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June 06, 2024

DDT, Pinho e Pinho condenados - foram dados como provados 1030 (!) factos da acusação

 


1030! Pela primeira vez um governante é condenado por actos ilícitos enquanto governante. Isto é um marco importante para a justiça portuguesa e para a confiança dos cidadãos na justiça e no Estado de Direito.


EDP: Manuel Pinho condenado a dez anos de prisão efectiva


Ricardo Salgado foi condenado a seis anos e três meses de prisão e Alexandra Pinho a quatro anos e oitos meses de prisão, suspensa por igual período. Foram dados como provados 1030 factos da acusação.


O ex-governante foi ainda condenado a pagar ao Estado cerca de 4,9 milhões de euros. Já a mulher do antigo governante, Alexandra Pinho, foi condenada a 4 anos e 8 meses de prisão, suspensa por igual período, pelos crimes de fraude fiscal e de branqueamento, enquanto o ex-banqueiro, Ricardo Salgado, foi condenado a 6 anos e 3 meses de prisão efectiva, por dois crimes de corrupção activa para acto ilícito, um crime de branqueamento. Por lei as penas superiores a cinco anos não podem ser suspensas.

Para a juíza ficou provado o "pacto corruptivo" entre Pinho e Ricardo Salgado, para que o primeiro, enquanto ministro de Economia, viesse a favorecer os interesses do Grupo Espírito Santo (GES) entre 2005 e 2009. “Manuel Pinho actuou sempre pelo interesse do BES/GES e não pelo interesse público”, sustentou.

Foi dado como provado que o ex-governante recebeu dinheiro da ES Enterprises, nomeadamente cerca de 4,9 milhões de euros, que ocultou em offshores, com o conhecimento da mulher, enquanto exercia funções no Governo.

A magistrada sublinhou que Pinho "mercadejou" o seu cargo. "Sabia ainda o arguido Manuel Pinho que ao aceitar as vantagens pecuniárias que não lhe eram devidas mercadejava com o cargo público, pondo em causa a confiança pública", afirmou, sublinhando que o ex-banqueiro e o ex-governante "sabiam que lesavam a imagem da República e atentavam contra a confiança do cidadão" com os actos que praticaram.

“As justificações apresentadas pelo arguido Manuel Pinho, entendeu o tribunal, são inverosímeis, incoerentes e ilógicas. Manuel Pinho apresentou justificações apenas enquadradas numa realidade virtual. O arguido Manuel Pinho procurou normalizar e branquear as quantias recebidas pelo BES", afirmou a magistrada que, pelo menos, no que diz respeito à pena aplicada ao ex-governante foi mais além do que pediu o Ministério Público (MP).

O que é relevante do nosso ponto de vista nestes crimes é a censura criminal. Não são crimes de impulso. São crimes ponderados, de estratégia económica e de risco. Neste caso, é relevante uma pena que tem de garantir a censurabilidade e que o crime não compensa", afirmou o procurador Rui Batista, para justificar as penas pedidas nas alegações finais do julgamento.

Para o MP, o facto de o ex-ministro da Economia ter recebido 500 mil euros dois meses depois de entrar para o Governo, e depois 15 mil euros por mês durante quatro anos, era prova de um pacto corruptivo com Ricardo Salgado.

https://www.publico.pt/ (excertos)


March 13, 2024

Este não é um comportamento exclusivo da juventude

 


Adultos praticam o mesmo tipo de violência e forçada, não partilhada. Os telemóveis e o anonimato das redes sociais fazem vir ao de cima as piores características narcísicas das pessoas, que de outro modo estariam recalcadas ou, pelo menos, não teriam terreno fértil para se desenvolverem. E a hipocrisia com que adultos se tornam carrascos da liberdade dos outros é pior que a dos adolescentes porque é plenamente consciente e amadurecida.


Que propósito serve teres a password dele/a?


O comportamento de violência mais legitimado pela população jovem portuguesa é exatamente pegar no telemóvel ou entrar nas redes sociais sem autorização — 37,1%.

Quando me contou, não quis acreditar, não era só um número, eram os dados biométricos de outra pessoa no seu telemóvel. Como pode alguém permitir tal invasão da privacidade? Como posso deixar que um namorado, marido, tenha acesso ao meu telemóvel só para que se sinta confortável relativamente à minha fidelidade? Como pode ser isso uma prova ou atestado de conduta? Pior, como podem os adolescentes normalizar esse comportamento, partilhando palavras passe de contas de emails, de redes sociais e pins do cartão do telemóvel?


January 21, 2024

Os criminosos da alta finança e da política são plenamente conscientes do que fazem

 


Na imagem vemos Michael Marin, um criminoso da alta finança, um mórmon, formado em Direito pela  Yale Law School que trabalhou para a Lehman Brothers, Merrill Lynch e Salomon Brothers. Levava uma vida de extra-luxo bilionária. Atirou milhares para a pobreza e para a miséria, situações particularmente vulneráveis ao crime e à vida em prisões. Na imagem vemo-lo a ouvir a sentença de prisão (até 27 anos) por fraude (lançou fogo a uma propriedade sua para ganhar o prémio dos seguros) e a ingerir uma dose de veneno fatal. Os criminosos da alta finança e da política são plenamente conscientes do que fazem quando atiram pessoas para vidas de miséria e por isso, quando apanhados e sem hipóteses de manipular a justiça, preferem matar-se a ter um único dia que seja da vida desses que desprezam. 


September 15, 2023

"Sim, [viola adolescentes de 12 anos] mas ele traz-nos títulos”.




É preciso mudar as regras no desporto quando há homens que lidam com crianças e adolescentes de maneira a que eles não tenham oportunidade de entrar nos seus quartos ou nos balneários ou outros lugares em que estejam sozinhos e vulneráveis. Por exemplo, passar a haver mulheres cuja função é acompanhar em permanência as crianças e adolescentes. 
A quantidade de notícias de abusos por treinadores no desporto é repugnante. O Irão mata mulheres por questões de vestuário mas o Ocidente continua com níveis de machismo e de destruição de mulheres às mãos de homens repugnantes, insuportáveis. 
Em Inglaterra vai para lá um escândalo porque as mulheres na profissão de cirurgia são alvo de abusos na ordem dos 40%. O que sabe... há dias vi um programa com entrevistas a várias cirurgiãs, algumas agora consultoras, que contavam que quando eram internas foram vítimas de abusos por parte do cirurgião que era o seu orientador, muitas vezes em frente de toda a equipa de cirurgiões que fingiam não ver. Veja-se a confiança na impunidade para se fazer uma coisa destas. Muitas foram vítimas de violação e tiveram que gramar o indivíduo até ao fim do internato, como seu chefe, caladas, pois senão sofriam retaliações de destruição de carreira. Absolutamente repugnante. 

Antiga promessa do ténis francês revela que foi “violada 400 vezes” pelo treinador


Angélique Cauchy tinha apenas 12 anos quando começaram os abusos sexuais.


A ex-tenista adiantou que durante um estágio de 15 dias em La Baule viveu “as piores semanas” da sua vida. “Ele violava-me três vezes por dia. Na primeira noite pediu-me para ir ao quarto dele e eu não fui. Então veio ao meu. Foi pior. Estava presa, não podia sair quando queria”, acrescentou. Os abusos sexuais duraram dois anos.

Angélique Cauchy, agora com 36 anos, recordou o medo que sentiu, numa altura em que era apenas criança, “eram 13 os passos que me separavam do quarto dele” e sublinhou que as agressões também eram verbais. “Tentei defender-me e pedia-lhe que parasse, repetindo dia após dia ‘não me toque, isto não está bem, não quero’. Mas ele respondia ‘não te preocupes, isto acontece muitas vezes entre os treinadores e as alunas’. Mas eu não queria, ele tinha a idade da minha mãe…”, disse.

O treinador em causa é Andrew Guedes, já condenado a 18 anos de prisão, e que na altura lhe dizia que que estava infetado com HIV. “Vivi entre os 13 e os 18 anos a pensar que tinha sida. Pensei muitas vezes em suicidar-me, violou-me três vezes por dia! Vivi um pesadelo que arruinou a minha carreira”, afirmou.

Cauchy garantiu ainda que havia pessoas à sua volta que sabiam o que estava a acontecer. “No mundo do ténis sabia-se que ele não era correto com as raparigas. Às vezes diziam-me ‘sim, está com esta ou saiu com aquela’. Mas aos 38 anos não sais com uma miúda de 15 e muito menos a violas! Uma mulher avisou o presidente do clube, ao que ele respondeu ‘sim, mas ele traz-nos títulos”.


May 27, 2023

"A ausência de visibilidade das vítimas da criminalidade económica não é sinónimo da sua inexistência"




Crime e Castigo – Atitude Pública: Afinal o que pretendemos?


Raquel Brito

O conceito white-collar crime surgiu pela primeira vez com Edwin Sutherland, na 34ª reunião anual da Sociedade de Criminologia Americana, em 1939. O sociólogo associou a criminalidade económica a indivíduos providos de responsabilidades (nomeadamente sociais, empresariais e públicas) e com elevado estatuto social. 
Desconstruindo, deste modo, algumas condições de outos modelos teóricos, para os quais o crime está mormente correlacionado com as condições físicas e psicológicas individuais, e que reiteram que grande parte da essência criminal reside na pobreza dos indivíduos. 
Desta forma, surge algum desvalor pelas teorias que condicionam as atividades criminosas exclusivamente à “anormalidade” dos indivíduos, reconhecendo-se que estes atos envolvem o comum cidadão. 

Em boa verdade, é quebrado o ciclo ao qual subjaz a estigmatização associada às classes mais desfavorecidas.

A realidade nacional (e internacional) demonstra, diariamente, que a criminalidade é transversal a todos os cidadãos, quer como autores de crimes quer como vítimas deles. Mas, a presente crónica reporta à atitude pública face ao crime de colarinho branco e ao castigo a mesma lhe dita.

Longe de minimizar os crimes das elites, estudos recentes revelam que na grande maioria das vezes a opinião pública tende a considerar estes crimes como sendo tão graves quanto a criminalidade violenta. 
Encontrando-se geralmente mais inclinada a apoiar punições severas contra os seus perpetradores. No mesmo contexto, a literatura tem vindo a demonstrar a predominância de um endurecimento das atitudes públicas em relação aos criminosos de colarinho branco. 

Apesar destes permanecerem ainda significativamente mais propensos a evitar processos criminais e encarceramento em comparação com os infratores de rua. Como afirmaria Maurice Cusson em 2002 “As práticas passíveis de contestação dos miseráveis e das minorias são mais facilmente proibidas e punidas do que as dos ricos e poderosos. Ao longo da história, a vagabundagem foi mais vezes objeto de punição do que as práticas monopolistas. Os crimes cometidos pelos pobres, como o assalto, são mais sistematicamente punidos, e punidos com prisão, do que os crimes dos ricos, como o abuso de confiança”.

Ora, afigura-se urgente alicerçar mudanças neste pensamento. Que só pode ainda prevalecer pelo facto de, sendo o mais consequente e causador de mais danos que a criminalidade violenta, o crime de colarinho branco será o menos entendido.

Menos entendido, talvez. Contudo, não menos conhecido.

Somam-se casos do envolvimento de personalidades sociais, empresariais e políticas na criminalidade económica. É, assumidamente considerável a lista de dirigentes de altos comandos de instituições públicas e privadas que acabam por se envolver em crimes de corrupção, evasão fiscal, conflito de interesses, peculato, entre outros. Causando perturbações na sã convivência social e que por vezes provocam consequências económicas e sociais desastrosas.

Neste seguimento, teremos por certo bem presente o caso de um autarca condenado por vários crimes (corrupção passiva, abuso de poder, fraude fiscal, entre outros) sendo, posteriormente, eleito para o mesmo cargo.

Num caso em que não é possível declarar que a “justiça dos tribunais” falhou no castigo, indaga-se a sobre a eficácia da efetiva concretização da “justiça dos homens”. Por esta mesma circunstância, destaco duas análises principais. A primeira reflete a consequência penal sofrida pelo ofensor, ou seja, o normal funcionamento das instituições de controlo formal. A segunda, a consequência social (e potencialmente estigmatizante) que parece não se ter concretizado.

Pois bem, revela-se peculiar ter sido possível a sua reeleição após condenação para o mesmo cargo que o capacitou para os crimes que cometeu. Não obstante, ser admissível reconhecer que após o cumprimento da sentença o cidadão foi integrado na sociedade como normativamente cumpridor.

Obviamente, não é de todo possível registar qualquer evidência científica, não deixando de ser intrigante constatar que parte da população não imprimiu qualquer cunho sancionatório ao individuo condenado. Assim, importa refletir sobre a atitude pública e se a pouca censura que fez refletir no caso seria igual perante um homicida.

Note-se que a ausência de visibilidade das vítimas da criminalidade económica não é sinónimo da sua inexistência.


February 13, 2023

Até as palavras faltam

 


Deixar-se escrutinar? Vivemos numa sociedade civil, num Estado de Direito. Portugal não é a monarquia eletiva do Vaticano. Já havia tanta denúncia que não era mais possível impedir a investigação e a questão é que a Igreja tentou ao máximo e por todos os meios negar que houvesse pedófilos entre os padres e outros responsáveis cristãos; evitar até onde podia a investigação; influenciou as leis para safar padres pedófilos e encobriu todos os crimes durante dezenas e dezenas de anos. Não deu à comissão acesso aos arquivos e tentou menosprezar a investigação quando ela começou. 

"a Igreja Católica recuperou parte da credibilidade perdida"? Não vive neste mundo. O encobrimento sistemático ao mais alto nível das cúpulas lançou uma mancha de desconfiança sobre todos os padres, os que são pedófilos e a maioria que não são. O nome deles é: bestas! Um termo muito usado na Bíblia para certas pessoas.

E não são cinco centenas de vítimas, são 5000! As que falaram até agora - e sabemos que nestes crimes são muito poucos os que falam. Por vergonha e porque a igreja tem muito poder que não hesita em usar contra as vítimas se isso for necessário para manter a sua imagem.

A Igreja precisa de encontrar formas de impedir que isso aconteça, acolhendo as vítimas, oferecendo-lhes meios de reconstrução psicológica, permitindo-lhes caminhos de recuperação da confiança em si mesmo e procurando com elas modos de lhe dar protagonismo público.  O quê?? Mas quem é que são as vítimas de violações sistemáticas que querem uma relação de amizade com os seus algozes violadores? Mas estas pessoas vivem em que mundo?? Os criminosos que cometeram estes crimes têm de ir para a prisão e nunca mais incomodar as vítimas. As pessoas da igreja não estão acima da lei. 

Há ainda, pelo menos, 100 padres pedófilos no activo. A quantas crianças e adolescentes têm acesso? Quem são os pais que agora, olham para os padres e orientadores católicos em geral dos seus filhos sem pensar duas vezes?

Este é um artigo de relativização do crime e até elogio do comportamento da igreja... até as palavras faltam... repugnante.


Três exigências de uma dor imensa



Jorge Wemans

Ao tornar-se a primeira instituição do país a deixar-se escrutinar sobre esta matéria por uma comissão independente, a Igreja Católica recuperou parte da credibilidade perdida.


December 27, 2022

A história desta garota, da mãe e dos carrascos que a torturaram parece saída dos mais terríveis contos de Grimm

 


A mãe gasta o dinheiro em bruxas e feitiços de amarração, seja lá isso que for e depois entrega-a para saldar dívidas a uma família de predadores torturadores ao melhor estilo dos contos aterrorizantes de Grimm. O pai foge e não quer saber, só pensa em droga. Incrivelmente, ficamos a saber que antes da garota morrer já a Segurança Social tinha tirado 5 filhos à mulher que é mãe... como é que uma pessoa a quem têm de tirar todos os filhos não é proibida de ter filhos? Como não é tutelada assim que tem um filho? Como é que a Segurança Social a deixa à solta, sem tutela, sabendo do seu historial? E a família dos predadores, a tal Tita, como é que os deixam ter os filhos com eles ou sequer aproximar-se de crianças? Pergunto mas sei a resposta: a Segurança Social, tal como os outros organismo do Estado não governamentais e dirigentes são pobres e desfalcados de pessoal  e com precários porque a prioridade é dar meio milhão aos parasitas do Estado e empregar os filhos dos amigos às dezenas como assessores de fazer nada e sacar dinheiro. Esta história é difícil de representar mentalmente, quer dizer, são pessoas atrasadas mentais e com patologias de violência extrema que deviam ser proibidas de voltar a aproximar-se de uma criança. E a dificuldade em aceder ao telemóvel dos criminosos porque os políticos exercem pressão para que não se possa aceder a essa prova. E porquê? Porque têm muito a perder. Tudo uma hipocrisia... mas alguém tem dúvidas que os políticos e jornalistas, que são tu cá tu lá com os serviços de informação, devassam os telemóveis e computadores de todos os que querem controlar ou só porque podem?




November 26, 2022

Hoje é o Dia da Memória do Holodomor




Hoje é o Dia da Memória do Holodomor.

Provavelmente, a maioria dos ucranianos (com excepção da Ucrânia Ocidental, que não fazia então parte da URSS) têm uma história da família no Holodomor. Eu também, mas um pouco não-convencional.

Todos os meus antepassados ucranianos que sobreviveram ap Holodomor morreram antes de os meus pais nascerem, excepto uma uma bisavó que morreu mais tarde. Era russa. Alguns anos antes do Holodomor, a sua família tinha fugido das repressões soviéticas para o Donbas. Trabalhavam aí como mineiros.
Devido à constante escassez de mão-de-obra no Donbas, as estruturas estatais da região muitas vezes fizeram vista grossa ao passado das pessoas. Isto permitiu a muitas pessoas esconderem-se aí da repressão. Esta história é bem contada por Hiroaki Kuromiya no livro Freedom and Terror in the Donbas.

A família da minha bisavó era de uma aldeia na região de Lipetsk, na Rússia, onde o seu avô tinha ficado. Quando ele soube que tinha começado uma fome na Ucrânia, pegou num saco de cereais para levar aos seus filhos.
Ele sabia que na fronteira ucraniana a sua carga seria verificada e que os cereais seriam confiscados. Por conseguinte, saltou do comboio em Valuyki, uma cidade na fronteira. Como resultado, ficou gravemente ferido. No entanto, conseguiu atravessar a fronteira a pé e entregou o grão, quase sem vida. Despediu-se da família e voltou à Rússia, para morrer em casa.

A minha bisavó contou esta história ao meu pai quando ele era jovem. Ela desempenhou um papel importante na educação do meu pai e influenciou o facto de, mesmo nos tempos soviéticos, ele ter-se politizado e ter-se tornado num um nacionalista ucraniano.
Muitos ucranianos, durante muito tempo, tinham medo de falar sobre esses acontecimentos. Como escreveu Hanna Perekhoda, também uma socialista ucraniana do Donbas:

"A minha bisavó, uma residente da aldeia de Chicherino na região de Donetsk, foi uma das três sobreviventes de uma família de onze crianças... A primeira vez que ela falou do que tinha passado foi aos noventa anos de idade, quando finalmente ficou convencida de que o martelo e a foice tinham sido retirados definitivamente do edifício do conselho da aldeia".

Taras Bilous

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A colecção de fotografias do Holodomor de Alexander Wienerberger, é talvez a evidência visual mais viva e detalhada da fome que os soviéticos tentaram tão arduamente esconder.
Um engenheiro químico austríaco que passou quase duas décadas a trabalhar na URSS, Wienerberger foi designado para gerir uma fábrica em Kharkiv em 1932.
Pouco depois de chegar, o impacto devastador do Holodomor tornou-se claramente visível nas ruas da cidade.
Armado com uma pequena e simples máquina fotográfica alemã Leica II, passou meses a fotografar secretamente vítimas da fome.
Com as zonas rurais devastadas pela colectivização, muitos deles eram camponeses que tinham fugido em massa para Kharkiv, então a capital da Ucrânia soviética. Tinham ido para lá na esperança de conseguir trabalho e comida, mas em vez disso encontraram apenas a morte.

Algumas das suas fotografias:








Outro fotógrafo da fome foi Whiting Williams, um jornalista especialista em relações laborais que este infiltrado no Donbass da Ucrânia soviética.

This photo taken by Whiting Williams in August 1933 appeared in an article he wrote for a British magazine a year later but had been largely forgotten until now. It was originally published with the caption "Factory women passing a tiny victim of famine: a dead child lying on a pavement in [Kharkiv]."


Já Mykola Bokan era um fotógrafo ucraniano cuja própria família foi gravemente afectada pela fome.

Tal como muitos ucranianos, Bokan e os seus sete filhos começaram a passar fome quando a situação se tornou especialmente tensa em 1932.

Sem ninguém capaz de lhe pagar como fotógrafo profissional, ele não tinha nada com que viver, mas resolveu usar as ferramentas do seu ofício para documentar as experiências da sua família.

Uma das fotografias mais pungentes retrata-o a si (à direita) e à sua família, sentados à mesa. A legenda diz, "300 dias sem pão".



Intitulada, "No Caixão", esta fotografia mostra Konstantin Bokan (seu filho) pouco depois da sua morte por desnutrição, aos 22 anos. (Arquivo do Serviço de Segurança da Ucrânia, fonds 6, caso № 75489-fp, volume 2)

Written by Coilin O'Connor based on a report by Dmytro Dzhulay for RFE/RL's Ukrainian Service.

June 04, 2022

Navalny faz hoje 46 anos #FreeNavalny #FreeAllPoliticalPrisoners

 


Dia 5⃣0⃣2⃣ na prisão! 

Hoje é 46º aniversário de Alexey Navalny Алексей Навальный, injustamente encarcerado pelo regime de Putin. Que ele conheça o próximo ano livre, como deve ser. 
#FreeNavalny 
#FreeAllPoliticalPrisoners



April 27, 2022

O que estão os russos a fazer na Ucrânia?

 


April 10, 2022

Crimes de guerra gratuitos

 

@zaborona_media

A verdadeira causa da morte do realizador lituano Mantas Kvedaravičius em #Mariupol foi anunciada. Ele foi feito prisioneiro por russos e mais tarde foi baleado na sua cabeça e no peito. Depois, os ocupantes atiraram o seu corpo para a rua, informou hoje o Provedor de Justiça Denisova.

April 07, 2022

Crimes de guerra confessados?




A Ucrânia prepara-se para o assalto no leste; interceptadas conversas de russos sobre matança de civis


Os serviços de informação alemães afirmam ter interceptado comunicações de rádio em que soldados russos discutem assassinatos indiscriminados na Ucrânia. 
Em duas comunicações separadas, soldados russos descrevem como questionam soldados, bem como civis, e depois dispararam sobre eles, de acordo com um funcionário dos serviços secretos familiarizado com as descobertas que, tal como outros, falou na condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto.
As descobertas, confirmadas ao The Washington Post por três pessoas informadas pelos serviços secretos, minam as alegações da Rússia de que as atrocidades - inclusive em Bucha - só estão a ser cometidas depois de os seus soldados deixarem as áreas ocupadas. O The Washington Post viu cadáveres decapitados e mutilados em Bucha, trazendo para o centro das atenções o alcance da devastação.

March 03, 2022

Crimes - Os russos nem um corredor humanitário admitem

 


December 17, 2021

Não percebo isto de estar tudo com pena do Rendeiro

 


Rendeiro foi fotografado da cintura para cima, na altura da detenção. Está vestido com uma t-shirt e só percebemos que é de um pijama porque se vê na fotografia o canto de uma cama e porque nos disseram que foi surpreendido no quarto de um hotel. Não há nada de vergonhoso ou indigno na fotografia. Queriam que o deixassem vestir a rigor para a fotografia para aparecer com ar de banqueiro respeitável? Ele foi preso por ser um criminoso e não um banqueiro respeitável. Que não é. A imagem de pessoa respeitável e séria que ele dava, era um embuste. Era só o fato, a gravata, o sobretudo e outros acessórios de marca: ele é falso, aldrabão, manhoso, mentiroso, duma arrogância desmedida, desleal e criminoso. Foi por isso que foi preso e tem os mesmos direitos que os outros criminosos.

Se gostávamos que as prisões, em qualquer sítio do mundo, não estivessem sobrelotadas e sem condições? Pois gostávamos. Já a ideia de ele lidar com criminosos... bem, ele tinha relações com criminosos pois foi assim que fugiu, que arranjou passaportes falsos, que preparou uma vida na África do Sul, que deu uma entrevista encriptada, que preparou outras fugas, que escondeu o dinheiro, etc.  Só que ele lidou com criminosos desses tendo sempre o dinheiro na mão para os comprar e agora está sem acesso ao dinheiro, ou com menos acesso. 

Agora, estarmos satisfeitos que a polícia tenha feito um bom trabalho, num país onde os ladrões ricos andam à solta, depois da justiça praticamente lhe ter dado a benção para fugir, não é voyerismo. 

Um banqueiro ladrão que deixa milhares de pessoas na miséria (é bom lembrar que à conta dos banqueiros ladrões já enfiámos 25 mil milhões de euros na banca e quem pagou a maior factura foram os que menos têm e empobreceram com esse desvio de dinheiro público) é como se lhes desse um tiro e os deixassem diminuídos para a vida: deixam de ter dinheiro para a saúde e morrem mais cedo, para a educação e não conseguem levantar a cabeça do chão, para se aquecerem no Inverno, para procurar um emprego razoável, etc.

Está tudo com pena do Rendeiro, do Salgado, do Pinho, do Sócrates e de todos esses bandidos à solta. E porque não ter compaixão dos que caíram na miséria por causa desses embustes ambulantes que enganaram e compraram criminosos e políticos e que puseram o país como está: um país para aldrabões, traficantes de influências e bandidos.

Rendeiro em maus lençóis na prisão sul-africana

Rendeiro não deve estar em bons lençóis e não acredito que resista muito tempo naquela selva.

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Na política e na justiça, o voyeurismo paga-se caro. A forma lastimável como o ex-banqueiro foi retratado em pijama no momento da detenção, parecendo um pormenor particular de quem até pior merecia, é um ataque público aos direitos, liberdades e garantias do nosso sistema como um todo.

December 11, 2021

Rendeiro, o banqueiro




Estou aqui a pensar: Rendeiro terá comprado a residência e a nacionalidade Sul Africana pagando uns milhões num qualquer negócio de visto gold local. Mais uns milhões para se estabelecer lá. Mais milhares para disfarçar o sítio de onde deu a entrevista, mais dinheiro para a fuga de cá, mais dinheiro para os contactos de lá. E tudo isto para quê? Para dois meses, mais coisa menos coisa, de liberdade. Sim, ele até pode não ser extraditado ou pelo menos, para já, mas agora andará sempre seguido, para onde for, já não lhe perdem o rasto, até conseguirem trazê-lo de volta. Ou estragarem-lhe a vida. Ou ficar preso na África do Sul. 
Portanto, aqueles milhões todos gastos na fuga talvez tenham sido, 'muito barulho por nada'.

Mas o que também noto é, por um lado o descaramento dele em dar uma entrevista a gabar-se que está na boa e ter quase exigido ao Presidente um indulto, por outro, o ter tido resposta obsequiosa e imediata do mesmo - ficamos na expectativa de saber se o Presidente irá ao aeroporto recebê-lo, no caso de ser extraditado.

Os banqueiros, pelo único facto de serem bandidos legais (os que o são) ou ilegais, mas com muito dinheiro, quanto mais bandidos mais se acham no direito de ter a deferência da humanidade. Vaja-se a notícia mais abaixo. Um banqueiro exigiu, por quebra de contrato, quase uma centena de milhões. O juiz deu-lhe 68 milhões, calculados deste modo: 

17 milhões pelo prémio de assinatura; 35 milhões pelos incentivos a longo prazo pendentes que deixou de receber do UBS; 5,8 milhões que correspondem ao pagamento de salários por dois anos; e ainda 10 milhões por danos morais e reputacionais. Há ainda juros a pagar desde que deu entrada o processo.

Este banqueiro achou normal pedir 78 milhões de indemnização e deram-lhe!!! Não 78 mas 68, com os juros há-de lá chegar. 

Isto diz tudo sobre o mundo financeiro em que vivemos. Nós e estes filhos de um cão que roubam tudo e todos e ainda gozam. E gozam com a conivência da justiça e dos políticos.

Hoje li que os administradores reformados do Montepio vão levar uma reforma de 28 mil euros mensais. Num país onde o SNS está no ventilador.


Rendeiro detido este sábado num hotel de cinco estrelas em Durban


Antigo banqueiro será ouvido em tribunal na segunda-feira. Diretor da PJ diz que não foi detetada qualquer ajuda a partir de Portugal, mas que a "fuga foi preparada durante vários meses".

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Ia ser CEO do Santander, afinal não foi, e agora tem uma indemnização de 68 milhões de euros para receber

November 09, 2021

A pontinha do iceberg?

 


Só dez arguidos numa rede que mete tráfico de ouro, diamantes, estupefacientes, moeda, hacking informático, etc.? E todos de patentes baixas? Humm... há aqui muita coisa ainda por contar...


Militares portugueses apanhados em rede de tráfico de droga, ouro e diamantes



Polícia Judiciária fez buscas nas regiões de Lisboa, Funchal, Bragança, Porto de Mós, Entroncamento, Setúbal, Beja e Faro. Foram emitidos 100 mandados de busca e detidos dez arguidos. Forças Armadas sabiam da situação desde 2019 e a denúncia terá partido da Polícia Judiciária Militar.

Segundo a PJ, está em investigação uma rede criminosa, com ligações internacionais, que se dedica a obter proveitos ilícitos através de contrabando de diamantes e ouro, tráfico de estupefacientes, contrafacção e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas, tendo por objectivo o branqueamento de capitais.

May 31, 2021

"... o branqueamento de capitais é considerado um "delito perpétuo", sem estatuto de limitações, segundo a lei belga."

 


É preciso ter pessoas especializadas nestes crimes e haver cooperação entre os países e mesmo assim estas investigações duram anos e anos. É por isso que os crimes não deviam prescrever. Mas a AR está mais preocupada em censurar a liberdade de expressão dos cidadãos.


Belgium seizes assets in Russia money-laundering affair

As autoridades belgas e letãs apreenderam bens russos num caso notório de branqueamento de dinheiro que assistiu ao assassinato do denunciante Sergei Magnitsky.
Um juiz de instrução belga, Bruno de Hous, apreendeu cerca de 400.000 euros do produto de uma venda de um apartamento na cidade belga de Antuérpia.


Também acusou dois russos - Sergey Medvedev e Irina Terkina - de branqueamento de capitais.

De Hous tomou as medidas no ano passado mas a sua investigação ainda é confidencial e o fundo de cobertura britânico do qual o dinheiro foi originalmente desviado, Hermitage Capital em Londres, só soube dos desenvolvimentos na semana passada.

"Hermitage confirma que as autoridades belgas apreenderam o produto da venda da propriedade em Antuérpia adquirida pelo casal russo [Medvedev e Terkina]", disse um porta-voz do Hermitage ao EUobserver.

"Não é claro onde estão os russos neste momento", disse também Karel De Meester, um advogado que actua em nome do Hermitage em nome do escritório de advogados belga Van Cauter Advocaten.

"Solicitámos ao juiz que conduzisse investigações adicionais". Se for possível encontrar receitas adicionais da lavagem de dinheiro na Bélgica, é claro que também lhes pediremos que sejam apreendidas", disse De Meester.

O apartamento em questão era um duplex chique na Black Sister Street, na antiga cidade de Antuérpia, que o EUobserver expôs num artigo anterior. Os russos compraram-no em 2008 e venderam-no para um lucro saudável em 2019.

Mas o dinheiro era apenas parte dos 4 milhões de euros lavados pelos lacaios dos funcionários e mafiosos russos nos bancos belgas, de acordo com o Hermitage. E isso fez parte de cerca de 200 milhões de euros lavados em vários países da UE depois de o grupo criminoso o ter desviado do Hermitage, na Rússia, e de ter morto o advogado da firma, Magnitsky, quando este se pronunciou.

Após o dinheiro ter levado o Hermitage a ajudar a expor o maior escândalo de lavagem de dinheiro na história da UE - o caso do Danske Bank de 200 mil milhões de euros em 2018.

Autoridades na Estónia, França, Holanda, Suíça e EUA também apreenderam dinheiro no valor de mais de 40 milhões de euros ao longo dos anos. E a Letónia, assim como a Bélgica, juntou-se a eles na semana passada, quando as autoridades confiscaram um apartamento no valor de 230.000 euros numa parte da moda de Riga.

"Os bens imóveis foram confiscados devido à descoberta ... foi adquirido por dinheiro relacionado com 'o caso Magnitsky'", Pēteris Bauska, o chefe da unidade de crimes económicos da polícia da Letónia, disse ao EUobserver.

"O bem imobiliário foi adquirido por um cidadão da Federação Russa, em troca de uma autorização de residência temporária", disse Bauska. O modus operandi letão recordou o belga - utilizando pessoas desconhecidas para comprar coisas normais, a fim de escapar aos controlos. E os fundos roubados, em ambos os casos, fluíram através de bancos em Chipre, Estónia, e Letónia em nome de empresas de fachada.

"O financiamento para a aquisição da propriedade foi recebido de uma empresa de fachada em Chipre, que era controlada por Dmitry Kluyev, uma pessoa [russa] associada a um grupo criminoso organizado", disse Bauska a este website.

Os casos de branqueamento de capitais podem levar anos a resolver devido à sua complexidade.

"O fluxo de caixa nas contas das empresas offshore foi intenso e fundiu-se com outro dinheiro para tornar mais difícil a sua localização", disse Bauska. "Este é um caso de 'lavagem de dinheiro' que envolve centenas de empresas através de cujas contas o dinheiro fluía para pelo menos seis bancos letões", disse Bauska.


Mas o caso Magnitsky também se arrastou porque nem todos jogam à bola. A operação policial letã envolveu "pelo menos 10 autoridades estrangeiras de aplicação da lei", observou Bauska.

Ele não disse se Chipre ajudou a Letónia.

Mas Chipre, onde Kluyev, o alegado chefe da máfia russa, possuía propriedades e contas bancárias, não apreendeu nada nem cobrou nada a ninguém. Entretanto, a Rússia pressionou Chipre a encerrar os advogados do Hermitage em Nicósia.

E tentou mistificar as autoridades da UE com desinformação, por exemplo: que o proprietário do Hermitage, Bill Browder, era um espião norte-americano que assassinou o próprio Magnitsky num ataque com uma bandeira falsa. "Até agora, ninguém foi acusado e nenhum activo foi congelado [em Chipre]", disse Browder ao EUobserver. "A única coisa a acontecer em Chipre é que as autoridades de Chipre têm tentado cooperar com um procurador russo no caso enganado dos russos contra mim", acrescentou ele.

Bauska, o polícia letão, disse que "não houve pressão [sobre a Letónia] por parte da Federação Russa", durante a sua investigação.

"Contudo, houve alguns problemas com a execução do MLA [pedido de assistência jurídica mútua], nomeadamente que o lado russo revelou factos e forneceu informações do seu ponto de vista", acrescentou ele.

Crime perpétuo

E tudo isso deixou a parte de leão dos 200 milhões de euros roubados ainda a circular no sistema financeiro da UE.

O grupo Kluyev comprou o apartamento em Antuérpia por 260.000 euros em 2008 e vendeu-o por mais de 400.000 euros cerca de 10 anos mais tarde.

E é por isso que o branqueamento de capitais é considerado um "delito perpétuo", sem estatuto de limitações, nos termos da lei belga.

"O dinheiro está sempre a mudar de mãos, adquirindo mais valor, e com cada transacção subsequente, um novo crime é considerado como tendo sido cometido", disse anteriormente um funcionário da unidade de crime financeiro da Bélgica, a CTIF-CFI, a este website.


April 13, 2021

O crime financeiro está a aumentar e a guerra contra a lavagem de dinheiro está a ser perdida

 


The war against money-laundering is being lost

The global system for financial crime is hugely expensive and largely ineffective



Mais um banco se prepara para enfrentar a música sobre alegadas falhas nos seus esforços para conter os fluxos de dinheiro sujo. Nas próximas semanas, NatWest, um dos maiores credores britânicos, vai comparecer em tribunal, em Londres, para responder a acusações de não ter escrutinado devidamente um cliente que depositou £365m ($502m) no banco, dos quais £264m em dinheiro vivo.

NatWest (que afirmou estar a cooperar com a investigação) é o último de uma longa fila de bancos a ser acusado de ficar aquém das expectativas na luta contra o dinheiro sujo. No ano passado, os credores globais foram atingidos com 10,4 mil milhões de dólares em sanções por infracções de branqueamento de capitais, um aumento de mais de 80% em 2019, de acordo com a Fenergo, uma empresa de software.

March 31, 2021

Estive a ler o documento que chegou às escolas vindo do Ministério Público

 


... e que se refere aos princípios e finalidades que guiam a intervenção dos vários orgãos competentes, em crianças e adolescentes em risco, por um lado e delinquentes, por outro (embora não lhes chamem isto), bem como aos procedimentos a adoptar e seguir na comunicação às entidades competentes. Está bem feito o documento. Achei piada que frisam com veemência a importância da celeridade da comunicação com o maior número de informação possível acerca do caso. Vê-se bem que não conhecem o funcionamento das escolas e a veemência com que 10 organismos diferentes pressionam para a urgência de burocracias que consomem tempo infinito.

Isto da comunicação à CPCJ ao ao MP não é coisa fácil. É preciso falar com encarregados de educação, o que é logo a 1ª dificuldade; é preciso falar com o aluno em questão, o que por vezes é a 2ª dificuldade. Depois é preciso escrever relatórios pormenorizados do que aconteceu e se é um caso disciplinar ou de abandono temos que incluir todas as medidas que tomámos ao longo do ano, o que significa que temos de guardar registo de tudo. Depois passa pela equipa multidisciplinar da escola: mais papéis. Se são casos de delinquência, como agressão, bullying e ciberbullying, destruição de propriedade, etc. há que recolher testemunhos, fazer outros relatórios, falar com pais... isto tudo no meio do trabalho normal de aulas, reuniões, DTs, cada uma com a sua produção de papéis. Pode levar dois períodos inteiros a fazer-se.

Para mim, o que fazia sentido era o MP ter, em cada conselho, por exemplo, um ou dois funcionários, não sei se isto cabe aos procuradores... atribuído às escolas desse conselho a quem se pudesse recorrer. As escolas fazem trabalho próprio de procurador que não lhes cabe e penso que prejudica mais do que beneficia.

Se há uma agressão ou um roubo numa turma, os alunos são enviados para uma equipa na escola que trata do assunto. Acontece essa equipa querer agir como se fosse um juiz ou um detective de polícia. Chama os alunos envolvidos, nomeadamente os suspeitos, pergunta-lhes se foram eles. Eles dizem que não. Os pais aparecem a queixar-se dos filhos serem interrogados e a culpar outros. Os miúdos mentem e geralmente fica tudo enredado porque a escola é um lugar pedagógico e os professores não têm treino de procuradores para saberem conduzir entrevistas produtivas deste teor. Alguns conhecem os alunos porque já foram seus professores, ou são ainda e depois confundem-se os papéis sem nenhum mérito porque regra geral não se consegue saber quem fez o quê. O resultado é o aluno em questão sentir-se impune.

Aqui há uns anos na minha escola houve um caso chocante de um aluno contra uma professora que só teve resultados porque a professora em questão fez queixa no MP. Não fora isso e o aluno, que fez coisas muito graves, ainda se ficava a rir dela.

Uma coisa são pequenas infracções ao regulamento da escola e ao estatuto do aluno, geralmente dentro das aulas, que os professores podem e devem resolver logo, pedagogicamente; outra diferente, são actos criminalizáveis como roubos, agressões, bullying. Esses deviam ir directamente a alguém que tenha esta especialidade de lidar com esses crimes, que não somos nós. E para isso devia haver alguém no MP que fizesse a ligação às escolas e tratasse desses assuntos, quer dizer, a quem pudessmos recorrer directamente. Era mais célere e eficaz, coisa que agora não é, nem tem grande possibilidade de vir a ser, dadas as condições e a natureza da escola.