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October 19, 2024

Toda a nossa economia está programada para alimentar esta loucura

 

Que para uns se traduz numa vida de inferno. Não admira que depois expludam. E que o planeta não aguente.


August 21, 2024

Pode haver mudança na economia sem mudança de mentalidades?

 


Hoje li um artigo no caderno de economia do jornal suíço, letemps.ch. O artigo é uma longa melúria sobre o desaparecimento da marca Made in Switzerland, a propósito da deslocalização da produção da Hero, uma marca centenária de produtos agro-alimentares, nomeadamente compotas (que todos já comemos ao pequeno-almoço em hotéis) para Múrcia, em Espanha. Isto, depois de outras marcas centenárias, totalmente Made in Switzerland terem fugido da Suíça: a Toblerone para a Eslováquia, a Sugus (que saudades...) para França e China, a Suchard para Estrasburgo, a Milka para a Alemanha. 

O patrão da Hero, Rob Versloot, explica que o franco suíço está muito alto de maneira que a mão-de-obra é muito mais cara que em outros países. E o artigo fica-se por aqui e não levanta questões a esta explicação.

A minha questão é: e então? Porque razão a mão-de-obra estar mais cara na Suíça que em outros países é motivo para deslocalizar as fábricas, despedir pessoas e perder tecido industrial? A resposta todos a sabemos: por que estes patrões não abdicam das suas margens de lucro de 300% ou 500% ou 2000%. Não estão para partilhar as perdas da sociedade. Exigem que os seus lucros se mantenham num crescimento constante, mesmo que à custa do empobrecimento dos trabalhadores e do prejuízo do país. Exigem poder fugir ao fisco, exigem benefícios com o argumento de que criam postos de trabalho, mas na verdade o que criam são condições para manterem as suas margens de lucro sempre a crescer.

Tal como os bilionários que há pouco pediam ao governo norte-americano que os taxassem em 2%, porque pagam 0,5% de impostos e isso põe em causa a democracia. Um deles queixava-se até de a empregada doméstica pagar de impostos mais que ele. Que descaramento. Esses bilionários têm uma opção evidente: pagar os devidos impostos que são na ordem dos 50%, em vez de fugir ao fisco com manigâncias e depois dizer que são tão bonzinhos que querem ser taxados em 2%. 

Ou seja, não abdicam das suas margens de lucro obscenas na ordem dos biliões (americanos) mesmo que isso torne toda a sociedade mais injusta e menos democrática.

Enquanto esta mentalidade não mudar ou enquanto os políticos não tiverem a coragem de regular as deslocalizações massivas de dinheiro e produções e cobrar os devidos impostos, não vejo que possa haver mudanças na economia que beneficiem os países e não cinco ou seis pessoas dentro deles e, por maioria de razão, não vejo possibilidade de evolução na democratização dos países. Pelo contrário: mais pobreza, mais revolta, mais insegurança, mais populismos e extremismos.


April 17, 2024

Eu não percebo nada de economia, mas parece-me que os economistas também não



À medida que a economia dos Estados Unidos vai avançando mês após mês, ano após ano, criando centenas de milhares de novos postos de trabalho e envergonhando ainda mais uma longa série de especialistas que se têm revelado repetidamente errados nas previsões de recessão, alguns em Wall Street começam a alimentar uma teoria económica marginal. E se, perguntam eles, todas aquelas subidas das taxas de juro nos últimos dois anos estiverem, de facto, a impulsionar a economia? P

or outras palavras, talvez a economia não esteja a crescer apesar das taxas mais altas, mas sim por causa delas. É uma ideia tão radical que, nos principais círculos académicos e financeiros, beira a heresia. Mas os novos convertidos (juntamente com um punhado de pessoas que confessam estar, pelo menos, curiosas sobre a ideia) dizem que as provas económicas estão a tornar-se impossíveis de ignorar. Segundo alguns indicadores-chave - PIB, desemprego, lucros das empresas - a expansão é agora tão forte ou ainda mais forte do que era quando a Reserva Federal começou a subir as taxas. Assim, com isso em mente, eis como a teoria funciona.

bloomberg


March 05, 2024

O que se passa com a economia europeia?



Quem sabe, pode ser que Costa, Medina e o próximo governo leiam estes artigos e se dêem conta de que os cortes cegos que nos deixaram no estado em que estamos não ajudam ao crescimento económico nem social e explicam a falência dos serviços públicos, a anemia da economia e o crescimento dos populistas.
Agora, passados estes anos da toika percebe-se claramente que o discurso arrogante da Alemanha de Merkele e de Schäuble contra os países do Sul não tinha que ver com a suposta superior competência da Alemanha mas apenas com a sua subserviência à Rússia de Putin que lhe fornecia petróleo e gás ao preço da chuva. Assim que acabou essa mama, ei-los caídos na depressão da recessão...


O que se passa com a economia europeia?


O velho mundo tem novos problemas. Durante o ano de 2023, a economia europeia registou um crescimento próximo de zero. As duas maiores economias nacionais do continente - a Alemanha e o Reino Unido - podem estar em recessão. Empresas europeias de referência, como a Volkswagen, a Nokia e a UBS, anunciaram coletivamente dezenas de milhares de despedimentos. Agricultores furiosos estão atualmente a bloquear estradas dentro e fora de Paris, e dezenas de milhares de trabalhadores dos transportes alemães abandonaram recentemente o trabalho. 

Os índices de aprovação de alguns chefes de Estado europeus fazem Joe Biden parecer JFK. E sondagens recentes mostram que o apoio aos partidos de extrema-direita está a aumentar em todo o continente, com a "crise do custo de vida" citada como o principal problema dos eleitores.

Era suposto tudo isto acontecer também aos Estados Unidos - mas não aconteceu. Há dezoito meses, quase todos os economistas, analistas e especialistas previam que a combinação de uma pandemia global, de uma inflação galopante e de uma crise energética mergulharia a Europa e a América na recessão. Em vez disso, enquanto a Europa se debate, a economia dos EUA está a ir espetacularmente bem em quase todos os aspectos (mesmo que nem todos os americanos pensem assim). O desemprego está em mínimos históricos, as empresas estão a ser criadas a um ritmo recorde e os salários estão a subir rapidamente. E os Estados Unidos conseguiram-no roubando a ideia do livro do grande governo e do Estado-providência da Europa - e executando-o melhor do que a própria Europa.

Quando a pandemia chegou, em março de 2020, os governos de todo o mundo abriram as torneiras do dinheiro. O Reino Unido e a Alemanha gastaram mais de 500 milhões de dólares. A França gastou 235 milhões de dólares e a Itália 216 milhões de dólares. Mas os Estados Unidos estavam numa liga à parte, gastando uns espantosos 5 biliões de dólares em ajuda à pandemia. Isso é mais, mesmo em dólares de hoje, do que a América gastou no New Deal e na Segunda Guerra Mundial juntos - e, crucialmente, é mais do dobro do que a maioria dos países europeus gastou em ajuda à pandemia em relação à dimensão das respectivas economias.

Muitos economistas alertaram que este tipo de despesa faria disparar a inflação e, durante algum tempo, parecia ser o caso. Mas depois aconteceu algo inesperado: A inflação arrefeceu drasticamente nos EUA a partir do verão de 2022, enquanto continuou a subir na Europa. O estímulo pandémico acabou por não ser a principal causa da inflação. Em vez disso, as grandes despesas dos EUA colocaram os americanos numa posição muito mais forte do que os seus homólogos europeus. Face à inflação, ao aumento dos preços da energia e à subida das taxas de juro, os consumidores europeus viram-se obrigados a fazer cortes. Mas os americanos, apoiados por cerca de 2,5 biliões de dólares de poupanças excedentárias, continuaram a gastar. Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics, argumenta que esta "barreira de proteção do consumidor" permitiu que as empresas continuassem a contratar, a aumentar os salários e a fazer o tipo de investimentos necessários para manter a economia em expansão.

A diferença reside não só na quantidade das despesas públicas, mas também na forma como são gastas. Neste domínio, era melhor ter sorte do que ser bom. No início da pandemia, a Europa apoiou os trabalhadores pagando aos empregadores para os manterem na folha de pagamentos, enquanto os EUA, com o seu sistema de desemprego bizantino e fragmentado, acharam mais fácil pagar aos trabalhadores para ficarem em casa através de um seguro de desemprego alargado. (O Programa de Proteção dos Cheques de Pagamento, no valor de 800 mil milhões de dólares, era suposto imitar a abordagem europeia, mas muito pouco desse dinheiro acabou por proteger os cheques de pagamento). A estratégia da Europa era geralmente vista como a superior: Quando a economia reabrisse, as pessoas regressariam simplesmente ao trabalho sem o caos de milhões de pessoas a tentar encontrar novos empregos ao mesmo tempo.

De facto, o caos parece agora ter sido uma bênção. Em tempos normais, os trabalhadores têm tendência para permanecer nos seus empregos actuais, mesmo que existam oportunidades melhores. Mas quando a economia dos EUA reabriu, dezenas de milhões de trabalhadores despedidos não tiveram outra opção senão procurar algo novo - e, graças à expansão do seguro de desemprego e aos cheques de estímulo, tiveram a almofada financeira para serem mais selectivos. Como resultado, muitas pessoas encontraram melhores posições do que teriam encontrado se a pandemia nunca tivesse acontecido; milhões de outras criaram as suas próprias empresas.

Essa remodelação do mercado de trabalho, argumenta Adam Posen, presidente do Peterson Institute for International Economics, é a explicação mais plausível para o motivo pelo qual os trabalhadores americanos experimentaram um aumento repentino na produtividade no segundo semestre de 2023 - algo que não ocorreu na Europa. "A resposta à pandemia convenceu as pessoas de que o governo, em última análise, as protegia", disse-me Posen. "E isso permitiu que as pessoas corressem mais riscos do que o normal." As redes de segurança ao estilo europeu e alguma disfunção burocrática americana clássica podem ter-se revelado uma fórmula vencedora.
(...)
As trajectórias económicas extremamente diferentes dos Estados Unidos e da Europa não podem ser explicadas apenas pelas opções políticas. A invasão da Ucrânia pela Rússia fez subir os preços da energia muito mais na Europa do que nos EUA. Ainda assim, o fosso transatlântico só se abriu completamente em 2023, depois de o pior da crise energética já ter passado. A divergência é melhor explicada pela forma como a Europa e os EUA responderam, respetivamente, à série de crises económicas desde 2020. "Biden abraçou uma agenda económica muito mais próxima das tradições social-democratas da Europa", disse-me Malcolm Gooderham, fundador da Elgin Advisory, sediada no Reino Unido. "E, por causa disso, a América deixou a Europa para trás".

A ironia final é que a América tem sido capaz de seguir essa agenda agressiva apenas porque é a América. Desde 2019, os EUA acrescentaram mais de 10 biliões de dólares à dívida nacional; em 2023, o governo gastou mais 1,7 biliões de dólares do que arrecadou. Esse tipo de despesa deficitária é basicamente impensável para os líderes europeus. 

Após o crash financeiro de 2008, o continente viveu uma série de crises de dívida soberana tão graves que ameaçaram destruir a sua união económica. Isso deixou muitos líderes europeus aterrorizados com o défice orçamental - uma posição que pode ter chegado a um extremo pouco saudável. 

Ao longo do último ano, muitos países europeus têm estado a cortar freneticamente nos orçamentos, numa altura em que as suas economias precisam desesperadamente de mais despesa. Estas decisões enfureceram os cidadãos, incitaram protestos contra o governo e ajudaram a alimentar a ascensão de partidos de extrema-direita. 

Na Alemanha, os recentes esforços do governo para lançar um modesto programa de investimento em energias limpas foram anulados pelos tribunais em novembro por tentativa de utilizar fundos de emergência pandémica para contornar o limite de endividamento autoimposto pelo país. "A Alemanha sabe que precisa do mesmo tipo de política fiscal que os Estados Unidos", diz-me Sander Tordoir, economista sénior do Centro para a Reforma Europeia. "Mas colocou-se num colete de forças do qual não consegue escapar."

A maioria dos economistas espera que a economia europeia melhore, ainda que gradualmente, ao longo de 2024. Mas num mundo de alterações climáticas, de conflitos entre grandes potências e de rápidos avanços tecnológicos, o futuro do continente dependerá da forma como escolher enfrentar os choques económicos que ainda estão para vir. Os líderes americanos responderam à pandemia tornando-se mais parecidos com a Europa; agora é a vez de a Europa se tornar mais parecida com a América.

Rogé Karma

December 05, 2023

Consider this

 


September 05, 2023

Precisamos de alguém que proponha um modelo económico diferente

 


Este que temos em que há 100 super-trilionários que dão cabo da economia e da vida aos outros todos não serve.


Há um homem da Florida que vive num navio de cruzeiro 300 dias por ano porque custa o mesmo que alugar uma casa: 30.000 dólares por ano.


Viver permanentemente num navio de cruzeiro parece ser um sonho de super-ricos. Passar os dias a descansar no convés junto à piscina ou a visitar um local exótico. As noites no clube noturno. Não ter de se preocupar com o trânsito, cozinhar ou lavar a roupa. É a vida de Ryan Gutridge, que passa cerca de 300 noites por ano a viver no Freedom of the Seas da Royal Caribbean. Só deixa o navio durante algumas semanas por ano, nas férias.

Gutridge trabalha em TI como engenheiro de um fornecedor de soluções na nuvem e pode fazer o seu trabalho a tempo inteiro directamente do navio. "Tenho reuniões de manhã ou à tarde - posso ir almoçar e socializar ou encontrar-me com pessoas no ginásio. Até conheci pessoas com quem mantenho contacto e que, desde então, voltaram e fizeram um cruzeiro neste navio comigo várias vezes."

Gutridge diz que viver e trabalhar num navio de cruzeiro melhorou a sua saúde mental. "Trabalhar em casa era solitário. Não tenho filhos nem animais de estimação, por isso é fácil tornar-me um pouco introvertido, mas os cruzeiros ajudaram-me muito e tornaram-me muito mais sociável", afirma.

Como é que consegue pagar a vida numas férias permanentes?

"Tenho uma folha de cálculo que regista automaticamente todas as minhas despesas, o que ajuda. Também estabeleço um orçamento todos os anos", diz ele. "Este ano, o meu orçamento para a tarifa base é de cerca de 30.000 dólares e, no ano passado, quando comecei a analisar os números e a avaliar a tarifa base que paguei para estar num navio durante 300 noites, descobri que era quase igual ao que pagava pela renda e pelo serviço de lixo de um apartamento em Fort Lauderdale, na Florida."

Atualmente, o preço médio de um apartamento de um quarto em Fort Lauderdale é de 2.088 dólares, o que custaria a Gutridge cerca de 25.000 dólares por ano.
Gutridge acredita que a chave para viver no navio de forma económica são os programas de fidelização. Na verdade, está a gastar menos em 2023 do que em 2022, apesar de ter passado mais tempo a fazer cruzeiros.

"Como faço cruzeiros com tanta frequência com a Royal Caribbean, subi no programa de fidelização. As minhas bebidas e a Internet agora são gratuitas."

Quando não está no navio, marca consultas no médico e no dentista e aproveita para ver amigos. Depois, volta para o alto mar, onde tem uma rotina. De segunda a sexta-feira, trabalha, tem uma alimentação saudável e vai ao ginásio. Aos fins-de-semana, descontrai e bebe uns copos.

Se o navio chega a um local de que gosta, tira um dia de férias do trabalho e vai passear. "Tenho uma forte relação com a tripulação deste navio", diz ele. "Tornou-se uma grande família e não quero reconstruir essas relações noutro navio - brinco dizendo que tenho 1300 companheiros de quarto."

July 19, 2023

Vão dizer ao primeiro-ministro: penalizar os salários não tem benefícios económicos, é só injusto

 


Preservar os salários reais não cria inflação, defende estudo


Dois economistas criticam, em estudo publicado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas, políticas seguidas pelos bancos centrais e governos para responder à inflação.
Sérgio Aníbal

Uma estratégia de preservação do valor dos salários reais, com aumento nominais em linha com a inflação, não impede que a taxa de inflação registe, após o fim do choque de aumento dos custos da energia, uma descida ao longo do tempo, mesmo num cenário em que as empresas mantêm os seus lucros ao mesmo nível, concluem dois economistas, num estudo publicado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas, do Centro de Estudos Sociais (CES).

Uma das principais ideias defendidas pelos autores é a de que é infundado o receio – assumido por bancos centrais e governos – de que se possa criar, com aumentos salariais que respondam à inflação, uma espiral de salários e preços. No estudo, que critica as perspectivas da economia neoclássica predominantes na definição das políticas à escala mundial, é feita uma simulação sobre o que aconteceria num cenário em que, em resposta a um choque temporário nos custos com a energia e as matérias-primas, a subida de salários fosse idêntica à inflação, permitindo assim a preservação do seu valor em termos reais. A conclusão é a de que, mesmo com as empresas a manterem os seus lucros, a inflação acabaria por diminuir progressivamente.

“A única possibilidade de os aumentos salariais conduzirem a uma aceleração da inflação é no caso em que as empresas revejam a sua meta de taxa de retorno após o choque”, afirmam, assinalando que, em contrapartida, se os salários reais não forem preservados, aquilo que acontecerá será a ampliação da “desigualdade de rendimento em favor do capital”.

O documento faz também várias críticas à forma como o Banco Central Europeu – à semelhança do que acontece com a generalidade dos bancos centrais – está a reagir à subida da inflação, elevando de forma acentuada as taxas de juro directoras.

Por um lado, os autores defendem que “os valores actuais [da inflação] ainda se encontram bastante longe daqueles a partir dos quais a evolução dos preços se tornaria um obstáculo ao crescimento”, concluindo por isso: “o problema com que nos deparamos não é a inflação em si, mas sim a crise do custo de vida que resulta da compressão dos salários reais”.

Por outro lado, afirmam, “a subida das taxas de juro por parte dos bancos centrais é uma estratégia pouco eficaz do ponto de vista macroeconómico, visto que a inflação é um fenómeno resultante da subida dos preços em alguns sectores sistemicamente significativos – como o da energia e o dos bens alimentares –, sobre os quais a política monetária dificilmente produzirá efeitos”.

E, por fim, sinalizam que estratégia seguida pelos bancos centrais é também “injusta do ponto de vista social”, já que acaba por ter efeitos negativos sobre a actividade económica e o emprego.

May 28, 2023

O decrescimento como modelo económico - um balanço





O decrescimento como modelo económico - balanço

Embora o conceito de decrescimento tenha sido criticado num relatório apresentado ao Governo na segunda-feira, está previsto um congresso sobre o assunto para quinta-feira, em Paris.

Os defensores do decrescimento pretendem a introdução de um novo modelo económico, mais simples, mais justo, mais respeitador da natureza e, sobretudo, livre do imperativo do crescimento.

Nas notícias

Na segunda-feira, o economista Jean Pisani-Ferry apresentou à primeira-ministra Elisabeth Borne um relatório sobre o impacto económico da acção climática. Jean Pisani-Ferry considera que a "neutralidade climática", ou seja, o equilíbrio entre as emissões de gases com efeito de estufa e a sua absorção, é "alcançável", mas que "para lá chegar é necessária uma grande transformação". Na sua opinião, "o imperativo de preservar o clima" não significa "renunciar ao crescimento".

A associação Alter Kapitae, que defende o "decrescimento próspero", tem uma opinião diferente. Esta quinta-feira, organiza na Sciences-Po Paris a "Ágora de la décroissance prospère" (Ágora do decrescimento próspero), uma conferência dedicada ao decrescimento. O evento reunirá activistas ambientais, investigadores especializados na matéria, como o economista Timothée Parrique e o sociólogo Dominique Meda, e empresários.

O conceito de decrescimento surgiu na década de 1970, com o aumento da consciencialização dos efeitos do crescimento económico no ambiente, e ganhou popularidade na década de 2000. A primeira conferência internacional sobre o tema teve lugar em Paris, em 2008.

Oposição ao crescimento

O decrescimento é uma ideia que defende a introdução de um modelo económico que não se baseia na procura do crescimento económico. O seu objectivo não é reduzir o PIB (a produção de bens e serviços), mas romper com "a religião do crescimento", segundo o economista Serge Latouche. 
Para os "décroissants", o crescimento permanente não é possível num mundo de recursos limitados. Não acreditam no desenvolvimento sustentável PDF]: na sua opinião, o progresso técnico não permite reduzir a quantidade de recursos utilizados numa sociedade que procura constantemente crescer. 

De facto, nesta procura de crescimento, o progresso gera inevitavelmente um efeito de ricochete. Este fenómeno foi teorizado por William Stanley Jevons. Num livro publicado em 1865, este economista britânico observou que o progresso técnico tinha permitido reduzir a quantidade de carvão utilizada para fazer funcionar uma máquina a vapor, tornando o seu funcionamento mais barato. À medida que mais industriais equipavam as suas fábricas com máquinas a vapor, a procura de carvão aumentava.

As implicações ecológicas e sociais do crescimento

A partir dos anos 70, vários investigadores começaram a interessar-se pelos limites físicos do crescimento e pelas suas consequências para o ambiente. É o caso do economista americano Nicholas Georgescu-Roegen, que defende, num livro publicado em 1971, a necessidade de repensar a ciência económica. Argumentava que os economistas se tinham esquecido, nos seus modelos, de levar em conta os limites da biosfera (todos os ecossistemas da Terra). 
No ano seguinte, os ecologistas americanos Donella Meadows e Dennis Meadows recomendaram o crescimento zero, num relatório publicado em 1972 que teve um impacto mundial. O conceito de decrescimento começa aí a surgir. A sua dimensão social foi-lhe conferida por autores como o pensador francês André Gorz, que criticou a sociedade de consumo. O aumento do desemprego em massa e das desigualdades nos países desenvolvidos a partir dos anos 80 era, na sua opinião, a prova de que o crescimento não estava a melhorar as condições de vida.

1,75
planeta
 
Em 2022, a humanidade consumiu tantos recursos como se vivesse em 1,75 planetas, segundo a Global Footprint Network. Este grupo de reflexão baseia-se num indicador, a pegada ambiental, que compara a procura de recursos por parte da economia com a capacidade da Terra para se regenerar biologicamente. Como a maioria dos indicadores, a pegada ecológica tem sido criticada pela sua metodologia.

As alavancas previstas

Os defensores do decrescimento pretendem reorganizar a produção de bens e serviços de modo a que esta deixe de criar novas necessidades e passe a satisfazer as necessidades essenciais de todos os seres humanos. O seu objectivo não é reduzir o PIB, mas, ao procurar limitar a produção, estão de facto a impedir o seu aumento. Ora, o nosso sistema está organizado em torno do crescimento, que conduz a um aumento do rendimento e, por conseguinte, dos impostos e dos recursos públicos. 
Para preservar os serviços públicos, os economistas do decrescimento, como Serge Latouche, Timothée Parrique e Tim Jackson, planeiam aumentar as receitas fiscais eliminando as lacunas fiscais e tributando mais os escalões superiores e o capital. Também vêem o seu modelo como uma solução para reduzir certos tipos de despesas públicas, como as despesas com a saúde ou a reparação de catástrofes naturais e industriais.

Críticas ao modelo

O decrescimento implica mudanças drásticas de comportamento: para reduzir o consumo de energia, precisa do desaparecimento progressivo dos aviões, da redução do número de aparelhos eléctricos (smartphones, aspiradores, etc.), do desenvolvimento de uma dieta predominantemente vegetariana, etc. Estará o público preparado para estas mudanças? Será que um modelo deste género pode obter o apoio do maior número possível de pessoas? De acordo com o relatório de Jean Pisani-Ferry, o modelo "décroissant" seria "socialmente desastroso", pois equivaleria a "pedir àqueles que lutam para sobreviver que apertem ainda mais o cinto em nome de objectivos mais elevados". 
Nunca nenhum território pôs em prática a ideia do decrescimento. Enquanto alguns teóricos insistem que o decrescimento só deve interessar aos países ricos, a geógrafa Sylvie Brunel está preocupada com as consequências negativas para os países em desenvolvimento, cujo comércio seria limitado.


PARA O DECRESCIMENTO Em 2020, numa entrevista ao blogue ambiental Bon Pote, o economista Timothée Parrique explica como se tornou um decrescentista. E explica como é que este modelo pode ser aplicado na prática.

Ler a sua entrevista

CONTRA O CRESCIMENTO Num artigo publicado em 2021 no sítio de debate Telos, o economista Éric Chaney critica o modelo preconizado pelo decrescimento. Baseia-se em vários estudos para explicar por que razão é possível um crescimento respeitador do ambiente.

Ler a sua análise 

May 24, 2023

Gostava que alguém me explicasse como se tivesse três anos




Não há como negar que o desempenho da economia portuguesa, no primeiro trimestre do ano, foi surpreendente. E muito positivo. Apoiado, sobretudo, nas exportações de serviços, mas também nos bens transacionáveis, o PIB cresceu 2,5% face ao período homólogo, levando o FMI a apresentar uma previsão bastante mais otimista para o resto do ano (2,6%), do que aquela que havia lançado há cerca de um mês.
Nuno Botelho in JN

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Fui à Pordata ver onde é que a economia está a portar-se bem. Como se vê, é no turismo e um bocadinho nos minérios e metais. O resto está mais ou menos na mesma. O grosso é o turismo. Eu percebo pouco de economia mas parece-me que dizer que a economia vai muito bem, é enganador. Sobretudo, se queremos uma economia sustentável. 
Mesmo que a onda do turismo se aguente mais 10 anos, por exemplo, como não aproveitamos esta entrada de capital para melhorar as outras áreas e fazer as reformas necessárias, daqui a dez anos regredimos à estaca zero.
Esta onda de turismo não foi pensada nem projectada, foi um conjunto de circunstâncias extraordinárias que se transformou em sorte para o governo de Costa e que, de resto, ele faz os possíveis por destruir. 
Foi uma consequência do crescimento do terrorismo e depois da covid e da guerra que fez os europeus, sobretudo, viajarem dentro do espaço europeu, por segurança. Ora, dentro desse espaço, nós somos dos países mais baratos.
Costa não fez e não faz nada a favor do turismo: a TAP está como sabemos e o sector do turismo tem uma dramática falta de pessoal por conta dos governos serem um impedimento à vida dos jovens em geral. 
A exportação de pessoas não aparece nesta tabela da Pordata, mas deve ter um valor acima de todas as outras exportações. Os serviços públicos estão sem pessoal: imagine-se turistas a terem que ir a um hospital durante as férias, sobretudo com filhos e perceberem que não há serviços de pediatria nos hospitais...
Portanto, percebo pouco de economia, é verdade, mas vejo que Portugal está pior posicionado na escala dos países europeus, o governo está à deriva e em negação inebriado que está com tanto dinheiro que circula nos gabinetes mas não sai deles para melhorar a vida dos portugueses que estão cada vez mais pobres, o governo nem sequer trabalha para consolidar o turismo... de maneira que pergunto: que economia é que corre bem? 
Isto de dizer que a economia corre bem porque o turismo corre bem é o mesmo que dizer, 'os resultados escolares dos alunos subiram surpreendentemente e depois vamos ver e percebemos que são apenas os resultados da área de biologia'. Ok, óptimo para a biologia mas e os outros, das outras áreas? 
É que, tão surpreendente foi o boom do turismo como vai ser, quando chegar, o boom do fim do turismo. E nessa altura, que economia temos? A de exportar alunos que sabem nada mas têm certificados de sucesso para a indústria europeia?
Gostava que alguém me explicasse como se tivesse três anos.







December 18, 2022

"Como todos sabemos, o dinheiro nasce em Bruxelas."

 


E morre nos gabinetes do governo.


Costa&Mariana entalados na Porta dos Fundos

Daniel ​​​​​​​Deusdado

Como todos sabemos, o dinheiro nasce em Bruxelas. Mesmo assim, é difícil de apanhar, dada a gigantesca indústria de consultoria, auditoria, gestão, verificação e distribuição montada para tanto milhão. A relação entre o investimento criado e o despendido na saga há de ser da ordem do surpreendente. E, quanto mais os anos passam, pior fica, embora seja anunciado que será sempre melhor. Infelizmente não: agora, chegou a corrupção. Em consequência, Costa agiu. Passou a pôr em marcha o sistema clássico do Grande Estado onde ninguém confia em ninguém: portanto, controla ele. Ou a Mariana. Os dois. Não vá Marcelo dizer não sei o quê. Surge então uma nova equipa de confiança para os Fundos. Com supervisores. E Conselhos de apoio. Mais a nova Agência de Coesão. E o IAPMEI. E o AICEP. E as equipas dos Competes e muitos outros instrumentos - alguém tem o mapa?

Recomeçando: nas remotas fábricas e oficinas onde gente espremida se desfaz em oito horas operárias para lutar contra o mundo como se não fossemos todos chineses, há uma mensagem a enviar ao poder central. A eles se juntam milhares de homens de mala na mão, prontos a voar sobre o globo inteiro para vender um sofisticado casaco ali, os sapatos de design arrebatador acolá, o molde para um bólide moderno, vinho espremido em labutas incessantes ou cortiça aeroespacial. Aglutinados em associações setoriais, pedem/imploram: paguem o que devem. As candidaturas. A inovação. A internacionalização. Fundos de 2015 e 2016 ainda por entregar. E por aí adiante.

É possível? Desde 2015!? Muitos milhões. Que não saem dali. Do circuito. Do fundo dos Fundos.

Costa não acerta na Economia. É o calcanhar de Aquiles do PS. Começou com três anos de Caldeira Cabral - era um erro de casting, disse-se. Depois entrou Siza Vieira, que conhecia a Economia com a profundidade dos oriundos das grandes sociedades de advogados. Quando já conhecia os transacionáveis, foi-se embora. Entra agora o visionário Costa Silva, que jamais terá paciência para a inoperacionalidade do Ministério. Do anterior Governo saiu o planeador Nélson de Sousa, que dominava a máquina e os Fundos de trás para a frente. Ficou refém das cativações das Finanças. "Delete". Restou Ana Abrunhosa, que tem o título de Ministra da Coesão Territorial, mas que não tem a Agência de Coesão, cuja coutada é de Mariana Vieira da Silva, cuja experiência na coesão da economia real é... (escolha a palavra). Até Marcelo se confundiu, ao dar recados sobre a Bazuca a Abrunhosa, esquecendo Mariana, a que manda. Mariana-Costa. Costa, do Castelo.

De 1989 a 2014 recebemos 104 mil milhões de fundos. De 2015 até 2027, Costa tem mão sobre mais de 60 mil milhões.

Agora é que vai ser. Para ajudar Mariana, chegou o ex-presidente do Instituto Politécnico de Setúbal, Pedro Dominguinhos, líder da novíssima-essencialíssima Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR-Bazuca. Mariana já tinha conseguido criar também a estruturalíssima Agência de Coesão, liderada por Cláudia Joaquim, ex-secretária de Estado da Segurança Social do pai Vieira da Silva e, portanto, de confiança. Entretanto, algum conhece, de experiência feita, a economia transacionável? Alguém com experiência na área pode dar uma mão? O ministro Costa Silva? Pena ter demitido os secretários de Estado que já conheciam a Economia.

Os papéis. Quais papéis? Como disse anteontem António Horta Osório, na conferência de aniversário deste jornal, em 10 anos podíamos duplicar o PIB. Poder-poder, podíamos. Mas estamos entalados na Porta dos Fundos. Conhecem? É de rir.

August 08, 2022

Os lucros obscenos dos predadores não podem ter a cumplicidade dos políticos





Ishaan Tharoor

Durante meses, o aumento da inflação tem vindo a assolar tanto as nações pobres como as ricas. Os custos crescentes, que atingiram máximos de 40 anos, são em grande parte graças aos efeitos globais em cascata da pandemia combinados com as súbitas perturbações da cadeia de abastecimento e do mercado energético que se seguiram à invasão russa da Ucrânia. Os seus efeitos têm sido profundos e de grande alcance.

Alguns países já estão a braços com dolorosas contracções económicas; para outros, incluindo os Estados Unidos, a perspectiva de recessão parece estar ao virar da esquina. A Europa, ludibriada pela sua dependência do gás russo, está a preparar-se para o que está a ser facturado como um "Inverno de desespero". Agências de ajuda e funcionários da ONU alertam para a perseguição da fome no planeta, à medida que os aumentos de preços empurram os produtos para fora do alcance de dezenas de milhões de pessoas. O turbilhão macroeconómico global já entrou em colapso, com uma economia em desenvolvimento e endividada (Sri Lanka), enquanto outras nações (Zâmbia, Laos e Paquistão, para citar algumas) se encontram à beira do colapso.

Mas para as grandes empresas multinacionais de combustíveis fósseis, tem sido o melhor dos tempos.
Relatórios recentes sobre os lucros do segundo trimestre apresentaram números impressionantes: A BP, 8,5 mil milhões de dólares. A ExxonMobil foi mais longe - os seus 17,9 mil milhões de dólares de rendimento líquido foram o seu maior lucro trimestral de sempre. A empresa americana Chevron, a Shell com sede em Londres e a francesa TotalEnergies também registaram resultados de sucesso de bilheteira. Juntas, estas cinco grandes empresas fizeram 55 mil milhões de dólares neste último trimestre, com centenas de milhões de pessoas em todo o mundo a suportaram o aumento dos preços.

Mesmo antes da invasão russa da Ucrânia, as agências da ONU estimaram que cerca de 828 milhões de pessoas - um décimo da população mundial - ficaram subnutridas em 2021. Agora, cerca de 50 milhões de pessoas em 45 países estão à beira da fome, de acordo com o Programa Alimentar Mundial da ONU, prevendo-se que as condições se agravem até ao final do Verão do hemisfério norte.
"Os orçamentos domésticos em todo o lado estão a sentir a agressão dos preços elevados dos alimentos, dos transportes e da energia, alimentados pela ruptura climática e pela guerra", disse Guterres na semana passada. "Isto ameaça uma crise de fome para as famílias mais pobres e cortes severos para as pessoas com rendimentos médios".

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(As guerras e as grandes crises são, sabemo-lo pela história, grandes oportunidades para predadores enriquecerem. Não são só as companhias pretrolíferas: são as de produtos alimentares, são os bancos que aumentam arbitrariamente comissões que não correspondem a nenhum serviço real, são as empresas farmacêuticas e os grupos de saúde, são as de entretenimento na internet e outras, a apresentarem centenas de milhões ou dezenas de milhares de milhões de lucros. Tudo à custa da pobreza alheia. Uma obscenidade. 
Vivemos num mundo com uma lógica regressiva aos anos 20 do século passado que viu nascer milionários como cogumelos por conta da disseminação da fabricação industrial,  em contraste com o crescimento desmesurado de pobres, devido ao desemprego que essa indústria criou e aos salários ao nível da fome que pagava por ter excesso de mão-de-obra à procura de trabalho. 
As «regras de mercado», como lhes chamam, sem nenhuma vigilância e correção ou regulação, geram cancros - crescimento desordenado de algumas células predadoras que matam todas indiscriminadamente para se desenvolverem e engordarem. É um crescimento ao mesmo tempo territorial e de sucção de recursos. São tão agressivas e matam tão bem que chegam a matar o organismo. 
Agora vemos um crescimento absurdo de milionários e bilionários à conta de fugirem ao fisco, de abusarem arbitrariamente dos preços e de pagarem miseravelmente aos trabalhadores. Tudo isto sem o menor incómodo da classe política. 
Há muitos sinais de degradação da justiça social e do crescimento alarmante das desigualdades sociais. Por exemplo, o preço obsceno das casas impede o direito à habitação, o preço obsceno de certos medicamentos (e dos actos médicos) impede o direito à saúde e até à vida. O desaparecimento das classes médias. O crescimento das grandes marcas do segmento de super-luxo. A Chanel, por exemplo, agora tem lojas para os excessivamente ricos, para os bilionários, diferentes das outras que de qualquer modo já eram para pessoas ricas. Quando o segmento de luxo e super-luxo começa a crescer exponencialmente é sinal que há muita gente a enriquecer obscenamente; ora, isso acontece à custa do alargamento, também exponencial, de pobres. 

Precisamos de fazer na economia aquilo que estamos a tentar fazer no que respeita à guerra da Rússia na Ucrânia: não deixar que um país predador possa, como um cancro, invadir outros porque quer lucrar, de uma maneira ou de outra com a miséria e a morte alheias. 
Também na economia tem de haver uma maneira de não deixar que uma companhia, seja petrolífera, de alimentos, de medicamentos, de produtos, tipo Amazon, de serviços de internet ou outras, crescer desmesuradamente à custa de praticar preços obscenos ou de abusar de direitos ou de tratar os trabalhadores como escravos e de não pagar impostos.
É preciso pressionar os políticos para pressionarem essas companhias a pagar impostos correspondentes aos lucros que têm, porque se esperamos que os homens dessas companhias predadoras, tenham um mínimo de decência e considerem os outros como seres humanos com direito a uma vida, nem daqui a um milhão de anos. Os políticos têm de ser os primeiros a dar o exemplo de honestidade, interesse e cuidado com os concidadãos porque são eleitos.

É preciso encontrar uma maneira da predação não ser premiada. Era melhor que as pessoas e os países tivessem consciência que o planeta tem recursos limitados, que não é possível crescer continuamente, que não é possível manter uma competição desenfreada, que nalguns sectores é preciso uma colaboração urgente e bem intencionada para salvar o planeta, que uma sociedade onde todos têm o necessário para uma vida equilibrada e digna é melhor para todos, não só económica, mas também politicamente e em termos de paz social - tal como um corpo onde todos os orgãos estão saudáveis é melhor que um corpo que tem um coração ou um fígado extraordinariamente ricos, mas tem todos os outros orgãos na falência.

No entanto, como isso mostra ser muito difícil pois essas pessoas/grupos têm um padrão de pensamento predador, é preciso, entretanto, intervir para regular. Não vejo outro modo. 
Se alguém sabe outro modo que o diga.
No século passado, esse excesso de riqueza e de espírito predador de umas nações em relação a outras produziu duas terríveis guerras. Neste século pode produzir a falência de recursos de sustentação da vida de todos nós e dos nosso filhos.)

July 08, 2022

O que é preciso é mudar esta TINA

 


Acabar com os penetras.



April 04, 2022

Uma entrevista com o economista Jim O'Neill

 


O economista Jim O'Neill acerca da Rússia

"O Ocidente Decidirá sobre a Falência de Putin"

Jim O'Neill cunhou uma vez o termo BRIC para se referir às economias em rápido crescimento do Brasil, Rússia, Índia e China. Nesta entrevista discute porque é que a Rússia de Vladimir Putin não correspondeu às expectativas.

Entrevista Conduzida por Peter Littger

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Quando adolescente, Jim O'Neill, 65 anos, queria jogar futebol profissional pelo Manchester United. Mas o seu pai, um carteiro, encorajou-o a estudar economia. Obteve o seu doutoramento na Universidade de Surrey, com a sua tese centrada na política comercial dos exportadores de petróleo. Desde então, tem-se concentrado nos modelos económicos e nos seus efeitos no mundo real das moedas e bens. Entre 1995 e 2013, O'Neill foi sócio da Goldman Sachs, servindo como economista-chefe do banco de investimento durante parte desse período. O seu foco principal era o desenvolvimento da economia global, particularmente o futuro de mercados emergentes como a China e a Rússia.

De 2014 a 2016, O'Neill trabalhou para o governo britânico, desenvolvendo estratégias para combater a crescente resistência às drogas e para impulsionar o desenvolvimento económico no Norte de Inglaterra. O'Neill é membro da Câmara dos Lordes (como Barão O'Neill de Gatley) e trabalha com grupos de reflexão como Chatham House e Bruegel em Bruxelas. Desde 2014, é professor honorário de economia na Universidade de Manchester.


DER SPIEGEL: Em Novembro de 2001, surgiu com a sigla BRIC para descrever quatro economias que se destacaram pelo seu crescimento excepcional: Brasil, Rússia, Índia e China. Como se sente hoje sobre os BRICs?

O'Neill: Foi um sonho agradável.

DER SPIEGEL: A sua própria previsão não foi convincente?

O'Neill: É cómico que as pessoas pensassem realmente que eu faria previsões para os próximos 50 anos - e que acertaria. Isso é ridículo! Na verdade, era a arte do possível. Eu queria mostrar que quatro países que tinham sido economicamente subordinados no decurso do século XX poderiam tornar-se influentes no século XXI e até ultrapassar as grandes economias. O seu enorme crescimento era real e impressionante. A partir de um certo ponto, utilizaram o seu potencial de desenvolvimento de forma muito diferente.

DER SPIEGEL: Isso soa mais a quatro sonhos individuais, e não a um.

O'Neill: Se quiser. Hoje em dia, os quatro países não estão no mesmo campeonato. Há anos atrás, salientei que só falava de IC, ou seja, Índia e China. O Brasil e a Rússia não têm sido capazes de avançar e realizar o seu potencial. Acabaram por ser desilusões maciças.

DER SPIEGEL: Na China, o produto interno bruto não aumentou sete vezes desde 2000, como sonhou, mas dezoito vezes. Ao mesmo tempo, o seu sonho para o PIB da Rússia - de cerca de 1,7 triliões de dólares em 2020 - estava quase no fim.

O'Neill: A economia chinesa desenvolveu-se muito mais do que eu esperava na altura. A Rússia, por outro lado, deixou o caminho do crescimento cedo. Não se esqueça: Durante os primeiros 10 anos, a economia russa cresceu de facto, desde então tem recuado.

DER SPIEGEL: Lamenta ter elogiado o potencial da Rússia há 20 anos - o que poderá levar a que muito dinheiro estrangeiro flua para o país?

O'Neill: Não tenho nada a lamentar. Não inventei o BRIC para recomendar investimentos. Muitos podem tê-lo compreendido dessa forma após as minhas observações terem sido amplamente aceites.

DER SPIEGEL: Teria sido apropriado avisar contra a Rússia num determinado momento?

O'Neill: Foi a própria liderança russa que fez o trabalho em 2006, quando arrasaram a empresa petrolífera e energética Yukos de Mikhail Khodorkovsky perante os olhos do mundo. Os investidores compreendem tais coisas como um tiro de aviso. Em retrospectiva, esse foi o momento em que o sonho russo BRIC começou a rebentar.

DER SPIEGEL: As pessoas em Moscovo, porém, pareciam continuar a acreditar nele durante algum tempo depois disso.

O'Neill: É verdade, eles tomaram o BRIC como uma previsão. Lembro-me de um convite para falar na Cimeira de São Petersburgo em 2008, uma espécie de Fórum Económico Mundial russo. As expectativas dos anfitriões não eram claras para mim no início: era suposto eu falar sobre o impressionante crescimento da economia russa e não deixar dúvidas de que a Rússia seria uma das cinco maiores economias em 2020. Mas não estava preparado para fazer isso; a realidade simplesmente não o reflectia. Disparei um tiro de aviso directamente para o coração do estabelecimento russo. Depois da minha conversa, o ambiente estava no fundo do poço; agarrámo-nos às nossas chávenas de café em embaraço. Nesse dia, percebi que a Rússia estava a enfrentar enormes problemas. Enquanto o povo de Putin confundia o meu sonho com a realidade, eles não estavam preparados para fazer nada a esse respeito. Eles queriam que eu servisse como uma espécie de testemunha chave para uma história que, em última análise, era insubstancial.

DER SPIEGEL: O que é que disse exactamente em São Petersburgo?

O'Neill: Que um país inteiro não pode depender para sempre da subida dos preços do petróleo e do gás, se quer a economia como um todo a crescer e ser saudável. No caso da Rússia, é a escala da corrupção e a terrível demografia - em particular, a baixa esperança de vida entre os homens. A produtividade foi e continua a ser um problema enorme. Nesta base, poder-se-ia conseguir um crescimento de 2% durante alguns anos. Mas para um desenvolvimento estável e a longo prazo com um crescimento significativamente maior, são necessárias reformas profundas e instituições fiáveis e viáveis. Só há uma forma de impulsionar a economia: aumentando a produtividade e permitindo o estabelecimento de novas empresas, bem como atraindo o investimento estrangeiro. 

DER SPIEGEL: Ninguém estava interessado nas suas críticas na Rússia?

O'Neill: Era completamente indesejável. A maioria dos meus contactos, tecnocratas do Banco Central ou do Ministério das Finanças, pareciam sentir que estavam num caminho seguro com Putin. Fiquei muitas vezes surpreendido com a amplitude da sua crença em relação à sua excelência como estratega. Nunca me convenci disso. A verdade é que a crise financeira internacional daqueles anos beneficiou Putin porque fez subir o preço do petróleo. Assim, ele podia continuar a prometer crescimento e prosperidade ao povo russo. Era evidente que a sua enorme popularidade estava destinada a diminuir assim que o preço do petróleo baixasse, o que aconteceu a partir de 2014.

DER SPIEGEL: E o que fez então o grande estratega?

O'Neill: Teve de mudar de rumo quando percebeu que não conseguia alcançar o crescimento que se tinha verificado antes da crise. Nem podia realmente reformar-se, porque muito do seu benefício financeiro pessoal e o de algumas das pessoas que lhe eram próximas dependia do status quo. Assim, começou a propagar o objectivo, por assim dizer, de: "Tornar a Rússia Grande Novamente!" Em vez de crescimento, os russos estavam agora a receber nacionalismo. Pelo que podemos ver, Putin trouxe a falência económica juntamente com o nacionalismo.

DER SPIEGEL: Poderá Putin evitar a falência forçando o Ocidente a pagar as importações de gás e petróleo em rublos?

O'Neill: Uma vez que os tratados terão de ser alterados, o Ocidente teria de se permitir ser forçado. Penso que é mais provável que a Rússia venha a exportar menos depois desta exigência desajeitada. Mas também se pode ver nele um movimento típico de Putin, cuja mão tem sido sem dúvida forçada pelas sanções ocidentais. Obviamente, ele quer colocar as partes sancionadoras, que lhe compram energia, sob pressão, porque se concordassem com a exigência, teriam de comprar grandes quantidades de rublos ao próprio Banco Central que foi excluído dos negócios internacionais e cujas imensas reservas de dólares foram congeladas. Todo este desastre revela o quanto Putin depende das finanças internacionais, desde que o dólar seja a maior moeda de reserva. No final, é o Ocidente que decidirá sobre a falência de Putin - e outros déspotas pensarão duas vezes no futuro sobre onde estacionam o seu dinheiro.

DER SPIEGEL: Poderá o dólar continuar no seu papel actual à luz da enorme carga da dívida soberana dos Estados Unidos e do crescimento contínuo da China?

O'Neill: Ninguém sabe, mas neste momento há muito a dizer a seu respeito, mesmo que haja limites para tudo, certamente incluindo a montanha de dívida da América. Mas para acabar com a carreira de reserva do dólar - estas profecias têm décadas, a propósito - uma nova moeda como a da China tem de estar pronta. Isso requer passos reformista e uma abertura não evidente no actual estado unipartidário de Xi Jinping. Mesmo que a doutrina alemã "mudar através do comércio" ("Wandel durch Handel") não tenha funcionado. Não é coincidência que apenas as democracias - os EUA, a Europa e o Japão - forneçam moedas de reserva.

DER SPIEGEL: Putin escondeu muito ouro ao mesmo tempo. Que uso - para além de servir de baú de guerra - têm as reservas de ouro ainda hoje?

O'Neill: O ouro é uma obsessão histórica desinteressante e antiquada da década de 1940. Não vejo qualquer utilidade para ele, excepto a que mencionou. Apenas os governos que não têm auto-confiança armazenam ouro. É inútil.

DER SPIEGEL: Diz-se que a Alemanha tem as segundas maiores reservas de ouro do mundo. O que faria com ela?

O'Neill: Faça algo mais imaginativo com ele! Venda-o e invista o dinheiro na educação ou na luta contra a doença.

DER SPIEGEL: Ou deveria Berlim, à luz da transformação anunciada pelo chanceler alemão Olaf Scholz na sequência da invasão russa da Ucrânia, comprar armas?

O'Neill: Isso ainda seria melhor do que ter ouro.

DER SPIEGEL: Em que condições pensa que se encontra hoje a economia mundial?

O'Neill: Muito, muito incerto e complicado. Não tenho visto maior incerteza macroeconómica nos últimos 40 anos. Para além das dificuldades criadas pela pandemia do Corona, surgiu uma situação que pode mudar diariamente e levar a reacções extremas nos mercados em qualquer altura - impulsionada por vezes pelo medo, por vezes pela ganância. Como é bem sabido, estes são os dois factores mais fortes da acção económica, que por sua vez podem causar ou acelerar crises. O que aconteceria se amanhã as sanções fossem novamente atenuadas por um acordo de paz? A ganância no mercado russo seria provavelmente quase imparável.

DER SPIEGEL: O que mais o preocupa de um ponto de vista económico?

O'Neill: Que a expectativa geral de inflação continue a crescer. É a condição mais perigosa para a inflação real. Então, os bancos centrais teriam de reagir e aumentar as taxas de juro para 6 por cento ou mais para forçar uma recessão. Isso iria lançar-nos de novo numa situação como nos anos 70, que se chamava "estagflação": O dinheiro perdeu valor, os salários e os preços subiram, enquanto que a economia não cresceu.

DER SPIEGEL: Como se pode evitar um tal desenvolvimento?

O'Neill: A situação actual não é, de forma alguma, conducente a uma melhor produtividade. Mas é exactamente isso que devemos visar - pelo menos no final da crise: aumentar o valor do trabalho para o maior número de pessoas e empresas possível. Uma coisa é certa: Mesmo antes da guerra de Putin, as condições gerais tinham-se deteriorado consideravelmente e foi programado um declínio do crescimento económico na segunda metade de 2022. No entanto, tenho esperança que o resto do mundo possa evitar um verdadeiro choque. Para a Rússia, é um pesadelo.

DER SPIEGEL: Há alguma coisa que o deixe optimista neste momento?

O'Neill: Primeiro, como disse Winston Churchill: "Nunca desperdice uma boa crise". Acredito firmemente que de cada crise surgem grandes oportunidades, sobretudo financeiras. Segundo, o estado em que nos encontramos agora demonstra a importância da cooperação e colaboração - e que não há vantagem em ficar sozinho, especialmente como o agressor. E em terceiro lugar, estamos a aprender novamente que coisas más podem acontecer, e que a história nem sempre está do nosso lado. Ao mesmo tempo, temos de continuar a adaptar-nos às novas condições. Para os alemães, por exemplo, deve ser um choque perceber o nível de dependência de energia estrangeira. O mesmo se aplica à dependência da Alemanha em relação às exportações. Penso que é uma loucura que a maior economia do coração da Europa só possa estar a dar-se bem se o resto do mundo estiver a dar-se bem. Seria bom que a Alemanha não só acordasse com um novo quadro militar em resultado desta crise, mas também fizesse tudo o que pudesse com grandes pessoas e ideias para transformar as suas dependências numa nova vantagem.

March 10, 2022

Os gurus da economia são um perigo

 



Perante o fim da União Soviética e do Bloco Comunista, o autor, o colunista do The New York Times Thomas Friedman, explicava que à medida que o capitalismo (visto como a outra face da democracia) se expandia, as guerras praticamente tornavam-se impossíveis. Se havia McDonald's num país, argumentava, é porque este já tinha uma razoável classe média e as classes médias não gostam de guerras, logo os políticos por elas eleitos não fazem guerras.

Leonídio Paulo Ferreira in e-se-houvesse-mcdonalds-em-1914

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O erro deste raciocínio está no termo, 'eleitos'. Este argumento talvez possa funcionar em democracias onde as classes médias são governadas por eleitos democratica e periodicamente, mas certamente não funciona em regimes autoritários, ditatoriais, onde as cúpulas desprezam os desejos e interesses do povo, mesmo que tenha classes médias. A mim o que me espanta é que políticas baseadas em pensadores com argumentos tão fracos tenham sido e ainda sejam seguidas cegamente. Os gurus da economia são um perigo: baseiam as suas teorias económicas na psicologia, na filosofia na teoria política, como se fossem autoridades nesses campos.

February 25, 2022

Entretanto, estamos sem governo, sem OE e sem saber o que andam a fazer ao dinheiro




De repente ninguém fala do Covid, ninguém fala de estarmos sem governo porque deitaram fora milhares e milhares de votos, ninguém fala de como vamos aplicar o dinheiro de Bruxelas para sair do marasmo económico em que estamos. O Presidente, ao que leio, anda entretido: tem uma namorada e vai à praia. Ainda bem que a vida lhe corre bem.



Inventar desculpas para os maus resultados



Uma das estratégias para (não) encarar a nossa estagnação tem sido a sua negação. Ora, não é aceitável inventar desculpas para os problemas, em vez de propor soluções.

A economia portuguesa está estagnada há mais de duas décadas, mas a tomada de consciência deste problema tardou imenso, continuando a haver largos segmentos da população e do espectro político para quem isto não é – ainda – suficientemente claro.

Há quem imagine que a questão já está resolvida e, quanto a isso, saliento apenas dois factos recentes. Em primeiro lugar, as novas previsões da Comissão Europeia, divulgadas este mês, indicam que, entre os 27 países da União Europeia, Portugal terá o terceiro pior crescimento acumulado entre 2019 e 2023, apenas ligeiramente menos mau do que o de Espanha e Itália.

Já esta semana, o instituto europeu Brueghel divulgou um estudo em que estima que Portugal possa vir a receber mais 11% de fundos para o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), pelas piores razões: por ser dos países com uma das maiores perdas acumuladas de PIB em 2020 e 2021. Não imagino como é que a propaganda irá disfarçar isto, porque é totalmente falso que seja qualquer tipo de prémio. Trata-se apenas de um apoio adicional, para auxiliar a recuperação da economia.

Se temos um grave – e antigo – problema de crescimento, é fácil deduzir que o PRR deveria ter como foco principal ajudar a solucioná-lo, mas não é nada disso que se passa. A versão portuguesa deste programa europeu não passa dum amontoado de programazitos sem qualquer visão estratégica. Nem sequer nas componentes digital e de alterações climáticas há uma visão integrada e de longo prazo.

Infelizmente, uma das estratégias para (não) encarar a nossa estagnação tem sido a sua negação. Em versão ainda pior, há quem se dedique a coleccionar desculpas para os nossos maus resultados. Como se, quando há problemas, o que se exigisse fosse encontrar umas justificações, como se isso nos dispensasse de os resolver.

Ficou em último lugar na corrida? É verdade, mas isso foi porque só treinou meia hora por dia; porque tinha trocado os ténis de corrida por umas sandálias de praia; porque se tinha esquecido de levar água; porque não ouviu o tiro de partida; etc., etc. Por isso, é muito natural ter ficado em último e não há nada a criticar porque temos aqui uma lista muito completa das razões desta classificação.

Um dos argumentos mais inaceitáveis para sermos ultrapassados pelos países de Leste é que eles tinham um sistema de ensino melhor do que o nosso no tempo do comunismo. A queda do muro de Berlim foi há 32 anos (!) e ainda continuamos a usar isso como desculpa? Mas isso não era mais do que sabido? Não percebemos que passaríamos a ter uma concorrência muito mais difícil? O que fizemos ao nosso sistema de ensino e de formação profissional?

É altamente escandaloso que o IEFP continue a ser um sorvedouro de milhões, de “formação” cujo único propósito é retirar desempregados das estatísticas. O PRR apenas dedica 8% à formação e, mesmo assim, mais de metade, para gastar em instalações. Queremos mesmo continuar a ter apenas desculpas para os resultados dos erros inacreditáveis que – ainda hoje – repetimos sem cessar?

October 22, 2021

Estudo propõe receita para tirar Portugal da “armadilha” em que caiu



estudo-propoe-receita-para-tirar-Portugal-da-armadilha-em-que-caiu


Estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, coordenado pelo economista Fernando Alexandre e que contou com um comité formado por economistas como David Autor (Massachusetts Institute of Technology), Thomas Philippon (New York University), Ricardo Reis (London School of Economics) e Sérgio Rebelo (Northwestern University), propõe novo paradigma para o país. É apresentado esta sexta-feira e tem uma “obsessão” - inovação, inovação, inovação, inovação, inovação


PRINCIPAIS RECOMENDAÇÕES


Instituições e ambiente económico

1. Rever os processos de nomeação para as entidades reguladoras, garantir a sua autonomia em termos orçamentais, bem como os mecanismos de prestação de contas pelos resultados alcançados na melhoria das condições de concorrência dos mercados e na criação de condições para a inovação.

2. Negociar e criar as condições, numa articulação muito próxima com o sistema científico e tecnológico, para que em 2030 todas as multinacionais baseadas em Portugal pertencentes ao grupo dos maiores investidores mundiais em I&D tenham estabelecido centros de I&D&I em território nacional.

3. Integrar na orgânica e governação das entidades gestoras de fundos europeus (Compete) e relevantes para a atração de IDE (AICEP) representantes das regiões, num prazo que permita produzir efeitos no Quadro Financeiro Plurianual 2021-27.

4. Eliminar a desvantagem de Portugal em termos fiscais face aos seus concorrentes diretos na atração de IDE reduzindo a taxa de IRC através da eliminação da derrama estadual.

Investigação, ensino superior e qualificações

1. Estabelecendo parcerias com empresas e instituições de ensino superior, introduzir competências digitais e de programação desde o 1.º ciclo de estudos, tornando mais atrativo o prosseguimento dos estudos no ensino secundários e superior nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (CTEM).

2. Aumentar a flexibilidade e criar incentivos orçamentais para que as instituições de ensino superior abram novos cursos em áreas emergentes e aumentem as vagas nos cursos com maior procura.

3. Rever os critérios de financiamento do ensino superior criando incentivos ao aumento de vagas nas áreas CTEM, de forma a que a oferta de vagas no ensino superior público atinja os 45% em 2025.

4. Criar sistemas de bolsas para estudantes internacionais no ensino superior de forma reforçar a atração e fixação de talento

5. Reforçar os orçamentos dos centros de investigação, laboratórios associados e colaborativos em áreas relevantes para fazer face às transições climáticas e envelhecimento.

6. Estabelecer contratos programas entre o Ministério do Ensino Superior e universidades para que até 2030 Portugal tenha pelo menos uma universidade entre as 100 melhores do mundo e cinco áreas científicas entre as 75 melhores do mundo no ranking de Shangai.

Infraestruturas

1. Tornar os serviços aduaneiros de portos e aeroportos entre os cinco mais eficientes no índice internacional de desempenho logístico do Banco Mundial até 2025.

2. Garantir cobertura 5G em todo o território nacional até 2025.

3. Reduzir em 50% os tempos de viagem ferroviária no eixo Setúbal- Lisboa-Porto-Braga-Vigo até 2030.

4. Reforçar as linhas de metro e de comboio nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, e acompanhar com a introdução de portagens para automóveis nessas áreas.

Expresso