February 14, 2024
"Estamos em campanha, temos temas mais prementes que museus e política cultural"? Não, temos temas igualmente prementes
August 26, 2023
E se nos juntássemos todos para comprar a “Galeria Abel Salazar?” Parece-me uma excelente ideia
Organize aí um crowdfunding e divulgue-o em sítio onde todos possam contribuir, cada um na sua possibilidade. Alinho e contribuo.
E se nos juntássemos todos para comprar a “Galeria Abel Salazar?”
O antigo Café Rialto é hoje uma loja. A enorme pintura mural Síntese da História, de Abel Salazar, foi totalmente coberta com uma parede que permitiu colocar mais umas quantas prateleiras.
Hoje é uma loja. Para optimizar o espaço, a pintura foi totalmente coberta com uma parede que permitiu colocar mais umas quantas prateleiras. Esta é a triste situação actual.
Podemos fazer alguma coisa em relação a isto?
Penso que sim, que podemos e devemos. Mas fazer o quê?
Uma solução
A solução mais simples e rápida, respeitadora de todas as leis e normas vigentes, seria comprarmos aquele espaço. Comprarmos o espaço e oferecê-lo à Casa- Museu Abel Salazar.
Modus operandi
Não seria certamente difícil encontrar um mecenas que pudesse fazer a aquisição do espaço (é apenas uma loja), mas a minha proposta é outra. O Porto tem tradição de fazer homenagens – erguer estátuas, por exemplo – através de subscrições públicas. É um modo activo de afirmação de cidadania que nos caracteriza e diz muito da sociedade que somos e queremos ser.
O ideal seria que, para receber directamente as contribuições, fosse aberta uma conta especial da casa-museu ou da sua associação para este efeito, pormenor a decidir pela própria casa-museu, pela universidade e pelo seu reitor.
O Porto é capaz
Enfim, o que se pretende é uma mobilização geral de vontades e de capacidades de uma cidade que já mostrou que o sabe fazer sempre que é preciso.
July 03, 2022
Cultura de massa
"The bastard form of mass culture is humiliated repetition... always new books, new programs, new films, news items, but always the same meaning." - Roland Barthes
December 15, 2021
Não temos uma política de valorizar o que temos
Hoje estava na sala de profs à conversa com três colegas de artes. Estávamos a comentar a ausência de uma política de valorização do património artístico contemporâneo que temos. Os espanhóis, por exemplo, valorizam imenso o seu património. Nós, em comparação, temos pouca coisa, mas o que temos é bom, só que está 'escondido', quer dizer, em sítios onde só duas ou três pessoas sabem. O museu Berardo é muito desprezado. No entanto, tem muitas peças que aparecem regularmente em todos os grandes livros e artigos internacionais sobre o género. Depois, há uma pequena galeria que tem um desenho de Cocteau, um pequeno museu que tem um Dali, outro que tem três Picassos, etc. Há muita coisa dispersa que devia ser reunida num grande museu de arte do século XX e contemporânea para que pudesse ser apreciada, pois estando as obras dispersas por 500 sítios, acabam por 'perder-se' e nem ser apreciadas. Por exemplo, podia acabar-se a ala do palácio da Ajuda e fazer lá um museu em continuidade. Os outros países valorizam tudo. Por exemplo, vamos a Paris ao museu Picasso e a certa altura já não se aguenta, tanta pintura a metro. Ao contrário dos poetas que deitam fora os esboços dos poemas e só publicam a obra final, os pintores guardam as obras preparatórias todas, que no caso de Picasso são, sei lá... 5.500 que depois põem num museu. Nós não valorizamos nada porque não temos uma política cultural porque os governantes não querem saber da valorização cultural. Não temos muito e o que temos anda escondido, disperso, não-visto, não-apreciado. Vêm muitos turistas ao país que têm uma cultura de museus e iriam ver essas coisas.
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No Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros há vestígios fenícios, romanos, islâmicos, medievais, pré e pós-pombalinos. Classificado como Monumento Nacional desde 2015, reabre ao público com uma nova museologia que ajuda a contar 2500 anos de Lisboa.November 14, 2021
"O mau gosto e a má moral andam muitas vezes de mãos dadas".
John Cleese retira-se do evento da União de Cambridge por causa dos 'wokes'
Comediante diz que está 'a colocar-se na lista negra' depois de outro orador ter sido banido por imitação de Hitler
John Cleese retirou-se de um evento na União de Cambridge, dizendo que ele próprio se punha "na lista negra" antes de "outra pessoa o fazer".A decisão da estrela dos Monty Python e Fawlty Towers foi um protesto depois do crítico de arte Andrew Graham-Dixon ter sido banido da sociedade em debate por fazer uma imitação de Adolf Hitler.
Cleese devia ter-se dirigido aos estudantes na sexta-feira, mas retirou-se, dizendo que também se tinha feito passar por Hitler num sketch de Monty Python: "Estava ansioso por falar com estudantes de Cambridge esta sexta-feira, mas ouvi dizer que alguém de lá foi colocado na lista negra por fazer uma imitação de Hitler.
"Fiz o mesmo num programa de Monty Python, por isso estou a colocar-me na lista negra antes que alguém o faça". Peço desculpa a qualquer pessoa em Cambridge que estivesse à espera de falar comigo, mas talvez alguns de vós possam encontrar um local onde as regras woke não se apliquem".
De acordo com relatórios, Cleese estava de visita a Cambridge como parte de um documentário que está a fazer sobre a "cultura woke".
O presidente da União de Cambridge, Keir Bradwell, disse que era uma "enorme pena" que Cleese sentisse que já não podia participar no evento. "Estávamos realmente ansiosos por receber John aqui.
"Teria sido um evento realmente fantástico e os nossos membros estão realmente entusiasmados por ouvir falar dele - o documentário que ele está a fazer é extremamente actual. Ele é o tipo de orador que iria prosperar com o nosso público e na nossa sala".
A impressão e os comentários de Graham-Dixon Hitler vieram durante um debate na semana passada sobre a moção "Esta casa acredita que o bom gosto não existe". Numa declaração, o historiador de arte disse que não era sua intenção perturbar as pessoas, mas persuadir o público "de que o mau gosto e a má moral andam muitas vezes de mãos dadas".
Ele acrescentou: "Peço desculpa sinceramente a qualquer pessoa que tenha achado as minhas tácticas de debate e o uso da própria linguagem de Hitler perturbadoras; na reflexão, posso ver que algumas das palavras que usei, mesmo entre aspas, são intrinsecamente ofensivas".
Ele rejeitou a "implicação de que sou racista e anti-semita ... O discurso que proferi foi um ataque estridente ao racismo e ao antisemitismo de Hitler".
Numa carta publicada no Facebook, Bradwell disse que as observações feitas por Graham-Dixon durante o evento foram "irreflectidas e grotescas" e pediu desculpa pelo seu próprio fracasso em intervir.
May 22, 2021
Food for thought
December 07, 2020
Um artigo sobre apropriação cultural que diz exactamente o que penso sobre o assunto
All Shook Up: The Politics of Cultural Appropriation
Na era do capitalismo global, imaginar as vidas dos outros é uma forma de solidariedade crucial.
Essas definições parecem esclarecedoras, até que se pense sobre elas. Por um lado, a ideia de “tirar” algo de outra cultura é tão ampla a ponto de ser incoerente: não há nada nessas definições que nos impeça de condenar alguém por aprender outro idioma. Por outro lado, eles contam com uma ideia - "permissão" - que, neste contexto, não tem qualquer significado. A permissão para usar as expressões culturais de outro grupo não é algo que seja possível receber, porque etnias, identidades de género e outros grupos semelhantes não têm representantes autorizados a concedê-la.
Algo como a admoestação para 'permanecer na sua faixa' está por trás dos protestos que surgiram quando o retrato de Dana Schutz de Emmett Till no seu caixão foi exibido uma exposição no Museu Whitney em 2017 - provavelmente o capítulo mais amargo da discussão sobre apropriação cultural na memória recente.
(...)
(tradução minha de excertos do artigo)
August 23, 2020
Acerca da devolução da arte
França devolve arte ao Benim e Senegal
O Parlamento francês aprovou esta semana a lei que permite a devolução de uma série de peças de arte, nas quais se contam 26 artefactos ao Benim e um sabre ao Senegal.
E já agora, senhor ME: mande pagar o que me devem, sff!
July 21, 2020
Situações que dizem muito acerca do lugar da cultura em Portugal
June 11, 2020
Falta de bom senso
De acordo com a empresa, quando "E tudo o vento levou" regressar à HBO Max, irá incluir "contexto histórico e uma denúncia dessas mesmas representações, mas será apresentado tal como foi criado, porque fazer o contrário seria o mesmo que alegar que esses preconceitos nunca existiram".
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May 15, 2020
Educação, vida, cultura, tecnologia e escola - excerto duma pequeníssima entrevista a Gilles Lipovetsky
R. A escola pública não é uma despesa, é um investimento para o futuro. É preciso pagar bem aos professores e ensinar o aluno a respeitá-los. Não sou eu quem diz isso, hein. Platão já dizia. Se acreditamos que computadores e tablets resolverão todos os problemas, estamos em um erro grave. O professor é imprescindível. E é preciso formar os jovens de modo que sejam mais adaptáveis, com menos medo de mudar. Assim, haverá menos frustração. E muito importante: é preciso dar muito mais importância à arte e à cultura. Caso contrário, só nos restará o shopping!
R. Sem dúvida.
P. Não acha que se instalou na sociedade uma espécie de aristocracia tecnológico-computacional?
R. Totalmente, e é um problema. É bom formar elites tecnológicas, mas acho que vamos acabar pagando um preço por essa situação. Porque o ser humano é complexo. Veja, eu observo muitos pesquisadores, matemáticos, físicos e engenheiros de nível bem elevado que cantam em corais. Ou que se inscrevam em cursos de teatro ou de pintura. Não sei por quê, mas acontece. Talvez simplesmente não encontrem um sentido pleno em seu trabalho. E isso é também a democracia. A democracia não é só ter eleições livres, é formar indivíduos que desfrutam, que sejam ricos em suas habilidades, e não apenas instrumentos de voto e de trabalho.
P. O senhor fala do longo prazo como opção social. Infelizmente, não parece que...
R. Ah, eu não sou político. Não tenho um programa. E o que estou propondo não teria um resultado eleitoral direto, é claro. O hiperindividualismo, um assunto sobre o qual escrevi, não é apenas uma retração egoísta. É também um desejo de expressão de si. O hiperindivíduo quer gostar do que faz. E que o que faz lhe agrade. Conheço muitas pessoas que ganham muito dinheiro, pelo que sei, mais de 10.000 euros por mês e que detestam seu trabalho. É claro que não são uns coitados, mas, sim, frustrados. A democracia tem a ver com o enriquecimento da pessoa —um enriquecimento não econômico—, e nesse sentido estamos vivendo um fracasso democrático. A democracia não pode ser só um instrumento de eficiência utilitarista. Da mesma forma que lutamos contra a degradação do meio ambiente, temos que trabalhar contra a degradação das qualidades criativas da pessoa. Os jovens querem sentir estima por si mesmos, a autoestima é um dos grandes temas da nossa sociedade.
P. Refere-se a um apoio político prioritário à educação e à cultura? E é raro encontrar isso. Na Espanha, não, por exemplo, isso está claro.
R. Sim, falo sobre isso, mas não são necessários grandes projetos. Sou contra projetos culturais grandiosos! No final, isso acaba só no star system. Se Mitterrand tivesse dedicado o gasto de suas obras faraônicas em Paris a melhorar a infraestrutura cultural das cidades pequenas ou a melhorar a situação dos subúrbios das grandes cidades, tudo teria sido melhor. Trata-se de mobilizar pintores, escritores, músicos para que ensinem as pessoas a fazer coisas enriquecedoras, especialmente as crianças, como atividades extracurriculares, mas a sério, e não necessariamente a cargo do professor. Os professores não podem fazer tudo. Se um ator de uma companhia profissional de teatro diz a um adolescente em que consiste este ou aquele trabalho do século XVIII, isso adquire um significado totalmente diferente e há uma boa chance de que a criança goste. Investir nisso custa muito menos do que em usinas nucleares, é claro. É uma questão de vontade política, trata-se de fazer com que as pessoas digam o que gostam, não só quem detestam!
P. O que o senhor fala, definitivamente, é de um novo contrato social, não só de política.
R. Uma sociedade cujos eixos exclusivos são as telas, o trabalho e a proteção social é uma sociedade deprimente. É preciso investir em educação. E as possibilidades de investimento em assuntos educacionais são infinitas. Um dos maiores fracassos nas sociedades ocidentais do pós-guerra foi a "democratização da cultura". Pensou-se que, ao abrir muitos museus por muitas horas e com grandes obras, graças ao dinheiro do Estado, muita gente nova se juntaria às visitas, mas não foi assim. Quando se presta atenção, ao longo do tempo as pessoas que vão aos museus são as mesmas de sempre: gente de um certo nível educacional. Os camponeses e os operários da construção em geral vão pouco. É uma questão de educação.
P. Talvez seja mais uma questão de princípios do que de dinheiro. Ou de que o primeiro garante o segundo.
R. Sem dúvida alguma. Pais e professores têm aí uma responsabilidade crucial.
P. O senhor escreveu contra o fato de que os pais eduquem seus filhos com luvas de pelica. O que queria dizer exatamente?
R. É um erro imenso. É indispensável que o professor recupere a autoridade. Há alunos que insultam o professor, e isso é inadmissível. Educar não é seduzir. Há obrigações. Em um dado momento, é preciso obrigar a fazer coisas. Nem tudo pode ser flexível, agradável, discutível. É preciso trabalhar duro, e forçar a trabalhar. O homem é Homo faber, é preciso ensinar a fazer. E é preciso recuperar a retórica, ensinar as crianças a se expressarem e a raciocinar, porque o computador não vai fazer isso por eles. O homem é Homo loquens, o ser que fala.
May 07, 2020
Assíria
Gosto tanto de tudo o que tem a ver com a Assíria. Nínive...
Os terroristas do ISIS destruíram o que restava do palácio por razão nenhuma.