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July 17, 2024

A PGR é criticada por não falar e depois é criticada por falar

 

Talvez o problema não seja o falar mas o ter falado fora do controlo do Parlamento?


Aguiar-Branco critica Lucília Gago por ter dado entrevista antes de falar no parlamento 

“Como outros procuradores no passado fizeram, responderam às perguntas, responderam àquilo que achavam que podiam responder, àquilo que achavam que não podiam responder, não respondiam. E eu teria preferido que a primeira intervenção tivesse sido no parlamento”, disse. NOVO

July 13, 2024

Estive a ouvir a entrevista de Lucília Gago à RTP

 


Pode ser vista na totalidade seguindo este link: https://www.rtp.pt/play/p13650/a-entrevista-lucilia-gago

A PGR começa por falar na intenção de ser útil ao MP para resolver os seus problemas. Portanto, reconhece que há problemas a ser resolvidos, ao contrário do que li, i.e., que ela é arrogante e não reconhece nenhum problema no MP.

De seguida reconhece que não avaliou bem a maneira como foi vista -como arrogante- por não dar entrevistas, apesar de ter dotado de mais meios o gabinete de imprensa.

Relativamente ao famoso parágrafo, o que diz é que entendeu que devia dizer o que estava a acontecer, para que não se pensasse -quando se soubesse- que o MP tentou proteger o PM - que aos olhos da Lei, é uma pessoa como outra qualquer, não tem um estatuto privilegiado. De resto, o MP não tem que deixar de fazer o seu trabalho por cálculos sobre as consequências políticas da sua actuação - desde que a actuação seja correcta e legal. 

Penso que tem razão, pois em Portugal há uma deferência excessiva da Justiça para com os políticos e homens do poder que chega a raiar a inimputabilidade, com as consequências que sabemos: ou roubos da banca, o caso Salgado, o caso Sócrates e muitos outros que quando chegam à Justiça já desfalcaram o país em milhares de milhões de euros e prejudicaram dezenas ou milhares de pessoas.

O entrevistador confunde factos já apurados com investigação. Pergunta-lhe se o inquérito devia ter sido aberto, uma vez que ainda não havia factos, só interpretações. Ora, o apuramento de factos (que estão sempre sujeitos a interpretações) tem necessariamente uma investigação prévia. Por exemplo, se alguém é apanhado a referir-se a outro como tendo facilitado um crime, o facto do outro ter (ou não) facilitado um crime, ainda não é certo e apurado, apenas suspeitado. Daí que se abra um inquérito e é no inquérito que se apuram (ou não) os factos.

De resto, a frase bombástica de ter havido um golpe de Estado só se percebe pela bolha em que o PS e outros do género viviam e ainda vivem. Depois de 14 ministros e SE terem-se demitido ou terem sido afastados por questões de Justiça, alguns com casos de mortes, ainda assim o PS acha estranho que alguém pudesse suspeitar de ilícitos entre os membros do governo. Estou em crer que se acham todos "pessoas de bem acima de qualquer suspeita".  

Se olharem para os EUA, por exemplo, um dos candidatos a Presidente está condenado na Justiça, o seu assessor está na cadeia, o actual Presidente viu processos contra o seu filho serem levados a tribunal e viu-se ele próprio acusado. A Presidente da Comissão Europeia está sob inquérito por causa de sms que terá enviado e recebido no tempo da pandemia com laboratórios de vacinas... nenhum deles acusou a Justiça de golpe de Estado ou amuou e foi-se embora. António Costa foi-se embora quando se tornou público que o seu assessor era um Escobar e que o seu gabinete oficial era um esconderijo de dinheiro de bandidagens... em que lugar do planeta dezenas de milhar de notas vivas escondidas em caixas de vinho nos gabinetes do PM não é algo suspeito...?

Há uma resposta da PGR que me parece falhar. Quando lhe perguntam se é responsável pelas investigações do MP ela diz que não o é completamente porque não conhece todos os processos em minúcia. Não me parece que esse argumento seja válido. Ela é a responsável pelo MP e, portanto, pelos inquéritos e pela sua actuação. Pode não conhecê-los todos em minúcia, mas é ela que define critérios de actuação e os modos de avaliar as situações que levam a inquéritos, etc. Se o argumento dela fosse válido, então os políticos que usam esse argumento para se desresponsabilizarem do que se passa nos seus ministérios também seriam válidos e nenhum líder era responsável por coisa alguma que não fosse feita directamente por si.

A pergunta acerca do MP dever um pedido de desculpas a António Costa se o inquérito der em nada, mostra mais uma vez a exigência de deferência subserviente da Justiça por parte de suas excelências intocáveis. Como se o MP pedisse desculpa a alguém por um inquérito sobre uma suspeita, afinal não ter dado em factos apurados. 

Vejamos: por vezes pode ter havido erro, outras vezes não foi erro, foi uma interpretação válida mas que não era correcta. Por exemplo, o Presidente da República interpretou o facto da PGR ter falado com ele no mesmo dia em que o inquérito sobre o caso das gémeas foi tornado público, como uma acção intencional e maquiavélica o que, sabe-se agora, foi apenas uma coincidência. O Presidente cometeu um erro e devia ter falado com a PGR sobre isso antes de dizer publicamente que ela é maquiavélica. Outra coisa diferente seria ele ter desconfiado de intencionalidade, mas ter inquirido para saber se era esse o facto. Nesse caso, a sua inquirição não seria um erro, apenas uma interpretação -válida- não correcta e não há razão para pedido de desculpas.

O entrevistador pergunta-lhe à exaustão se não foi tudo um erro e quer que ela diga que o MP cometeu um erro grosseiro e que tudo foi uma perseguição ao PM.

Erro foi o caso das três pessoas no caso da Madeira terem ficados presas 22 dias e a PGR di-lo claramente e diz que o lamenta, porque não considera correcto que cidadãos fiquem nessa situação tanto tempo. Porém, as coisas não são simples, porque há greves dos oficiais de justiça a decorrer que interferem no bom andamento dos processos. Portanto, por vezes o que se atribui a mau funcionamento tem que ver com falta de condições e falta de funcionários na Justiça.

Os juízes terem leituras distintas dos mesmos eventos (que é uma pergunta do entrevistador), a mim parece-me normal, até certo ponto. Quer dizer que, interpretações muito díspares, onde uns entendem que há muita matéria para investigar e outros que não há ali nada de nada, não é normal, a não quer que uns juízes sigam uns princípios legais completamente opostos aos dos outros. Se o juiz segue os mesmos princípios e critérios da Lei para julgar os casos, há certamente uma margem para interpretar, dado que as pessoas são diferentes, mas a interpretação não pode ser totalmente extrema e oposta. Seria como dois professores usarem os mesmos critérios para classificar uma prova e um deles atribuir 20 valores e o outro 1. Isso já não me parece normal ou aceitável.

Quanto às palavras da ministra da Justiça, a filha de seu pai, também me parece óbvio que não lhe fica bem escavar o descrédito da Justiça por razões políticas - ou safar amigos do papá, digo eu.

Em suma, a entrevista dela não me parece nada arrogante. Pelo contrário, é uma pessoa com critérios racionais e fundamentos para a sua actuação que esclarece cabalmente. Respondeu com segurança e muita clareza às perguntas do entrevistador, que não foi meigo, antes pelo contrário, esteve sempre a tentar que ela se confundisse ou atrapalhasse e sempre a pressioná-la para tentar criar a ideia de que Costa e Galamba são uns coitados, vítimas da PGR. Pergunta-lhe porque não se demitiu... 

Tenho pena que a PGR não tenha entendido, mais cedo, a importância de falar publicamente, em certas situações, para tirar a pressão dos políticos de cima do MP. Parece-me que teria sido importante para a opinião pública perceber a justeza do trabalho do MP, apesar dos seus constrangimentos, problemas e erros, como caso dos que estiveram presos três semanas de uma maneira abusiva..

De resto, percebo que no nosso universo político machista a considerem arrogante: ela não pede desculpa por ser uma pessoa que pensa, por ter critérios coerentes de actuação, por ser independente do poder político e por dizer o que pensa, sem subserviência. Onde já se viu uma mulher ser assim? Ofender Costas, Escárias e Galambas e não se demitir logo a bater no peito com gritos de mea culpa, mea maxima culpa?


July 10, 2024

O STJ dos EUA declarou Trump intocável. Não queremos o mesmo aqui...

 


Justice Roberts Subverted the Separation of Powers and Created a Dangerously Unaccountable President

The court's immunity ruling will make it hard to punish Trump for his past lawlessness, while inviting future abuses

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(O juiz Roberts [do Supremo Tribunal] subverteu a separação de poderes e criou um presidente perigosamente impossível de responsabilizar. A decisão do tribunal sobre a imunidade dificultará a punição de Trump pelo seu comportamento de ilegalidade passado, ao mesmo tempo que convida a futuros abusos.

July 09, 2024

António Costa deve um agradecimento à PGR

 


À conta de um parágrafo, conseguiu fugir de um governo onde não queria estar, como Guterres e Durão Barroso já tinham feito, para ir para um cargo apetecido, mas sem parecer que estava a fugir como os outros e até a capitalizar fazendo-se de vítima. 

PGR ataca ministra da Justiça e afasta pedido de desculpas a Costa


Lucília Gago diz haver uma “campanha orquestrada” contra o MP considerando “graves” as “acusações” de Rita Júdice. Demissão? “Nunca” pensou em sair.

Aprocuradora-geral da República, Lucília Gago, afastou a hipótese de vir a apresentar um pedido de desculpas a António Costa, caso o inquérito que conduziu à demissão do então primeiro-ministro, no âmbito da Operação Influencer, vier a ser arquivado. “De modo algum”, disse, numa entrevista à RTP1, transmitida ontem à noite, acrescentando que o mesmo é válido para qualquer cidadão que seja investigado pelo Ministério Público.

“Não há ninguém acima da lei. Não há ninguém que consiga, em razão do cargo que ocupa, ou da influência que tem na sociedade, ter um estatuto especial”, reiterou Lucília Gago, que ao longo de seis anos enquanto procuradora-geral tem recusado entrevistas - “sempre considerei que a discrição é bem melhor do que o espalhafato”, comentou -, tendo o jornalista Vítor Gonçalves esclarecido que aquela que decorreu ontem foi agendada antes do pedido dos deputados para que fosse à Assembleia da República para prestar esclarecimentos quanto à atuação do Ministério Público neste e noutros casos que tiveram impacto na política nacional.

Lucília Gago assumiu a autoria do parágrafo do comunicado, revelado a 7 de novembro de 2023, em que se dava conta de um inquérito autónomo, a correr no Supremo Tribunal de Justiça, devido a referências de implicados na Operação Influencer quanto a atos e influências do então primeiro-ministro. Admitindo que o texto foi feito pelo gabinete de imprensa, a procuradora-geral negou que o Presidente da República tenha tido algum tipo de contributo para o mesmo, justificando o facto de o comunicado só ter sido divulgado mais tarde por ainda haver uma detenção em curso.

Lucília Gago confessou ficado “algo incrédula e perplexa” com as acusações que considera “graves” da ministra da Justiça: a “desordem” no MP. Mais ainda, acrescentou, porque esteve numa audiência de três horas com Rita Júdice sem que qualquer reparo lhe tenha sido feito.
A PGR considera, ainda, porque as declarações da ministra foram uma “mola impulsionadora”, existir uma “campanha orquestrada” contra o Ministério Público, até de gente que teve um “papel de relevo na vida da nação”.

Nesta entrevista, Lucília Gago confessou também ter recebido com desagrado os comentários de “maquiavelismo” de Marcelo Rebelo de Sousa a propósito de uma coincidência de datas. O processo do caso das gémeas foi aberto no dia em que foi recebida pelo Presidente, mas alega não ter tido conhecimento prévio de que tal sucedera.

A procuradora-geral da República, confrontada com a sucessão de críticas, em particular depois da demissão de António Costa, garantiu “nunca” ter pensado em demitir-se. Lucília Gago diz que a sua marca na PGR tem um “cunho de rigor, objetividade e de isenção”.

Quanto à demissão de António Costa, Lucília Gago descreveu-a como “uma avaliação pessoal e política” do então primeiro-ministro, que vai agora tornar-se presidente do Conselho Europeu. E enumerou casos de outros políticos envolvidos em investigações judiciais, como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, sem que estes se demitissem.

DN

July 06, 2024

A quem interessa a partidarização da justiça? Aos partidos (políticos) que querem ser intocáveis

 


MP não é magistratura “indisciplinada”, não pode haver “intocáveis”, Costa não é suspeito. O balanço da entrevista a Rosário Teixeira 

Numa altura em que o Ministério Público está debaixo de fogo, aquele que é o investigador criminal mais conhecido do país aceitou dar uma rara entrevista. Recusa a ideia de que a sua magistratura é uma “casa desarrumada, ingerível ou indisciplinada”, sugere que se Costa fosse suspeito teria de ter sido constituído arguido quando foi ouvido e diz que, embora o MP possa ter consciência das possíveis consequências políticas das suas diligências, não pode deixar de as fazer porque senão haveria situações e pessoas “intocáveis”.


O mais conhecido dos procuradores portugueses – responsável, por exemplo, pela investigação a José Sócrates na Operação Marquês – deu uma rara entrevista esta quinta à noite, à SIC, numa altura em que o Ministério Público tem estado debaixo de fogo e a procura de um novo perfil de Procurador-Geral da República já foi anunciada pela ministra da Justiça.

Chamado a comentar as declarações recentes da ministra Rita Alarcão Júdice, que defendeu que é preciso “alguém para arrumar a casa” dentro do Ministério Público, Rosário Teixeira comentou que interpretou essa afirmação no sentido em que o Governo procura alguém com um “perfil novo” e não “pela existência de uma casa desarrumada, ingerível ou indisciplinada”.

O procurador que conduziu a Operação Marquês ou o processo Monte Branco recusa totalmente a ideia de que o Ministério Público esteja à rédea solta. “O Ministério Público não é uma magistratura indisciplinada. Há uma ideia que tem passado de que cada um pensa pela sua cabeça e que cada um faz o que quer e que tem uma rédea solta para o fazer. Não é isso que corresponde à verdade, não é essa a ideia que tenho de dentro da casa.”

Questionado sobre as circunstâncias do processo da Madeira e, sobretudo, da Operação Influencer – que levariam à demissão do primeiro-ministro, à queda de uma maioria absoluta e a eleições antecipadas – , Rosário Teixeira defendeu que o Ministério Público “não tem interesse em derrubar governos nem faz parte das suas funções gerar essas consequências políticas”: “O que aconteceu nesses casos é que simplesmente houve diligências de recolha de prova” e essas diligências “geraram essas consequências que não foram pretendidas pelo próprio MP”

E o Ministério Público não tinha consciência desses possíveis danos? Essa “consciência”, defende o procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), “não pode impedir que o Ministério Público deixe de atuar”. “Se tem necessidade de fazer diligências para recolha de prova, o Ministério Público não deve estar restringido. Porque senão haveria situações que seriam intocáveis, que nunca poderiam ser exploradas”, acrescentou.

Rosário Teixeira também não poupou nas críticas aos críticos do Ministério Público, nesta entrevista à SIC, emitida esta quinta-feira no Jornal da Noite. “Muitas vezes dizem que o Ministério Público é cada um para seu lado e que é algo que está incontrolado mas depois esses mesmos críticos vêm dizer que há uma consciência política dentro do MP, e até já aproximaram o MP de determinados partidos políticos. Isso é uma incongruência total, porque ou estão à rédea solta e cada um para o seu lado ou estão todos conluiados para fazer um frete político. Nem é uma coisa nem é outra.”

Ainda sobre o tópico Operação Influencer, o procurador foi questionado sobre como olhava para o facto de António Costa ter sido ouvido a seu pedido e nunca mais ter sido chamado ao processo. Rosário Teixeira explicou que num caso de tráfico de influência pode haver uma terceira pessoa e que seja preciso perceber se essa terceira pessoa interveio ou não na decisão. “Isso pode demorar algum tempo porque pode precisar da apreciação de detalhes, mas está aí a diferença entre ouvir uma pessoa como suspeito ou não ouvir como suspeito”. 

Para o magistrado, não restam dúvidas de que neste momento António Costa não é suspeito na Operação Influencer, porque se o fosse teria sido constituído arguido. “É preciso que fique claro que o próprio Código diz que de cada vez que um suspeito for ouvido num determinado processo tem de ser ouvido como arguido. Ora, se a pessoa é ouvida no processo e não é ouvida como arguida eu tiro daí a conclusão de que não é suspeito, porque senão já estávamos a violar o Código de Processo Penal. O estatuto de arguido é sempre um estatuto de proteção e ele nem sequer foi atribuído”, explicou.

E é legítimo que um governante esteja sob escuta durante quatro anos? Para o procurador o ponto da questão não é se se trata de um governante ou de não um governante, mas da matéria que está a ser investigada. “Há situações em que se está a analisar um determinado negócio ou uma determinada estrutura societária e esta está de tal maneira em constante evolução que eu não consigo encontrar um momento em que ela para de evoluir. Às vezes são negócios que demoram tanto tempo a montar…”

Ainda assim, o procurador que diz que os megaprocessos são indesejáveis mas “impostos pela própria realidade” – há megaprocessos porque há mega realidades -, admite que as escutas telefónicas são um dos setores que podem sofrer adaptações legislativas. “Existe um dispositivo que diz o que deve ser eliminado por não ter relevância para a prova, e o que contenda com segredos médicos, profissionais, de estado, com a intimidade da vida privada, e que não tenha a ver com o objeto do processo.” Porém, assume, “é um dos sectores que pode ser melhor definido em termos legais”.

June 28, 2024

A ministra filha de Júdice acusa a PGR de ter tornado a justiça indigna

 


Não há outro modo de interpretar esta frase. Quem a dignificou deve ter sido o Escária e os outros todos... os dos 'casinhos', como lhes chamou Costa. A ministra da Justiça, os primos dos políticos e os chefes dos primos que vicejam nos gabinetes do Estado podem não ver mal algum nos Escárias e seus chefes espertalhões, mas nós vemos. Não somos cegos.

Uma coisa que não dignifica a Justiça é a falta de solidariedade institucional da Ministra da Justiça para com a PGR, sobretudo quando esta está debaixo de fogo por todos que querem que a Justiça seja branda com o senhor Costa e os seus amigos para poderem continuar a sua vidinha sem grandes incómodos. Isso é que é indigno.


Ministra da Justiça diz que próximo PGR deve dignificar a justiça


June 19, 2024

Entretanto, o sr. Cabrita não será importunado pela justiça pelo atropelamento mortal de um trabalhador

 


Nem o motorista. Isso seria uma impertinência do MP e da Procuradora. Aliás, se o trabalhador não tivesse morrido estaria ele a ser julgado pela impertinência de existir na linha de velocidade de suas excelências.


Cabrita não será julgado por atropelamento mortal na A6, confirma Relação



Quanto ao motorista da viatura, Marco Pontes, está pronunciado para julgamento pela prática, em autoria material na forma consumada, de um crime de homicídio por negligência grosseira, em concurso com a prática de "uma contraordenação classificada como grave" prevista no Código da Estrada.

O juiz decidiu, contudo, não pronunciar Marco Pontes pelo crime de condução perigosa de veículo rodoviário.

São estes 'escariotes' que os do Manifesto querem proteger



O Judas Escariote não se lembrava de ter 75 mil euros. Ou rouba tantos milhões que se esquece de quantias como 75 mil euros ou pensa que somos todos como os 'simpáticos' do Manifesto, que em vez de quererem esclarecimentos de todos estes Escariotes (75 mil euros em numerário é muita nota... tantas notas por ali deixadas em estantes e em vinhos e outras pessoas que frequentavam o gabinete nunca as viram?), querem esclarecimentos de quem tenta acabar com estes Judas que nos prendem a todos a uma cruz de misérias. 
Evidentemente que é normal os governantes receberem pagamentos de dezenas de milhares de euros em malas cheias de notas à Pablo Escobar e esconderem-nas nos gabinetes do Estado.

Ex-chefe de gabinete de Costa não se lembrava do dinheiro guardado


O dinheiro encontrado não estava, afinal, numa estante. O maior valor encontrado – 40 mil euros – estava escondido dentro da caixa de uma garrafa de champanhe.
O antigo chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, que tinha 75.800 euros em dinheiro numa estante, disse ao procurador Rosário Teixeira que não se lembrava de ali ter aquele dinheiro. Esta é uma das revelações das escutas da Operação Influencer, que a CNN Portugal avançou.
Quando foi questionado sobre o dinheiro guardado, Escária garantiu que só se lembrava de ali ter 7.620 euros, que diziam respeito a uma atividade profissional em Angola, anterior ao trabalho no Governo. E mostrou-se surpreendido sobre o restante dinheiro.

Os subscritores do Manifesto ressuscitaram para pôr Costa no Conselho Europeu?

 


Estão a ver se minam a Procuradora para manchar o processo e, assim, tirar todos os obstáculos a Costa e outros que venham a precisar de amigos especiais na justiça.


Subscritores do “Manifesto pela Justiça” exigem explicações sobre escuta a António Costa

Os subscritores do “Manifesto pela Justiça” exigem que o Ministério Público explique as razões para que uma escuta a uma conversa entre o então primeiro-ministro António Costa e o antigo ministro João Galamba, sem “relevância criminal”, conste no processo da Operação Influencer.

June 16, 2024

Justiça

 


“World Aquatics is dedicated to fostering an environment that promotes fairness."



June 14, 2024

Word rates have not increased in decades, while the cost of living goes up every year... ~ Christine Smallwood

 


A questão não é apenas a de saber onde se paga mais impostos mas também a de saber como se gasta esse dinheiro (se em benefício de todos ou apenas de alguns) e se se está a alcançar uma justiça social baseada na igualdade de oportunidades e a atenuar as desigualdades consideradas intoleráveis.




June 11, 2024

Justiça manchada

 


Isto é grave. Pessoalmente, penso que quando os orgãos de governação e legislação do país estão manchados de casos de corrupção, parcialidade, trabalho para interesses próprios, favoritismo, etc., cria-se uma dinâmica de laxismo ético em toda a sociedade. Todos os membros da sociedade em algum cargo de poder que já tenham alguma propensão para o abuso se sentem empoderados e legitimados a comportamentos pouco éticos. Ainda há pouco tempo lemos nos jornais que a «defesa» de Pinho em tribunal para o recebimento de luvas enquanto governante foi, "toda a gente fazia isso, era prática corrente".


Supremo Tribunal anula concurso de promoção de juízes e manda substituir júri


Órgão de cúpula dos tribunais administrativos condenado por práticas ilegais. Situação é considerada inédita. Há juízes a acusar conselho que os governa de falsificação de documentos.

O acórdão que conclui que o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais violou os princípios da transparência e da imparcialidade no concurso de magistrados que organizou é da autoria do ex-vice-presidente do Tribunal Constitucional Pedro Machete e subscrito por outros conselheiros do Supremo Tribunal Administrativo. E ordena não só que os candidatos sejam alvo de nova seriação, “desta feita com base em critérios legais”, mas também que o júri que os avaliou seja todo substituído.


A violação da transparência de que fala o ex-vice-presidente do Constitucional fica também patente no facto de o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais se ter recusado a fornecer aos candidatos que lhos pediram os pareceres preliminares do júri, documentos em que os jurados analisam de forma detalhada as características de cada candidato. 

... os candidatos foram assim obrigados a recorrer a tribunal para obterem os pareceres. Também aqui o conselho saiu derrotado, com o Supremo Tribunal Administrativo a obrigá-lo a entregar os documentos.

O facto de o júri estar na posse das candidaturas que lhe foram apresentadas na altura em que modificou os critérios, com o risco de ter podido adaptar regras por forma a favorecer ou prejudicar determinados concorrentes, constitui a razão da anulação. E o facto de se ignorar se houve efectivamente fraude não é, para Pedro Machete e os colegas, determinante: basta a suspeita de que possa ter sucedido para abalar a confiança no procedimento.

o Supremo diz que a melhor solução passa por nomear um novo júri “sem preconceitos e de espírito aberto”. Como se o processo que se desenrolou até aqui nunca tivesse existido. “À administração não basta ser imparcial, exigindo-se-lhe também que apareça como imparcial, tendo em vista evitar práticas susceptíveis de afectarem a imagem pública de imparcialidade”, pode também ler-se no acórdão, que considera que neste caso esse risco foi exponenciado pelas más práticas do júri.

June 06, 2024

DDT, Pinho e Pinho condenados - foram dados como provados 1030 (!) factos da acusação

 


1030! Pela primeira vez um governante é condenado por actos ilícitos enquanto governante. Isto é um marco importante para a justiça portuguesa e para a confiança dos cidadãos na justiça e no Estado de Direito.


EDP: Manuel Pinho condenado a dez anos de prisão efectiva


Ricardo Salgado foi condenado a seis anos e três meses de prisão e Alexandra Pinho a quatro anos e oitos meses de prisão, suspensa por igual período. Foram dados como provados 1030 factos da acusação.


O ex-governante foi ainda condenado a pagar ao Estado cerca de 4,9 milhões de euros. Já a mulher do antigo governante, Alexandra Pinho, foi condenada a 4 anos e 8 meses de prisão, suspensa por igual período, pelos crimes de fraude fiscal e de branqueamento, enquanto o ex-banqueiro, Ricardo Salgado, foi condenado a 6 anos e 3 meses de prisão efectiva, por dois crimes de corrupção activa para acto ilícito, um crime de branqueamento. Por lei as penas superiores a cinco anos não podem ser suspensas.

Para a juíza ficou provado o "pacto corruptivo" entre Pinho e Ricardo Salgado, para que o primeiro, enquanto ministro de Economia, viesse a favorecer os interesses do Grupo Espírito Santo (GES) entre 2005 e 2009. “Manuel Pinho actuou sempre pelo interesse do BES/GES e não pelo interesse público”, sustentou.

Foi dado como provado que o ex-governante recebeu dinheiro da ES Enterprises, nomeadamente cerca de 4,9 milhões de euros, que ocultou em offshores, com o conhecimento da mulher, enquanto exercia funções no Governo.

A magistrada sublinhou que Pinho "mercadejou" o seu cargo. "Sabia ainda o arguido Manuel Pinho que ao aceitar as vantagens pecuniárias que não lhe eram devidas mercadejava com o cargo público, pondo em causa a confiança pública", afirmou, sublinhando que o ex-banqueiro e o ex-governante "sabiam que lesavam a imagem da República e atentavam contra a confiança do cidadão" com os actos que praticaram.

“As justificações apresentadas pelo arguido Manuel Pinho, entendeu o tribunal, são inverosímeis, incoerentes e ilógicas. Manuel Pinho apresentou justificações apenas enquadradas numa realidade virtual. O arguido Manuel Pinho procurou normalizar e branquear as quantias recebidas pelo BES", afirmou a magistrada que, pelo menos, no que diz respeito à pena aplicada ao ex-governante foi mais além do que pediu o Ministério Público (MP).

O que é relevante do nosso ponto de vista nestes crimes é a censura criminal. Não são crimes de impulso. São crimes ponderados, de estratégia económica e de risco. Neste caso, é relevante uma pena que tem de garantir a censurabilidade e que o crime não compensa", afirmou o procurador Rui Batista, para justificar as penas pedidas nas alegações finais do julgamento.

Para o MP, o facto de o ex-ministro da Economia ter recebido 500 mil euros dois meses depois de entrar para o Governo, e depois 15 mil euros por mês durante quatro anos, era prova de um pacto corruptivo com Ricardo Salgado.

https://www.publico.pt/ (excertos)


May 24, 2024

Um país nauseabundo

 

Porque está nas mãos de quem empesta o ar. O país está sequestrado por Sócrateses, miméticos e patéticos - estes últimos são os respeitáveis que se prestam a assinar qualquer coisa, na companhia de qualquer corrupto ou facilitador de corruptos.

O país é desta gente e nada lhes chega. Também querem a Justiça aprisionada para poderem pôr 500 recursos e nunca ter de responder por nada. 

Entretanto, aqui os palhaços que trabalham no duro, são roubados de anos de trabalho e depois andam 20 anos a discutir e negociar umas merdas de umas migalhas sem nunca fazerem justiça e sempre com ofensas pelo meio enquanto se regalam com aumentos e retroactivos e manifestos de, 'Aqui-d'el-rei que sou uma vítima, porque não posso ser uma auto-estrada de cunhas sem que me chateiem, a mim e ao meu parceiro que esconde dezenas de milhares de notas vivas no meu gabinete no meio do vinho - o meu gabinete de trabalho está cheio de vinho...'. 

Temos um país nauseabundo.

Estou a trabalhar a Filosofia Política com os alunos e estamos a estudar a Teoria da Justiça de John Rawls. Hoje expliquei o que significa um Estado de Direito, a importância das leis, da independência dos orgãos de soberania e de todos, sem excepção, estarem obrigados ao cumprimento da lei. Como, sem essas garantias, não somos livres, mas constrangidos pela força de pessoas com poder. 

Também reflectimos sobre a ideia da Justiça Retributiva e porque é que a questão da desigualdade social é tão importante para a questão do Estado de Direito. Porque é que ter uma sociedade mais justa e menos desigual, beneficia até o milionário, apesar de isso significar que não consegue uma tão grande acumulação de riqueza e poder. 

Farto-me de dar exemplos de como os legisladores e os outros orgãos de soberania estão na origem das leis que afectam directamente as suas oportunidades de poderem concretizar um projecto de vida e de terem uma vida decente e não de escravatura, de como têm de estar por dentro dos assuntos políticos e serem intervenientes para não serem apenas recipientes passivos da vontade dos outros. Espero que alguma coisa lhes fique e que as pessoas mais novas quebrem estes ciclos viciosos de políticos que vivem em circuito fechado a comer 120 mil milhões por ano, sem nenhum escrutínio e contra todo a responsabilização.




May 15, 2024

Versão americana do 'manifesto dos 50'

 


Just saying...


Pessoas que fazem a diferença

 

A quantidade e a qualidade, em termos de importância, dos casos atribuídos ao juiz Carlos Alexandre, nos 20 anos em que esteve no Ticão, é verdadeiramente impressionante. Não apenas impressiona a sua capacidade de trabalho, mas também a sua independência, pois todos eles são casos em que teve de aguentar a pressão, cheia de poder e influência, dos visados.

- Caso “BPN” (processo principal);
- Caso “Portucale” (BES - Sobreiros);
- Caso “Universidade Independente”;
- Caso “Submarinos – Contrapartidas Man Ferrostall”;
- Caso “Face Oculta”;
- Caso “Remédio Santo – Fraudes na saúde”;
- Caso “Vistos Gold”;
-Caso “Furacão – Finatlantic”;
- Caso “TOP SECRET” (Espião SIS - Carvalhão Gil);
- Caso “Operação Aquiles”;
- Caso “Monte Branco – Akoya”;
- Caso “Universo GES”;
- Casos “Portugal Telecom”;
- Caso “Operação Húbris – Tancos”;
- Caso “Biometrics – SLN” (Dias Loureiro);
- Caso “Freeport”;
- Caso “Parque Escolar”;
- Caso “EDP” (Manuel Pinho);
- Cado “ENJI” (Barragens EDP);
- Caso “António Preto”;
- Caso “Isaltino Morais”;
- Caso “Avaliação de Árbitros da Federação Portuguesa de Futebol” (Apito Dourado);
- Caso da “Rede de contrabando de tabaco”;
- Caso “Privitera” (Burla às OGFE – 90 milhões de euros);
- Caso “João Caldeira – Barcos Expo98”;
- Caso “Raffaelle Cifronne” (Máfia Italiana);
- Casos “Franklim Lobo” (tráfico de droga);
- Casos “Ricardo Campos Cunha” (Irregularidades no STJ)
- Caso “Príncipe da Tasmânia” (burlas);
- Caso “Casamento Indostânicos”;
- Caso “CTT” (corrupção nas alienações);
- Caso Operação Furacão (processo principal);
- Caso “John Evans” (toneladas de haxixe);
- Caso “Burlas ADME” (Exército);
- Caso “Burlas Páginas Amarelas”;
- Caso “Burlas e Casamentos Brancos – Gondomar”;
- Caso “Von Key” (raptos e extorsões);
- Caso “James Ross” (extorsão, tentativa de homicídio e sequestro);
- Caso “Marcos de correio CTT” (burlas com vales postais);
- Caso “Roubos ATM’s”;
- Caso “Megafinance” (burlas e falsificação de documentos, extorsões);
- Caso “Macias Nieto - El Doctor” (Droga com USA);
- Caso “BPP – Banco Privado Português”;
- Caso “BPP – Privado Financeiras”;
- Casos “João Álvaro Dias” (fraudes com sentenças de Tribunal Arbitral);
- Caso “Furacão – Marina Mota”;
- Caso “Finibanco”;
- Caso “Fraude nas farmácias”;
- Caso “LEXSEGUR – Leiria” (tráfico de droga);
- Caso “Paulo Cristóvão” (roubos);
- Caso “SPDE – Segurança Privada ilegal”;
- Caso “Money One” (transporte internacional de dinheiros ilícitos);
- Caso “Operação Glamour” (fraudes em ouro);
- Caso “Rota do Atlântico” (José Veiga, Santana Lopes…);
- Caso “Besa”
- Caso dos “Voos da CIA – transporte de detidos para Guantanamo”;
- Caso “ETA – Óbidos” (explosivos);
- Caso “Fraudes na obtenção de subsídios – AIMINHO”;
- Caso “SWAPS”;
- Caso “Câmara de Portimão”;
- Caso “Betex” (cripto moedas);
- Caso “Banif”;
- Caso “Banco Finantia”;
- Caso “BPN Investimentos – Carlos Marques”;
- Caso “Apito Dourado”;
- Caso “João de Sousa – Ex Policia Judiciária” (fraudes);
- Caso “ACP” (fraudes em exames de condução
- Caso “Operação NET” (roubos em ATM´s);
- Caso “Bento Kangamba”;
- Caso “Hammer Skin”;
- Caso “Edimo” (Manuel Vicente);
- Caso “Aprígio Santos – Figueira da Foz”;
- Caso “Tecnoforma”;
- Caso “Álvaro Sobrinho” (BESA);
- Caso “Grumberg e Fundbox”;
- Caso “PPP’s Parcerias Público privadas” (Scuts);
- Caso “BPN – Homeland” (Duarte Lima);
- Caso “Cartão Vermelho” (Luís Filipe Vieira e outros);
- Caso “Isabel dos Santos (Rogatória PGR Angola e processos conexos V.G. EFACEC; ZOPT; NOS);
- Caso “NATA II e Projecto Viriato / Novo Banco” (António Ramalho);
- Casos “ANGOLA – SONANGOL”;
- Casos “Camara Municipal de Lisboa – Tutti Frutti / Manuel Salgado, Fernando Medina e outros;
- Caso “ALTICE – BM Consulting”;
- Caso CGD (fraudes e corrupção – Joe Berardo e outros);
- Caso “Mortagua”;
- Casos de Futebol diversos – corrupção;
- Casos DAESH – Terrorismo – Tazi;
- Caso “Mail’s do FCP – Porto Canal”;
- Caso “Russia / GAZPROM” (branqueamento de capitais e corrupção);
- Caso “Freeport”;
- Caso “Operação Marquês”;
- Caso “Pedro Chiang” (Macau);
- Caso “Mário Machado”;
- Caso BPN (casos Arlindo Carvalho e José Neto);
- Caso BPN (Inland – Luis Filipe Vieira);
- Caso BPN (Mota Engil);
- Caso BPN (Manuel Azinhais Nabeiro / Delta).
- Caso “Operação Ajuste à Medida” – João Rosado Correia e outros).

May 06, 2024

Que reforma da Justiça? Uma reforma alfaiate, feita à medida dos políticos?



Uma reforma da justiça para todos ou só para alguns?


António Ventinhas

Na semana passada, um grupo de 50 pessoas apresentou um manifesto que pugna pela reforma da justiça. Nesse documento, apela-se a um sobressalto cívico que leve a que os responsáveis políticos assumam as suas responsabilidades e definam como prioridade a realização de uma verdadeira reforma da justiça. Nesta matéria, todos os operadores judiciários estão de acordo. Porém, da leitura do manifesto percebe-se uma motivação que não tem um carácter geral e abstracto, mas que se encontra directamente relacionada com dois inquéritos, ainda em investigação, sendo certo que alguns dos subscritores têm como objectivo influenciar o desfecho dos mesmos.

Para além disso, na minha opinião, o manifesto não se foca nos verdadeiros problemas da justiça que afectam todos os cidadãos, mas centra-se essencialmente nos processos de algumas pessoas que exercem cargos políticos. Se o documento referido se preocupasse realmente com o tratamento digno dos cidadãos, não poderia ter olvidado a situação existente em alguns estabelecimentos prisionais portugueses.

A morosidade do sistema judicial é o principal problema que afecta quem necessita de uma decisão rápida para resolver aspectos essenciais da sua vida pessoal ou profissional. A dificuldade no recrutamento de oficiais de justiça, de magistrados e de polícias irá agravar esta realidade a curto prazo. Neste momento, há milhares de inquéritos parados por não existirem funcionários em número suficiente, mas o que interessa para algumas pessoas é que apenas dois ou três inquéritos andem rapidamente. O cidadão comum é sempre esquecido, por ele ninguém se sobressalta. O mesmo bem clama por uma decisão rápida, mas o Estado teima em não lhe dar resposta, por não alocar os meios financeiros suficientes para o efeito.

O manifesto assenta numa ideia de que a actividade do Ministério Público, designadamente aquela que pode interferir mais directamente com os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, não tem qualquer controlo externo. O legislador definiu, claramente, que, na investigação criminal, todos os actos mais intrusivos têm de ser previamente autorizados por um juiz de instrução criminal, ou seja, em Portugal, as intercepções telefónicas e buscas domiciliárias dependem de uma autorização de um juiz, entidade externa ao Ministério Público. A aplicação das medidas de coacção mais gravosas do que o Termo de Identidade e Residência também são aplicadas por um juiz, tal como sucede relativamente a outras matérias, como, por exemplo, a apreensão de contas bancárias.

Como é do conhecimento público, algumas das promoções efectuadas pelo Ministério Público não são acolhidas pelos juízes de instrução criminal, o que evidencia o controlo judicial, externo. O que alguns pretendem é substituir o controlo judicial da actividade do Ministério Público, por um controlo político externo que também se estenderia à magistratura judicial. Por essa razão, há quem defenda que a senhora procuradora-geral da República deveria ir ao Parlamento prestar contas relativamente a dois inquéritos recentes que ainda se encontram a ser investigados, esclarecendo, inclusivamente, alguns aspectos dos mesmos. Esta visão é própria dos tempos antes de 25 de Abril de 1974, em que o Ministério Público era controlado politicamente e em que recebia ordens para não prosseguir determinadas investigações que pudessem afectar determinadas personalidades do regime.

Questão diferente é saber se o procurador-geral da República deveria ter uma presença mais assídua no Parlamento, dando conta regularmente da actividade da instituição e dos seus problemas, bem como sugerir formas de melhorar a legislação e o sistema de justiça. Neste caso, a minha resposta é necessariamente afirmativa. Aliás, o momento próprio para a audição da actual procuradora-geral da República deveria ser no final de Setembro ou início de Outubro deste ano, por forma a mesma fazer um balanço do seu mandato e enumerar os desafios que se colocam ao próximo titular do cargo.

Por último, alguns dos subscritores do manifesto supra-referido têm pedido, insistentemente, a demissão da procuradora-geral da República. Tal acção não visa essencialmente a titular do cargo, que se encontra quase a terminar o seu mandato, mas sim condicionar toda a actividade do Ministério Público no futuro. A partir do momento em que um procurador-geral da República for demitido por investigar titulares de cargos políticos, o combate à corrupção acabou em Portugal.


May 05, 2024

"A não ser que se pretenda algo mais, desejo inconstitucional de transformar o MP em magistratura subordinada ao poder político, como já o foi na noite longa da ditadura"




A responsabilização da PGR

Cândida Almeida

A crítica aceitável e até saudável, em democracia, ao modo de comunicação e de actuação da Sra. Procuradora-Geral da República, a propósito de duas investigações em segredo de justiça, rapidamente evoluiu para uma surreal e inaceitável pressão sobre o que deveria a mesma fazer publicamente. Propondo uns e exigindo outros a sua presença na AR para dar explicações sobre as eventuais falhas processuais cometidas pelo MP naqueles processos. Perplexa, constato a falta de solidariedade institucional, do respeito devido pela divisão de poderes, pela necessária cooperação entre os vários órgãos de soberania, organismos e instituições do Estado. A PGR tem sido alvo de ataques concertados e continuados, sem qualquer filtro na linguagem ou resguardo democrático.

A PGR não tem qualquer dever ou obrigação de se sujeitar a quaisquer interrogatórios na AR pelos senhores deputados. Os interlocutores da PGR são exclusivamente o presidente da República e o/a ministro/a da Justiça. É o que resulta da CRP e do estatuto do MP. Aliás, o Sr. Presidente, no dia das buscas e apreensões no âmbito do Processo Influencer, chamou a Belém a PGR, com a qual conferenciou durante algum tempo. Presume-se que não foi uma mera visita de cortesia... Se dúvidas persistem dessa conversa, é ao Sr. Presidente que compete convidá-la de novo para actualização de eventuais informações “genéricas”, sem ultrapassar o limite ético e legal da autonomia do MP e do segredo de justiça.

Por outro lado, a ministra da Justiça pode igualmente inteirar-se, genericamente, do estado e evolução da justiça, quer em audiência privada, quer estando presente no Conselho Superior do MP, órgão máximo de gestão e disciplina daquela magistratura, e no qual têm assento membros eleitos pela AR e membros nomeados pela ministra da Justiça. Estes elementos exteriores à magistratura têm o poder de colocar as questões que entenderem à presidente daquele órgão, a PGR. É perante estas entidades que a PGR terá de fornecer os elementos que não sejam passíveis de violar a autonomia da investigação.

Por outro lado, a PGR termina o seu mandato em Outubro próximo, pelo que se não vislumbra qual o interesse de alimentar uma chicana judiciária. Sendo certo que houve consequências políticas da actuação do MP, acobertado pela hierarquia máxima, não se pode julgar por um acto o trabalho desenvolvido todos os dias pelos magistrados, com arquivamentos, acusações e condenações em milhares de processos que correm termos nos tribunais.

A não ser que se pretenda algo mais, desejo inconstitucional de transformar o MP em magistratura subordinada ao poder político, como já o foi na noite longa da ditadura. Investigar ou não, acusar ou não, quem o poder executivo quiser é objectivo que não consta da CRP, democrática e progressista. O tempo não volta para trás. A recente festa do 25 de Abril demonstrou que, como já foi repetidamente dito, mais vale uma democracia com defeitos do que uma ditadura.

May 03, 2024

Assim não vamos lá



Um grupo de 50 personalidades de diversos quadrantes fez na quinta-feira um apelo ao Presidente da República, Governo e parlamento para que sejam tomadas iniciativas que, respeitando a independência dos tribunais, a autonomia do Ministério Público e as garantias de defesa judicial, sejam resolvidos os "estrangulamentos e das disfunções que desde há muito minam a sua eficácia e a sua legitimação pública".

Assinam a petição, entre outros, os ex-presidentes do parlamento Augusto Santos Silva, Ferro Rodrigues e Mota Amaral, os anteriores líderes do PSD e do CDS, Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos, os ex-ministros Leonor Beleza, David Justino, Fernando Negrão, António Vitorino, José Vieira da Silva, António Barreto, Correia de Campos, Alberto Costa, Pinto Ribeiro, Maria de Lurdes Rodrigues e o ex-presidente do Tribunal Constitucional João Caupers.

O almirante Melo Gomes e o general Pinto Ramalho, o ex-governador do Banco de Portugal Vitor Constâncio e a professora catedrática de Direito Penal Teresa Pizarro Beleza subscrevem também o documento, tal como Isabel Soares, Manuel Sobrinho Simões, Álvaro Beleza e os sociais-democratas Paulo Mota Pinto, André Coelho Lima e Pacheco Pereira

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Quem não está preocupado com o estado da Justiça, quem não está preocupado em que sejam resolvidos os estrangulamentos e das disfunções que desde há muito minam a sua eficácia e a sua legitimação pública?

O governo PS de Costa/Centeno/Medina fizeram "as contas certas" às cegas, como diz um amigo meu e, digo eu, à custa da destruição das instituições que alicerçam as democracias; a Justiça, a Administração Pública e a Educação.

O meu problema está com as pessoas que constam desta lista, uma mistura de pessoas respeitáveis e por quem tenho estima cívica porque me parecem pessoas de boas intenções e acções, mesmo que por vezes discorde delas, mas também pessoas que se gabam de "se estar a cagar para o segredo de justiça", pessoas traficantes de influências que várias vezes tentaram manipular a justiça a favor de corruptos, facilitadores de negócios que gostariam de pôr a pata na justiça ao modo do caçador e promíscuos com grandes corruptos que tentaram e tentam cooptar a justiça, o que os torna, a meu ver, coniventes com os malfeitores.

Que mérito e credibilidade tem este comunicado com estas pessoas lá incluídas (e outras que não sei quem são porque não dizem no jornal), em fazer críticas ao MP? Zero credibilidade.

Enquanto os políticos neste país não tiverem coragem de se distanciar dos seus colegas traficantes de influências ao serviço de lobbies, dos corruptos, dos facilitadores de negócios, dos imorais, dos que tentaram manietar juízes ou foram coniventes com esses, não vamos lá.

Certas pessoas desta lista de quem tenho boa impressão como políticos e figuras públicas baixaram um bocado no crédito que lhes atribuía porque pergunto-me: então aliam-se a qualquer um para fazer número? O número de pessoas que assinam as listas é que interessa? O passado prevaricador e o carácter imoral dos seus colegas de assinatura é um pormenor irrelevante? Ou será que pensam não fazer diferença quem faz pressão sobre o MP? Será que pensam que ser prevaricador e conivente de corruptos de alto coturno é um problema menor?

Qual é o passo seguinte? Sugerir que estes prevaricadores façam parte de um comissão para a reforma da justiça?

Enquanto o espírito de clube e a a cobardia da conivência dos políticos relativamente aos seus colegas prevaricadores se sobrepuser ao interesse pela Justiça, não vamos lá, porque o que fica aqui dúbio é a intenção com que alguns da lista pedem a cabeça da PGR.

March 24, 2024

Poder judiciário em Portugal - uma sugestão de uma cidadã preocupada

 


Fui à procura do número de estudantes portugueses em Erasmus e da porcentagem de alunos do curso de Direito entre eles. Nada. A Universidade Portucalense - Infante D. Henrique - tem esses dados publicados na sua página. De resto, não encontrei nenhuma informação significativa.

Queria saber, tendo em conta que o curso de Direito, ao contrário dos outros em geral, é muito fechado na realidade portuguesa, se esse fechamento não era contrariado com um elevado número de alunos universitários a usarem o programa Erasmus para alargarem a mente e os horizontes culturais. 

Por vezes, quando digo aos meus alunos que não podem, não aprender a ser proficientes numa língua estrangeira, sobretudo o inglês e que logo no 1º ano da minha licenciatura tive que aprender a ler fluentemente inglês, francês e espanhol, sob pena de não passar nenhuma cadeira, eles respondem que não precisam porque querem estudar Direito que é um curso onde se estuda a Lei Portuguesa. Para além disso não ser inteiramente verdade, porque o Direito Comunitário existe, acresce que ficar restrito a estudos portugueses de Portugal é muito limitador e cria atavismo cultural - um certo provincianismo.

Até há uma dúzia de anos ainda era obrigatório que os alunos que queriam seguir direito tivessem que estudar o 12º ano de Filosofia, porque a doutrina do Direito não veio do nada, está construída em pressupostos filosóficos. Isso dava aos estudantes uma visão universal e supra-temporal do Direito, mas agora não é preciso estudar coisa nenhuma para coisa alguma... Nem latim já estudam, apesar da nossa língua estar construída sobre o latim e o Direito ser um ofício linguístico.

A mim parece-me que a condenação da liberdade de expressão de Pedro Arroja (ver no post anterior e de ontem), bem como o desmerecimento que muitos juízes portugueses têm do TEDH, se enquadra num certo provincianismo de ideias, de cultura. Daí querer saber quantos estudantes de Direito fazem Erasmus em outros países europeus e têm contacto com outras ideias acerca do exercício da liberdade de expressão, da justiça e dos Direitos Humanos.

No Portal do Governo há uma alusão pouco clara ao relatório da Comissão Europeia de 2010 sobre o programa Erasmus. Procurei na Pordata, não encontrei. Perdi algum tempo a procurar informação nos sites das universidades mas o que encontrei foram alguns dados particulares e dispersos.

No Portal do Governo encontra-se o número de estudantes a frequentar o ensino superior português em 2022-23: 446 028, sendo que quase 50 mil são estrangeiros. Portanto, há cerca 400 mil alunos portugueses a frequentar o ensino superior. 

Fui ao ver quantos estudantes portugueses usam o programa Erasmus no relatório anual Erasmus + 2022 da Comissão Europeia. No relatório, na parte dedicada a Portugal vemos que cerca de 36.500 estudantes usaram o programa em 2022. Não há dados sobre que cursos mais frequentam o programa, embora saibamos que o Ministério do Ensino Superior tem esses dados. Não sei se não os fornecem ou se nem querem saber do assunto.

clicar na imagem para ir directamente à página do relatório

Tendo em conta os cerca de 400 mil estudantes do ensino superior em Portugal, este número de 36.500 estudante em Erasmus, não chega a 10%. Dado que somos um país periférico e atrasado em muitas dimensões, relativamente a outros cuja vida é um constante intercâmbio com os seus muitos vizinhos de fronteira, é muito pouco. Sobretudo se olharmos os benefícios que os participantes do programa Erasmus em geral atribuem a essa estadia em instituições/países estrangeiros:

Como pode ver-se, entre os ganhos com maior valor contam-se, a apercepção cultural (essa consciência de estarem inseridos num todo cultural muito mais vasto e variado que a realidade portuguesa), o desenvolvimento da competência em geral e de competências particulares de, cidadania, pessoal e social.

A que propósito vem isto tudo? A mim preocupa-me o caminho da justiça em Portugal, nomeadamente no que respeita a este desprezo que muitos juízes têm com os Direitos Humanos e o Tribunal Europeu dessa instância, ao ponto de não ser incomum esse tribunal reverter sentenças de tribunais portugueses e repreender os juízes por essa desconsideração de direitos universais de cidadania. 

Parece-me que seria de valor obrigar os estudantes portugueses que concorrem para juízes a fazerem uma formação em Direitos Humanos, não só do ponto de vista jurídico, mas do ponto de vista filosófico e também a fazerem um estágio no TEDH. Custa dinheiro? Pois custa, mas se queremos ter uma justiça de qualidade sem a qual a democracia não existe a não ser perfunctoriamente, tem que investir-se nela. É esta a minha sugestão.