(Os destacados a negrito no texto são meus. É bom que os nosso governantes aprendam com o que se passou na Holanda sobre as polícias serem muito brancas e terem baixado os padrões para integrar muçulmanos: judeus, mulheres e homossexuais agora controlam os seus comportamentos com medo da polícia. Os currículos de história da escola sobre o holocausto foram suprimidos por pressão dos islamitas. Qualquer dia o holocausto nem sequer aconteceu. Isto é um assunto muito sério)
Amesterdão e o mundo em silêncio. É isto um Pogrom?
Helena Ferro de Gouveia
Nada há mais efémero que o Nie Wieder ist jetzt. Não sejamos inguénuos o “Nunca Mais”, proferido pelos esquálidos sobreviventes do campo de concentração de Buchenwald na sua libertação, reduziu-se a mera bengala retórica. Espanta-nos? Não. Relato de oito dias na Alemanha.
Nessa mesma tarde, segundo a polícia de Munique, um iraquiano de 45 anos grita da sua varanda no bairro de Berg am Laim, em Munique, que “os judeus devem morrer”. Em Hannover, a polícia recebe uma queixa depois de alguém ter pintado ou removido completamente vários sinais de trânsito na Loebensteinstraße. A rua só recentemente recebeu o nome de uma menina judia que aí viveu com a sua família antes de ser assassinada no campo de extermínio de Sobibor, em 1943, com dez anos de idade.
A sete de outubro de 2023 estava na Alemanha com a minha família, ao final da tarde quando olhei pela janela a minha vizinha, quase nonagenária, única sobrevivente da Shoah na sua família tinha acendido velas e posto (algo raro na Alemanha) uma bandeira de Israel pendurada no beiral. No dia seguinte a bandeira jazia no chão rasgada em pedaços.
Na mesma noite as traseiras da comunidade judaica de Halle é riscada com uma escrita estranha. Se olharmos com atenção, podemos reconhecer a palavra inglesa “nasty”.
Nove de outubro de 2023. Em Altenkirchen, na Renânia-Palatinado, é vandalizada uma janela da casa de um casal não judeu que aí tinha pendurado uma Estrela de David e uma bandeira israelita.
Dez de outubro de 2023. Em Berlim-Friedrichshain, cinco suásticas são descobertas num vestígio do Muro de Berlim, na East Side Gallery, juntamente com as palavras “Kill Jews”. Em Dortmund, na Thusneldastrasse, está afixada uma faixa por cima de um bar neo-nazi. Nela pode-se ler: “Israel é a nossa desgraça”, uma alusão à frase que, durante a época nazi, estava estampada em todas as capas da publicação nazi “Der Stürmer”: “Os judeus são a nossa desgraça”.
No comboio de Göttingen para Hannover, uma mulher judia ouve alguém dizer em voz alta: “Deviam gasear os judeus”. Comunica o comentário ao centro de documentação do RIAS.
Doze de outubro de 2023. Em Regensburg, na Neupfarrplatz, um homem grita que odeia os judeus e que Hitler tinha razão. Quando um transeunte tenta confrontá-lo, o homem atira-lhe spray de pimenta para a cara. Mais tarde, é detido.
Em Berlim, um bloco de apartamentos em Prenzlauer Berg, onde vivem judeus, é marcado com uma estrela de David. Nos dias que se seguiram, apareceram estrelas de David nas paredes e portas de pelo menos 14 outras casas em Berlim, algumas das quais ocupadas por judeus.
Treze de outubro de 2023. Em Bad Hersfeld, Hesse, nota-se que falta uma placa comemorativa com os nomes de 119 judeus assassinados na muralha da cidade. Mais tarde, são encontrados fragmentos da placa num parque
Em Berlim-Halensee, Ronit P., uma australiana judia, está a brincar num parque infantil com a sua filha de dois anos. Passado algum tempo, repara que alguém pintou com spray uma estrela de David em verde vivo ao lado das suas coisas. P. conta ao semanário Die Zeit que os salpicos de tinta na sua mala ainda estavam frescos quando regressou.
Quinze de outubro de 2023. Em Betzdorf, na Renânia-Palatinado, as pedras de várias sepulturas judaicas anteriores ao Holocausto foram derrubadas durante o fim de semana.
Estes são incidentes documentados oito dias após o massacre de 7 de outubro e sem uma única força israelita em Gaza.
O mundo em silêncio
Como escrevi em “O Dia que Mudou Israel “a desumanidade de 7 de outubro de 2023 não foi um resultado, nem sequer uma consequência, a crueldade foi a sua essência. Os bárbaros não pouparam crianças, mulheres grávidas, idosos. Castigados por não se sabe que crime original e imperdoável. Metralharam e violaram com o objetivo único de aniquilar, humilhar. Foram precisos arqueólogos e meses para reconhecer corpos carbonizados, havia pilhas de pedaços de corpos indistintos.
Israel e o mundo petrificaram. Durou pouco a estupefacção. Ainda os mortos de Aloumin, Be’eri, Nahal Oz, do Festival Nova não haviam sido todos sepultados, sequer identificados, e sua morte já era relativizada, “contextualizada”.
Na Alemanha, de 7 de outubro a 31 de dezembro de 2023, os incidentes antissemitas aumentaram 350 por cento, em comparação com o mesmo período em 2022. Em França, os incidentes antissemitas aumentaram 1000% nos três meses após 7 de outubro, mais do que o número de incidentes nos três anos anteriores juntos. Nos Países Baixos, os incidentes antissemitas aumentaram 818% no mês seguinte a 7 de outubro.
Nas manifestações por essa Europa fora grita-se “onde estão as vossas mulheres que alegadamente foram violadas?”. Os habitualmente tão vocais defensores dos direitos das mulheres calaram. Nas manifestações grita-se “morte a Israel, morte aos judeus”. Há mais de um ano que na Europa que exclamou uníssono Nie Wieder a minoria judaica está aterrorizada. Os habitualmente tão vocais defensores dos direitos das minorias calaram-se. Tudo gente aparentemente sensata, inteligente e que defende com palavras justas o que há de melhor para o mundo e para a paz perpétua.
O poema “Wiegala”, uma canção de embalar, escrito por Ilse Weber, enfermeira checa, para as crianças de Theresienstadt, diz a dada altura o seguinte: “Wiegala, wiegala, wille, wie ist die Welt so stille!”. “O mundo está em silêncio”.
Ilse cantou esta canção para os meninos e meninas de Theresienstadt, um deles era o seu filho Tommy, e cantou-a enquanto caminhavam para a câmara de gás. Disseram-lhe que Tommy não tinha escolha, ela poderia sobreviver, recusou-se a abandonar o filho. Quando penso em Ilse e Tommy não consigo deixar de me lembrar do filme “A Escolha de Sofia”. No filme, Sophie é transportada para Auschwitz e confrontada com uma decisão inimaginável: tem de escolher qual dos seus filhos será enviado para a câmara de gás, sabendo que, se não escolher, ambos serão mortos. No seu desespero, escolhe enviar a filha, Eva, para salvar o filho, Jan. Sobrevive e vive dilacerada por dentro toda vida. “Wiegala, wiegala, wille, wie ist die Welt so stille!”.
Ainda o silêncio, enquanto escrevo o bebé Kfir Bibas e o seu irmão Ariel Bibas completam 400 dias de cativeiro. Aos olhos de muitos ativistas de direitos humanos são invisíveis, vítimas incómodas.
O que podia correr mal em Amsterdão?
A partida da Liga das Nações entre a Bélgica e Israel era um mau presságio. O jogo da Bélgica em casa, em setembro, teve de ser disputado em Budapeste porque a cidade de Bruxelas não pôde receber a seleção nacional de futebol israelita para um jogo “por razões de segurança”. A capital da Europa não consegue garantir a segurança a israelitas. De quem ou de quê está refém Bruxelas? Podiam ao menos ter-se dado ao trabalho de maquilhar o antissemitismo.
Tal como entre o St. Pauli, clube alemão de Hamburgo, e o Hapoel Telavive, existe amizade entre grupos de adeptos do Ajax de Amesterdão e do Maccabi Telavive. Os adeptos do Ajax são conhecidos pela sua posição pró-israelita. Quer sejam judeus ou não judeus, referem-se a si próprios como “super jode”, super judeus, ou têm mesmo tatuagens com a estrela de David. Faz parte da identidade do clube. Defrontavam-se dois clubes com simpatia um pelo outro, o que poderia correr mal?
As imagens de Amesterdão, cidade de Anne Frank e Baruch Espinosa, são chocantes. Os vídeos que circulam nas redes sociais mostram pessoas a serem caçadas pelas ruas, uma pessoa deitada no chão a ser pisada ou um peão a ser atropelado. Num dos vídeos, um homem diz com medo “não sou judeu” e é espancado até ficar inconsciente.
Mas o que aconteceu exatamente em Amesterdão? Com a ajuda das declarações oficiais das autoridades, dos relatos dos meios de comunicação social neerlandeses e dos vídeos que provavelmente mostram os incidentes, é possível fazer uma reconstrução preliminar dos acontecimentos
Na quinta-feira, um grande número de israelitas deslocou-se à cidade holandesa para assistir ao jogo da Liga Europa entre o Ajax de Amesterdão e o Maccabi Telavive. Os adeptos de ambos os clubes festejaram juntos antes do jogo como é visível em vários vídeos no X ou no Instagram.
De acordo com a polícia, às 17h30, os adeptos dirigiram-se para a principal estação de comboios e daí para a Johan Cruyff Arena, onde se disputava o jogo.
Ativistas pró-palestina tinham anunciado antecipadamente uma manifestação anti-israelita diretamente em frente ao Johan Cruyff Arena, mas esta foi transferida para a Praça Anton de Complein, nas proximidades, por ordem da Presidente da Câmara. Quando os participantes na manifestação tentaram entrar no estádio, registaram-se confrontos com a polícia. Foram detidas 30 pessoas.
A polícia descreveu a situação após o jogo, que o Ajax de Amesterdão venceu por 5-0, da seguinte forma: “os adeptos de ambos os clubes deixaram o estádio após o jogo sem quaisquer incidentes ou distúrbios e seguiram caminhos separados”. As cenas de violência extrema ocorreram depois.
E os cânticos e as bandeiras?
Mesmo aos olhos de quem já não tem ilusões sobre a demonização imediata de israelitas e judeus o enviesamento e a duplicidade de critérios foi gritante. Nas últimas horas descobri uma quantidade surpreendente de europeus e portugueses que fala fluentemente hebraico e domina as suas subtilezas de tal forma que consegue traduzir cânticos de futebol, posta a ironia de parte as traduções deturpadas foram postas a circular por uma página no X de nacionalistas marroquinos-neerlandeses.
Surpreendente? Os vídeos verificados mostram grupos de adeptos do Maccabi a cantar “Que as IDF derrotem o inimigo árabe” e a entoar “Que se lixe a Palestina” e não aquilo que se pôs a circular no X e que uma contra-natura coligação entre a extrema-esquerda, a esquerda, e a extrema-direita adotou como legitimadoras do pogrom.
Vários vídeos mostram israelitas Maccabi a arrancar bandeiras da Palestina de blocos de apartamentos. Bandeiras que foram colocadas deliberadamente pelos grupos que organizaram o pogrom, de acordo com a polícia.
Em vários locais da cidade, escreve-se no comunicado da polícia, “os adeptos foram atacados, violentamente agredidos e foram-lhes atirados fogos de artifício”. A polícia teve de “intervir várias vezes, proteger os adeptos israelitas e escoltá-los até aos hotéis”. “Apesar da presença maciça da polícia na cidade, os apoiantes israelitas ficaram feridos”. A dimensão exata da violência está ainda por determinar.
Alguns dos vídeos mostram os agressores a obrigarem as suas vítimas a gritar “Palestina Livre”. Um vídeo mostra um homem a ser atirado para um canal e a ser forçado pelos gritar “Palestina Livre” para que o larguem.
As vítimas são repetidamente interrogadas sobre a sua origem. Um homem só é libertado quando mostra aos agressores o seu passaporte ucraniano. Uma vítima grita “eu não sou judeu” antes de ser deixada inconsciente pelos agressores. Outra vítima senta-se no chão e oferece o seu dinheiro aos agressores para que estes o deixem ir embora.
De acordo com relatos consistentes, os responsáveis pela violência extrema que se seguiu não são adeptos do Ajax de Amesterdão. O jornal neerlandês De Telegraaf descreve o grupo de perpetradores como “taxistas e jovens condutores de scooters” - da comunidade turca e marroquina- que terão organizado os seus ataques através de grupos de Telegram. “Foram alegadamente motivados por relatos sobre a presença de ex-militares e funcionários da Mossad entre os adeptos israelitas”, escreve o De Telegraaf.
“A história em Amesterdão é a tomada da cidade pelos islamitas, que agora vivem lá em tal número que se sentem suficientemente confiantes para levar a cabo um ataque organizado contra os judeus israelitas. Mas quando digo “a tomada da cidade”, refiro-me a algo muito específico. Refiro-me à tomada do aparelho de segurança interna da cidade”, descreve Ayaam Hirsi Ali, escritora muçulmana somali que há décadas alerta para o perigo do islão político.
Atualmente, há 1,17 milhões de muçulmanos nos Países Baixos cerca de 7% da população, segundo a Pew Research, em comparação com apenas 30 mil judeus. Em 2050, a percentagem de muçulmanos será superior a 9%. Os muçulmanos serão 20 vezes mais numerosos do que os judeus.
Vejamos agora a polícia de Amesterdão. “Há cerca de vinte anos, foi implementado um plano bem-intencionado para encorajar a participação das minorias étnicas em todas as áreas em que estão sub-representadas. A polícia e as agências de segurança eram consideradas demasiado brancas”, prossegue Ayaam Hirsi Ali.
Inicialmente, o programa de representação “incentivada” não teve êxito porque as exigências eram simplesmente demasiado elevadas para os candidatos. Apenas alguns dos alochtonen (estrangeiros, literalmente “aqueles que vêm de outro solo”) conseguiram fazer carreira como polícias e até mesmo entrar para os serviços secretos e outras unidades de segurança.
Mas depois aconteceram duas coisas. “Primeiro, os islamitas (Irmandade Muçulmana) adotaram a estratégia da islamização pela participação. Depois, a impaciência do establishment de esquerda em apressar o processo de participação resultou na redução dos padrões para as minorias. Como resultado desta versão holandesa do DEI, os processos de controlo tornaram-se cada vez menos rigorosos.
Lembro-me bem do tempo em que dependia da proteção da polícia neerlandesa para garantir que não teria o mesmo destino que o meu amigo Theo van Gogh, que tinha sido esfaqueado até à morte por um jihadista nas ruas de Amesterdão. Um dia, um dos agentes afectos à minha segurança era de origem turca. Fiquei desconfortável quando ele começou a criticar-me pelo meu trabalho com van Gogh em “Submission”, um filme sobre o tratamento das mulheres no Islão. Quando exprimi as minhas preocupações, o seu superior disse-me que não me cabia a mim a tarefa de me proteger. Tive de aprender um novo tipo de submissão - aos ditames da burocracia do DEI.
Atualmente, uma grande parte da força policial de Amesterdão é constituída por imigrantes de segunda geração do Norte de África e do Médio Oriente. Desde 7 de outubro do ano passado, alguns agentes já se recusaram a guardar locais judaicos, como o Museu do Holocausto”.
As mulheres e os homossexuais de Amesterdão também sentiram o seu mundo mudar e encolher. Todavia, foi a comunidade judaica de Amesterdão que teve de aprender a sobreviver neste novo ambiente.
O que se passou em Amesterdão era previsível há muito tempo. Não se trata de “confrontos entre hooligans” para alguns rapidamente tentaram qualificar, mas de um pogrom. As autoridades israelitas alertaram a polícia dos Países Baixos para este risco, e como bem o expressou o rei Guilherme Alexandre, “falhámos para com a comunidade judaica neerlandesa na Segunda Guerra Mundial, e na noite passada voltamos a falhar”. O monarca expressou o “horror profundo" para com os acontecimentos.
Leia-se o que escreve Ayaam Hirsi Ali, “há vinte anos, assisti à cedência das autoridades neerlandesas a quase todas as exigências dos islamitas. Os estudantes muçulmanos interromperam ou abandonaram as aulas sobre a história do Holocausto, pelo que as aulas foram eliminadas do seu currículo. Judeus e homossexuais foram atacados e espancados nas ruas de Amesterdão e, depois de uma série de chavões sobre “comportamentos inaceitáveis”, foi dito às vítimas que não se mostrassem tão homossexuais ou judeus no futuro. Mais recentemente, numa dessas ironias que exigiriam um Evelyn Waugh para fazer justiça, a Casa de Anne Frank, um museu criado para comemorar o Holocausto, foi obrigada a incluir a islamofobia entre os ódios que agora pretende combater.
Não há dúvida de que Amesterdão tem hoje a maior percentagem de minorias empregadas em organismos governamentais e de segurança. Mas, como consequência, essas agências não podem garantir a segurança dos judeus.
A globalização da Intifida está a avançar rapidamente quando, no ano 2024, somos chamados a assistir a um pogrom na cidade de Baruch Espinosa e Anne Frank”.
“Wiegala, wiegala, wille, wie ist die Welt so stille!”.