Um dia li um livro italiano de memórias, do fim da Idade Média, escrito por uma mulher. Já não me lembro que livro era. Acho que é duma colecção que tenho de livros escritos por mulheres de outras épocas. A mulher contava que os pais a casaram muito nova, com 14 anos ou 15. O marido tinha quase 40 anos. Na noite do casamento o marido disse-lhe para ela não se preocupar que não ia forçá-la a dormir com ele, que esperava até ela ser mais velha e estar preparada. Que achava mal os pais casarem as raparigas muito novas, que era uma grande violência. Disse-lhe que não tinha pressa em ter filhos e que se os pais perguntassem ela que dissesse que estava tudo bem. Ela falava disto com um grande carinho por ele e lembro-me de ter ficado estupefacta. Parecia um discurso actual e invulgar, mesmo nos nosso tempos. Não estamos à espera que um homem, sobretudo em tempos remotos, tenha esse tipo de compreensão, de capacidade de se des-centrar, de respeito e delicadeza. 

Ainda hoje, a maioria dos homens de uma certa idade são machistas, paternalistas e vêem as mulheres como 'pessoinhas' de modo que esperar que outros de outros séculos fossem capazes de ver fora do seu tempo, é um exercício inútil e, quanto a mim, errado. É uma perda de tempo e não se ganha nada em sabedoria com isso. Uma pessoa não  deita fora as pinturas de Gaugin só porque ele era um porco esclavagista e um ordinário. Sabemos que o era. Podemos pôr uma nota informativa ao lado das suas pinturas, para ajudar à verdade do autor, mas isso não retira valor às pinturas. 

Hume, Kant e Hegel eram pessoas d seu tempo, por muito que isso nos custe, mas isso não retira valor às suas obras.

June 13, 2020

Violência contra estátuas 'versus' violência contra pessoas



Este homem fala do assunto como se fosse uma questão estética, sabendo nós todos que não o é. Põem-se estátuas de pessoas nas ruas e praças públicas para homenageá-las no pressuposto que prestaram serviços à Pátria, que a honram. É um reconhecimento público como a medalha da Ordem do Infante ou algo do género. É por isso que não há estátuas de Hitler no espaço público, apesar de ele ter mandado fazer muitas e de bom gosto estético. Se uma pessoa praticou actos odiosos, criminosos, qual é a razão de o homenagearmos publicamente? Nenhuma. Dizer que as estátuas de pessoas que cometeram crimes odiosos devem ficar por terem valor estético é fingir que não se percebe o problema.

Este indivíduo, George Floyd, cuja morte filmada foi a gota de água, é constantemente citado por ter um passado de pequena delinquência, mas aquele rapaz branco que violou uma colega, há um ano e maio, aproveitando-se de ela estar embriagada e a deixou caída, inconsciente e meio nua atrás de um caixote do lixo, na universidade de Yale, se não me engano, levou 3 anos de pena suspensa porque o juiz considerou que era de boas famílias e tinha um futuro promissor. É um violador promissor, sim. Isto é o pão nosso de cada dia.

Que as pessoas revoltadas contra o racismo tenham deslocado a sua agressividade para as estátuas e não para outras pessoas parece-me um mal muito menor e é significativo que ao fim de menos de 15 dias de protestos onde se sujaram e estragaram meia dúzia de estátuas a sociedade já esteja pelos cabelos e faça como este senhor que chama acéfalos aos que protestam e os compara, a eles e não aos que matam, efectivamente, pessoas e não estátuas, ao Daesh. 

O cardeal Fernando Niño de Guevara, pintado por El Greco não está na praça pública, está dentro de um museu e se não há nenhuma placa a explicar quem ele foi e o contexto da obra, devia haver.

A questão é complexa. Há homens que não podiam estar em cima de estátuas, publicamente: foram criminosos, praticaram actos criminosos, traficaram escravos, foram cruéis esclavagistas. Já Descartes dizia que um dos problemas da humanidade está em que se educa os mais novos na veneração dos violentos da história e não nos bons exemplos. 

Depois há outros, como o Padre António Vieira que defendeu os índios mas também defendia a escravatura por questões económicas, embora nunca tenha tido escravos e não parece correcto condená-lo por crime de pensamentos.

No entanto, compreendo a revolta. Há um tipo que há um par de anos escreveu no Expresso que a sociedade, diga-se os homens, devia vedar o empregos às mulheres até elas produzirem, pelo menos, 2 filhos, como se faz noutro país qualquer, mas é claro que isso não se podia fazer, dizia ele, porque as feministas haviam de fazer um escândalo. Isto é defender a escravatura das mulheres. Imagine-se que ele dizia que a sociedade devia vedar o emprego a negros até eles produzirem não sei o quê. Que diriam? Que ele defende a escravatura. Pois, é a mesma coisa. Ele continua a escrever alegremente grandes barbaridades no mesmo jornal. Não defendo que lhe façam mal, pois seria condenar alguém por crimes de pensamento, mas que é revoltante e triste que o jornal dê emprego a um tipo que sonha com a degradação das mulheres a escravas procriadores dele e seus capangas, ah isso é.

Também Churchill defendia que os negros e outros são raças inferiores, mas isso é o que ele pensava e não o que fazia. E, na verdade, ele foi alguém que prestou grandes serviços à Pátria dele e não só.
Hoje li umas respostas de Spike Lee a actores e realizadores acerca deste assunto e a certa altura perguntaram-lhe onde viveria se não vivesse na América: em Brooklin, disse, porque não imagina viver noutro sítio senão naquele país que inventou a democracia e que é melhor que os outros e é excepcional, etc. Portanto, um indivíduo que se queixa, com razão, dos que assumem e agem no pressuposto de que a raça dele é inferior, é ele mesmo veículo de ideias de haver povos superiores e povos inferiores.

(um aparte - ontem ouvi umas duas ou três horas de entrevistas do congresso americano a umas pessoas por causa do impeachment e vários vezes falaram do excepcionalismo americano. Eles estão mesmo convencidos que são um povo superior...)

Por conseguinte, as coisas são demasiado complexas para reduzir as pessoas a acéfalos ou bárbaros. Do lado dos que mandam e têm mais contas a prestar, há muita cegueira e recusa de ver o óbvio. O príncipe belga defendeu o Rei Leopoldo II, um ladrão e criminoso que fez coisas inomináveis, dizendo que ele nunca foi ao Congo e por isso não é responsável por nada do que lá se fez em seu nome. Isto é revoltante e a revolta de vez em quando transborda.
As pessoas não gostam de ver o transbordo e queixam-se mas nunca se queixam do transbordo dos outros, os que praticam a violência contra essa pessoas, dia após dia, ano após, ano, década, após década, século após século.

A sociedade funciona com o racismo, o etnocentrismo e o machismo em default. A máquina está programada para descriminar e tratar como cidadãos de segunda classe, os negros e outras etnias e as mulheres. Há excepções, sim, mas são isso mesmo, excepções.
Se se quer mudar este estado de coisas não se pode deixá-las correr por si, porque elas não se corrigem sozinhas, visto que os que estão no poder e têm vantagens não querem abdicar delas.
A quantidade brutal de homens incompetentes e intelectualmente menores que ocupam cargos só se percebe quando percebemos que o default da máquina social são eles. De modo que é preciso ir mexer nas configurações da máquina e assinalar todas as caixas e não apenas uma, como agora acontece.
E quem não vê isto e só vê um lado da questão, é cego e agrava os problemas.

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... a vandalização de monumentos que em algum momento passaram a ser vistos como símbolos nefastos por parte de determinadas dinâmicas políticas, sociais, religiosas, ou de defesa de um gosto preestabelecido.
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O tema é antigo e sempre perigosamente recorrente, mostrando à saciedade quão acéfalo é o pendor dos homens para a violência gratuita e quão frágeis para lhe resistir são as obras de arte e os monumentos da História
...Com máximo propósito, estas palavras ganham sentido face aos actos de violência contra obras de arte – os monumentos públicos, as estátuas e os memoriais – que, nos últimos dias, se têm multiplicado em várias cidades do nosso planeta, e também em Portugal, na onda dos sentidos protestos contra a repressão xenófoba nos EUA.
...
O iconoclasma é sempre um acto inadmissível, e não se resume naturalmente aos atentados do Daesh, ou dos talibans, contra museus, monumentos e demais patrimónios da humanidade, pois se alarga às atrocidades dos senhores do mundo nas guerras de cobiça contra populações inteiras para pilhagem e controle dos seus recursos.
...
Pergunto: não aprendemos nós todos com a História? Parece que não sabemos, mas devíamos saber, que todas as obras de arte (independentemente da sua maior ou menor qualidade estética) são sempre trans-contextuais e, mais!, estão isentas de culpa pelos desmandos da cegueira humana. Vamos retirar de exposição pública no Metropolitan Museum de Nova Iorque o excepcional retrato do Cardeal Fernando Niño de Guevara, pintado por El Greco (c. 1600), porque o retratado é uma figura infame, responsável por inúmeras fogueiras inquisitoriais, coisa que aliás o próprio pintor bem sabia, deixando na tela a impressão da sua antipatia pelo modelo? 
...
Vitor Serrão


June 12, 2020

A sério...?




Trago no nome o meu país



Beatriz é um nome latino e cristão que vem de beatitude. 
Jorge que é o outro nome próprio, vem do grego e significa agricultor. 
Nos nomes próprios tenho a herança greco-latina.
Depois tenho um apelido Oliveira que, ao que se diz, é próprio dos cristãos-novos.
O penúltimo apelido é Fonseca. De origem toponímica, vem do latim fons sicca, que significa "fonte seca" e é comum entre os judeus sefarditas.
E por fim, o apelido Alcobia que também é um toponímia e vem do árabe al-qubbâ, que era a designação árabe de serra, montanha e talvez se referisse à serra do Caramulo porque o nome tem origem ali perto. Usado como apelido e como topónimo, JPM aventa também a origem pré-romana.

De modo que tenho no nome os gregos e os romanos, a mitologia grega e a cristã; os mouros - fomos habitados por cartagineses (hoje, tunisinos) que são negros e mestiços do Norte de África e ainda os judeus, os sefarditas e talvez os cristãos-novos. E gosto desta salganhada :)

Uma coisa que tenho notado nestes protestos contra o racismo:

- há muito protesto mas poucas ideias. Não vejo sugestões de solução do problema;

Não podemos, parece-me, reduzir os protestos às influências da cultura americana. Se em Portugal as pessoas protestam é porque sentem e vêem racismo. Sabemos que só 30% das queixas de racismo na polícia são investigadas. É pouco. 
Quanto mais de esconde o problema mais as partes se extremizam e isso não resolve nada.

Também noto que racismo e escravatura existiram em toda a parte do mundo e ainda existem em alguns países e que o Ocidente foi o único a ter o mérito de desenvolver uma estrutura conceptual de suporte à abolição da escravatura. Isso não anula o facto de termos sido, até há bem pouco tempo, uma sociedade colonizadora com antecedentes de tráfico de escravos, mas ajuda a perceber que os problemas não podem ver-se, literalmente, a preto e branco.

Para se caminhar no sentido de resolver os problemas é preciso fazer sugestões, legislativas ou outras, mais do que gritar contra a polícia ou estragar estátuas - embora seja a favor de que se retirem do espaço público estátuas de pessoas que foram esclavagistas e traficantes de escravos, porque as estátuas não honram a história de um país mas a própria pessoa representada por ter contribuído, com as suas acções, para a honra do país. Ora, se a pessoa fez o oposto, não há razão para a honrar publicamente. Ponha-se a estátua num museu e explique-se as coisas aí. 

A polícia, no seu todo não são um conjunto de privilegiados. Têm um trabalho difícil, fundamental numa democracia e mal pago. Precisam de melhor formação que os tire da lógica militar e os devolva à lógica civil, entre outras coisas.

É verdade que temos uma sociedade ainda racista e isso nota-se, até na linguagem, mas o que precisamos é de discussão e propostas de solução e não de violência. Nem de uma parte, nem de outra.

June 11, 2020

Muhammad Ali - Mudar o presente




... em vez de tentar corrigir o passado. O dia-a-dia está impregnado de uma visão racista (e sexista, porque o que ele diz do branco refere-se ao macho branco) da realidade, como muito bem via Muhammad Ali.

Falta de bom senso



A retirada de "E tudo o vento levou" do catálogo da plataforma de 'streaming' HBO Max nos Estados Unidos será temporária, para que seja incluída contextualização histórica ao filme de 1939.
Num comunicado hoje divulgado, a WarnerMedia, detida pela AT&T e que opera a HBO Max, classifica "E tudo o vento levou" como "um produto do seu tempo" que retrata preconceitos raciais.

De acordo com a empresa, quando "E tudo o vento levou" regressar à HBO Max, irá incluir "contexto histórico e uma denúncia dessas mesmas representações, mas será apresentado tal como foi criado, porque fazer o contrário seria o mesmo que alegar que esses preconceitos nunca existiram".

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Por esta ordem de ideias temos também que etiquetar todos os filmes que são preconceituosos contra as mulheres e proporcionam uma visão estereotipada delas (ou o racismo é mau mas o sexismo é bom?) que são praticamente todos e não são de outras épocas, são desta. Todos os dias abro a TV e se passo nos canais de filmes, está sempre a passar um filme onde as mulheres só aparecem na altura em que os personagens masculinos querem fazer sexo e então elas aparecem para se despirem e o realizador mais a equipa toda das filmagens poderem vê-las nuas a fazer sexo com um homem que está sempre vestido; ou então aparecem para dizer a um homem que os amam e ele são a melhor coisa do mundo, ou para desfilarem roupas, ou para fazer de esposas ou para darem gritinhos como histéricas ou para serem violadas e agredidas. Todos esses filmes que veiculam uma imagem das mulheres ofensiva e humilhante, até, têm que ser rotulados. Aliás, se levássemos isso avante tinha que proibir-se a maioria dos filmes onde as equipas, desde produtores a realizadores, passando por técnicos, são, sabemos-lo agora, um conjunto de homens desonestos (alguns mesmo porcos e criminosos) que abusam de mulheres e crianças.

Depois passamos aos livros e rotulamos os livros onde se descrevem personagens estereotipadas pelo racismo e pelo sexismo. Para já não falar nos livros como a Lolita, que falam da pedofilia como se fosse um amor romântico... são quase todos. Depois fazemos o mesmo aos filmes que veiculam imagens estereotipadas de homens e adolescentes como bestas que só pensam em abusar de mulheres e dar pancada a outros ou roubá-los. Acabavam-se os filmes todos de cowboys mais aqueles filmes para adolescentes rapazes que estão sempre a passar na TV. Os filmes franceses e italianos de até há pouco tempo iam todos à vida.
E temos que rotular as pessoas também: este realizador é convidado frequente do sheik tal e tal deste país que defende a escravatura e opressão das mulheres. Afinal, é pior ser um esclavagista e sexista hoje do que no tempo do filme 'E Tudo o Tempo Levou', não? 

A única maneira de lidar com isto é dar espaço às pessoas não brancas para contarem a sua história e o seu ponto de vista da história, como se tem vindo a fazer: há realizadores de cinema e TV negros e asiáticos e de outras etnias, bem como mulheres que começam a mostrar a sua perspectiva. Nas universidades existem desde há tempos cadeiras e cursos que pretendem isso mesmo de mostrar como a história está escrita por esclavagistas e machistas que deturpam e mentem: é assim que a Mª Madalena ou a Cleópatra, uma mulher extraordinária como líder e muito culta passou para a história como uma prostituta.
É assim que as mulheres e a suas vidas e ações foram apagadas. 

Há pouco tempo li um artigo sobre as raparigas e as mulheres que tinham bandas de rock na altura do Elvis e do nascimento do rock. Algumas foram percursoras dele e das outras bandas que vieram e tinham imenso sucesso localmente. A Fender vendia tantas guitarras a raparigas como a rapazes. Porque é que nunca se tornaram conhecidas para além das suas terras? Porque as rádios as censuravam. Parecia mal, isso de tocar numa banda, era coisa logo rotulada de prostitutas. E agora? Proíbem-se as rádios? Escreve-se uma placa à porta a dizer que em tempos foram muito sexistas e trataram mal as mulheres?

E a arte nos museus? Quase toda sexista, com uma visão pornográfica das mulheres e racista? Também se proíbe?

Quando passo um filme nas aulas, que é sempre escolhido cuidadosamente para ser usado a propósito de um tema, de vez em quando têm cenas sexistas (às vezes racistas mas esses passo de propósito para discutir e mostrar como essas ideias se põem subrepticiamente nas obras) porque é praticamente impossível encontrar um filme não machista, os meus alunos, hoje em dia, dão logo por elas e manifestam-se.

O que quero dizer é: temos que educar melhor: sem racismo, sem sexismo e dar espaço e voz para que outros, que não apenas os homens brancos contem a sua história e mostram a sua perspectiva dos factos, das ideias.

'E tudo o Vento Levou' é um filme que mostra como a escravatura era normal, porque o era, de facto. Escrever um texto a dizer que não estão de acordo com aquelas ideias é um bocado sem sentido. Ninguém está à espera que estejam. Tentem é passar outro tipo de filmes, também. E já agora, evitem os realizadores e produtores que têm e veiculam essas ideias, hoje! Em vez de tentar corrigir o passado, corrijam o presente, contribuam para que se escreva um novo presente e um novo futuro, livre de escravatura, de misógina, de homofobia e machismo. Por exemplo, não dêem milhões a séries como o Game of Thrones, que passa uma visão racista e sexista do mundo: são todos para brancos menos um e as mulheres são vistas como servas de homens, prostitutas ou seres manhosos por natureza. Sim, há duas personagens femininas diferentes... a sério? O os gays, que são três ou quatro e acabam todos mortos como castigo? Ou isso não interessa porque a série dá muito lucro?