O papel das mulheres na restauração da independência em 1640
Rodrigo Tavares
Expresso
Dei por mim ontem a ler sobre as “Daughters of Liberty” [Filhas da Liberdade]. Apesar de terem contribuído diretamente para a base económica e simbólica da independência americana, raramente aparecem nos livros escolares ou na narrativa oficial da fundação dos EUA. No Brasil, Bárbara Heliodora e Hipólita Jacinta lideraram círculos intelectuais e de resistência durante a Inconfidência Mineira (1789), mas a memória nacional da luta contra os portugueses ficou centrada em Tiradentes.
Também em Portugal a guerra da restauração é masculina. O 1.º de dezembro de 1640 assinala o dia em que um grupo de nobres — os célebres Quarenta Conjurados — organizou em Lisboa o golpe que pôs fim a sessenta anos de domínio espanhol (1580–1640) e restaurou a coroa portuguesa com D. João IV da Casa de Bragança. A cena é bem conhecida: às 09h da manhã fidalgos armados invadem o Paço da Ribeira e assassinam Miguel de Vasconcelos, secretário de Estado e símbolo da dominação castelhana. Os 40 nobres portugueses são todos homens. A lista está disponível aqui.
Mas parte desta história foi encabeçada por mulheres. Entre Lisboa, Évora e Vila Viçosa, damas da corte, esposas de fidalgos e viúvas influentes desempenharam papéis decisivos na preparação da conspiração. Criaram uma rede de informação que escapava à vigilância castelhana, precisamente porque ninguém suspeitava que aquelas figuras femininas pudessem ser protagonistas políticos.
O exemplo mais célebre é o de D. Luísa de Gusmão. Casada com D. João, 8.º duque de Bragança, a sua influência foi decisiva na Restauração. Enquanto o país fervilhava com revoltas contra a castelhanização e o aumento dos tributos — como o Motim das Maçarocas (1628) ou a Revolta do Manuelinho (1637) — D. João mostrava-se relutante em aderir às conspirações. Os nobres ofereciam-lhe o trono, mas ele hesitou durante anos, entregue a uma vida pacata em Vila Viçosa, dedicado sobretudo à música, a sua grande paixão. Perante a indecisão, os conspiradores chegaram a ameaçar proclamá-lo rei mesmo sem o seu consentimento. Foi apenas graças a um novo contexto geopolítico europeu e à firme influência da sua esposa que o futuro D. João IV — que viria a ser celebrado na historiografia portuguesa como o herói da Restauração — abandonou o imobilismo e aceitou assumir a coroa.
Em 2012, uma tese de doutoramento defendida por Monique M. Vallance na Universidade da California em Santa Barbara (“D. Luisa de Gusmão: Gender and Power in Seventeenth Century Portugal”), analisou o comportamento da futura rainha portuguesa à luz dos comportamentos de género da época e concluiu que ela manipulava os homens à sua volta ao exagerar o estereótipo feminino, levando-os a acreditar que agia de acordo com o que se esperava dela enquanto rainha regente e mãe. Em vez disso, utilizou essa imagem como disfarce para alcançar a sua própria agenda.
Também Maria Luísa Gama, da Universidade de Évora, em “As Rainhas da Restauração: a Construção do Poder Feminino no Portugal Brigantino (1640-1683)” reforçou que D. Luísa foi uma presença assídua no órgão político mais importante do Reino, onde acompanhava o Rei e o príncipe herdeiro: o Conselho de Estado. Não era uma prática comum na altura. Ainda que a influência exercida por D. Luísa de Gusmão não seja celebrada nos discursos do 1º de dezembro, podemos encontrar referências pontuais à sua contribuição em publicações de Veríssimo Serrão, Mafalda Soares da Cunha, Frei Cláudio da Conceição e de D. Luís de Menezes, Conde da Ericeira. Coube à duquesa de Bragança a firmeza necessária para vencer a relutância do marido e levá-lo a assumir o trono, aceitando o destino que a conspiração lhe traçava.
Mais esquecido ainda é o papel desempenhado por outras mulheres na Restauração da independência. Isabel Pereira de Ouguela, que combateu os castelhanos nas trincheiras, aparece apenas numa publicação de 1644 (“Relaçam da famosa resistencia, e sinalada vitoria, que os Portugueses alcançarão dos Castelhanos em Ouguela, este Anno de 1644 a 9 de Abril governando esta Praça o Capitão Pascoal da Costa”). O papel das fiandeiras do Porto no Motim das Maçarocas de 1628 tem igualmente merecido pouca atenção. Revoltadas, as mulheres portuenses chegaram a apedrejar o representante do rei espanhol.
Eu não sou historiador, mas a invisibilização das mulheres na Restauração de 1640 não parece ser uma simples omissão da nossa memória histórica. É, antes, parte de um padrão universal de silenciamento feminino, que atravessa séculos e geografias e que importa corrigir com justiça. Um desses nomes a resgatar é o de Isabel Madeira. Em 1546, no segundo cerco de Diu, na Índia, organizou um grupo de combatentes portuguesas, com Catarina Lopes, Isabel Fernandes, Isabel Dias e Garcia Rodrigues, que lutou na linha da frente contra as forças do sultanato do Guzerate. O seu feito sobrevive apenas em crónicas, cartas e tratados do século XVI e numa revista publicada em 1842.
O cerco é recordado como um marco épico do império ultramarino, mas a narrativa histórica prefere destacar o papel de D. João de Mascarenhas, capitão da fortaleza.
October 04, 2025
"O papel das mulheres na restauração da independência em 1640"
September 25, 2025
O primeiro uivo de um lobo gigante em mais de 10 000 anos?
Conheça Rómulo e Remo, os primeiros animais ressuscitados do mundo, nascidos a 1 de outubro de 2024.
O lobo gigante está extinto há mais de 10.000 anos. Estes dois lobos foram trazidos de volta da extinção usando edições genéticas derivadas de um genoma completo do lobo gigante, meticulosamente reconstruído pela Colossal a partir de DNA antigo encontrado em fósseis que datam de 11.500 e 72.000 anos.
September 03, 2025
Coisa alguma vem do nada
📜 Tabuleta Plimpton 322 – Matemática da Antiga Babilónia
A tabuleta Plimpton 322, com quase 3.700 anos (cerca de 1800 a.C.), é um dos artefactos matemáticos mais famosos da antiga Mesopotâmia.
Descoberta no Iraque e actualmente guardada na Universidade de Columbia, a tabuinha de argila está inscrita em escrita cuneiforme e contém uma notável tabela de números. Os estudiosos acreditam que representa uma compreensão precoce dos trios pitagóricos, mais de mil anos antes do próprio Pitágoras.
August 22, 2025
Invenções que não podem ser melhoradas
Sandália de couro feminina decorada com uma topázio, encontrada num poço no forte romano de Saalburg, na Alemanha. 100-150 d.C., atualmente exposta no Museu de Saalburg.
March 04, 2025
Recordando Vladimir Jankélévitch
O combatente da Resistência como filósofo
Recordando Vladimir Jankélévitch
Por Robert Zaretsky
Passaram 40 anos desde a morte de um dos intelectuais mais importantes de França, cujo nome provavelmente nunca ouviu: Vladimir Jankélévitch. Tendo em conta os riscos profissionais que Jankélévitch enfrentou enquanto judeu francês e combatente da resistência durante a ocupação nazi de França, é um golpe de sorte estar a ouvir o seu nome agora. No entanto, Jankélévitch sobreviveu a esses anos negros para escrever sobre uma variedade estonteante de assuntos, desde a morte à música, num estilo deslumbrante - e, por vezes, confuso.
As suas reflexões éticas - talvez melhor caracterizadas pela sua insistência em que “a moralidade não está inscrita em tabelas nem prescrita em mandamentos” - são especialmente impressionantes, moldadas como foram pela experiência pessoal.
No entanto, a fidelidade - o sinónimo de lealdade que os filósofos morais tendem a utilizar - é diferente da maioria das virtudes. Sem ela, a vontade de levar uma vida boa é uma vontade de não fazer nada, mas não tem o valor intrínseco das outras virtudes. Embora a compaixão - ou seja, a nossa abertura ao sofrimento dos outros - seja inerentemente boa, a bondade da lealdade depende da bondade do seu objeto.
Desenvolvendo esta distinção, Jankélévitch observa que “ninguém chama ao ressentimento uma virtude, embora seja uma espécie de fidelidade aos ódios e às raivas. Ter uma boa memória das afrontas sofridas é uma má fidelidade. Ninguém chama virtude à mesquinhez, embora também ela seja uma espécie de fidelidade às pequenas coisas”. Não menos nociva é a fidelidade a um indivíduo cujos caprichos podem ameaçar as outras virtudes às quais devemos permanecer fiéis. Isto explica, creio eu, a afirmação de Jankélévitch de que a fidelidade é a “virtude da mesmidade” - é uma garantia que persiste sem pausa no tempo e no espaço.
Jankélévitch defende que a verdadeira fidelidade - ou aquilo a que chama fidelidade desesperada - é essencial para a “luta desigual entre a maré irreversível do esquecimento que acaba por engolir todas as coisas e os protestos desesperados mas intermitentes da memória”.
Embora não tão eloquentes como os filósofos, sobretudo se forem franceses, os historiadores partilham esta fidelidade ao passado. A memória é tão frágil como o passado e não pode salvá-lo sozinha. Em vez disso, o trabalho paciente e meticuloso de documentação e verificação corrige o que pensamos recordar e adverte aqueles que ignoram ou desprezam o passado.
Em última análise, o passado precisa de nós tanto quanto nós precisamos do passado. Tão valioso e, no entanto, tão vulnerável, o passado, conclui Jankélévitch, “precisa da nossa compaixão e gratidão, pois não pode defender-se por si próprio”.
February 03, 2025
Uma família inglesa
Mas não é a do Júlio Dinis.
É a ementa semanal da família inglesa, Leigh: Robert Leigh, a sua mulher e quatro filhos. Oxfordshire em 1912. De, How the labourer lives : a study of the rural labour problem.
February 02, 2025
Argos
Argos, o fiel cão de Odisseu, continua a ser um dos símbolos de lealdade mais emblemáticos da literatura antiga.
A sua história é contada na Odisseia de Homero, um poema épico do século VIII a.C. que narra a longa e perigosa viagem de Odisseu (Ulisses em latim) ao tentar regressar a casa após a Guerra de Troia. Após 20 anos de ausência, repletos de batalhas, naufrágios e constantes ameaças de morte, Odisseu regressa finalmente a Ítaca, a sua terra natal, mas disfarçado. Ninguém o reconhece, nem mesmo a sua família ou amigos mais próximos. Mas há uma alma que o reconheça.
Argos, o seu velho cão, abandonado e enfraquecido, deitado num monte de terra, vê-o de longe. As suas orelhas levantam-se, a sua cauda abana suavemente. Apesar de estar demasiado fraco para se levantar, encontra forças para reconhecer o único por quem esperou todos aqueles anos.
Esta cena curta, mas poderosa, aparece no Canto 17 da Odisseia e tem permanecido como um dos momentos mais comoventes de toda a literatura. Argos, esquecido por todos, mas ainda agarrado à esperança, vê finalmente o seu mestre uma vez mais. E com esse pequeno e tranquilo momento de alegria, deixa a vida, morrendo em paz.
É um testemunho do amor eterno dos cães: eles nunca esquecem, nunca deixam de ter esperança e nunca deixam de amar. A lealdade de Argos é intemporal, recordando-nos que, mesmo nas histórias mais antigas, a ligação entre humanos e cães já parecia sagrada. Para qualquer pessoa que já tenha amado um cão, esta cena toca profundamente o coração. Não se trata de grandeza ou heroísmo, mas sim do poder silencioso da devoção.
February 01, 2025
Quando a idade é só um número II
A Abadia de Beaulieu, em Hampshire, com 800 anos de idade, foi fundada pelo Rei João no século XIII.
A abadia tornou-se uma das casas cistercienses mais ricas de Inglaterra, mas conheceu a sua morte durante a Dissolução dos Mosteiros pelo rei Henrique VIII em 1538. O edifício permanece.
October 10, 2024
Para quem gosta de recuar às origens - uma conversa interessante com William Dalrymple
Acerca de como a Índia moldou o Ocidente. Dalrymple, como é sabido, é um historiador e conhecedor de arte, interessado na história e na arte da Índia, do Paquistão, do Afeganistão, do Médio Oriente, do hinduísmo, do budismo, dos jainistas e do cristianismo oriental primitivo. Escreveu, entre muitos outros livros, três sobre o império Mongol. Um narrador nato, aqui em conversa com Ash Sarkar, jornalista, activista libertária, editora e professora. Fascinante.
September 23, 2024
Programas interessantes
Está a dar na RTP África um episódio do programa de Paula Moura Pinheiro, Visita Guiada, sobre os retornados das ex-colónias, com Dulce Cardoso, que conta a sua história de retornada e Margarida Calafate Ribeiro, uma investigadora da Universidade Coimbra que vai comentando a história dos retornados do pós-25 de Abril. Muito interessante, porque há muito poucos testemunhos da história do pós-25 de Abril a partir de relatos de experiências pessoais. Há a história oficial, muito marcada ideologicamente, mas falta a história privada, a das vidas privadas, a das que passaram pelos acontecimentos e têm uma perspectiva de uma riqueza diferente, cheia de pormenores.
Muito interesante. Pode ver-se neste link - visita-guiada
September 21, 2024
As mulheres de Braga (e mais tarde todas as outras do país)
(foi aqui que nasceram as portuguesas de mau feitio e bigode que lutavam ao lado dos homens contra os espanhóis, sendo a Brites a mais famosa)
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[72] He then crossed the river Durius, carrying war far and wide and taking hostages from those who surrendered, until he came to the river Lethe, being the first of the Romans to think of crossing that stream. Passing over this he advanced to another river called the Nimis, where he attacked the Bracari because they had plundered his provision train. They were a very warlike people, the women bearing arms with the men, who fought never turning, never showing their backs, or uttering a cry. Of the women who were captured some killed themselves, others slew their children with their own hands, considering death preferable to captivity."
Appian's History of Rome: The Spanish Wars - Horace White ed. New York: The MacMillan Company. 1899. pp. §§71–75
[72] Atravessou então o rio Durius, levando a guerra por toda a parte e tomando reféns dos que se rendiam, até chegar ao rio Lethe, sendo o primeiro dos romanos a pensar em atravessar esse curso de água. Passando-o, avançou para outro rio chamado Nimis, onde atacou os Brácaros [povo da região de Braga] por terem saqueado o seu comboio de provisões. Era um povo muito guerreiro, com as mulheres a pegarem em armas com os homens, que lutavam sem nunca se virarem, sem mostrarem as costas ou darem um grito. Das mulheres que foram capturadas, algumas mataram-se, outras mataram os filhos com as suas próprias mãos, considerando a morte preferível ao cativeiro.”
September 12, 2024
September 08, 2024
Amsterdão 1931
Filme colorido com recurso à IA. O que se vê são pessoas bem vestidas e com bom aspecto, mesmo os miúdos de rua e empregados de lojas. Bons dentes. Em menos de uma década estava tudo em ruínas e a maioria destas pessoas feitas em cinzas num país tornado estranho. É isto que fazem os homens com o culto da guerra: mandam os outros morrer, destroem-lhes o corpo, a vida e tudo o que tinham e depois vão descansados para as suas vidas beber whisky ou vodka e esquecer o assunto.
August 02, 2024
Em época: salmonetes
“Não há nada”, dizeis, ”mais belo do que uma surmullet [mullo] moribunda. Na própria luta pelo fôlego de vida, primeiro um vermelho e depois um tom pálido o impregna e as suas escamas mudam de tonalidade. E entre a vida e a morte há uma gradação de cor em tons subtis.... Vejam como o vermelho se inflama, mais brilhante do que qualquer vermelhão! Vejam as veias que pulsam ao longo dos seus lados! Olhai! Dir-se-ia que o seu ventre é sangue! Que azul brilhante resplandecia mesmo debaixo da sua fronte! Agora está a esticar-se, a empalidecer e a assentar numa tonalidade uniforme”.
Séneca, Questões Naturais (III.18.1,4)
Segundo Plínio, o Velho, que viveu em meados do século I d.C., um dos peixes mais consumidos pelos antigos romanos era o salmonete. Como ele próprio assinala, o peixe tem uma “barba dupla” (mullus barbatus) e não é adequado para a reprodução, sendo os melhores exemplares encontrados em águas abertas.
Os romanos distinguiram outro tipo de salmonete - mullus surmuletus - que era maior. Como espécie de peixe, têm diferentes cores de escamas e encontram-se no Mediterrâneo, no Mar do Norte e no Atlântico. De acordo com os antigos, o nome do peixe - Mullus - teria vindo dos sapatos usados pelos patrícios romanos, que se distinguiam por uma forte cor vermelha (mulli), que também marca o peixe.
Poucos dias depois de ter chegado a Capri e de se encontrar sozinho, um pescador apareceu inesperadamente e ofereceu-lhe um enorme salmonete; alarmado com o facto de o homem ter subido até ele pela parte de trás da ilha, através de rochas ásperas e sem caminho, mandou esfregar a cara do pobre coitado com o peixe. E porque, no meio da tortura, o homem agradeceu às estrelas por não ter dado ao imperador um enorme caranguejo que tinha apanhado, Tibério mandou rasgar-lhe também a cara com o caranguejo. Castigou com a morte um soldado da guarda pretoriana por ter roubado um pavão das suas reservas. Quando a liteira em que viajava foi impedida de avançar por silvas, mandou estender no chão o centurião da primeira coorte, que ia à frente para abrir caminho, e açoitá-lo até à morte
- Suetónio, Tibério, 60
É claro que o peixe também era apreciado pelo seu sabor, como refere Galeno. Dizia-se que o sabor do peixe se assemelhava ao da ostra. De acordo com Plínio, algumas pessoas viram o peixe tomar cores diferentes antes de morrer; finalmente, a escama vermelha torna-se branca. Segundo consta, o famoso mestre culinário romano Apicius tinha uma excelente receita de molho para o salmonete - o famoso garum.
penelope.uchicago.edu
July 16, 2024
A que propósito o termo 'Descobrimentos' se tornou um palavrão?
“A escravização de pessoas financiou toda a empresa dos Descobrimentos”
Em resposta à questão da reparação aos colonizados, Raquel Machaqueiro lembra que o fim da escravatura levou países a endividarem-se para compensarem os donos de escravos pela perda dos lucros.
Raquel Machaqueiro é doutorada em Antropologia pela George Washington University, nos Estados Unidos, onde lecciona as disciplinas de Desenvolvimento Internacional e Direitos Humanos e Ética.
Nos manuais escolares, as pessoas escravizadas aparecem sempre como uma massa anónima. Não há histórias individuais, não há nomes, não sabemos nada do que estas pessoas faziam antes de serem capturadas ou das experiências delas durante o processo, tanto de captura, de encarceramento nos barracões, nas costas africanas, até serem embarcadas. Pouco sabemos do que se passava na viagem e não sabemos absolutamente nada sobre como reconstruíram depois as suas vidas no chamado "novo mundo". Há essa objectificação. Mas, se procurarmos melhor, temos histórias de pessoas escravizadas.
Neste momento, existe o pressuposto de que os alunos percebam que a escravatura foi uma coisa muito má e que foi operada pelos portugueses. No entanto, um problema persiste — é o facto de a grande história ser a dos Descobrimentos. Isto é logo problemático porque é uma visão nossa. Para nós, são descobertas. Para as pessoas que lá viviam, não há nenhuma descoberta. As pessoas já lá viviam. O próprio vocabulário dos Descobrimentos é problemático em si.
Para conseguir capturar pessoas, os europeus fomentaram conflitos entre reinos, porque neles se faziam prisioneiros de guerra e os prisioneiros de guerra eram escravos legítimos, de acordo com as regras da época. Os reinos que não se submetiam a esta lógica eram eles próprios escravizados. Portanto, muitos soberanos africanos escolhiam o mal menor, que era obter pessoas, porque assim eram deixados em paz.
April 09, 2024
As portas de bronze do Senado Antigo de Roma
Agora na Basílica de São João de Latrão. 800 kg de bronze. Mais de 2000 anos. Do outro lado são todas trabalhadas.
March 03, 2024
Deixar a marca da evolução das ideias nos espaços ou apagá-la?
A view of the Temple of Diana at Evora - curiosa gravura de produção inglesa datada de 1795, parte integrante da obra "Travels in Portugal, trhough the Provinces of Entre Douro e Minho, Beira, Estremadura and Alem-Tejo", de James Murphy.
Não foi, no entanto, unânime o destino a dar ao Templo Romano de Évora, quando a partir dos anos cinquenta do século XIX se começou a ter noção da sua real importância como polo central da identidade histórica da cidade.
Com efeito, por esses anos, o monumento permanecia ocultado numa espécie de torre medieval, com os espaços entre as colunas emparedados com paredes de alvenaria e coroado por ameias, fruto das transformações arquitectónias operadas durante a Idade Média, convertido em estrutura militar e depois em açougue.
Consultou a Câmara de Évora diversas personalidades nacionais habilitadas na matéria para se eleger a melhor solução, tendo sido díspares as opiniões sustentadas.
Para uns, a demolição do Templo. Para outros, mantê-lo como estava. Para outros ainda, o mais correcto seria o expurgo dos acrescentos medievais, os quais, no seu entender, constituíam uma profanação e abastardamento da traça romana, que urgia recuperar.
Em Julho de 1870, perante os resultados da consulta, a Câmara Municipal determina que se proceda ao restauro da traça original do Templo Romano, entregando a direcção da obra a Giuseppe Cinatti, o autor das Ruínas Fingidas do Passeio Público de Évora.
Para esta decisão, em muito terá contribuído a opinião de Alexandre Herculano, o mais conceituado historiador da sua época, que numa visita a Évora em Maio de 1870 se pronunciara a favor da completa desobstrução das estruturas romanas.
February 13, 2024
December 30, 2023
Uma renda passar de 1.300€ para 11.000€
É para garantirem que os põem na rua. Vamos ver se vai ali nascer a 10º loja de pastéis de nata da rua. Ganância, ganância, ganância.
Renda aumentada “de 1300 para 11.000€”: Restaurante Bota Alta despede-se aos 47 anos
“Tenho pena, muita pena de fechar, assim como tenho pena do Bairro Alto e desta Lisboa que está a fechar”, lamenta o proprietário, Paulo Cassiano.
November 29, 2023
Revivalismo arquitectónico
Dresden - os Atalantes em primeiro plano e a Catedral de Nossa Senhora, reconstruída, ao fundo.
Alguns países da Europa que tiveram os monumentos das suas cidades destruídos estão num revivalismo arquitectónico. Dresden, na Alemanha, é um desses casos, a Hungria é outro.
@Yunhehtn









