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December 04, 2025

"Alguém ser nosso aliado, não significa estar do nosso lado"

 

A declaração inicial de Michael Shannon na cena do julgamento de Nuremberga, no filme que estreou há dias (Nuremberg) é retirada quase palavra por palavra do discurso real proferido pelo juiz Robert H. Jackson em 21 de novembro de 1945, o segundo dia em que o tribunal começou oficialmente.
A declaração é tão actual que podia ser dita hoje que imediatamente a aplicávamos à Rússia. Este filme serve para lembrar os EUA que passar por cima dos crimes de guerra contra a Ucrânia (ontem tivemos a notícia que a Rússia enviou algumas das crianças ucranianas roubadas para campos militares na Coreia do Norte) e crimes contra a paz no mundo é contrário ao Direito Internacional que eles mesmos ajudaram a alicerçar. E que fazê-lo por comércio e enriquecimento é imoral.
"Alguém ser nosso aliado, não significa estar do nosso lado", é uma frase de Goering que se aplica, tristemente, à actual administração americana.




Quem é Bart De Wever, líder do país que acolhe tanto o Parlamento Europeu como a sede da NATO e que afirmou explicitamente que «nem sequer é desejável que (a Rússia) perca (na Ucrânia)». É uma história comprida que pode ler no site de:


O primeiro-ministro da Bélgica, Bart De Wever, desempenha um papel central no debate sobre a utilização dos activos congelados do banco central russo, uma vez que a maioria destes fundos se encontra na Euroclear, a central de valores mobiliários com sede na Bélgica. 

Estima-se que a Bélgica detenha entre 185 e 210 mil milhões de euros destes activos.

Bart De Wever, que actualmente está a bloquear a utilização de fundos russos para a Ucrânia, manteve relações estreitas com altos funcionários russos antes e muito depois da anexação da Crimeia em 2014.
O próprio De Wever enfatizou que visitava São Petersburgo desde 1988 como turista, profissionalmente e com a sua família, conforme explicou durante uma reunião na Rússia.

Em abril de 2018, no meio de sanções cada vez mais severas, o político de Antuérpia Bart De Wever visitou Moscovo. Durante essa visita, De Wever e o prefeito Sergey Sobyanin assinaram um programa abrangente de cooperação. Ele também levou uma grande delegação de cerca de 100 representantes empresariais e organizações para aprofundar o intercâmbio com seus homólogos russos.

O principal objetivo da viagem e da reunião com Sergey Sobyanin era expandir a cooperação na economia e nas atividades portuárias.
Em 2018, a mídia russa observou que Bart De Wever apoiava uma aliança com a Rússia. A postura pró-Rússia dos populistas europeus já proporcionava ao Kremlin a legitimidade política tão necessária naquela época.

Enquanto Bart De Wever expandia as suas atividades de cooperação e investimento com Alexander Beglov, Yevgeny Prigozhin, fundador do Grupo Wagner, também trabalhava intensamente com Beglov em paralelo. Mais tarde, surgiu uma disputa entre Prigozhin e Beglov porque Prigozhin foi afastado desses projetos, que Beglov e o seu sistema assumiram. Isso também envolveu investidores estrangeiros.

A sua abertura ao contacto com a Rússia atinge o seu auge na sua posição atual: Bart De Wever bloqueia a utilização de milhares de milhões russos congelados sob o pretexto de «incerteza jurídica», protegendo assim claramente os interesses de Moscovo em detrimento da ajuda à Ucrânia. Tendo em conta todas as suas reuniões anteriores naquele país, esta postura já não parece acidental, mas sim uma decisão política com um benefício evidente para o Kremlin.


(excertos)

***

A questão é: os activos russos pertencem aos belgas? A UE vai ficar parada a ver os belgas ajudarem com os russos contra os próprios interesses europeus?

Von der Leyen diz que a alternativa aos activos russos é um empréstimo comum europeu  ????

December 01, 2025

Porque se diz que Putin é um cancro

 

Na biologia, quando uma única célula deixa de seguir as leis do corpo e começa a danificar as células ao seu redor, isso é chamado de cancro.

Podemos considerar a organização dos países pelo direito internacional, o corpo e Putin o cancro. Putin tem destruído tudo à sua volta. 


A Rússia não é um país com Estados originais, é uma federação de países/povos colonizados que só pela força se mantêm unidos. 

Putin não foi capaz de desenvolver a Rússia e torná-la num país moderno e democrático quando chegou ao poder. Para isso são precisas mais do que competências de KGB e ademais Putin tem muita ganância de poder, o que é incompatível com a alternância de poder de um país moderno e democrático. Portanto, Putin não se pode dar ao luxo de não ser agressivo com todos à sua volta, porque no dia em que Putin colapsar, que razões têm esses países colonizados para se manterem federados à Rússia, um país atrasado? 

Voltando à analogia, a melhor maneira de erradicar um cancro é detectá-lo cedo e, sendo possível, lidar logo com ele, antes que cresça e se espalhe. A Europa e os EUA falharam em detectar o cancro-Putin cedo e, mesmo depois de o terem detectado, comportaram-se como aquelas pessoas que fingem não ver para não terem que lidar com os problemas.

Há 3 modos de lidar com um cancro. Tirar o tumor, se for possível; tratá-lo com quimio/radiação/imunoterapia (antes ou depois do o tirar); ou, não podendo tirá-lo, encapsulá-lo de maneira a que não tenha modo de escapar. Neste último caso, usam-se os químicos/radiação até que o tumor fique encapsulado numa massa de células mortas sem vasos sanguíneos que sirvam de caminho de saída das células que, por ventura, lá restarem. 

Putin devia ter sido destruído em 2008, depois em 2014. Não só não foi destruído como foi alimentado. Tem estado a gerar metáteses: Orban e depois Trump. Agora é tarde e é mais difícil destruí-lo porque tem esses gânglios metastásicos a alimentá-lo.

Tem de ser atacado com doses massivas de quimio/rádio -destruir-lhe a economia de guerra, destruir-lhe as bases militares- até ficar encapsulado, incapaz de se mexer, impotente de movimentos, como um rei cercado no tabuleiro sem casas para escapar.

Orban pode ser encapsulado de maneira relativamente fácil. Trump, outro tumor maligno em pleno desenvolvimento, já passou a fase de poder ser destruído rapidamente e requer mais tempo e paciência. Esse é um trabalho que pode ser interior ou exterior. 

Interior pelos do seu partido, se não forem cobardes ou demasiado gananciosos (J. D. Vance e Rubio ainda podem ser destruídos). Basta legislar e obstaculizar as suas ambições ditatoriais e malignas. Criar-lhe empecilhos no Congresso e no Senado. Se a sua acção for impedida pelos legisladores, ele torna-se impotente. Porém, não parece que os republicanos tenham coluna vertebral para o fazer. Pelo menos, até agora. 

Exterior pela Europa, se não for medrosa e hesitante. Todos os acordos que Trump fizer sobre a segurança da Ucrânia e da Europa noutro Continente, num salão qualquer da Flórida valem zero se a Europa não os considerar como válidos ou aceitáveis sequer, se apoiar a Ucrânia e a armar até aos dentes e se não colaborar com ele. A certa altura ele e Putin ficam a falar sozinhos. A Europa pode até alimentar estas conversas fantasiosas e enquanto eles se entretêm a planear castelos de nuvens, o tempo passa e a Europa vai-se armando e fortalecendo. É preciso tornar Trump irrelevante para o destino da Europa para se poder lidar com Putin como deve ser.

É claro que nada disto conta se a Ucrânia continuar a ser destruída pelas bombas russas e se os europeus se limitarem a fazer declarações...

November 22, 2025

Um aspecto a considerar nos acordos de Trump e Putin

 

Se a Ucrânia capitular, Putin avança, muito provavelmente para a Polónia ou um outro Estado báltico e quando o fizer, Trump abandonará esse Estado à sua sorte, como faz agora com a Ucrânia, com outro acordo com Putin, o único homem que ele nunca traiu, nem uma única vez.

Há anos que a Europa sabe que não pode contar com os EUA. Mesmo Biden mostrou claramente que não punha a Ucrânia e os valores democráticos à frente dos negócios com o petróleo, de todas as vezes que proibiu a Ucrânia de atingir refinarias russas. Com Trump isso é óbvio todos os dias e assim como o fez com a Ucrânia faria com outro país europeu.

Estamos atrasados 4 anos na independência militar. 


November 20, 2025

Três notícias para ler em sequência e mais uma

 

O pesadelo recorrente do plano de paz de Trump para a Ucrânia
O presidente dos EUA impôs sanções e adotou uma postura dura, mas, nos bastidores, negociava com Putin. 
telegraph.co.uk


Trump anuncia Arábia Saudita como "aliado importante" externo da NATO. Trump adiantou que a sua Administração apoiará a venda de caças F-35 a Riade, uma medida que durante anos gerou reservas em Washington devido ao possível impacto no equilíbrio estratégico no Médio Oriente. noticiasaominuto. 


Comissão avança para «espaço Schengen militar» e transformação da indústria da defesa. Com este pacote de mobilidade militar que prevê a criação de um espaço de mobilidade militar à escala da UE até 2027, a UE fica mais perto de cumprir o objetivo de um «espaço Schengen militar».  portugal.ec.europa.eu/


A reabilitação de Mohammed bin Salman, da Arábia Saudita, de pária global a patrono global, a troco US$ 600 milhões em investimentos prometidos em empresas americanas é um grande perigo. Há umas semanas já tinha sido noticiado que a Arábia Saudita iria ter equipas em formação, dentro das forças aéreas americanas e do Pentágono! Mohammed bin Salman foi quem mandou assassinar de modo particularmente ignóbil,  Khashoggi, de 59 anos, residente permanente nos Estados Unidos. Atraiu-o ao consulado saudita em Istambul com a promessa de lhe dar documentos necessários para poder casar e uma vez lá dentro nunca mais saiu. Uma equipa saudita assassinou-o e desmembrou o seu corpo com uma serra de ossos. O esquadrão da morte, composto por 15 elementos, incluía sete membros da equipa de elite de protecção pessoal do príncipe herdeiro e funcionários do Centro Saudita de Estudos e Assuntos dos Media, dirigido por Saud al-Qahtani, um conselheiro próximo do príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman. A Arábia Saudita esteve sob sanções por causa deste crime e agora é o parceiro preferencial dos EUA. Isto traz um perigo para Israel, mas também para a Europa e o mundo.

Trump tem como aliados, a Arábia Saudita, um dos maiores investidores nos Estados Islâmicos, o Afeganistão e... Putin. De maneira que a notícia da Comissão avançar para um «espaço Schengen militar» e a transformação da indústria da defesa é uma boa e urgente notícia que se espera seja levada a sério porque os EUA fazerem um acordo, não às escondidas, mas às claras e formal com a Rússia, está a um curto passinho de acontecer. Trump quer muito fazer parte de uma cúpula de poderosos com zonas de influência e quer muito ser amigo de Putin a quem respeita acima de tudo e todos. É o seu role model político e pessoal.

Uma outra notícia diz que Cristiano Ronaldo foi como acompanhante de luxo do príncipe Mohammed bin Salman ao jantar da Casa Branca. Foi dar glamour e normalidade a uma monarquia brutal, patrocinadora de terrorismo, onde não há liberdade de expressão e de vida e onde as mulheres são tratadas como pets dos homens, na melhor das hipóteses e, como escravas, na mais comum. Onde se é assassinado e desmembrado com uma serra se se desagradar ao governo de sua majestade. 

Há urgência em a Europa se tornar uma potência militar se se quiser defender da liga de malfeitores que Trump está a formar. Se a Ucrânia cair, o apetite de Putin aguça-se.

November 02, 2025

PM de Singapura: a Europa tem de assumir-se como uma potência por direito próprio

 

Trump está a reorientar os EUA para se alinhar com nações autoritárias e teocráticas e a Europa tem de sair de debaixo desse guarda-chuva com as varetas todas partidas e desalinhadas. Esta é a altura dos europeus se unirem e não de se dividirem e alinharem com países e culturas que trabalham para a destruição dos nossos valores. Estamos num momento existencial definidor. Singapura e outras 'ilhas democráticas' espalhadas pelo mundo precisam da Europa para se manterem democráticas.


October 26, 2025

Anne Applebaum em entrevista



"... é muito importante que os europeus tenham os olhos bem abertos, percebam o que está a acontecer e compreendam o impacto que isso tem para eles e para a sua segurança. Pode haver um Presidente diferente daqui a três anos, talvez. Uma grande parte dos americanos ainda gosta da NATO, quer continuar a ser membro da alian­ça e quer ter aliados, entre outros. Mas também há uma parte significativa da população americana que não quer aliados, que não gosta especialmente da Europa e que não quer ter nenhuma relação especial. Espero que os europeus compreendam isso e comecem a tirar conclusões. Conclusões para a sua segurança, claro, mas também para a economia."

Grande entrevista a Anne Applebaum: “Na Administração Trump há quem veja a Europa como o principal inimigo”

Cristina Margato

É disso que dá conta em “O Crepúsculo da Democracia” e “Autocracia, Inc.”, e é sobre essas práticas autocráticas que tem escrito e falado, nos últimos anos, também a propósito da política do seu país, os Estados Unidos.  (...) é das poucas pessoas que expõem de modo claro o que se está a passar nos Estados Unidos. 
(...)
Enquanto terminava a transcrição da conversa li o último artigo de Applebaum na “The Atlantic”, desta vez sobre María Corina Machado, Prémio Nobel da Paz de 2025, título que Trump tanto desejava. Fixei a atenção neste parágrafo: “Neste momento, quando os cidadãos das democra­cias mais liberais e mais bem-sucedidas desistiram, questionando-se sobre se a sua participação na política tem algum valor, os venezuelanos lutam contra a violência com não violência, opondo-se à corrupção com coragem.”

Há um ano, ainda antes da eleição de Trump, iniciou um podcast intitulado “Autocracy in America” [com Peter Pomerantsev]. Vou citá-la: “Já existem táticas autoritárias em ação nos Estados Unidos. Para as erradicar, é preciso saber onde as procurar.” Continua a procurar nos mesmos lugares?
Naquela altura estava a descrever a mudança cultural pela qual o país estava a passar. Agora, essa mudança é evidente. Os instintos autoritários, que antes podiam ser observados em governos estaduais, estão agora presentes ao nível do Governo Federal. Parte da Administração está a usar regulamentações contra os órgãos de comunicação social, militarizou o serviço federal de alfândega e transformou-o numa força paramilitar. Tropas de diferentes partes do país foram colocadas em estados e cidades contra a vontade de governadores e presidentes de Câmara. Atualmente, Trump persegue e processa abertamente os seus inimigos políticos, mesmo que não tenham cometido qualquer irregularidade.

Hoje, Trump anunciou que quer enviar a Guarda Nacional para Chicago, contra a vontade do governador do Illinois e do presidente da Câmara de Chicago...
Sim, e isso é algo sem precedentes. A Guarda Nacional já foi usada em emergências, após furacões ou outros desastres naturais, e até, num passado mais distante, em grandes motins, mas sempre com aprovação do governador ou das autoridades locais.

Já disse várias vezes que Trump segue um manual usado por outros ditadores. Em que é que a sua atuação difere?
A única coisa que é diferente daquilo que Putin ou Viktor Orbán fizeram é a velocidade. Tudo está a acontecer de modo muito rápido, e essa aceleração é o que confunde e surpreende as pessoas. Muitas coisas estão a ser feitas de uma só vez. Tradicionalmente, é o Congresso que controla o dinheiro, os orçamentos e os impostos. Historicamente, é o Congresso que serve para limitar o poder do Presidente, pois é para isso que existe. No entanto, para grande surpresa, o Congresso tem-se recusado a travá-lo. As tarifas, por exemplo, são da competência do Congresso, não do Presidente. No entanto, a liderança deste Congresso tem permitido que Trump faça o que quer.

Desde a eleição de Trump que os democratas parecem apáticos, desorganizados e confusos. Isso também é um problema...
Não é bem assim. Há vários democratas que estão ativos online e que estão a ser bastante claros sobre o que está a acontecer. E há democratas que decidiram promover o debate sobre a suspensão do Governo, através de uma conversa focada nos cuidados de saúde, que é a razão pela qual o Governo está paralisado. Parece-me errada a expectativa de que haverá um democrata como contraponto a Trump, alguém do outro lado que seja o seu adversário direto. Isso não vai acontecer. Quer dizer, pode acontecer quando chegarmos à campanha presidencial, mas não é assim que funciona o nosso sistema político. Não temos um líder da oposição. Por outro lado, sempre que há uma tomada de poder autoritária — como aconteceu na Rússia, na Polónia ou no Irão — dá-se uma fragmentação da oposição. As pessoas têm de compreender as novas regras.

É como se não tivessem um mapa para o caminho...
E não têm, porque na verdade nunca tivemos um Presidente que desrespeitasse abertamente a lei e depois desafiasse os tribunais a impedi-lo de o fazer. Isso não é algo que tenha acontecido antes. Pelo menos que eu me lembre na história recente dos EUA.


Passei três meses em Nova Iorque após a eleição de Donald Trump. Nas conversas que fui tendo ao longo desse tempo percebi que, apesar de alguma apatia, as pessoas continuavam a acreditar que o sistema ia funcionar, que os tribunais iam agir, que o Congresso ia ter uma palavra a dizer...
Sim, as pessoas assumiram que o sistema ia funcionar como sempre funcionou. E muitas pessoas, incluindo muitos democratas, não conseguiram reconhecer que o que Trump estava a fazer era diferente. Ainda assim, há quem não reconheça. Em Washington, um advogado muito conceituado, que trata de casos importantes no Supremo Tribunal, com quem discuti, dizia-me: “Não te preocupes. Não fiques perturbada. Eles não podem fazer essas coisas, porque o Tribunal vai impedi-los.” Acho que ele estava enganado. As pessoas que estão habituadas a um certo tipo de política têm este tipo de reações. Se os democratas não perceberam, os republicanos também não. Sei disso porque os republicanos falam, nos bastidores, sobre o assunto; e dizem, fora do registo oficial, que muitos senadores estão incomodados com o comportamento de alguns membros da Administração e com certas decisões que estão a ser tomadas; mas nenhum deles encontrou ainda uma estratégia. Diria que a maioria dos americanos — e não é só uma opinião minha — se opõe ao que Trump está a fazer. As sondagens confirmam-no. Opõe-se, por exemplo, ao envio de tropas para as cidades. Ou à utilização de um regulador federal contra uma estação de televisão para despedir um comediante [Jimmy Kimmel]. Neste último caso, a ação foi particularmente impopular. Portanto, a maior parte destas ações é mal recebida.

O que significa que, a partir de agora, já não há recuo. Face à impopularidade, Trump fará tudo para se manter no poder.
Sem dúvida. O que diz é verdade. E depois vem aí a próxima fase. O governador Pritzker, do Illinois, acredita que a militarização das ruas de Chicago, com forças e equipamento militar, serve para habituar os americanos à ideia antes das eleições intercalares do próximo ano. Estou apenas a citar o governador do Illinois. Não fui eu que o disse. Em seguida serão feitos enormes esforços para manipular as eleições. Tenho a certeza de que isso vai acontecer. Se conseguirão ou não, isso já é outra questão. Os Estados Unidos têm um sistema eleitoral muito descentralizado. Cada estado gere as suas próprias eleições, e todos os estados têm regras diferentes. Neste momento estou a trabalhar nessa área.

Fala de uma forma muito direta e frontal sobre o que está a acontecer, e isso é o que vejo acontecer, de modo geral, na “The Atlantic”. Mas não me parece que o “The New York Times”, por exemplo, seja tão claro, e há muita gente que partilha esta opinião.
Para ser justa com o “The New York Times”, é preciso dizer que o jornal tem a tradição de tentar manter-se politicamente neutro, e, neste momento, isso não lhes serve muito bem, porque torna mais difícil explicar o que está a acontecer. Ser politicamente neutro, num sistema democrático, implica dizer que a política deste lado é X e a política daquele lado é Y. Depois podemos analisar essas políticas e dizer, por exemplo: “Esta seria boa para este grupo de pessoas e aquela seria melhor para outro.” Há uma análise a fazer. Mas o que está a acontecer agora é muito diferente: trata-se de uma tentativa de mudança na natureza das instituições americanas, nos meios de comunicação, nas universidades, na ciência e até no próprio meio empresarial. E isso não se consegue descrever através da abordagem tradicional de “um lado versus o outro” usada por norma no jornalismo político. É importante evitar ser hiperbólico ou exagerado e não dar às pessoas a impressão de que as coisas foram mais longe do que realmente foram. Na verdade, os jornalistas são frágeis, estão bastante expostos em muitos aspetos e são impopulares. Mas também não me parece que a maioria dos americanos queira ver homens mascarados a sair de carrinhas e a prender pessoas depois de as arrastar pelo chão.

Era disso que eu estava a falar... Ainda assim, evita a palavra fascismo. Porquê?
Não gosto da palavra fascismo, porque faz com que as pessoas pensem nos nazis e comecem a lembrar-se de imediato dos filmes que viram sobre a Segunda Guerra Mundial ou Auschwitz, como “A Lista de Schindler”... Sei que a palavra fascista tem uma tradição histórica mais antiga e que, na verdade, foi Mussolini quem a inventou, não Hitler. É certo que algumas das táticas que estão a ser usadas, neste momento, podem ser facilmente comparadas às de Mussolini ou até às de Hitler, nos seus primeiros tempos. Mas também me parece que, se eu usar a palavra fascista, as pessoas começam a pensar numa imagem distante ou errada. Além disso, é uma palavra que, pelo menos em inglês, foi muito banalizada. Há muitos anos que as pessoas se chamam fascistas umas às outras. Mas isso não quer dizer que não haja outras pessoas que a usem. Tenho amigos que defendem que se devia usar essa palavra, porque há aspetos... Quer dizer, alguma da linguagem que Trump usou durante a campanha eleitoral foi — e presumo que tenha sido alguém da sua equipa que sabia o que estava a fazer — literalmente retirada do “Mein Kampf”. Literalmente. Aquela frase sobre “os imigrantes envenenarem o sangue da nação”. Sim, é do Hitler. Não sei se o próprio Trump sabia, mas alguém sabia. É difícil dizer se fizeram isso para alarmar as pessoas ou por outra razão. Mas não acho que usar a palavra fascismo ajude alguém a perceber o que se está a passar. E o objetivo não é chamar nomes. O objetivo é fazer com que as pessoas compreendam o que está a acontecer.

Sente-se mais segura na Polónia ou nos Estados Unidos [Anne Applebaum é casada com um político]?
Sinto-me segura na Polónia, nos Estados Unidos e em Portugal. Sinto-me muito segura aqui, em Lisboa. Não sei... O que devia fazer: preocupar-me? Quer dizer, não.

A revista “The Atlantic” decidiu dar um passo nesta luta, recusando a neutralidade...
Não é bem assim que a revista descreve o que está a fazer. “The Atlantic” é uma revista muito antiga. É anterior à Guerra Civil. Foi fundada por abolicionistas e teve, desde o início, bons e maus editores, mas nunca perdeu o foco nas ideias e nos ideais da América, na interpretação e compreensão da revolução americana e da história dos Estados Unidos. É isso que estamos a fazer agora. Não somos de direita. Não somos de esquerda. Estamos interessados na democracia e no Estado de Direito. Estou lá desde o ano 2000, portanto, há 25 anos, e, sempre que há uma grande reunião, é disto que se fala e é isto que o atual editor defende. Esta é a ideia central da revista. Não somos a resistência, não somos a esquerda. Estamos a defender os ideais dos documentos fundadores dos Estados Unidos.

Se Trump está a seguir o manual dos regimes autoritários, como diz, nalgum momento os meios de comunicação social serão atacados, como aliás já está a acontecer. Por quanto tempo será possível manter essa liberdade?
Não vamos exagerar o poder deles. Eles não têm controlo total. Quer dizer, não controlam o dono da “The Atlantic”, nem têm forma de controlar o “The New York Times”. Além disso, há mecanismos que também funcionam contra eles. Por exemplo, quando usaram a Federal Communications Commission (FCC) para pressionar uma estação de televisão, como a Disney, para retirar do ar um comediante que os satirizava, o Jimmy Kimmel, centenas de milhares de pessoas cancelaram as suas assinaturas do Disney Channel e deixaram de ir aos parques, em todo o mundo. Isso tornou-se um grande problema para a Disney. Este é um dos exemplos de como estas coisas podem funcionar nos dois sentidos.

O poder está nos consumidores?
Nem sempre vai depender dos consumidores. Mas, sim, o que é preciso reter é que há mais pessoas que desaprovam o que eles estão a fazer do que pessoas que os apoiam.

Até que ponto o “excecionalismo americano”, a ideia de que os Estados Unidos é um país diferente de todos os outros, facilitou a eleição de Trump, apesar de os sinais serem claros? Há aquela ideia de que um regime autocrático “nunca poderia acontecer aqui”...
Sim, acho que isso é muito importante, e já o dissemos. Fiz aquele podcast, “Autocracy in America”, por exemplo, e escrevi bastante durante a campanha eleitoral. Passei muito tempo a alertar as pessoas. Mas sabe o que percebi? Que as pessoas não queriam ouvir o que eu estava a dizer.

E algumas delas continuam a não querer ouvir...
Não, não querem ouvir. Veem tudo como se se tratasse de política partidária normal e dizem: “Bem, os democratas também fizeram coisas más.” Há vários tipos de resposta.

É muito claro: existem duas realidades. Caminhamos lado a lado na mesma direção, mas as pessoas veem coisas diferentes. Há uma dissonância cognitiva que nos separa.
Isso é verdade em todo o lado. Quer dizer, é verdade em todas as sociedades. Não temos uma realidade partilhada.

Estudou a história da Rússia e da Ucrânia, os gulags, as autocracias. Viu alguma coisa a este nível?
O desejo de criar uma realidade falsa que seja útil ao líder é algo muito antigo. Provavelmente, já existia na Roma Antiga. Nos Estados Unidos, até por ser um país muito grande, sempre existiram diferentes correntes de pensamento político e sempre houve uma imprensa que retratava o mundo de forma diferente. Isso não é assim tão novo. O que é diferente agora é a rigidez destas divisões, o facto de já não estarmos apenas perante opiniões diferentes. Porque as pessoas sempre tiveram opiniões diferentes. Algumas achavam que os impostos eram bons, outras que eram maus. Agora temos conjuntos de factos completamente distintos. Por exemplo, estava a ler um relato sobre o que aconteceu após o horrível assassínio de Charlie Kirk. Uma mulher estava a conversar com uma amiga que era admiradora dele e falava sobre a sua vida e de como Kirk era maravilhoso, mas nunca, literalmente nunca, o tinha visto ou ouvido. Quando percebeu que ele tinha feito várias declarações a atacar mulheres negras, a mesma mulher ficou chocada. Portanto, ela conhecia uma versão da vida de Kirk e outras pessoas conheciam uma versão completamente diferente. Tinham visões opostas sobre quem ele era, dependendo dos vídeos que tinham visto. E isso marca uma diferença profunda em relação ao passado.

A única solução passa por regular as redes sociais?
As redes sociais causaram e continuam a causar um dano enorme. Parte do problema prende-se com o facto de esta polarização ser muito útil a algumas das empresas de redes sociais. Tudo o que agravou a situação, como o uso de bots, contas falsas, etc., é comercialmente vantajoso para essas empresas, que não tiveram incentivos externos para controlar ou melhorar a situação. Podiam fazê-lo, porque, na verdade, é tecnicamente possível. Da mesma forma que é possível escrever um algoritmo que favoreça a indignação, a raiva, a polarização ou o envolvimento, também se pode escrever um que favoreça o consenso e a aproximação entre pessoas. Portanto, nem sequer estamos a falar de verdade ou mentira. Estamos a falar do tipo de emoções que queremos que as mensagens suscitem. Acontece que estas empresas decidiram que, comercialmente, é do seu interesse dividir as pessoas, e nós permitimos que isso acontecesse. Os europeus permitiram que empresas americanas e chinesas de redes sociais influenciassem o debate político. Se pensarmos nisso agora, é inacreditável.

Devemos pensar em regulamentação?

Sim, mas seria preciso ser muito claro sobre o que se está a fazer e porquê. Estas empresas não querem ser reguladas, e agora aliaram-se à Administração Trump, embora nem todas o tenham feito. É preciso percebermos que há pessoas dentro da Administração Trump que veem a Europa como o principal inimigo, o rival mais importante, pessoas que procuram enfraquecer ou acabar com a União Europeia e que tentam eleger líderes de extrema-direita por toda a Europa. Elon Musk e J. D. Vance fizeram campanha pelo AfD [partido de direita radical populista alemão]. Talvez as pessoas decidam que não se querem importar com isso ou que conseguem ultrapassar essa realidade — mas é muito importante reconhecer que é isso que está a acontecer e que muitas empresas de redes sociais também fazem parte disso. Os algoritmos são escritos de forma a favorecer a extrema-direita. Não há dúvida de que é o que acontece no X [ex-Twitter].

É conhecido o fim que tem sido dado aos oligarcas que se juntaram a Putin. Vai acontecer o mesmo com Trump? Acha que há risco de começarem a desaparecer ou a “cair” das varandas?
Quer dizer, é uma tradição diferente, e esse tipo de repressão também demorou muito tempo a acontecer. Não sei. Não consigo prever o que vai acontecer, mas não acho que eles vão desaparecer. Pode ser que Trump tente usar o poder do Estado para controlar tudo o que é nosso.

O que pensa que levou Musk a sair do DOGE?
Musk decidiu afastar-se porque descobriu que estar envolvido na política era mau para a Tesla. Mas é preciso dizer que continua a ser um grande beneficiário de financiamento do Governo dos EUA e que, no final de contas, causou grandes danos a cerca de 20 ou 30 instituições diferentes que estavam a investigá-lo, assim como às suas empresas. Por isso — embora os danos sofridos pela Tesla tenham sido enormes e a empresa tenha começado a perder dinheiro —, o episódio acabou por lhe ser bastante benéfico.

Estará a guardar os dados sobre os contribuintes que obteve durante esse tempo?

Talvez.

Quando foi a primeira vez que se apercebeu da relação entre Trump e o dinheiro russo?
Há 30 anos, antes de Putin chegar ao poder. Trump já estava interessado em ter uma relação com a Rússia antes do fim da União Soviética. Há um momento famoso em que Trump vai a Moscovo, no final dos anos 80, e no regresso manda publicar grandes anúncios em três jornais americanos, a dizer que as alianças dos EUA são muito más, que nos enfraquecem e que devíamos estar mais próximos da União Soviética. Com o colapso da União Soviética, o sector do imobiliário comercial foi — e não sei se ainda é — particularmente atrativo para o crime organizado e para o branquea­mento de capitais, porque permitia que determinadas empresas adquirissem propriedades de modo anónimo. Nessa altura, havia muito dinheiro oriundo do mundo pós-soviético e muitas pessoas à procura de sítios para o guardar. Sabemos que parte desse dinheiro acabou por entrar no universo Trump, através de transações comerciais e negócios que ele fez com pessoas russas ou com os seus representantes em Nova Iorque. Portanto, essa relação já vem de longe. Um dos filhos de Trump chegou a mencionar a entrada de dinheiro russo nas suas propriedades e uma grande parte dos apartamentos vendidos nos edifí­cios de Trump foi comprada anonimamente. Depois, a imagem mental que Trump tem da Rússia é a de que é um bom lugar para os negócios, e é isso que ele aprecia.

Qual a responsabilidade que atribui a Administrações como a de Obama e Biden nesta relação com o dinheiro corrupto das autocracias?
É verdade que, desde o início dos anos 90, tivemos um sistema financeiro internacional — e isto não é só culpa dos americanos, mas também dos europeus e de outros países — que facilitou a saída de dinheiro roubado de países como a Rússia, escondido em paraísos fiscais, ou movimentado através do Chipre e Luxemburgo. Parte desse dinheiro acabou por ser investido em imobiliário em Nova Iorque, Londres, Miami e, provavelmente, também aqui, em Lisboa. Esse dinheiro teve impactos diferentes e alterou os mercados imobiliários. No caso de Londres, penso que terá literalmente mudado a cidade, porque foram construídos edifícios especificamente para acomodar esse tipo de investimento. Ao mesmo tempo, houve uma explosão de dinheiro sujo, ou “dinheiro obscuro”, como chamamos nos EUA, na política americana. Culpo todos os Presidentes americanos, desde os anos 90, por permitirem que isto acontecesse, assim como os líderes europeus. Ganhou-se muito dinheiro com estas práticas em cidades como Londres ou Nova Iorque. Bancos, advogados, consultores fiscais... Todos lucraram. Mas foi muito prejudicial politicamente. Primeiro, porque permitiu que muitos líderes autocráticos se mantivessem no poder, não só na Rússia, mas também em África, na Ásia e noutros lugares. Além disso, corrompeu o nosso próprio sistema financeiro.

E está a ajudar a destruir o sistema político democrático, não só porque permite que os autocratas sobrevivam e se mantenham no poder mas também porque destrói a confiança dos cidadãos nos países democráticos.
Sim, provavelmente é verdade.

Acredita que as pessoas percebem quando há corrupção. É isso que as mobiliza, como aconteceu na Ucrânia, com Maidan, e na Rússia, com Navalny?
É importante que, quando se faz campanha contra a corrupção, se ligue essa luta à experiência das pessoas. Navalny, na Rússia, fez uma campanha muito eficaz contra a corrupção, ligando-a aos russos comuns. Dizia: “Eles construíram palácios e estão a roubar dinheiro. E é por isso que não tens estradas, que as escolas são más e os hospitais também.” Era uma mensagem muito eficaz, não só porque era verdadeira mas porque a corrupção, a injustiça e a sensação de desigualdade motivam muitas vezes as pessoas a querer mudança.

Agora que Navalny já não está cá, o que pensa dele? Muitas pessoas tinham receio de que ele também fosse de extrema-direita, um protoditador.
Acho que isso foi um erro. Já quase não importa, mas uma das últimas coisas que ele fez foi escrever um artigo em que descrevia a sua visão para a Rússia: uma democracia parlamentar. Foi também muito claro ao dizer que a guerra era um desastre. É verdade que, na vida, passou por várias fases e que tentou várias abordagens. Navalny estava interessado em mobilizar os russos e em chegar à população em geral. Não só em Moscovo e São Petersburgo, mas em todo o país, incluindo os trabalhadores. Fez várias experiências. Algumas com sucesso, outras não. Mas era uma pessoa criativa e interessante, e até agora foi o mais bem-sucedido a enfrentar Putin. Mas, infelizmente, isso já não importa...

Tal como a Anne, o seu amigo Garry Kasparov, dissidente russo, diz que uma sociedade como a russa não tem de ser eternamente antidemocrática. Mas, se recuarmos na história deste país, é difícil encontrar a democracia. É possível imaginar uma democracia na Rússia?
Houve momentos mais liberais ou mais abertos na história da Rússia, e também existe uma longa tradição de russos liberais que remonta ao século XIX. Os russos têm os mesmos instintos de justiça e equidade que as outras pessoas. Nenhum país está geneticamente determinado a ser de uma forma ou de outra. Portanto, consigo imaginar uma Rússia diferente. Tivemos uma Rússia diferente nos anos 90.

A Ucrânia e a Rússia sempre foram diferentes economicamente. Não pensa que a economia pode determinar o sistema político?
É verdade que países fortemente dependentes de um ou dois tipos de recursos naturais tendem ao autoritarismo, porque pequenos grupos tentam controlar esses recursos. No entanto, há o exemplo da Noruega...

O que acha que vai acontecer nos próximos dias com a paralisação nos Estados Unidos? Os democratas decidiram ir à luta no momento certo?
Sinceramente, não sei o que vai acontecer. Não sou uma insider e não faço parte das conversas internas. Sei que os democratas no Congresso chegaram à conclusão de que não podiam continuar sem fazer nada. Escolheram focar-se nos cuidados de saúde. Algumas pessoas acham que foi uma má ideia, outras acham que foi boa. Podiam ter feito outras escolhas. Como consequência, as pessoas tomaram consciência de que a legislação de Trump poderá criar enormes problemas para quem depende de cuidados de saúde públicos, como a Medicaid ou o Affordable Care Act. Conseguiram chamar a atenção para isso.

Sim, e vai ser pior nas zonas onde Trump venceu, porque há mais pessoas a depender destes sistemas.
Sim, vai ser pior, sim.

É estranho, mas é verdade: as pessoas votam contra os seus próprios interesses. As pessoas que mais votaram em Trump são as que mais estão a sofrer com as suas medidas.
Também se pode dizer que as pessoas ricas que votaram nos democratas votaram contra os seus interesses.

Sem dúvida. Alguns dos que votaram nos democratas acabaram por ganhar muito dinheiro na Bolsa com a vitória de Trump.
Sim, é verdade. Isso prova algo importante: as pessoas não votam apenas com base na economia. Votam por muitas razões. É muito difícil dizer por que razão alguém vota, porque as pessoas são complexas. Se alguém soubesse realmente, saberia como agir — mas não é assim que funciona. As pessoas têm interesses económicos, ideológicos, pessoais, instintos. Há muitas razões diferentes que levam as pessoas a votar.

No fim de contas, os EUA poderão ter cerca de 30 milhões de pessoas sem qualquer cuidado básico de saúde. Como é que isto é compreensível?
Não é novidade na história americana. Não é a primeira vez que isso acontece... Concordo que é escandaloso. Não sei bem o que quer dizer com “compreensível”, mas é preciso recordar que há um partido político nos EUA com uma ideologia que diz que o Estado não deve ajudar as pessoas e que tem tentado cortar tudo o que o Estado faz pelas pessoas. É nisso que acreditam. E a Cristina tem razão: até agora, as pessoas têm continuado a votar neles.

Uma das pessoas que Trump contratou defende o corte total de despesas. No entender dele, não se deve gastar nada. Zero.
Sim, está a falar do Russell Vought. É verdade que ele defende isso, e anda a dizê-lo há vários anos. Está na política americana há muito tempo. Ontem tomei o pequeno-almoço com um ex-membro do Congresso que falava sobre Vought e sobre a forma como ele se comportava há alguns anos, quando trabalhava numa das comissões do Congresso — não como membro eleito, mas como assessor.

Há a ideia de que os republicanos foram capturados por esta política de Trump. Não o querem, mas têm medo. Medo de quê?
Depende. Alguns têm medo de serem desafiados nas primárias — ou seja, que Trump ou a sua equipa apresentem um candidato contra eles nas próximas eleições. Muitos têm medo disso. Outros têm medo de serem atacados nas redes sociais, especialmente no X, que é a plataforma que mais os preocupa. Alguns, especialmente senadores, podem até ter medo de que, ao desafiarem Trump, sejam atacados ou de que os seus filhos sejam atacados no seu estado. Isso foi tema de um episódio do meu podcast há um ano. Há uma variedade de medos. E não esquecer: alguns concordam com ele. Acham que o Governo Federal é demasiado pesado, que o défice é excessivo, que as pessoas devem cuidar de si próprias e que o Governo não deve interferir na vida das pessoas.

Só para terminar, porque temos de encerrar. Uma das ideias que tem evocado para o futuro é que as pessoas que defendem a democracia e o Estado de Direito e que estão contra Trump devem encontrar os pontos em comum e trabalhar em conjunto.
Sim, devem criar coligações a partir do que têm em comum. Mas, se isto é o fim da conversa, quero aproveitar para dizer uma coisa antes de acabar: é muito importante que os europeus tenham os olhos bem abertos, percebam o que está a acontecer e compreendam o impacto que isso tem para eles e para a sua segurança. Pode haver um Presidente diferente daqui a três anos, talvez. Uma grande parte dos americanos ainda gosta da NATO, quer continuar a ser membro da alian­ça e quer ter aliados, entre outros. Mas também há uma parte significativa da população americana que não quer aliados, que não gosta especialmente da Europa e que não quer ter nenhuma relação especial. Espero que os europeus compreendam isso e comecem a tirar conclusões. Conclusões para a sua segurança, claro, mas também para a economia.

Acho que alguns dos países europeus que, ao longo deste ano, saíram do Acordo de Otava e começaram a colocar minas terrestres nas fronteiras já perceberam isso. Acha que os europeus ainda não perceberam?
Acho que alguns perceberam e outros não.

Enquanto europeus, temos a perceção de que os americanos não estão a perceber que, de certa forma, já estão a viver num regime autoritário e que as coisas podem piorar.
Ele ainda não conseguiu criar um regime autoritário. Está a tentar criar um, mas ainda não conseguiu. É muito importante fazer essa distinção.

No seu podcast, “Autocracy in America”, estava sempre a dizer que não estava a falar do futuro, mas do presente, do que está a acontecer agora nos EUA.
Mas nunca disse que estamos numa ditadura da qual não podemos sair. Não penso isso. Só estou a dizer que há comportamentos e práticas autoritárias das quais devemos estar conscientes. Elas estão presentes. Isso é verdade.

É também importante perceber que já não estamos no chamado “mundo livre”, aquele que surgiu depois da Segunda Guerra Mundial.
Sim, isso acabou. Acabou esse mundo, criado após a Segunda Guerra Mundial, essa ordem liberal baseada em regras, sustentada pelo poder e pela influência dos Estados Unidos. É muito importante que as pessoas compreendam isso, que interiorizem essa ideia e que tirem conclusões. Há muitas oportunidades para a Europa. A Europa tem o Estado de Direito. Tem educação não ideológica, em grande medida. Pode tornar-se o grande centro da ciência se os EUA abdicarem disso. Pode tornar-se o foco de investimento se for mais difícil investir nos Estados Unidos devido às constantes alterações na política comercial. A Europa tem sistemas estáveis. Tem regulamentação fiável que as pessoas compreendem. Tudo isso pode ser extremamente vantajoso para os europeus.

Muitas pessoas, mesmo aquelas que acreditam no excecionalismo americano, pensam que o caminho para a guerra civil está aberto. Tem receio de uma guerra civil nos Estados Unidos?
Não acho que vá haver uma guerra civil como no século XIX, com dois exércitos a combater em Gettysburg. Mas já há um nível muito elevado de violência política. E pode piorar.

Expresso

October 20, 2025

Uma das coisas que Putin conseguiu com esta guerra foi unir mais os europeus

 

Os serviços secretos holandeses estão a deixar de partilhar informações com os Estados Unidos e a trabalhar mais estreitamente com os seus parceiros europeus, afirmaram o diretor da AIVD, Erik Akerboom, e o diretor da MIVD, Peter Reesink, numa entrevista conjunta ao jornal Volkskrant.

A sua cautela em relação a Washington está relacionada com o que descrevem como a trajectória cada vez mais autocrática do presidente Trump, que demitiu altos funcionários por serem leais ao país e não a si e recorreu a processos judiciais para pressionar jornalistas, juízes e universidades.

Os diretores afirmaram que esta é a primeira vez que os eventos nos EUA moldam diretamente as relações dos serviços secretos holandeses com eles, marcando uma ruptura com décadas de estreita cooperação com a CIA e a NSA.

Ao mesmo tempo, a cooperação dentro da Europa aumentou. 

Akerboom disse que um grupo líder de serviços de inteligência do norte da Europa — incluindo os Países Baixos, Grã-Bretanha, Alemanha, os serviços escandinavos, França e Polónia — agora troca mais informações, incluindo dados brutos, impulsionado pela guerra da Rússia na Ucrânia.

Os directores também alertaram que a Rússia está por trás de dezenas de ataques cibernéticos bem-sucedidos na Holanda todos os anos, «em áreas onde causa perturbações reais», enquanto a China está a tornar-se uma ameaça digital ainda maior.

Akerboom alertou os viajantes holandeses na China sobre as chamadas operações de «acesso próximo», nas quais computadores portáteis e smartphones pertencentes a jornalistas, altos funcionários e especialistas técnicos são copiados fisicamente ou sem fios.

«As pessoas precisam realmente de estar cientes de que os seus dispositivos são vulneráveis», disse ele, acrescentando que mesmo os dados encriptados podem ser armazenados e posteriormente desencriptados usando inteligência artificial.

Ambos os chefes de inteligência disseram que a Holanda precisa de poderes mais amplos para agir mais rapidamente contra os ciberataques russos e chineses. «Queremos ser capazes de agir mais rapidamente quando vemos um ataque. O procedimento agora é muito demorado», disse Akerboom.


October 18, 2025

Não acredito que Putin tenha coragem de ir à Hungria

 

Sabendo que qualquer país por onde o avião passe pode abatê-lo. É o que acontece numa guerra quando se avista o inimigo principal. Os europeus vêem esta cimeira como um insulto à Europa? Bem, Trump considera a Europa irrelevante neste assunto porque tem olhos na cara e vê que os europeus não conseguem dar passos decisivos no apoio à Ucrânia: os alemães não enviam os taurus, os europeus não usam o dinheiro russo congelado, não aproveitaram estes três anos para se armarem, etc. Trump -tal como Putin- vê isso como uma fraqueza. Os ucranianos já conseguiram mais com os drones a descarbonizar a Rússia que todas as sanções juntas. Os europeus que têm peso não acordam para a realidade e ficam anos a discutir questões de lana caprina.


October 11, 2025

Quanto mais depressa a Europa se tornar independente da NATO, melhor

 

Os islamitas que tentam enfraquecer a Europa são agora grandes amigos e confidentes dos EUA. O Qatar é um Estado que suporta e incentiva terrorismo. Os americanos engolem isto tudo.


October 09, 2025

Completamente de acordo

 

Meloni apresenta novo projeto de lei para combater o «separatismo islâmico e cultural»

- Proibição total do uso de burca e niqab em todos os locais públicos (ruas, escolas, lojas e escritórios)

- Todo o financiamento das mesquitas deve ser divulgado. O financiamento estrangeiro considerado uma «ameaça aos valores italianos» será proibido.


October 06, 2025

A Europa continua a dormir

 

A Rússia utilizou ontem 549 armas de ataque contra a Ucrânia, construídas com mais de 102 000 componentes fabricados no estrangeiro.
As peças provinham dos EUA, China, Taiwan, Grã-Bretanha, Alemanha, Suíça, Japão, Coreia do Sul e Países Baixos.

_ Zelensky

Uns vendem peças aos russos, outros compram-lhes gás ou petróleo, outros recebem-nos com honras nos seus países, outros votam neles para líderes políticos.
Os europeus, mesmo vendo o que se passa, não acreditam.
Penso ser óbvio que, se os europeus e os americanos tivessem tomado medidas em 2014, tinha-se evitado esta guerra brutal com tantos mortos e cidades inteiras arrasadas, milhares de ucranianos deslocados do seu país e todos os problemas que ela trouxe aos ucranianos mas também aos europeus. Tomar medidas na altura teria saído muito barato e teria tido resultados duradouros.
Não o fizeram por não acreditar que Putin tivesse outros planos - apesar dele ser sempre muito transparente sobre os seus desejos de dominação imperial do Leste.
Porém, como se viu, Putin é alguém capaz de esperar 8 anos para dar passos nos seus planos. Esperou 8 anos para voltar a atacar a Ucrânia, numa altura que lhe pareceu propícia. Da mesma maneira, esperará o que foi preciso para abocanhar o resto da Ucrânia e passar aos países seguintes.
Desta vez não terá que esperar tanto tempo, dado que já percebeu que os europeus não dão passos decisivos para o travar e, tem agora o apoio activo da China e outras ditaduras ferozes. 
Cada passo que ele agora der será mais difícil de travar e com mais custos e a mim faz-me impressão que os europeus não o vejam ou vejam mas não acreditem (como os americanos que vêm Trump fascizar o país mas continuam sem acreditar) e estejam à espera do tempo em que um míssil caia na catedral de Colónia ou na Notre Dame para agir, numa altura em que já não será possível travá-lo sem enormes custos humanos que neste momento apenas a Ucrânia suporta. 
O espectáculo de todos os dias vermos ucranianos a desaparecer debaixo de bombas e adiarmos as acções por medo, é revoltante e indigno, tanto mais que bastava fecharem o céu da Ucrânia às bombas. Enquanto eles morrem os alemães discutem se a lei permite destruir um drone de alguém que os vigia com intenção de os destruir. É patético.

September 28, 2025

Porque é que os países não apreendem os navios russos?

 

A Rússia passou os últimos três anos a comprar e a posicionar uma frota de petroleiros e navios de carga velhos e decrépitos em todo o mundo. Agora, estão a usá-los como plataformas para ataques com drones contra nações ocidentais. E a NATO não faz nada.

O Oslo Carrier 3, o navio de carga norueguês que se encontrava perto de Copenhaga quando os drones encerraram o aeroporto local, é propriedade de uma empresa com uma filial em Kaliningrado. O diretor da filial é um cidadão russo ligado ao RSB Group, o PMC russo. 

Michael Weiss - danwatch.dk/russisk-paramilitaer-gruppe/

September 23, 2025

Isto é verdade...

 

September 13, 2025

A Europa não definha

 

A Rússia lança um ataque aéreo contra a Ucrânia. As forças aéreas polacas e romenas anunciaram que mobilizaram aeronaves e colocaram os sistemas de defesa aliados em alerta máximo.
- Intermarium 24


Há pouco  tempo li por aí um artigo que defendia que a Europa está a definhar e que já não tem importância no mundo porque na China ninguém quer saber da Europa e porque está velha e porque ninguém se entende. Não podia estar mais em desacordo com tudo.

A Europa é o único continente no mundo que quis, experimentou e conseguiu construir um projecto de paz de democracias, em democracia, durante muitas dezenas de anos seguidos. Estamos tão habituados a viver nele que nem nos damos conta de como essa experiência é excepcional na história do mundo.

Tivemos um primeiro ensaio de democracia na Grécia Antiga, que durou pouco tempo mas cuja marca perdurou no pensamento dos filósofos e na imaginação dos homens. Depois um interregno de milénios de teocracias e despotismo, até um renascimento da ideia de autonomia e liberdade, com muitos solavancos e, momentos terríveis de ausência de humanidade, no século XX. 

Porém, como acontece tantas vezes na natureza, onde da putrefacção brota vida, do pior momento da nossa história renasceu mais uma vez a ideia de paz em democracia.

Em pouco mais de trinta anos, desde o 'Tratado de Maastricht', a Europa construiu uma sociedade de nações democráticas com uma moeda única, uma política externa comum e um espaço comum de convivência com troca de ideias, comércio, trabalho, cultura, educação. São quase 30 países.

O facto da UE ter uma máquina pesada, ser lenta nas decisões e ter muita cautela não é um demérito nem um sinal de definhamento. É um sinal de prudência. Os 27 países da União têm uma história de guerras entre si, de competição feroz, de invasões e roubos, que não estão assim tão distantes no tempo, de maneira que há sempre cuidado em não dar passos em falso que ponham em causa a União.

É perfeitamente natural haver divisões, competição interna, oposições... não somos um país com um governo, mas quase três dezenas de países, cada um com seu governo, os seus problemas e interesses próprios. Olhamos os EUA, que são um único país há 200 anos e estão à beira de uma guerra civil, os Estados não se entendem entre si, fazem guerra entre si, assassinam os líderes políticos uns dos outros, ameaçam-se, uns mandam prender outros...

Olhamos o horror dos sistemas de governo do Médio Oriente, o sofrimento imposto às mulheres; a pobreza da Índia, a ditadura implacável da China, as guerras dilacerantes na África, um continente riquíssimo que está cheio de países com infra-estruturas de 1º mundo. O desperdício que é o Brasil nas mãos de rapaces, também à beira da guerra civil. E a Rússia, um país que nasceu torto e nunca se há-de endireitar.

Neste contexto, o projecto de paz da Europa é extraordinário e não surpreende que os seus líderes dêem pequenos passos para não o perigar.

Nas ditaduras é que as decisões, sendo tomadas por um ditador, sem ter que respeitar pessoas, leis ou instituições, são muito rápidas. É a vontade de um homem só. Mas nas democracias é preciso conjugar a vontade de muitos. E numa União de dezenas de democracias é um equilíbrio sempre instável.

A Europa está numa encruzilhada e o que é diferente é a urgência que a guerra da Rússia impôs e por isso é que tudo parece ainda mais lento.

Havia passos a dar na União que esta guerra veio apressar como o da cooperação na defesa. A notícia de que os polacos e os romenos têm os sistemas de defesa em alerta para ajuda à Ucrânia devido a mais um ataque é uma boa notícia. Estamos a caminhar, não para a divisão, mas para a cooperação.

Agora o que é preciso é perceber que situações de urgência requerem medidas de urgência. Estamos numa altura em que a maioria dos líderes da UE percebe a gravidade da situação, do perigo da Rússia, da necessidade de a anular e sabe que tem de agir agora, enquanto há tempo.

Se passarmos esse rubicão que é a derrota da Rússia, para o qual precisamos de autonomia de defesa e de coragem para dar aos ucranianos o que é necessário, depois podemos reconstruir o projecto de paz, com a Ucrânia, em outros parâmetros de ainda maior união. 

É preciso mudar regras para países que resvalam para autocracias como a Hungria, porque a Europa é um projecto de paz em democracia e não um projecto de paz podre. Se os líderes actuais estiverem à altura da situação, a Europa sai disto mais forte, mais unida e mais democrática.

Há muitos problemas para resolver? Pois há, mas temos muita gente com talento e vontade de fazer.

Não temos ambição de ser os maiores como Trump quer para os EUA. Não somos narcisistas e já não somos colonialistas. Queremos um projecto de paz, num planeta onde a convivência pacífica dentro de leis comuns e a prosperidade sejam mais importantes que a invasão, a morte, a conquista e a destruição.

Agora sabemos que isso não é possível sem uma defesa forte e sem instituições fortes, viradas para as pessoas e não para o mero poder.

A Europa não está a definhar, está a evoluir, numa metamorfose.


September 12, 2025

Talvez não morta, mas com respiração assistida e prognóstico muito reservado

 

O problema é que o sr. Scholz e outros países europeus estiveram três anos a olhar para as nuvens sem perceber a urgência de autonomia de defesa.


"Porquê levantar as sanções contra a Belavia? Quem precisa da Belavia?"

 

A Europa tem de interiorizar a ideia de que Trump nunca virá em seu auxílio.


September 04, 2025

Há muita pressa em agir

 


Garry Kasparov

À medida que os EUA se retiram do mundo, a Rússia, a China e outras ditaduras agressivas irão expandir-se para preencher o vazio.


Os EUA vão cortar o financiamento de segurança ao abrigo da Secção 333 para os países da Europa Oriental que fazem fronteira com a Rússia, incluindo os países bálticos. A medida, que faz parte do realinhamento da ajuda externa de Trump, poderá cortar centenas de milhões em apoio, abalando os aliados da NATO e levantando preocupações sobre a prontidão da defesa regional. -FT.

September 02, 2025

A Europa a dormir

 

O Presidente chinês forja ali uma nova ordem de desrespeito pelos valores humanitários, pelas democracias e pela liberdade dos indivíduos e dos povos. Com o beneplácito dos EUA (qualquer dia vêm o dólar ser substituído) e a hesitação dos europeus na Ucrânia. Entretanto, Guterres foi lá a correr sem ser convidado abençoar as festas para ganhar protagonismo mas... ninguém lhe ligou um boi.