Agora tive uma discussão com um taxista. Quando entrei no carro estava a passar na rádio uma notícia de pessoas velhas que são despejadas das suas casas e o taxista indignou-se e disse que devia ser proibido subir rendas a idosos e que isso acontece porque os proprietários antigos morrem e os filhos herdeiros querem subir a renda, o que o Estado devia proibir. Eu disse-lhe que as coisas são asssim simples porque é preciso também levar em conta os direitos dos proprietários. Acusou-me imediatamente de ser uma pessoa da direita, com casas arrendadas e adiantou que de certeza já devo ter despejado algum idoso...
Não sou de direita nem de esquerda. Sou a favor de se respeitarem os direitos das pessoas e em cada situação ter um olhar global que beneficie o maior número de pessoas com justiça, sem espezinhar os direitos de outras. Isso é difícil e não se faz com soluções a cuspo.
Mas a ideologia quando se torna dogma, cega as pessoas. Vejamos, um proprietário tem que pagar os custos da casa, que sobem brutalmente todos os anos; tem que fazer obras de melhoramento na casa e as obras estão a um preço exorbitante. Se uma pessoa não tem nenhuma autonomia no destino daquilo que é seu, então aquilo não é seu. 'Ah', dizia ele, 'mas os velhos têm reformas miseráveis, está tudo mais caro e não se pode subir brutalmente as rendas'.
Os velhos têm reformas miseráveis? Pois têm e estou de acordo em que não se pode subir brutalmente as rendas (nem as rendas nem outras coisas todas que sobem aos 300% de cada vez), mas o custo de vida também subiu para os proprietários. E há muitas situações dúbias: há o caso dos filhos que vão viver com os pais para ficarem a pagar rendas baixas quando estes morrerem; há o caso dos velhos que sub-alugam a casa por rendas muito maiores do que as que pagam aos senhorios; há o caso das pessoas que nunca pagaram impostos -declaram aquele mínimo obrigatório- e sempre receberam em dinheiro vivo e agora têm reformas miseráveis e querem que sejam os outros a suportar-lhes os custos de vida. Sim, ninguém quer que os velhos sejam despejados, mas é preciso ver a situação por todos os lados porque não se pode proteger uns à custa de roubar os outros de todos os seus direitos.
Pois, dizia ele, de facto é complicado, mas temos que proteger os que menos têm.
Temos que parar a especulação imobiliária descontrolada, regular o turismo que faz subir os preços de tudo e acima de tudo, construir sociedades não russas ou brasileiras, onde uns têm muito dinheiro e o resto são pobres e faltam os do meio que deviam ser a esmagadora maioria.