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October 26, 2025

Anne Applebaum em entrevista



"... é muito importante que os europeus tenham os olhos bem abertos, percebam o que está a acontecer e compreendam o impacto que isso tem para eles e para a sua segurança. Pode haver um Presidente diferente daqui a três anos, talvez. Uma grande parte dos americanos ainda gosta da NATO, quer continuar a ser membro da alian­ça e quer ter aliados, entre outros. Mas também há uma parte significativa da população americana que não quer aliados, que não gosta especialmente da Europa e que não quer ter nenhuma relação especial. Espero que os europeus compreendam isso e comecem a tirar conclusões. Conclusões para a sua segurança, claro, mas também para a economia."

Grande entrevista a Anne Applebaum: “Na Administração Trump há quem veja a Europa como o principal inimigo”

Cristina Margato

É disso que dá conta em “O Crepúsculo da Democracia” e “Autocracia, Inc.”, e é sobre essas práticas autocráticas que tem escrito e falado, nos últimos anos, também a propósito da política do seu país, os Estados Unidos.  (...) é das poucas pessoas que expõem de modo claro o que se está a passar nos Estados Unidos. 
(...)
Enquanto terminava a transcrição da conversa li o último artigo de Applebaum na “The Atlantic”, desta vez sobre María Corina Machado, Prémio Nobel da Paz de 2025, título que Trump tanto desejava. Fixei a atenção neste parágrafo: “Neste momento, quando os cidadãos das democra­cias mais liberais e mais bem-sucedidas desistiram, questionando-se sobre se a sua participação na política tem algum valor, os venezuelanos lutam contra a violência com não violência, opondo-se à corrupção com coragem.”

Há um ano, ainda antes da eleição de Trump, iniciou um podcast intitulado “Autocracy in America” [com Peter Pomerantsev]. Vou citá-la: “Já existem táticas autoritárias em ação nos Estados Unidos. Para as erradicar, é preciso saber onde as procurar.” Continua a procurar nos mesmos lugares?
Naquela altura estava a descrever a mudança cultural pela qual o país estava a passar. Agora, essa mudança é evidente. Os instintos autoritários, que antes podiam ser observados em governos estaduais, estão agora presentes ao nível do Governo Federal. Parte da Administração está a usar regulamentações contra os órgãos de comunicação social, militarizou o serviço federal de alfândega e transformou-o numa força paramilitar. Tropas de diferentes partes do país foram colocadas em estados e cidades contra a vontade de governadores e presidentes de Câmara. Atualmente, Trump persegue e processa abertamente os seus inimigos políticos, mesmo que não tenham cometido qualquer irregularidade.

Hoje, Trump anunciou que quer enviar a Guarda Nacional para Chicago, contra a vontade do governador do Illinois e do presidente da Câmara de Chicago...
Sim, e isso é algo sem precedentes. A Guarda Nacional já foi usada em emergências, após furacões ou outros desastres naturais, e até, num passado mais distante, em grandes motins, mas sempre com aprovação do governador ou das autoridades locais.

Já disse várias vezes que Trump segue um manual usado por outros ditadores. Em que é que a sua atuação difere?
A única coisa que é diferente daquilo que Putin ou Viktor Orbán fizeram é a velocidade. Tudo está a acontecer de modo muito rápido, e essa aceleração é o que confunde e surpreende as pessoas. Muitas coisas estão a ser feitas de uma só vez. Tradicionalmente, é o Congresso que controla o dinheiro, os orçamentos e os impostos. Historicamente, é o Congresso que serve para limitar o poder do Presidente, pois é para isso que existe. No entanto, para grande surpresa, o Congresso tem-se recusado a travá-lo. As tarifas, por exemplo, são da competência do Congresso, não do Presidente. No entanto, a liderança deste Congresso tem permitido que Trump faça o que quer.

Desde a eleição de Trump que os democratas parecem apáticos, desorganizados e confusos. Isso também é um problema...
Não é bem assim. Há vários democratas que estão ativos online e que estão a ser bastante claros sobre o que está a acontecer. E há democratas que decidiram promover o debate sobre a suspensão do Governo, através de uma conversa focada nos cuidados de saúde, que é a razão pela qual o Governo está paralisado. Parece-me errada a expectativa de que haverá um democrata como contraponto a Trump, alguém do outro lado que seja o seu adversário direto. Isso não vai acontecer. Quer dizer, pode acontecer quando chegarmos à campanha presidencial, mas não é assim que funciona o nosso sistema político. Não temos um líder da oposição. Por outro lado, sempre que há uma tomada de poder autoritária — como aconteceu na Rússia, na Polónia ou no Irão — dá-se uma fragmentação da oposição. As pessoas têm de compreender as novas regras.

É como se não tivessem um mapa para o caminho...
E não têm, porque na verdade nunca tivemos um Presidente que desrespeitasse abertamente a lei e depois desafiasse os tribunais a impedi-lo de o fazer. Isso não é algo que tenha acontecido antes. Pelo menos que eu me lembre na história recente dos EUA.


Passei três meses em Nova Iorque após a eleição de Donald Trump. Nas conversas que fui tendo ao longo desse tempo percebi que, apesar de alguma apatia, as pessoas continuavam a acreditar que o sistema ia funcionar, que os tribunais iam agir, que o Congresso ia ter uma palavra a dizer...
Sim, as pessoas assumiram que o sistema ia funcionar como sempre funcionou. E muitas pessoas, incluindo muitos democratas, não conseguiram reconhecer que o que Trump estava a fazer era diferente. Ainda assim, há quem não reconheça. Em Washington, um advogado muito conceituado, que trata de casos importantes no Supremo Tribunal, com quem discuti, dizia-me: “Não te preocupes. Não fiques perturbada. Eles não podem fazer essas coisas, porque o Tribunal vai impedi-los.” Acho que ele estava enganado. As pessoas que estão habituadas a um certo tipo de política têm este tipo de reações. Se os democratas não perceberam, os republicanos também não. Sei disso porque os republicanos falam, nos bastidores, sobre o assunto; e dizem, fora do registo oficial, que muitos senadores estão incomodados com o comportamento de alguns membros da Administração e com certas decisões que estão a ser tomadas; mas nenhum deles encontrou ainda uma estratégia. Diria que a maioria dos americanos — e não é só uma opinião minha — se opõe ao que Trump está a fazer. As sondagens confirmam-no. Opõe-se, por exemplo, ao envio de tropas para as cidades. Ou à utilização de um regulador federal contra uma estação de televisão para despedir um comediante [Jimmy Kimmel]. Neste último caso, a ação foi particularmente impopular. Portanto, a maior parte destas ações é mal recebida.

O que significa que, a partir de agora, já não há recuo. Face à impopularidade, Trump fará tudo para se manter no poder.
Sem dúvida. O que diz é verdade. E depois vem aí a próxima fase. O governador Pritzker, do Illinois, acredita que a militarização das ruas de Chicago, com forças e equipamento militar, serve para habituar os americanos à ideia antes das eleições intercalares do próximo ano. Estou apenas a citar o governador do Illinois. Não fui eu que o disse. Em seguida serão feitos enormes esforços para manipular as eleições. Tenho a certeza de que isso vai acontecer. Se conseguirão ou não, isso já é outra questão. Os Estados Unidos têm um sistema eleitoral muito descentralizado. Cada estado gere as suas próprias eleições, e todos os estados têm regras diferentes. Neste momento estou a trabalhar nessa área.

Fala de uma forma muito direta e frontal sobre o que está a acontecer, e isso é o que vejo acontecer, de modo geral, na “The Atlantic”. Mas não me parece que o “The New York Times”, por exemplo, seja tão claro, e há muita gente que partilha esta opinião.
Para ser justa com o “The New York Times”, é preciso dizer que o jornal tem a tradição de tentar manter-se politicamente neutro, e, neste momento, isso não lhes serve muito bem, porque torna mais difícil explicar o que está a acontecer. Ser politicamente neutro, num sistema democrático, implica dizer que a política deste lado é X e a política daquele lado é Y. Depois podemos analisar essas políticas e dizer, por exemplo: “Esta seria boa para este grupo de pessoas e aquela seria melhor para outro.” Há uma análise a fazer. Mas o que está a acontecer agora é muito diferente: trata-se de uma tentativa de mudança na natureza das instituições americanas, nos meios de comunicação, nas universidades, na ciência e até no próprio meio empresarial. E isso não se consegue descrever através da abordagem tradicional de “um lado versus o outro” usada por norma no jornalismo político. É importante evitar ser hiperbólico ou exagerado e não dar às pessoas a impressão de que as coisas foram mais longe do que realmente foram. Na verdade, os jornalistas são frágeis, estão bastante expostos em muitos aspetos e são impopulares. Mas também não me parece que a maioria dos americanos queira ver homens mascarados a sair de carrinhas e a prender pessoas depois de as arrastar pelo chão.

Era disso que eu estava a falar... Ainda assim, evita a palavra fascismo. Porquê?
Não gosto da palavra fascismo, porque faz com que as pessoas pensem nos nazis e comecem a lembrar-se de imediato dos filmes que viram sobre a Segunda Guerra Mundial ou Auschwitz, como “A Lista de Schindler”... Sei que a palavra fascista tem uma tradição histórica mais antiga e que, na verdade, foi Mussolini quem a inventou, não Hitler. É certo que algumas das táticas que estão a ser usadas, neste momento, podem ser facilmente comparadas às de Mussolini ou até às de Hitler, nos seus primeiros tempos. Mas também me parece que, se eu usar a palavra fascista, as pessoas começam a pensar numa imagem distante ou errada. Além disso, é uma palavra que, pelo menos em inglês, foi muito banalizada. Há muitos anos que as pessoas se chamam fascistas umas às outras. Mas isso não quer dizer que não haja outras pessoas que a usem. Tenho amigos que defendem que se devia usar essa palavra, porque há aspetos... Quer dizer, alguma da linguagem que Trump usou durante a campanha eleitoral foi — e presumo que tenha sido alguém da sua equipa que sabia o que estava a fazer — literalmente retirada do “Mein Kampf”. Literalmente. Aquela frase sobre “os imigrantes envenenarem o sangue da nação”. Sim, é do Hitler. Não sei se o próprio Trump sabia, mas alguém sabia. É difícil dizer se fizeram isso para alarmar as pessoas ou por outra razão. Mas não acho que usar a palavra fascismo ajude alguém a perceber o que se está a passar. E o objetivo não é chamar nomes. O objetivo é fazer com que as pessoas compreendam o que está a acontecer.

Sente-se mais segura na Polónia ou nos Estados Unidos [Anne Applebaum é casada com um político]?
Sinto-me segura na Polónia, nos Estados Unidos e em Portugal. Sinto-me muito segura aqui, em Lisboa. Não sei... O que devia fazer: preocupar-me? Quer dizer, não.

A revista “The Atlantic” decidiu dar um passo nesta luta, recusando a neutralidade...
Não é bem assim que a revista descreve o que está a fazer. “The Atlantic” é uma revista muito antiga. É anterior à Guerra Civil. Foi fundada por abolicionistas e teve, desde o início, bons e maus editores, mas nunca perdeu o foco nas ideias e nos ideais da América, na interpretação e compreensão da revolução americana e da história dos Estados Unidos. É isso que estamos a fazer agora. Não somos de direita. Não somos de esquerda. Estamos interessados na democracia e no Estado de Direito. Estou lá desde o ano 2000, portanto, há 25 anos, e, sempre que há uma grande reunião, é disto que se fala e é isto que o atual editor defende. Esta é a ideia central da revista. Não somos a resistência, não somos a esquerda. Estamos a defender os ideais dos documentos fundadores dos Estados Unidos.

Se Trump está a seguir o manual dos regimes autoritários, como diz, nalgum momento os meios de comunicação social serão atacados, como aliás já está a acontecer. Por quanto tempo será possível manter essa liberdade?
Não vamos exagerar o poder deles. Eles não têm controlo total. Quer dizer, não controlam o dono da “The Atlantic”, nem têm forma de controlar o “The New York Times”. Além disso, há mecanismos que também funcionam contra eles. Por exemplo, quando usaram a Federal Communications Commission (FCC) para pressionar uma estação de televisão, como a Disney, para retirar do ar um comediante que os satirizava, o Jimmy Kimmel, centenas de milhares de pessoas cancelaram as suas assinaturas do Disney Channel e deixaram de ir aos parques, em todo o mundo. Isso tornou-se um grande problema para a Disney. Este é um dos exemplos de como estas coisas podem funcionar nos dois sentidos.

O poder está nos consumidores?
Nem sempre vai depender dos consumidores. Mas, sim, o que é preciso reter é que há mais pessoas que desaprovam o que eles estão a fazer do que pessoas que os apoiam.

Até que ponto o “excecionalismo americano”, a ideia de que os Estados Unidos é um país diferente de todos os outros, facilitou a eleição de Trump, apesar de os sinais serem claros? Há aquela ideia de que um regime autocrático “nunca poderia acontecer aqui”...
Sim, acho que isso é muito importante, e já o dissemos. Fiz aquele podcast, “Autocracy in America”, por exemplo, e escrevi bastante durante a campanha eleitoral. Passei muito tempo a alertar as pessoas. Mas sabe o que percebi? Que as pessoas não queriam ouvir o que eu estava a dizer.

E algumas delas continuam a não querer ouvir...
Não, não querem ouvir. Veem tudo como se se tratasse de política partidária normal e dizem: “Bem, os democratas também fizeram coisas más.” Há vários tipos de resposta.

É muito claro: existem duas realidades. Caminhamos lado a lado na mesma direção, mas as pessoas veem coisas diferentes. Há uma dissonância cognitiva que nos separa.
Isso é verdade em todo o lado. Quer dizer, é verdade em todas as sociedades. Não temos uma realidade partilhada.

Estudou a história da Rússia e da Ucrânia, os gulags, as autocracias. Viu alguma coisa a este nível?
O desejo de criar uma realidade falsa que seja útil ao líder é algo muito antigo. Provavelmente, já existia na Roma Antiga. Nos Estados Unidos, até por ser um país muito grande, sempre existiram diferentes correntes de pensamento político e sempre houve uma imprensa que retratava o mundo de forma diferente. Isso não é assim tão novo. O que é diferente agora é a rigidez destas divisões, o facto de já não estarmos apenas perante opiniões diferentes. Porque as pessoas sempre tiveram opiniões diferentes. Algumas achavam que os impostos eram bons, outras que eram maus. Agora temos conjuntos de factos completamente distintos. Por exemplo, estava a ler um relato sobre o que aconteceu após o horrível assassínio de Charlie Kirk. Uma mulher estava a conversar com uma amiga que era admiradora dele e falava sobre a sua vida e de como Kirk era maravilhoso, mas nunca, literalmente nunca, o tinha visto ou ouvido. Quando percebeu que ele tinha feito várias declarações a atacar mulheres negras, a mesma mulher ficou chocada. Portanto, ela conhecia uma versão da vida de Kirk e outras pessoas conheciam uma versão completamente diferente. Tinham visões opostas sobre quem ele era, dependendo dos vídeos que tinham visto. E isso marca uma diferença profunda em relação ao passado.

A única solução passa por regular as redes sociais?
As redes sociais causaram e continuam a causar um dano enorme. Parte do problema prende-se com o facto de esta polarização ser muito útil a algumas das empresas de redes sociais. Tudo o que agravou a situação, como o uso de bots, contas falsas, etc., é comercialmente vantajoso para essas empresas, que não tiveram incentivos externos para controlar ou melhorar a situação. Podiam fazê-lo, porque, na verdade, é tecnicamente possível. Da mesma forma que é possível escrever um algoritmo que favoreça a indignação, a raiva, a polarização ou o envolvimento, também se pode escrever um que favoreça o consenso e a aproximação entre pessoas. Portanto, nem sequer estamos a falar de verdade ou mentira. Estamos a falar do tipo de emoções que queremos que as mensagens suscitem. Acontece que estas empresas decidiram que, comercialmente, é do seu interesse dividir as pessoas, e nós permitimos que isso acontecesse. Os europeus permitiram que empresas americanas e chinesas de redes sociais influenciassem o debate político. Se pensarmos nisso agora, é inacreditável.

Devemos pensar em regulamentação?

Sim, mas seria preciso ser muito claro sobre o que se está a fazer e porquê. Estas empresas não querem ser reguladas, e agora aliaram-se à Administração Trump, embora nem todas o tenham feito. É preciso percebermos que há pessoas dentro da Administração Trump que veem a Europa como o principal inimigo, o rival mais importante, pessoas que procuram enfraquecer ou acabar com a União Europeia e que tentam eleger líderes de extrema-direita por toda a Europa. Elon Musk e J. D. Vance fizeram campanha pelo AfD [partido de direita radical populista alemão]. Talvez as pessoas decidam que não se querem importar com isso ou que conseguem ultrapassar essa realidade — mas é muito importante reconhecer que é isso que está a acontecer e que muitas empresas de redes sociais também fazem parte disso. Os algoritmos são escritos de forma a favorecer a extrema-direita. Não há dúvida de que é o que acontece no X [ex-Twitter].

É conhecido o fim que tem sido dado aos oligarcas que se juntaram a Putin. Vai acontecer o mesmo com Trump? Acha que há risco de começarem a desaparecer ou a “cair” das varandas?
Quer dizer, é uma tradição diferente, e esse tipo de repressão também demorou muito tempo a acontecer. Não sei. Não consigo prever o que vai acontecer, mas não acho que eles vão desaparecer. Pode ser que Trump tente usar o poder do Estado para controlar tudo o que é nosso.

O que pensa que levou Musk a sair do DOGE?
Musk decidiu afastar-se porque descobriu que estar envolvido na política era mau para a Tesla. Mas é preciso dizer que continua a ser um grande beneficiário de financiamento do Governo dos EUA e que, no final de contas, causou grandes danos a cerca de 20 ou 30 instituições diferentes que estavam a investigá-lo, assim como às suas empresas. Por isso — embora os danos sofridos pela Tesla tenham sido enormes e a empresa tenha começado a perder dinheiro —, o episódio acabou por lhe ser bastante benéfico.

Estará a guardar os dados sobre os contribuintes que obteve durante esse tempo?

Talvez.

Quando foi a primeira vez que se apercebeu da relação entre Trump e o dinheiro russo?
Há 30 anos, antes de Putin chegar ao poder. Trump já estava interessado em ter uma relação com a Rússia antes do fim da União Soviética. Há um momento famoso em que Trump vai a Moscovo, no final dos anos 80, e no regresso manda publicar grandes anúncios em três jornais americanos, a dizer que as alianças dos EUA são muito más, que nos enfraquecem e que devíamos estar mais próximos da União Soviética. Com o colapso da União Soviética, o sector do imobiliário comercial foi — e não sei se ainda é — particularmente atrativo para o crime organizado e para o branquea­mento de capitais, porque permitia que determinadas empresas adquirissem propriedades de modo anónimo. Nessa altura, havia muito dinheiro oriundo do mundo pós-soviético e muitas pessoas à procura de sítios para o guardar. Sabemos que parte desse dinheiro acabou por entrar no universo Trump, através de transações comerciais e negócios que ele fez com pessoas russas ou com os seus representantes em Nova Iorque. Portanto, essa relação já vem de longe. Um dos filhos de Trump chegou a mencionar a entrada de dinheiro russo nas suas propriedades e uma grande parte dos apartamentos vendidos nos edifí­cios de Trump foi comprada anonimamente. Depois, a imagem mental que Trump tem da Rússia é a de que é um bom lugar para os negócios, e é isso que ele aprecia.

Qual a responsabilidade que atribui a Administrações como a de Obama e Biden nesta relação com o dinheiro corrupto das autocracias?
É verdade que, desde o início dos anos 90, tivemos um sistema financeiro internacional — e isto não é só culpa dos americanos, mas também dos europeus e de outros países — que facilitou a saída de dinheiro roubado de países como a Rússia, escondido em paraísos fiscais, ou movimentado através do Chipre e Luxemburgo. Parte desse dinheiro acabou por ser investido em imobiliário em Nova Iorque, Londres, Miami e, provavelmente, também aqui, em Lisboa. Esse dinheiro teve impactos diferentes e alterou os mercados imobiliários. No caso de Londres, penso que terá literalmente mudado a cidade, porque foram construídos edifícios especificamente para acomodar esse tipo de investimento. Ao mesmo tempo, houve uma explosão de dinheiro sujo, ou “dinheiro obscuro”, como chamamos nos EUA, na política americana. Culpo todos os Presidentes americanos, desde os anos 90, por permitirem que isto acontecesse, assim como os líderes europeus. Ganhou-se muito dinheiro com estas práticas em cidades como Londres ou Nova Iorque. Bancos, advogados, consultores fiscais... Todos lucraram. Mas foi muito prejudicial politicamente. Primeiro, porque permitiu que muitos líderes autocráticos se mantivessem no poder, não só na Rússia, mas também em África, na Ásia e noutros lugares. Além disso, corrompeu o nosso próprio sistema financeiro.

E está a ajudar a destruir o sistema político democrático, não só porque permite que os autocratas sobrevivam e se mantenham no poder mas também porque destrói a confiança dos cidadãos nos países democráticos.
Sim, provavelmente é verdade.

Acredita que as pessoas percebem quando há corrupção. É isso que as mobiliza, como aconteceu na Ucrânia, com Maidan, e na Rússia, com Navalny?
É importante que, quando se faz campanha contra a corrupção, se ligue essa luta à experiência das pessoas. Navalny, na Rússia, fez uma campanha muito eficaz contra a corrupção, ligando-a aos russos comuns. Dizia: “Eles construíram palácios e estão a roubar dinheiro. E é por isso que não tens estradas, que as escolas são más e os hospitais também.” Era uma mensagem muito eficaz, não só porque era verdadeira mas porque a corrupção, a injustiça e a sensação de desigualdade motivam muitas vezes as pessoas a querer mudança.

Agora que Navalny já não está cá, o que pensa dele? Muitas pessoas tinham receio de que ele também fosse de extrema-direita, um protoditador.
Acho que isso foi um erro. Já quase não importa, mas uma das últimas coisas que ele fez foi escrever um artigo em que descrevia a sua visão para a Rússia: uma democracia parlamentar. Foi também muito claro ao dizer que a guerra era um desastre. É verdade que, na vida, passou por várias fases e que tentou várias abordagens. Navalny estava interessado em mobilizar os russos e em chegar à população em geral. Não só em Moscovo e São Petersburgo, mas em todo o país, incluindo os trabalhadores. Fez várias experiências. Algumas com sucesso, outras não. Mas era uma pessoa criativa e interessante, e até agora foi o mais bem-sucedido a enfrentar Putin. Mas, infelizmente, isso já não importa...

Tal como a Anne, o seu amigo Garry Kasparov, dissidente russo, diz que uma sociedade como a russa não tem de ser eternamente antidemocrática. Mas, se recuarmos na história deste país, é difícil encontrar a democracia. É possível imaginar uma democracia na Rússia?
Houve momentos mais liberais ou mais abertos na história da Rússia, e também existe uma longa tradição de russos liberais que remonta ao século XIX. Os russos têm os mesmos instintos de justiça e equidade que as outras pessoas. Nenhum país está geneticamente determinado a ser de uma forma ou de outra. Portanto, consigo imaginar uma Rússia diferente. Tivemos uma Rússia diferente nos anos 90.

A Ucrânia e a Rússia sempre foram diferentes economicamente. Não pensa que a economia pode determinar o sistema político?
É verdade que países fortemente dependentes de um ou dois tipos de recursos naturais tendem ao autoritarismo, porque pequenos grupos tentam controlar esses recursos. No entanto, há o exemplo da Noruega...

O que acha que vai acontecer nos próximos dias com a paralisação nos Estados Unidos? Os democratas decidiram ir à luta no momento certo?
Sinceramente, não sei o que vai acontecer. Não sou uma insider e não faço parte das conversas internas. Sei que os democratas no Congresso chegaram à conclusão de que não podiam continuar sem fazer nada. Escolheram focar-se nos cuidados de saúde. Algumas pessoas acham que foi uma má ideia, outras acham que foi boa. Podiam ter feito outras escolhas. Como consequência, as pessoas tomaram consciência de que a legislação de Trump poderá criar enormes problemas para quem depende de cuidados de saúde públicos, como a Medicaid ou o Affordable Care Act. Conseguiram chamar a atenção para isso.

Sim, e vai ser pior nas zonas onde Trump venceu, porque há mais pessoas a depender destes sistemas.
Sim, vai ser pior, sim.

É estranho, mas é verdade: as pessoas votam contra os seus próprios interesses. As pessoas que mais votaram em Trump são as que mais estão a sofrer com as suas medidas.
Também se pode dizer que as pessoas ricas que votaram nos democratas votaram contra os seus interesses.

Sem dúvida. Alguns dos que votaram nos democratas acabaram por ganhar muito dinheiro na Bolsa com a vitória de Trump.
Sim, é verdade. Isso prova algo importante: as pessoas não votam apenas com base na economia. Votam por muitas razões. É muito difícil dizer por que razão alguém vota, porque as pessoas são complexas. Se alguém soubesse realmente, saberia como agir — mas não é assim que funciona. As pessoas têm interesses económicos, ideológicos, pessoais, instintos. Há muitas razões diferentes que levam as pessoas a votar.

No fim de contas, os EUA poderão ter cerca de 30 milhões de pessoas sem qualquer cuidado básico de saúde. Como é que isto é compreensível?
Não é novidade na história americana. Não é a primeira vez que isso acontece... Concordo que é escandaloso. Não sei bem o que quer dizer com “compreensível”, mas é preciso recordar que há um partido político nos EUA com uma ideologia que diz que o Estado não deve ajudar as pessoas e que tem tentado cortar tudo o que o Estado faz pelas pessoas. É nisso que acreditam. E a Cristina tem razão: até agora, as pessoas têm continuado a votar neles.

Uma das pessoas que Trump contratou defende o corte total de despesas. No entender dele, não se deve gastar nada. Zero.
Sim, está a falar do Russell Vought. É verdade que ele defende isso, e anda a dizê-lo há vários anos. Está na política americana há muito tempo. Ontem tomei o pequeno-almoço com um ex-membro do Congresso que falava sobre Vought e sobre a forma como ele se comportava há alguns anos, quando trabalhava numa das comissões do Congresso — não como membro eleito, mas como assessor.

Há a ideia de que os republicanos foram capturados por esta política de Trump. Não o querem, mas têm medo. Medo de quê?
Depende. Alguns têm medo de serem desafiados nas primárias — ou seja, que Trump ou a sua equipa apresentem um candidato contra eles nas próximas eleições. Muitos têm medo disso. Outros têm medo de serem atacados nas redes sociais, especialmente no X, que é a plataforma que mais os preocupa. Alguns, especialmente senadores, podem até ter medo de que, ao desafiarem Trump, sejam atacados ou de que os seus filhos sejam atacados no seu estado. Isso foi tema de um episódio do meu podcast há um ano. Há uma variedade de medos. E não esquecer: alguns concordam com ele. Acham que o Governo Federal é demasiado pesado, que o défice é excessivo, que as pessoas devem cuidar de si próprias e que o Governo não deve interferir na vida das pessoas.

Só para terminar, porque temos de encerrar. Uma das ideias que tem evocado para o futuro é que as pessoas que defendem a democracia e o Estado de Direito e que estão contra Trump devem encontrar os pontos em comum e trabalhar em conjunto.
Sim, devem criar coligações a partir do que têm em comum. Mas, se isto é o fim da conversa, quero aproveitar para dizer uma coisa antes de acabar: é muito importante que os europeus tenham os olhos bem abertos, percebam o que está a acontecer e compreendam o impacto que isso tem para eles e para a sua segurança. Pode haver um Presidente diferente daqui a três anos, talvez. Uma grande parte dos americanos ainda gosta da NATO, quer continuar a ser membro da alian­ça e quer ter aliados, entre outros. Mas também há uma parte significativa da população americana que não quer aliados, que não gosta especialmente da Europa e que não quer ter nenhuma relação especial. Espero que os europeus compreendam isso e comecem a tirar conclusões. Conclusões para a sua segurança, claro, mas também para a economia.

Acho que alguns dos países europeus que, ao longo deste ano, saíram do Acordo de Otava e começaram a colocar minas terrestres nas fronteiras já perceberam isso. Acha que os europeus ainda não perceberam?
Acho que alguns perceberam e outros não.

Enquanto europeus, temos a perceção de que os americanos não estão a perceber que, de certa forma, já estão a viver num regime autoritário e que as coisas podem piorar.
Ele ainda não conseguiu criar um regime autoritário. Está a tentar criar um, mas ainda não conseguiu. É muito importante fazer essa distinção.

No seu podcast, “Autocracy in America”, estava sempre a dizer que não estava a falar do futuro, mas do presente, do que está a acontecer agora nos EUA.
Mas nunca disse que estamos numa ditadura da qual não podemos sair. Não penso isso. Só estou a dizer que há comportamentos e práticas autoritárias das quais devemos estar conscientes. Elas estão presentes. Isso é verdade.

É também importante perceber que já não estamos no chamado “mundo livre”, aquele que surgiu depois da Segunda Guerra Mundial.
Sim, isso acabou. Acabou esse mundo, criado após a Segunda Guerra Mundial, essa ordem liberal baseada em regras, sustentada pelo poder e pela influência dos Estados Unidos. É muito importante que as pessoas compreendam isso, que interiorizem essa ideia e que tirem conclusões. Há muitas oportunidades para a Europa. A Europa tem o Estado de Direito. Tem educação não ideológica, em grande medida. Pode tornar-se o grande centro da ciência se os EUA abdicarem disso. Pode tornar-se o foco de investimento se for mais difícil investir nos Estados Unidos devido às constantes alterações na política comercial. A Europa tem sistemas estáveis. Tem regulamentação fiável que as pessoas compreendem. Tudo isso pode ser extremamente vantajoso para os europeus.

Muitas pessoas, mesmo aquelas que acreditam no excecionalismo americano, pensam que o caminho para a guerra civil está aberto. Tem receio de uma guerra civil nos Estados Unidos?
Não acho que vá haver uma guerra civil como no século XIX, com dois exércitos a combater em Gettysburg. Mas já há um nível muito elevado de violência política. E pode piorar.

Expresso

October 20, 2025

Uma das coisas que Putin conseguiu com esta guerra foi unir mais os europeus

 

Os serviços secretos holandeses estão a deixar de partilhar informações com os Estados Unidos e a trabalhar mais estreitamente com os seus parceiros europeus, afirmaram o diretor da AIVD, Erik Akerboom, e o diretor da MIVD, Peter Reesink, numa entrevista conjunta ao jornal Volkskrant.

A sua cautela em relação a Washington está relacionada com o que descrevem como a trajectória cada vez mais autocrática do presidente Trump, que demitiu altos funcionários por serem leais ao país e não a si e recorreu a processos judiciais para pressionar jornalistas, juízes e universidades.

Os diretores afirmaram que esta é a primeira vez que os eventos nos EUA moldam diretamente as relações dos serviços secretos holandeses com eles, marcando uma ruptura com décadas de estreita cooperação com a CIA e a NSA.

Ao mesmo tempo, a cooperação dentro da Europa aumentou. 

Akerboom disse que um grupo líder de serviços de inteligência do norte da Europa — incluindo os Países Baixos, Grã-Bretanha, Alemanha, os serviços escandinavos, França e Polónia — agora troca mais informações, incluindo dados brutos, impulsionado pela guerra da Rússia na Ucrânia.

Os directores também alertaram que a Rússia está por trás de dezenas de ataques cibernéticos bem-sucedidos na Holanda todos os anos, «em áreas onde causa perturbações reais», enquanto a China está a tornar-se uma ameaça digital ainda maior.

Akerboom alertou os viajantes holandeses na China sobre as chamadas operações de «acesso próximo», nas quais computadores portáteis e smartphones pertencentes a jornalistas, altos funcionários e especialistas técnicos são copiados fisicamente ou sem fios.

«As pessoas precisam realmente de estar cientes de que os seus dispositivos são vulneráveis», disse ele, acrescentando que mesmo os dados encriptados podem ser armazenados e posteriormente desencriptados usando inteligência artificial.

Ambos os chefes de inteligência disseram que a Holanda precisa de poderes mais amplos para agir mais rapidamente contra os ciberataques russos e chineses. «Queremos ser capazes de agir mais rapidamente quando vemos um ataque. O procedimento agora é muito demorado», disse Akerboom.


September 18, 2025

A liberdade de expressão nos EUA? Kaput



Nos EUA, em vez de estarem preocupados com a violência política, os assassinatos em escolas e o radicalismo de parte a parte, estão entusiasmados a despedir e perseguir pessoas que fazem uma piada ou dizem mal de Trump ou de qualquer coisa de um modo que os conservadores não gostem. Quando Trump sair do cargo daqui a três anos e meio, se sair(!), não vão haver instituições democráticas para reconstruir. Nos primeiros anos do governo Putin, a proibição de programas de comédia também era comum. O Kukli, da NTV, foi um dos programas de comédia mais famosos a ser cancelado em 2002. Os defensores de Putin na época chamaram isso de «decisão comercial».

ABC retira Jimmy Kimmel do ar por comentários sobre Charlie Kirk após pressão da FCC

Kimmel enfrentou críticas do presidente da Comissão Federal de Comunicações por comentários sobre a política do homem acusado de matar Kirk, o activista conservador.


Os comentários de Kimmel que levaram à suspensão do programa foram estes, na noite de segunda-feira. 
“Atingimos novos níveis baixeza no fim-de-semana, com o gangue MAGA tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como qualquer coisa, menos um dos seus, e fazendo tudo o que podiam para ganhar pontos políticos com isso”.
Conservadores criticaram esses comentários, dizendo que caracterizavam erroneamente as crenças políticas de Tyler Robinson, o atirador acusado. 

A mãe dele disse aos promotores que o filho tinha recentemente mudado para a esquerda política e se tornado «mais pró-direitos dos homossexuais e transgéneros».

Carr, numa entrevista a um podcast de direita na quarta-feira, disse que as observações de Kimmel faziam parte de um «esforço concertado para mentir ao povo americano» e que a FCC «iria ter soluções».

nytimes


September 05, 2025

Preservar a democracia liberal


 

Liberalismo sem ilusões

by William A. Galston in https://democracyjournal (excertos)

Que a democracia liberal está sob ataque e na defensiva já não é novidade. A «terceira onda» de democratização que a impulsionou em todo o mundo atingiu o seu auge em 2006. Desde então, muitas democracias liberais entraram em declínio qualitativo, enquanto outras mudaram completamente para formas de governo iliberais e anti-democráticas.

Para resistir eficazmente a este ataque à democracia liberal, os defensores do sistema devem adoptar um realismo rigoroso sobre a natureza humana e o curso dos acontecimentos humanos. 

O interesse próprio racional nem sempre impulsiona os acontecimentos humanos; as paixões são importantes e o mal existe. A economia não é tudo, nem mesmo a «base» de tudo. A cultura e a religião mantiveram — e não perderão — o seu poder independente de moldar a compreensão e motivar a acção. A história também não garante a vitória da democracia liberal sobre os seus adversários; nada garante, porque sempre é possível mobilizar o lado sombrio da nossa natureza contra os esforços para criar um mundo melhor. Os seres humanos podem destruir o que construíram, e muitas vezes fazem-no. A história não tem lado nem fim.

As instituições democráticas liberais são construídas com dois objectivos em mente: ajudar a alcançar interesses coletivos e proteger contra a tirania. No entanto, eficácia e segurança puxam em direções opostas. Embora os freios e contrapesos possam proteger-nos contra concentrações perigosas de poder, também podem prejudicar a capacidade do governo de cumprir a vontade do povo. 

Quando problemas centrais permanecem sem solução por anos ou mesmo décadas, a frustração pública cresce. O mesmo acontece com o apoio a líderes que estão dispostos a quebrar as regras para fazer as coisas acontecerem.

Em segundo lugar, a democracia liberal exige tolerância para com opiniões e modos de vida minoritários aos quais muitos cidadãos se opõem veementemente. É natural sentir que, se consideramos certas opiniões ou modos de vida odiosos, devemos usar o poder público para os suprimir. Em muitos desses casos, a democracia liberal exige que refreemos esse impulso, um fardo psicológico que alguns consideram insuportável.

Queremos que a esfera pública reflicta o que consideramos mais valioso nos nossos compromissos privados [religiosidade, etnia, género, etc.]. A democracia liberal impede-nos de traduzir plenamente as nossas identidades pessoais nas nossas vidas públicas como cidadãos. Nem sempre é fácil aceitar isso.

A quarta dificuldade inerente à democracia liberal — a necessidade de compromisso — não é mais fácil de aceitar para muitos. Se o que eu quero é bom e verdadeiro, por que devo concordar em incorporar pontos de vista concorrentes nas decisões públicas? James Madison dá-nos a resposta: em circunstâncias de liberdade, a diversidade de pontos de vista é inevitável e, a menos que aqueles que concordam connosco formem uma maioria tão grande que seja irresistível, as alternativas ao compromisso são a inacção, que muitas vezes é mais prejudicial, ou a opressão, que é sempre mais prejudicial.

Os liberais preferem a paz à guerra, a abundância à penúria, a liberdade à tirania e o Estado de direito ao governo por decreto. Eles defendem a igualdade moral de todos os seres humanos e a igualdade cívica de todos os cidadãos. Acreditam que os indivíduos gozam de uma zona de imunidade em relação ao poder do Estado. E insistem que o consentimento, e não a coerção, é a base da autoridade política legítima.

Aceitar diferentes concepções do que é uma boa vida é o único caminho que nos permite viver juntos, apesar das nossas diferenças. A alternativa a aceitar diversas concepções do que é uma boa vida é uma guerra cultural sem fim.

Ilusões liberais
Passo agora dos problemas inerentes à democracia liberal para os erros de compreensão evitáveis e não forçados que enfraqueceram a capacidade dos defensores do sistema de resistir aos seus adversários. Essas ilusões dividem-se em três grupos: miopia, provincianismo e ingenuidade.

MIOPIA
Os defensores da democracia liberal de hoje muitas vezes sofrem do que pode ser chamado de materialismo míope: a crença, especialmente difundida entre as elites, de que as questões económicas são as verdadeiras questões e que as questões culturais são diversivas, deliberadamente intensificadas por líderes inescrupulosos para ganhar apoio para as suas agendas antiliberais. Essa estrutura quase marxista (a economia é a base, tudo o resto é a superestrutura) nega erroneamente a autonomia e o poder das questões culturais.

No cerne da cultura está a religião, cujo poder persistente os liberais muitas vezes subestimam. Por exemplo, quando a mais recente campanha eleitoral presidencial turca começou, muitos observadores acreditavam que a recessão económica e a inflação galopante do país acabariam com o domínio de duas décadas do presidente Erdogan no poder. Essa opinião tornou-se ainda mais dominante após a resposta hesitante de Erdogan a um terramoto que destruiu uma geração de desenvolvimento de infraestruturas e acabou com ou perturbou a vida de centenas de milhares de seus cidadãos. A comunidade internacional ficou surpreendida quando Erdogan liderou por 5 pontos percentuais após a primeira volta das eleições e depois ganhou a reeleição com 52% dos votos, aproximadamente a mesma percentagem que nas eleições presidenciais anteriores, cinco anos antes.

Mas isso não era novidade. Na verdade, foi a base religiosa rural e das pequenas cidades de Erdogan que o manteve no poder. As mulheres devotas eram especialmente fervorosas no seu apoio. Antes de Erdogan, explicavam elas, não podiam conseguir empregos públicos se usassem lenços de cabeça. Agora podiam. Ao acabar com a tradição de secularismo rigoroso na vida pública, Erdogan tornou-as cidadãs de pleno direito pela primeira vez, não sendo mais obrigadas a escolher entre a observância religiosa e o bem-estar económico das suas famílias. Até que os liberais — concentrados principalmente nas grandes cidades e capitais nacionais — se esforcem para compreender a influência duradoura da religião e da moralidade tradicional no interior do país, continuarão a ser surpreendidos pelos acontecimentos políticos.

PAROQUIALISMO
Muitos defensores da democracia liberal defendem alguma forma de transnacionalismo, seja concreto («cidadãos da Europa») ou difuso («comunidade internacional» ou mesmo «cidadãos do mundo»). Nesta perspetiva, as fronteiras e lealdades nacionais são consideradas formas de irracionalidade. Afinal, somos todos irmãos e irmãs por baixo da pele, e as reivindicações morais dos refugiados subsaarianos devem ser tão importantes para nós como as dos nossos concidadãos.

Essas opiniões, por mais sinceras que sejam, não são amplamente compartilhadas. O transnacionalismo é o provincialismo das elites. A maioria das pessoas nas democracias avançadas, bem como nas nações «em desenvolvimento», valoriza laços particulares — com as comunidades locais e com a nação, com amigos, familiares e compatriotas. 

O «nacionalismo liberal» não é oxímoro nem obsoleto, e os bons democratas liberais não estão moralmente impedidos de dar mais peso aos interesses e opiniões dos seus concidadãos. Isso não significa que possamos ignorar o sofrimento dos refugiados, mas as respostas que se exigem de nós podem ser limitadas — com razão — pelos nossos laços especiais. Desconsiderando esses laços, o utilitarismo universal é inaplicável ao mundo real da política.

O mesmo se aplica à ideia de que todos os seres humanos desejam as mesmas coisas. Sim, existe uma aversão universal aos grandes males da condição humana — pobreza, fome, pestilência e violência. No entanto, isso não significa que todos valorizem esses direitos ou desejem viver numa democracia liberal. 

A necessidade de segurança muitas vezes supera o desejo de democracia. Muitos indivíduos experimentam a liberdade como um fardo, não como uma oportunidade, e um sentimento de superioridade, individual ou coletiva, muitas vezes afasta a consciência da igualdade moral. Ignorar essas realidades leva a erros caros, como acreditar que a democracia liberal surgirá quando os tiranos forem removidos.

INGENUIDADE

De todas as ilusões liberais, a ingenuidade sobre o curso dos acontecimentos humanos e as possibilidades da natureza humana é a mais prejudicial.

No final do século XIX, muitos liberais passaram a considerar o seu credo como o resultado irreversível do progresso científico e moral. As escaramuças militares continuariam, é claro, mas os densos laços comerciais entre as nações tornaram as grandes guerras irracionais e, portanto, inconcebíveis.

A confiança no progresso inevitável rumo a um futuro liberal morreu nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, abrindo espaço para desafios filosóficos à democracia liberal — e para regimes revolucionários que rejeitaram tanto o liberalismo quanto a democracia como princípios organizacionais e reabilitaram o zelo religioso sob o disfarce da ideologia secular. 

Os horrores da Segunda Guerra Mundial reforçaram as dúvidas de que o interesse próprio racional pudesse conter o lado sombrio da natureza humana, dando origem a uma geração de liberais castigados para quem o medo era pelo menos tão fundamental quanto a esperança.

O Holocausto convenceu a geração pós-Segunda Guerra Mundial de que os impulsos destrutivos eram inerentes à nossa natureza. Os secularistas encontraram apoio para essa proposição na teoria da «pulsão de morte» de Sigmund Freud; os crentes, nos escritos do teólogo protestante e crítico social Reinhold Niebuhr, que citou a famosa descrição do pecado original como «a única doutrina empiricamente verificável da fé cristã».

Alguns estudiosos criticaram esses «liberais da Guerra Fria» por sucumbirem ao medo. Mas após a mobilização do ódio em grande escala, após os regimes assassinos de Hitler e Estaline e os genocídios de milhões de judeus e ucranianos, após a degeneração dos sonhos utópicos em pesadelos tirânicos na China de Mao, no Camboja de Pol Pot e em outros lugares, nenhuma outra conclusão parecia empiricamente ou moralmente defensável.

Mas à medida que a Europa se reconstruía, as economias e os estados de bem-estar social cresciam, o comércio internacional florescia, o colonialismo diminuía, a democracia liberal se espalhava e os Estados Unidos e a União Soviética estabeleciam um modus vivendi instável, as lições sombrias aprendidas entre 1914 e 1945 foram gradualmente desaparecendo, e a confiança voltou a ser o sentimento liberal dominante.

Após a queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética, ganhou força a crença de que a história segue apenas numa direção: rumo à vitória permanente da democracia liberal sobre outras formas de governo. 

Presidentes americanos de ambos os partidos políticos afirmaram que certas políticas eram erradas porque estavam «do lado errado da história» ou que certas práticas não podiam persistir porque pertenciam ao passado.
Infelizmente para eles, e para todos nós, a história não tem lado, e o retrocesso aos horrores do passado é sempre possível.

À medida que as divisões internas se aprofundavam nas democracias liberais estabelecidas, paixões há muito silenciadas ressurgiram, assim como os tipos de líderes que sabiam como usar essas paixões para fins iliberais. Esses desenvolvimentos apanharam de surpresa os liberais, que passaram a considerar irreversível o movimento em direção à tolerância no país e ao internacionalismo no exterior. É por isso que tantos líderes ocidentais ficaram chocados quando Vladimir Putin invadiu a Ucrânia.

Numa destilação cristalina da ilusão de que a história se move numa única direção, do pior para o melhor, a ex-secretária de Estado Condoleezza Rice refletiu sobre a invasão russa numa entrevista: 
«Lutar por território, pensar em termos étnicos, usar recursos para travar guerras. Pensei que tivéssemos superado isso.» Ela acrescentou: «Isso não deveria ter acontecido. Pensávamos que a linearidade do progresso humano deveria ter deixado tudo isso para trás”
 — como se a varinha mágica da história pudesse eliminar o ressentimento e o desejo de dominar da alma humana.

O compromisso com a democracia liberal deve ser separado da fé na inevitabilidade do progresso histórico. A mudança é inevitável, mas pode ser para pior e muitas vezes é. O progresso é possível, mas não é inevitável nem irreversível.

Sem dúvida, o progresso é real em alguns domínios. Os seres humanos compreendem melhor o mundo natural e, em certa medida, o mundo social e político, do que há séculos. Principalmente devido aos avanços na compreensão humana, fizemos progressos tecnológicos em muitas frentes, incluindo inovações médicas que corrigiram disfunções físicas, diminuíram a dor e aumentaram a longevidade.

Também fizemos progressos materiais: a percentagem de seres humanos que vivem em pobreza extrema é muito menor do que era há apenas algumas décadas.

No entanto, há menos evidências de progresso moral. Como a China demonstrou, mesmo ganhos económicos generalizados e uma classe média em expansão não garantem o avanço em direção às liberdades civis, muito menos à democracia liberal, e os ganhos provisórios em liberdade de expressão e pensamento podem evaporar-se. As guerras continuam a assolar vários continentes e civis inocentes continuam a morrer.

«Nunca mais» é um compromisso, não uma garantia, e, infelizmente, na prática, pode dar lugar a «mais uma vez».

Reconhecer a possibilidade de retrocesso não é um argumento contra políticas ambiciosas, mas é um lembrete de que os esforços para mudar o mundo com base na confiança no progresso podem sair pela culatra.

A fé equivocada no progresso histórico anda de mãos dadas com a ingenuidade psicológica. A maioria dos defensores da democracia liberal acredita que uma combinação de razão e interesse próprio é suficiente para explicar o comportamento humano. Isso deixa de fora a maioria dos sentimentos que moldam a vida política, incluindo as paixões sombrias — raiva, humilhação, ressentimento, medo e desejo de dominação.

O acordo pós-Primeira Guerra Mundial que retirou à Hungria mais de metade do seu território e deixou milhões de húngaros como minorias noutros países. O desejo de retaliar contradiz frequentemente o interesse próprio, tal como é convencionalmente entendido, mas isso não enfraquece o poder motivador da vingança.

É necessário, embora quase embaraçoso, reafirmar o óbvio. A capacidade para o mal faz parte da natureza humana, e alguns membros da nossa espécie sucumbem a ela. Há aqueles que gostam de dominar os outros — de os subordinar, humilhar, satisfazer a luxúria e infligir crueldades indescritíveis. 

O conflito entre esses prazeres perversos e o compromisso da democracia liberal com a igualdade moral de todos os seres humanos é evidente. Não é preciso aceitar a teologia de Agostinho para acreditar que a sua descrição dos seres humanos como orgulhosos e inclinados à dominação contém verdades significativas que negligenciamos por nossa conta e risco.

Embora não cheguem a ser, o mal absoluto, outros defeitos da nossa natureza também prejudicam a democracia liberal. Há pessoas que se satisfazem na guerra e não encontram satisfação na paz. Há pessoas cuja paixão pela conquista imperial se sobrepõe a qualquer respeito pelas fronteiras e pela soberania nacional. As leis e normas internacionais, por si só, não protegem as democracias liberais contra essas paixões. 

Para manter a paz, as democracias devem preparar-se para a guerra. Para resistir à agressão, devem estar preparadas para se defender com a força das armas.

Os acontecimentos recentes destacam os custos de esquecer essas verdades básicas. Quando Putin invadiu a Ucrânia e o Ocidente (depois de se recuperar do choque) se uniu à causa de Kiev, ficou claro que as nações europeias haviam permitido que sua capacidade de auto-defesa se deteriorasse. As suas forças armadas haviam enfraquecido e, com isso, a capacidade de produzir armamentos que elas mesmas e os ucranianos sitiados pudessem usar.

A capacidade de auto-defesa requer combatentes, bem como armas, e nenhuma concepção de cidadania democrática liberal está completa a menos que reconheça essa realidade.

Como dizia Agostinho, o mais perigoso dos pecados humanos é a libido dominandi — o desejo de dominar os outros e submetê-los à tirania da nossa vontade desenfreada. Lutamos contra esse impulso nas nossas vidas pessoais. Aprender a aceitar limites à nossa vontade — a abraçar plenamente a existência de outras vontades com reivindicações iguais às nossas — é uma jornada que começa na infância e termina, inacabada, com a morte.

A base da política decente
Reconhecer o lado sombrio da natureza humana não implica diminuir as nossas esperanças políticas. Immanuel Kant fez a sua famosa observação de que «do cepo torto da humanidade nunca se fez nada direito» num tratado que traçava um caminho para a concórdia duradoura entre as nações do mundo.

De facto, as décadas após a Segunda Guerra Mundial testemunharam a maior expansão de programas públicos para melhorar a segurança e o bem-estar individuais na história da humanidade. Muitos líderes de centro-direita e centro-esquerda acreditavam que esses programas eram necessários para impedir o retorno do extremismo destrutivo em ambos os extremos do espectro ideológico. 

Não há conexão entre o realismo liberal e o «neoliberalismo».

A base da política decente é o estabelecimento de instituições e normas que minimizem os maiores males da política — crueldade, guerra civil e tirania —, aliado ao incentivo de políticas que melhorem o bem-estar não apenas dos privilegiados, mas de todos os cidadãos. 

Impedir a expressão política do mal é a pré-condição para alcançar os bens possíveis da política. Isso significa impedir que qualquer indivíduo, grupo ou classe — por mais bem-intencionado que seja — obtenha o poder de desconsiderar os desejos e interesses de outros cidadãos.

Como os acontecimentos actuais demonstram, os Estados Unidos não são excepção a essas máximas. O presidente Trump mobilizou eficazmente a raiva e o medo do público a serviço da dominação e parece determinado a afirmar o poder executivo ao máximo, quaisquer que sejam as consequências para o sistema de freios e contrapesos que os fundadores viam como o baluarte institucional contra a tirania.

É impossível prever como isso vai acabar. Mas uma coisa já é clara: a impaciência com problemas há muito não resolvidos aumentou a tolerância do público em desconsiderar restrições legais em nome da obtenção de resultados rápidos, independentemente dos danos colaterais. 

Quando o Estado de Direito recua, o domínio da vontade arbitrária avança, sempre à custa da liberdade.

Como os Estados Unidos têm sido a principal potência mundial desde a Segunda Guerra Mundial e são considerados um modelo de governança democrática liberal, esses desenvolvimentos certamente terão consequências globais. 

O fim da ordem internacional baseada em regras, há muito defendida pelos liberais, abre as portas para o domínio da força e a redivisão do mundo em esferas de influência das grandes potências. Os autocratas reivindicarão a sua justificação, e os activistas democráticos procurarão em vão a ajuda, material ou mesmo moral, dos Estados Unidos para a sua luta contra a opressão. Qualquer que seja o veredicto que o povo americano der à administração Trump, ela já causou danos que, na melhor das hipóteses, levarão muito tempo para serem reparados. Alguns deles podem ser irreparáveis.

Os acontecimentos ocorridos em todo o mundo durante o século passado ensinaram uma dura lição que os americanos estão agora a reaprender dolorosamente: todas as alternativas à democracia liberal são piores do que a democracia liberal. Talvez haja circunstâncias em que isso não seja verdade, mas essa não é a realidade que existe hoje.

A única atitude responsável é abraçar a tarefa interminável de tornar a democracia liberal o melhor que ela pode ser. Isso requer um realismo rigoroso e disciplinado, livre das ilusões de que a história é progressista e que os seres humanos são perfectíveis. 

O lado sombrio da nossa natureza está aqui para ficar, e a democracia liberal não tem imunidade contra o colapso, quando é atacada por paixões sombrias. O realismo liberal significa descartar as esperanças de revoluções de qualquer tipo em favor do que Max Weber chamou de «perfuração lenta de tábuas duras». É assim que as reformas duradouras se consolidam. É o verdadeiro trabalho da democracia.

July 27, 2025

Mais um artigo de propaganda contra a Ucrânia

 


O fim do estado de graça para Zelensky?
Helena Tecedeiro

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A propósito de Zelensky ter feito alterações a uma lei que interfere com instituições de combate à corrupção e de uma grande porção de pessoas ter vindo para a rua protestar, esta jornalista faz conclusões sobre a ética dele.

Na realidade, depois de um único dia de protestos, ele reverteu a lei. No entanto, este artigo releva os protestos e as queixas de corrupção e não a democracia em acção que este acontecimento mostrou claramente existir na Ucrânia. 

Qual é o país que não tem corrupção? E qual é país onde o Presidente, depois de um dia de protestos, ouve o povo e altera as suas decisões? A Ucrânia. Não sei de mais nenhum. Aqui em Portugal, ainda no governo anterior a corrupção era gritante, havia denúncia e protestos diários e o senhor Costa nunca ligou um boi às denúncias e protestos do povo. Até disse numa entrevista que entre a opinião de todo o povo e a sua, escolhia a sua, "porque eu é que sei".

Aliás, do que li em sites ucranianos, a questão é mais complexa do que é dito. Os tais organismos aos quais ele queria tirar poder, estão infiltrados de influências russas. Aliás, ele reverteu a lei mas acrescentou-lhe medidas de segurança relativamente às pessoas que compõem esses orgãos, como maior escrutínio e obrigação de passar por detectores de metais. Ora, isto a mim diz-me que houve tentativas de assassinato ligadas a esses grupos. Zelensky deve ser a pessoa no mundo -juntamente com alguns cabecilhas do Hamas- cuja vida corre maior perigo.

Mas o povo ucraniano não é o russo. Quando não gosta vem para a rua e manifesta-se.

Zelensky está a liderar uma guerra contra o 2º exército do mundo (por causa das armas nucleares), coligado com mais exércitos (Irão, CN, China) quase sozinho, numa situação extremamente complexa e não tem cometido erros. 

Acho que, acima de tudo, é isso que os putineiros não perdoam: ele não ser um palhaço corrupto às ordens de Putin.

May 13, 2025

Este artigo sobre a UE erra em quase tudo que diz

 


Percebemos porquê: o autor classifica uns como sociais-democratas e outros como socialistas que, segundo ele, estão em falta. Diz que este quatro países do título do artigo que foram à Ucrânia pensam que são mais importantes que "os outros" e deixam os outros de fora, o que é falso. Em primeiro lugar, estes líderes foram à Ucrânia e os outros que não foram estiveram presentes online - não precisam de ser representados por António Costa, que também não foi porque não quis. 

Tal como os outros que não foram presencialmente porque não quiseram ir. De início, Macron e Starmer fizeram várias reuniões sectoriais mas com todos países da Europa para se coordenarem numa ajuda efectiva à Ucrânia e a maioria dos países pulou fora - Portugal foi um deles. Sim, querem contribuir e apoiar mas não, não estão dispostos a enviar tropas ou armas que sejam usadas contra a Rússia. Apenas estes quatro e os países do Báltico disseram que sim, de maneira que foram eles quem se chegou à frente pois de outro modo ainda estavam em conversas inconsequentes e a Ucrânia não se pode dar ao luxo de esperar eternamente.

Depois fala mal do novo Chanceler alemão por não ter sido eleito à primeira votação, como se Merkele e Scholz, eleitos à primeira votação, tivessem sido bons líderes por causa disso - foram uma nódoa, uma porque permitiu tudo a Putin e foi sempre um factor de desunião da UE e o outro por ser um cobarde com carta profissional. Porém ele fala deste líderes que de facto se entendem uns com os outros e, não falo apenas daqueles quatro do título, mas com todos os outros excepto Orban e Fico que são putineiros como, "a Europa que podemos ter".

Também diz mal de von der Leyen e atribui-lhe ambições desmedidas por ter falado em coordenar os países da União, como se coordenar os interesses comuns dos países fosse uma indicação de ditadura ou querer anular a soberania de cada um. António Costa também coordena os países da União, mas isso não parece fazer confusão a este 'especialista' - não sei se por ser português, socialista ou apenas homem. Até critica o facto de von der Leyen ter pedido para que traduzissem uma entrevista do alemão para inglês, para publicar na página oficial e usa os termos, 'ela mandou que traduzissem' como se fosse uma ofensa ditatorial. 

É caso para dizer: e são estes os especialistas que temos...



A Europa é a Alemanha, França, o Reino Unido, a Polónia e os outros

Henrique Burnay

Num fim-de-semana em que Putin apareceu com Xi Jinping, Lula e mais duas dezenas de líderes internacionais pouco recomendáveis, Zelensky apareceu melhor acompanhado e mais forte. Pareceu. E podia ter sido mesmo. Faltaram os Estados Unidos de Trump, de novo. Mas ficou a imagem. Uma Europa de Estados fortes e alinhados pode ser alguma potência.

O começo do novo chanceler alemão dificilmente podia ter sido pior. A Alemanha afinal sempre tem uma liderança ou não? Nesta altura do mundo e da Europa, a dúvida era absolutamente dispensável. Mas é o que temos e é com estas lideranças que a Europa se fará forte, ou não se fará.

Num momento em que a América é, no mínimo, equívoca sobre onde está na guerra da Ucrânia e o que defende, os líderes da Alemanha, França, Polónia e Reino Unido pareciam os líderes aliados. Fez falta Itália, que tem sido inequívoca no tema, e Espanha que, goste-se ou não de Sánchez, é o único grande país europeu liderado por um socialista, e os aliados europeus têm de ser os democrata-cristãos e conservadores, os liberais e os socialistas. Nenhum destes pode ficar de fora. Mas ficou o retrato de uma Europa possível.

Voltando ao fim-de-semana em Kiev, apesar de não terem dito ou feito nada de substancialmente inédito ou diferente, a imagem que os quatro líderes europeus que foram a Kiev passaram foi outra. Claro que a promessa alemã de entregar Taurus, só não se sabe quando, fez diferença. Mas foi sobretudo o resto: os gestos, os olhares, a cumplicidade, o simbolismo. Até a chamada em alta voz para Trump. Sim, a posição da América decide o jogo. Mas a posição de Trump não decide a posição europeia. Foi esse o facto do fim de semana. E só podia ter sido dado pelos líderes dos principais países europeus. Queixe-se quem quiser, a Europa, mesmo a unida (sobretudo a unida) é feita de Estados. E alguns contam mais que outros. E esta foi a primeira vez que os líderes destes quatro países foram juntos à Ucrânia, em três anos de guerra.

Há umas semanas, quando Merz e os sociais democratas fecharam o acordo de coligação, Úrsula Von der Leyen resolveu dar uma entrevista a um jornal alemão, o ZEIT, que mandou traduzir para inglês e publicou nas páginas da Comissão Europeia. A entrevista diz muitas coisas interessantes que merecem atenção, mas a mais extraordinária é quando Von der Leyen diz que ela, a Presidente da Comissão Europeia, tem de “manter os 27 Estados-Membros coordenados e dar orientações. Eu preciso ter – ou desenvolver – um plano para cada crise”. Não, não tem. E é aqui que entra a visita de fim de semana a Kiev de Starmer, Macron, Merz e Tusk.

Na resposta à Pandemia e no começo da resposta à guerra da Ucrânia Von der Leyen esteve no sítio certo à hora certa com as posições correctas. Mas a presidente da Comissão é apenas isso. Se Estaline perguntou quantas divisões (militares) tinha o Papa, a presidente da Comissão não tem nenhuma. Nem vai ter. Nem tem povo. Nem legitimidade eleitoral directa. Nem coordena ou dá orientações aos Estados membros da União Europeia. Se tudo correr bem, a presidente da Comissão Europeia tem de receber orientações dos Estados membros que, espera-se, estarão coordenados.

Apesar de Starmer ser um líder pouco popular, de Macron estar em permanente crise política e em fim de carreira nacional, de Merz ter começado mal, de Tusk depender do resultado das presidenciais do próximo domingo, de ter faltado Meloni e Sanchéz na fotografia, o facto é que a Europa que podemos ter é esta: com o Reino Unido envolvido, com França a prometer partilhar a força militar única que tem, com uma Alemanha de facto transformada, com a Polónia, em 20 anos, a recuperar um lugar que acredita ser-lhe devido, e com Espanha e Itália a bordo. 

António Costa devia ter sido convidado para esta viagem, para representar os 24 que faltavam (22, na verdade, porque dois deles, a Hungria e a Eslováquia, nunca iriam). Cabe-lhe agora ser um bom fio condutor desta energia no Conselho. E tirarem todos partido do europeísmo, ocidentalismo ou mera decência geopolítica do novo Papa.

Expresso


April 04, 2025

Não compro a interpretação de Mikhail Khodorkovsky

 

Mikhail Khodorkovsky numa entrevista recente a Oleksiy Sorokin, chefe de redacção do Kyiv Independent:

“Na minha opinião, a liderança ucraniana no início da guerra (em grande escala) tomou algumas decisões estratégicas que levaram ao facto de o apoio à liderança da Ucrânia entre a sociedade russa ser muito pequeno. A liderança ucraniana enquadrou a guerra em curso como uma guerra entre “ucranianos e russos”. Teria sido melhor para a Ucrânia chamar à guerra em curso uma luta entre “uma antiga república soviética mais democrática contra uma república autoritária”.

De acordo com as sondagens russas (sim, eu sei), a geração soviética apoia mais a guerra do que os mais jovens. Os mais jovens também apoiam a guerra, mas em número ligeiramente inferior, de acordo com essas sondagens (sim, eu sei que não podemos confiar nelas na totalidade).

Para a geração mais velha, a narrativa de que os ucranianos que procuram uma política externa independente e apoiam a cultura e a língua ucranianas são fascistas está de acordo com as suas crenças. Quando estavam a crescer na União Soviética, a narrativa era semelhante. A União Soviética explorava o facto de a Segunda Guerra Mundial ainda estar fresca na memória das pessoas, chamando “fascistas” a todos os que não lhes agradavam.

A nova geração russa nasceu com Vladimir Putin como presidente e os ucranianos como inimigos. Essa é a única realidade que conhecem.

Para esta nova geração de russos, a criação de um Estado ucraniano é um erro, não porque se lembrem dos tempos em que a Ucrânia era um só país com a Rússia, mas porque isso lhes foi dito na televisão, durante toda a sua vida.

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Não compro esta interpretação da situação. Acredito que os mais velhos, os soviéticos, engolissem a propaganda soviética estatal mas não os mais novos. Os mais novos conhecem muito mais do que a realidade que lhes foi dita na TV porque são filhos da internet. Viveram toda a vida com acesso ao que se passa no mundo e a outras realidades fora da Rússia. Viajaram para outros países, nomeadamente os vizinhos que foram colonos da Rússia e que expõem por todo o lado o horror desses anos e os esforços da resistência. Talvez Khodorkovsky tenha dificuldade em aceitar a realidade de que as pessoas do seu país sejam maioritária e genuinamente, fascistas colonialistas. Nos anos em que morei em Bruxelas fiz lá uma amiga russa. Isto foi mesmo no final dos anos 90, mesmo em cima do virar do século. Ela não tinha saudades da União Soviética mas tinha saudades de algumas coisas do tempo soviético. Era de uma família com alguma influência que nunca passou dificuldades e estava habituada a ir passar férias ao Adriático de borla e agora já não podia fazê-lo. Quando lhe dizia que essas suas férias e facilidades em geral eram passadas à custa da opressão de países inteiros ela não tinha resposta. Há pouco tempo encontrei este vídeo.


March 24, 2025

Louçã é anedótico (ou como a ideologia cega)

 


Louçã: “Candidato-me porque temos um fascista na Casa Branca”



Ex-coordenador do BE candidata-se a deputado porque “o mundo mudou” e “parte da esquerda” ainda não percebeu.

Por que é que aceitou este convite para ser cabeça de lista por Braga? Estava com saudades do Parlamento ou é um pequeno sacrifício que faz?
Não, é uma resposta a uma emergência. Eu não tinha concebido voltar a ser deputado. Mas Donald Trump tomou posse no dia 20 de Janeiro. Estes dois meses que passaram são um tumulto. Nós temos um fascista na Casa Branca. E isso muda a política. A política transformou-se numa espécie de zombie em que os líderes europeus andam apatetados com medo do seu inimigo, que agora é os Estados Unidos, a correr para uma estratégia armamentista.

Público

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Louçã volta ao Parlamento "porque há um fascista na Casa Branca, a esquerda ainda não percebeu, os líderes europeus são todos patetas e têm uma estratégia armamentista."

Louçã é um cómico. Não que eu discorde da afirmação de que há um fascista na Casa Branca. O que acho cómico é Louçã, nestes anos todos, nunca ter percebido que há um fascista no Kremlin e, nem mesmo agora, depois de ver que o fascista da Casa Branca se inspira e revê no fascista do Kremlin e, acima de tudo quer ser ser parceiro e o imita, ele percebe que é por o outro do Kremlin ser um fascista.

Também é cómico criticar a estratégia de os países europeus se armarem e nunca ter reparado que Putin não faz outra coisa senão armar-se e fazer guerra a toda a gente com quem tem fronteira. 

Aos líderes europeus que estão a armar-se para a realidade do fascismo russo ser agora acompanhado do fascismo americano que rasgou todos os tratados e alianças -coisa que estavam habituados a ver o fascista Putin fazer, mas não a democracia americana- Louçã chama patetas, mas então, que nome daremos nós ao Louçã  que afirma voltar ao serviço porque agora há 1 fascista? 

Louçã é um cómico e não ponho aqui o resto da entrevista porque não tem interesse nenhum. É um despejar de cassete.

March 22, 2025

Está na moda defender líderes autoritários

 


O efeito Putin-Trump já chegou a Portugal. Negrão diz que os portugueses já perceberam que o país precisa de um líder forte. Em primeiro lugar, não sei onde foi ele buscar essa ideia das pessoas quererem um líder forte. Sócrates era um líder forte. Costa também. Em segundo lugar, Pedro Passos Coelho é um grande autoritário sem respeito pelas pessoas, um retrógrado à maneira de Trump que queria inscrever na Constituição que o 'lugar' das mulheres é em casa a fazer filhos aos homens. Quem é que quer um líder com uma mentalidade islamita destas à frente do país? A seguir vão querer o quê? Prender as mulheres em casa tapadas com um véu? 

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Acredita no regresso de Passos Coelho?
Acredito. A sensação que fica é que Passos Coelho tem um projecto para o país. Quem tem um projecto verdadeiramente sólido para o país não quer ir para Belém, quer ir para São Bento. Vou só dizer que o PSD precisa dele. Mesmo como um militante activo. O que é importante é que ele escolha o momento que achar mais adequado para regressar.

O PSD quer que Passos Coelho volte. E o país?
Os portugueses já perceberam que o país precisa de um líder forte. Não de um líder autoritário.

Fernando Negrão em entrevista ao Público

March 16, 2025

Andrey Illarionov - Não só é possível a Ucrânia derrotar a Rússia como é um imperativo

 

Andrey Illarionov, nascido em 1961) é um economista russo e ex-conselheiro político sénior de Vladimir Putin, de abril de 2000 a dezembro de 2005. Desde abril de 2021, é membro sénior da organização não governamental Center for Security Policy, com sede em Washington, D.C., USA

A partir de 2003, quando ainda era conselheiro de Putin, tornou-se um crítico acérrimo de Putin e da sua administração. Em abril de 2022, Illarionov declarou numa entrevista à imprensa que a mudança no Kremlin aconteceria “mais cedo ou mais tarde”, dado que “é absolutamente impossível ter um futuro positivo para a Rússia com o atual regime político”.

Em 3 de janeiro de 2005, Illarionov demitiu-se do seu cargo devido à invasão da escola de Beslan pelas tropas governamentais, em Setembro de 2004, que causou a morte de 333 crianças, dos seus pais e professores. Em Dezembro de 2005, Illarionov declarou: “Este ano, a Rússia tornou-se um país diferente. Já não é um país democrático. Deixou de ser um país livre”. Em 27 de dezembro de 2005, Illarionov apresentou a sua demissão de conselheiro económico em protesto contra o roubo de milhares de milhões de dólares do Estado russo pelo círculo íntimo de Putin através da OPI da empresa pública Rosneft.

A Rússia é gerida por uma elite autoritária e corrupta. “Uma coisa é trabalhar num país que é parcialmente livre. Outra coisa é quando o sistema político mudou e o país deixou de ser livre e democrático”. Afirmou também que já não tinha capacidade para influenciar o rumo do governo e que o Kremlin o impedia de exprimir o seu ponto de vista. 

Illarionov criticou abertamente elementos da política económica russa como o caso Yukos, a crescente influência dos funcionários do Governo no sector privado e nos direitos civis, bem como a pressão exercida pelo Kremlin sobre a Ucrânia no âmbito do litígio sobre o gás entre a Rússia e a Ucrânia. Illarionov foi um defensor do reconhecimento da independência da Chechénia.

Em Outubro de 2006, na mesma semana em que Putin declarou que o assassinato de Anna Politkovskaya era “abominável na sua brutalidade”, Illarionov assumiu um cargo no Cato Institute, em Washington, D.C.,, mas ainda viaja para a Rússia. Em 2017 deixou de o fazer.

Illarionov é um dos 34 primeiros signatários do manifesto online anti-Putin “Putin must go”, publicado em 10 de março de 2010.

Em 2012, Illarionov escreveu um capítulo de livro intitulado “A Few Theses on the Theory of Freedom and on Creating an Index of Freedom” para o Fraser Institute, tendo o seu trabalho sido desenvolvido no Index of Freedom in the World e, mais tarde, no Human Freedom Index (Índice de Liberdade Humana), publicado anualmente. Wiki

March 15, 2025

Bill Browder:

 



“As nossas economias conjuntas são dez vezes maiores do que a Rússia, temos mais pessoas do que a Rússia, de longe. A Europa tem “todas as capacidades” para derrotar a Rússia, mas é necessária alguma força de vontade.Trump queria que a Euopsa gastasse mais. É o que está a acontecer. Não sei se Trump quer que a Europa seja uma potência militar e se a Europa mostrar que tem uma coluna vertebral, Putin de certeza não gostará." Bill Browder

Se tem interesse em saber mais acerca de Bill Browder.

Para ver o resto da entrevista: youtu.be

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If it walks like a Russian asset 
And Talks like a Russian asset
It's probably a Russian asset


March 12, 2025

Quando teremos uma agência de notícias europeia?

 

A Euronews do Qatar não é nossa amiga. Agora passa em loop uma entrevista a Varoufakis, um putineiro russófilo declarado em que este diz que a Europa não deve rearmar-se porque isso vai tirar dinheiro a serviços básicos (jura?) e que vamos viver pior com menos dinheiro. É claro que o pormenor de termos Putin a invadir, matar pessoas e destruir os países vizinhos nem é abordado bem como agora Trump a ameaçar virar-se contra nós, sendo ambos as duas maiores potências nucleares... todos os comunistas e extremistas de esquerda são putineiros e nisso convergem com os fascistas - não por acaso os líderes comunistas foram, e são, todos fascistas: Lenine, Estaline, Mao, Kim Jon, Pol Pot, Fidel, Maduro, etc. E agora Trump e Musk, proto-fascistas et pour cause, putineiros como os comunistas e os de extrema esquerda. E a contradição não os belisca nem um pouco. Segundo a lógica de Varoufakis, um indivíduo que se queixava da falta de transparência da Comissão Europeia (com razão) devemos submeter-nos à vassalagem de um fascista sanguinário e terrorista, se ele viver num solo que foi outrora comunista, logo, reverenciado como sagrado, como é o caso de Putin. O que se observa é que tanto a extrema direita como a extrema esquerda são constituídas por pessoas com alma de vassalos e de escravos a figuras fascistas.

Quando teremos uma agência de notícias europeia que não sirva os interesses do Qatar, um país acolhedor de terroristas e amigo de fascistas como Putin?


March 04, 2025

Os EUA suspenderam a ajuda America à Ucrânia como chantagem para forçar o acordo

 


A Polónia confirmou que a ajuda dos EUA à Ucrânia foi suspensa.

Os aliados europeus e da NATO não foram informados antecipadamente, disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros polaco. Esta é uma decisão muito importante e a situação é muito grave. “A decisão foi tomada sem qualquer informação ou consulta dos aliados da NATO ou do Grupo Ramstein”, disse Pavel Vronsky aos jornalistas.

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Esta decisão não é espontânea e faz parte do plano de Putin que Trump está a cumprir para forçar os ucranianos a renderem-se aos termos russos do falso plano de paz que Trump e Putin alinhavaram sabe-se lá quando.
Vance, hoje numa entrevista, referiu-se à Inglaterra e à França como, “países aleatórios de 20 mil tropas que não travam uma guerra há 30 ou 40 anos”. Este maneira tóxica de falar da Europa é típica de Putin que também se ria da mera hipótese da Ucrânia se defender. 
A França é o amigo e aliado mais antigo dos EUA, sem a ajuda da qual talvez não tivessem conseguido a independência de Inglaterra. Portanto, este é um sinal claro de Trump-Musk terem andado a arranjar pretextos para saírem da NATO e abandonarem a Ucrânia, romperem a aliança com a Europa. Calculo que seja o próximo passo.

A ajuda à Ucrânia foi aprovada no Congresso americano por ambos os partidos. Veremos os democratas não mexerem um dedo, apesar de ontem se terem mobilizado para impedir a legislação de Trump que proíbe homens biológicos de roubarem o lugar às mulheres nos desportos femininos - são as suas causas e prioridades.

Entretanto, só para relembrar os termos do acordo de paz de Trump para a Ucrânia:

As exigências de Trump a Zelenskyy (o defensor):


1) Pedido formal de desculpas

2) Dar os minerais aos EUA mais a exploração de outros bens energéticos 

3) Realizar eleições, apesar de a lei ucraniana o proibir na situação em que estão - ou Zelensky demitir-se

4) Declarar a Rússia como, não-agressor

5) Ceder à Rússia todos os territórios temporariamente ocupados

6) Não fazer parte da NATO

7) Fazer o acordo sem intervenção dos países da UE


As exigências de Trump a Putin (o agressor): Absolutamente nenhuma


Garantias de segurança dadas à Ucrânia: Absolutamente nenhuma

Provas de boa fé dadas a Zelensky: Absolutamente nenhuma


Provas de boa fé dadas a Putin:

- Humilhar Zelensky
- Chamar-lhe ditador
- Convidar a agência de notícias russa para a Sala Oval no dia da humilhação de Zelensky
- Parar a defesa americana de ataques cibernéticos russos
- Chantagear a Ucrânia com a ajuda militar já acordada com Biden
- Distanciar-se dos aliados europeus
- Reabrir a embaixada russa + consulados nos EUA
- Despedir a TaskForce que decidia as sanções à Rússia
(talvez sair da NATO)

Trump sabe que:

A Rússia tem bombardeado as cidades ucranianas até à destruição? 
Que tem visado civis, hospitais, creches, igrejas, etc.? 
Que tem roubado crianças aos milhares? 
Que tem tratado os prisioneiros de guerra com tortura, fome, sevícias, violações, execuções sumárias? 
Que quer eliminar todos os ucranianos e substitui-los por russos - como aliás está já a fazer nos territórios ocupados? 
Que a Ucrânia tem imensas restrições no uso das armas?
Que a Ucrânia está lutar com exércitos de outras ditaduras como a Coreia do Norte e o Irão?

Sim, sabe destas coisas todas e até já usou as duas primeiras como argumento para pressionar Zelensky a assinar o acordo paz nos termos dos interesses da Rússia dos EUA.

Conclusão: Não é possível não ver que Trump é um aliado de Putin contra a Europa e que o sacrifício da Ucrânia faz parte do acordo entre ambos.

January 21, 2025

Uma entrevista com Ben Hodges

 

Se os líderes europeus dizem que a China é a verdadeira preocupação, então, ajudarem a Ucrânia a derrotar a Rússia enviará uma forte mensagem de dissuasão à China” - Ben Hodges




00:02 - 01:08 Introduction 
01:11 - 03:08 The US strategies for resolving the conflict
03:09 - 04:50 Trump's approach to the war in Ukraine 
04:51 - 06:42 The best way to end the war for the US 
06:45 - 08:59 Nuclear status of Ukraine 
09:00 - 09:44 Potential reaction from the US and EU 
09:46 - 11:29 Alternative military bloc 
11:30 - 12:30 NATO Article 5 
12:31 - 13:54 The borders of post-war Ukraine 
13:55 - 14:59 Sanctions against Russia 
15:00 - 16:51 Defensive strategy of Ukraine 
16:52 - 19:04 The shadow of a new "iron curtain" hangs over Europe 
19:07 - 19:58 A deal behind Ukraine's back 
20:00 - 21:23 Russia after Putin 
21:29 - 23:13 Personal motivation for being on Ukraine's side 
23:20 - 25:15 About Westerners who are tired of helping Ukraine