April 04, 2025

Não compro a interpretação de Mikhail Khodorkovsky

 

Mikhail Khodorkovsky numa entrevista recente a Oleksiy Sorokin, chefe de redacção do Kyiv Independent:

“Na minha opinião, a liderança ucraniana no início da guerra (em grande escala) tomou algumas decisões estratégicas que levaram ao facto de o apoio à liderança da Ucrânia entre a sociedade russa ser muito pequeno. A liderança ucraniana enquadrou a guerra em curso como uma guerra entre “ucranianos e russos”. Teria sido melhor para a Ucrânia chamar à guerra em curso uma luta entre “uma antiga república soviética mais democrática contra uma república autoritária”.

De acordo com as sondagens russas (sim, eu sei), a geração soviética apoia mais a guerra do que os mais jovens. Os mais jovens também apoiam a guerra, mas em número ligeiramente inferior, de acordo com essas sondagens (sim, eu sei que não podemos confiar nelas na totalidade).

Para a geração mais velha, a narrativa de que os ucranianos que procuram uma política externa independente e apoiam a cultura e a língua ucranianas são fascistas está de acordo com as suas crenças. Quando estavam a crescer na União Soviética, a narrativa era semelhante. A União Soviética explorava o facto de a Segunda Guerra Mundial ainda estar fresca na memória das pessoas, chamando “fascistas” a todos os que não lhes agradavam.

A nova geração russa nasceu com Vladimir Putin como presidente e os ucranianos como inimigos. Essa é a única realidade que conhecem.

Para esta nova geração de russos, a criação de um Estado ucraniano é um erro, não porque se lembrem dos tempos em que a Ucrânia era um só país com a Rússia, mas porque isso lhes foi dito na televisão, durante toda a sua vida.

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Não compro esta interpretação da situação. Acredito que os mais velhos, os soviéticos, engolissem a propaganda soviética estatal mas não os mais novos. Os mais novos conhecem muito mais do que a realidade que lhes foi dita na TV porque são filhos da internet. Viveram toda a vida com acesso ao que se passa no mundo e a outras realidades fora da Rússia. Viajaram para outros países, nomeadamente os vizinhos que foram colonos da Rússia e que expõem por todo o lado o horror desses anos e os esforços da resistência. Talvez Khodorkovsky tenha dificuldade em aceitar a realidade de que as pessoas do seu país sejam maioritária e genuinamente, fascistas colonialistas. Nos anos em que morei em Bruxelas fiz lá uma amiga russa. Isto foi mesmo no final dos anos 90, mesmo em cima do virar do século. Ela não tinha saudades da União Soviética mas tinha saudades de algumas coisas do tempo soviético. Era de uma família com alguma influência que nunca passou dificuldades e estava habituada a ir passar férias ao Adriático de borla e agora já não podia fazê-lo. Quando lhe dizia que essas suas férias e facilidades em geral eram passadas à custa da opressão de países inteiros ela não tinha resposta. Há pouco tempo encontrei este vídeo.


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