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March 08, 2024

da sala de professores

 

Hoje falava-se na impossibilidade de os alunos fazerem exames em formato digital com os computadores emprestados, como o ME quer. É que os alunos, quando mudam de escola, são obrigados a devolver os computadores. Na escola seguinte, voltam a pedir computadores. Acontece que, como já passaram uns anos desde que os computadores chegaram às escolas, quando esses alunos pedem um computador na nova escola, já só há computadores usados por outros e fora do prazo da garantia. Resultado: os pais recusam esses computadores, autênticos presentes envenenados. Portanto, o ME vai obrigar os alunos a receber computadores nestas condições? Não me parece que o possa fazer.

A meio da manhã entraram na sala de professores alguns homens da junta de freguesia, de um certo partido político. Vinham com cravos vermelhos e um marcador de livro com um poema que li por alto e que dizia algo como, 'mulheres, sejam livres mas humildes, o 25 de Abril e tal...'. Saí dali a correr antes que me entregassem flores e poemas a apelar a que seja humilde, para não dar uma resposta torta e dizerem que tenho mau feitio. É que apeteceu-me dizer, que passados 50 anos do 25 de Abril, ganhamos quase 250 euros a menos que os homens e que agradeço que me devolvam os 6 anos e meio que trabalhei, com um salário digno da importância da profissão. Eu depois trato de comprar as minhas flores.


September 22, 2023

Ouvido há meia-hora

 


Colegas de educação física a dizerem que de ano para ano os alunos vêm mais incapazes de fazer qualquer exercício de educação física. Total falta de elasticidade do corpo, qualquer coisa fazem logo entorses, não são capazes de fazer uma cambalhota, subir um espaldar, total descoordenação de movimentos, correm um bocadinho ficam logo cansados, etc. Falam muito de saúde, de alimentação saudável, de exercício e isso, mas depois passam os dias sentados em frente ao computador, a PSP, o telemóvel e não tem actividades físicas.


October 25, 2022

Obstáculos

 

Estou aqui há uma hora à procura de um teste, online, gratuito, para adolescentes terem noção dos seus pontos fortes e pontos fracos em várias dimensões. Ontem, numa das turmas do 11º ano, a propósito da questão, «quem é que decide que uma obra é arte?» fomos parar à questão do sentido da existência e os alunos disseram que não fazem ideia de qual seja o sentido da sua existência até porque nem sabem ao certo quem são e o que querem. Perguntaram-me qual é o sentido da minha existência. Interpretei a pergunta como uma questão acerca dos critérios que uso para qualificar o que dá sentido à existência e em vez de responder perguntei-lhes se têm uma ideia dos seus pontos fortes e pontos fracos em várias dimensões. Têm até certo ponto, mas de modo difuso. Então, disse-lhes que ia procurar uns testes online que pudessem fazer para conhecerem-se melhor, porque isso não faz parte das aulas de filosofia nem eu tenho tempo curricular para isso. É por isso que estou aqui a procurar um ou dois testes básicos que sejam sérios, apropriados para adolescentes e cujos resultados eles possam interpretar sozinhos. Bem, há pouquíssimos, os que há são quase todos a pagar e em inglês.

Tanta gente que manda bitaites sobre educação e não há ninguém que desenvolva um conjunto de testes básicos que os alunos possam usar, sozinhos, quer dizer, cujos resultados sejam acessíveis sem que tenham de recorrer a outros para perceber, para irem medindo a sua evolução em várias dimensões. Há uns anos fiz um teste de atitudes face ao estudo, ao trabalho escolar e ao empenhamento na sala de aula que dou aos alunos no início do 10º ano e digo que devem fazer de seis em seis meses, por exemplo (e pelo menos, até ao 12º ano), para verem onde estão a progredir e o que precisa de ser melhorado. De vez em quando melhoro-o. Só que fazer um teste de temperamento e traços de carácter psico-social, exige conhecimentos especializados de psicologia que não tenho e nestas coisa da psicologia quando não sabemos é melhor ficarmos calados para não fazer estragos em pessoas em idades impressionáveis.

A falta de recursos em português em muitas dimensões da vida adolescente é um grande obstáculo para se poder ajudar os alunos.


June 02, 2022

É urgente uma campanha de esclarecimento aos pais

 


Só acredita nas palavras do nosso ministro da educação quem anda mesmo a leste do que se passa na educação e só a conhece dos títulos dos jornais.

Tenho notado que, apesar dos triunfalismos do ministro quando diz que agora todos pensam criticamente, os alunos, em geral, têm cada vez menos capacidade de concentração continuada. Se têm de ler um texto de uma página para fazer um trabalho qualquer, desanimam antes mesmo de começar porque não conseguem concentrar-se tanto tempo. 

Estão habituados a ler na internet frases curtas e a saltar de assunto em assunto, não completando nunca um raciocínio complexo, uma argumentação com fundamentação, um discurso de dissertação sobre um tema, uma descrição pormenorizada. A maior parte das avaliações escolares são de preenchimento de espaços e identificação de palavras ou construção de definições curtas, decoradas. Não têm nenhuma experiência de terem que discorrer sobre um tema de modo coerente, objectivo, fundamentado e completo, tendo de relacionar conceitos, encadeá-los numa arquitectura, já nem digo elegante, mas pelo menos robusta.

Como consequência, quando chegam às aulas e ao trabalho escolar, não sabem pensar porque nem sequer são capazes de seguir um raciocínio complexo e isto advém de não terem hábitos de concentração continuada.

Reparo que a esmagadora maioria não consegue sequer concentrar-se para ver um filme, o que até há uma meia-dúzia de anos lhes era muito fácil. Pois agora não é, talvez por estarem habituados a consumir exclusivamente vídeos do YouTube que não requerem mais do que dez ou quinze minutos de atenção continuada. Ao fim de vinte minutos de filme já estão cansados de tomar atenção.

Há pouco tempo comentava isto com uma turma e explicava-lhes -mais uma vez- os benefícios de aumentarem o seu poder de concentração e os prejuízos de não o fazerem - para ver se conseguia convencê-los a ler um livro. A certa altura disse, 'qualquer dia também deixam de ser capazes de ver um jogo de futebol inteiro e só vêem os resumos'. Diz uma aluna, 'Não é qualquer dia. Eu não consigo ver um jogo inteiro. É muito tempo. Às vezes vejo a primeira parte e depois espero que o resumo caia no YouTube e vou ver os golos e as jogadas mais importantes'. Confesso que fiquei estupefacta porque tinha dito aquilo meio a brincar. 

Era preciso haver uma campanha de esclarecimento aos pais (e ao ministro da educação que tem um pensamento infantil, do tipo mágico) que, calculo, não fazem ideia de como deixarem os miúdos nos telemóveis e internet logo desde muito novos lhes estragam as capacidades de concentração, de aprendizagem da complexidade da língua e portanto, de raciocinar e pensar.

Depois saem relatórios do IAVE a dizer que os alunos não sabem pensar. Isso de saber pensar, ponderar e criticar é um processo longo que leva tempo a aprender e interiorizar e que se alcança através de outros processos que o ministro tirou da aprendizagem escolar para que todos possam passar mesmo sem saber nada, para ele ficar bem no cozido à portuguesa das estatísticas nacionais.

texto também publicado no delito de opinião


May 31, 2022

Questões geracionais

 


Aquela questão das mulheres que têm endiometrose e o embaraço dos deputados com a questão da menstruação? É uma questão geracional. De há uns anos para cá repara-se que muita coisa mudou nos jovens. Hoje-em-dia acontece estarmos na aula e uma aluna levantar-se para ir à casa-de-banho depois de pedir autorização e dizer em voz alta, 'Alguém tem um penso que me empreste?' E outra qualquer dizer que sim, tira um penso higiénico da mala e dá-lhe e lá vai ela com o penso na mão. Ninguém quer saber. Nem os rapazes olham, nem dizem nada... continuamos o trabalho, como se nada fosse. É uma não-questão. Às vezes, se faltam a uma aula, na aula seguinte dizem, em frente de todos, 'professora ontem estava cheia de dores por causa do período e foi por isso que faltei'. Ninguém quer saber, ninguém liga importância. Essa questão de se achar que as mulheres não deviam falar de isto ou de aquilo é uma questão geracional. Este ano, quando andámos a fazer discussões argumentativas sobre temas de valores, numa das turmas, quem escolheu argumentar o tema do aborto foram rapazes. Dois grupos de rapazes argumentaram esse tema entre si e falaram dos processos biológicos das mulheres, de planeamento familiar e de tudo o que estava relacionado com a sexualidade com a maior das calmas. Não consideram serem temas de mulheres. Isto há uns 15 anos seria muito improvável. Muita coisa mudou nas mentalidades dos jovens no que respeita a temas relativos à sexualidade e aos direitos das pessoas relacionados.


December 16, 2021

dos alunos

 


Mandei os alunos do 10º ano ao quadro. Estamos a dar lógica e o que faz sentido é irem resolver os exercícios ao quadro de maneira que todos possam pôr dúvidas e eu possa esclarecê-las exemplificando. Porém, assim que disse, 'vamos resolver os exercícios em conjunto e, portanto, cada um vem ao quadro com um exercício' houve logo exclamações. Ao quadro? - diz uma, 'já não vamos ao quadro desde o princípio do oitavo ano!Vou ter pesadelos'. Logo outros se seguiram. Expliquei que fazemos aquilo com cuidado e que desinfectam as mãos depois de mexerem na caneta e que mantemos a distância e tal. 'Não é isso professora! É que já ninguém está habituado a estar aí em frente dos outros. E se fazemos o exercício mal?' — se fizerem mal é uma oportunidade de percebermos porque fizeram mal e corrigirmos. Não tem problema nenhum'. 'Ah... não tem problema? Dar barraca?' — 'Toda a gente dá barraca de vez em quando', disse. 'Ah, pois porque a professora já alguma vez deu uma barraca, está-se mesmo a ver' —'Se eu começasse a contar as barracas todas que já dei não saímos daqui.' A turma toda: 'Conte! Conte!'  Ahahah. Caro que não contei e foram todos ao quadro. Expliquei que têm que habituar-se, mais a mais porque a maioria quer ir fazer um curso universitário e não podem chegar à faculdade sem saberem ir ao quadro, apresentar trabalhos, etc.

Enfim, como a turma é muito simpática e dão-se bem uns com os outros, resolveram incentivar-se uns aos outros. Então, foi a primeira ao quadro e começam as raparigas, 'que gira! Que saia tão gira!' — 'Ó meninas, não é apropriado fazer esses comentários', disse eu. 'Professora, somos amigos, temos que ajudar os colegas'. Um aluno fez o sinal da implicação que mais parecia um tornado e disse-lhe, 'mas o que é isso? Escreva lá isso como deve ser'. Começaram logo, 'Professora, está a enervá-lo! Estás muito giro!', diziam eles. Ahahah  Opá, a turma é muito engraçada, sempre bem dispostos. Fizemos os exercícios todos na boa disposição. 


December 14, 2021

O problema da estatística na avaliação de alunos

 


Para poderem vomitar dados estatísticos sobre minudências que em nada ajudam a melhorar as escolas, obrigam os professores a introduzir dados, desdobrados quase até ao número de vírgulas que o aluno distribuiu pelo teste e à cotação atribuída a cada uma dessas vírgulas na classificação final. 

O problema da avaliação de alunos orientada para a produção de folhas estatísticas é que interfere, altera e desvirtua a avaliação pedagógica dos alunos.

Quando tudo se torna um procedimento, o cumprimento do procedimento torna-se o trabalho.

Para que serve a avaliação dos alunos? Serve para, tanto eles como o professor saberem em que ponto estão na sua progressão face aos objectivos propostos.

Um professor corrige o teste daquele aluno a pensar no aluno enquanto pessoa global: a progressão externa, visível na folha de teste e a interna - cognitiva, emocional, de técnicas e competências-  relativamente às avaliações e desempenho anteriores; a adequação das respostas ao trabalho que o aluno faz nas aulas; a progressão na apreensão dos conceitos, o acréscimo de maturidade na solução dos problemas, na linguagem, na sua objectividade, no pensamento discursivo, na capacidade relacional de conceitos, etc. Assinala no próprio teste os erros, de modo a que o aluno entenda o que deve corrigir, bem como os melhoramentos que notou, para que o aluno entenda onde efectivamente progrediu. E no fim da correção anota de uma maneira parcimoniosa o que ele mesmo precisa de fazer ou mudar relativamente aquele aluno, os acertos que tem de fazer em si mesmo para corrigir ou reordenar ou reforçar ou o que quer que seja necessário para melhorar o aluno nas suas várias dimensões, necessárias para atingir os objectivos e, se possível, o seu potencial. 

Muito deste trabalho é interno e não traduzível em dados estatísticos, mas é fundamental.

Este tipo de avaliação-classificação de trabalhos e testes dos alunos não se coaduna com o fanatismo das grelhas minuciosas onde a atenção do professor está toda na discriminação de todos os elementos 'grelháveis'.


November 28, 2021

Uma espécie de resposta a um artigo do DN




O aumento de casos de ansiedade e depressão nos adolescentes em idades entre os 15 e os 19 anos (é desse que falo, dos outros não sei) vem-se notando já há bastante tempo. Anos. As dificuldades económicas destroem o sistema imunitário das famílias e são um grande acelerador de todos os problemas da vida contemporânea. Acresce a falência dos serviços públicos que lhes prestam auxílio e apoio e que as deixam sozinhas. A pandemia agravou-os a todos, naturalmente. Os pais andam eles próprios em grande ansiedade e respondem à ansiedade e normal perturbação da adolescência dos filhos com mais ansiedade, o que infunde insegurança nos miúdos e ainda mais ansiedade. O futuro agora é ainda mais incerto o que cria ainda mais inseguranças e ansiedades.

Nós professores só nos damos conta de que algo está mal se os próprios alunos, os pais ou os colegas nos dizem ou se o aluno muda de repente o seu comportamento de forma notória, caso contrário, é muito difícil perceber porque os exemplos que aqui são dados -tristeza, medo, preocupação, culpa, raiva, vergonha, ansiedade, alterações de humor, pensamentos negativos, autocrítica e baixa perceção de controlo e eficácia, dificuldades de atenção e concentração, alterações na memória e dificuldade em tomar decisões- são mais ou menos comuns na maioria dos adolescentes e quando são em grau e intensidade preocupante não os vemos porque eles os escondem e as aulas não são locais onde estamos em conversa sobre sentimentos de modo que essas coisas surjam. 

A adolescência é um tempo de rupturas e perturbação e não por acaso é nela que surgem a maioria das doenças mentais.

As aulas são locais de trabalho. Uma pessoa está tão concentrada em ver se está a cumprir o plano da aula que tem na cabeça e a ver quem é que está a acompanhar, a testar feedback e a fazer ajustes e as mil coisas que é preciso atender durante uma aula, que não está focado nas emoções dos alunos. Ou as explicitam, de modo claro no comportamento, ou passam despercebidas. Bem, talvez sendo mais novos não consigam disfarçar mas na idade em que os apanho, conseguem muito bem. Mais ainda agora que andam todos de máscara.

Os miúdos, tal como os adultos, ajustam o comportamento para o ambiente em que estão e se entram no gabinete do psicólogo, põem-se em modo vulnerável, mas se entram na sala de aula põem-se em modo profissional, de trabalho. 
Às vezes o tema presta-se a que se façam incursões noutros assuntos e percebe-se qualquer coisa - por exemplo, na sexta-feira, estávamos numa turma a analisar argumentos e a pô-los na forma canónica e um dos argumentos era sobre os críticos do aborto. Um aluno fez um comentário à conclusão do argumento e embora não estivéssemos ali a considerar a justeza da conclusão mas apenas a formalização do raciocínio acabámos por falar um pouco do assunto e deu para perceber o investimento emocional de alguns alunos. Porém, isso são excepções e não a regra. 

Talvez na aula de moral e de cidadania onde os professores falam de outro modo com os miúdos, isso se note mais. No 12º ano, nas aulas de Psicologia, os alunos abrem-se muito porque muitos temas se prestam a isso. Ou sendo-se director de turma, onde falamos mais com os alunos, temos contacto com os pais e estamos por dentro de muitos assuntos que não sendo DT, nem sabemos. 

Os próprios pais não dão por nada. Os miúdos fecham-se nos quartos. Na sexta, perguntei nas turmas se já sabiam que iam ter mais uma semana de férias no Natal e que seria depois compensada no Carnaval e Páscoa. Alguns disseram logo que era uma chatice irem ficar enfiados em casa com os pais e os irmãos mais novos. Outros responderam que iam ficar no quarto toda a semana.

Portanto, na minha modesta opinião, o melhor que podemos fazer é criar um clima de confiança nas aulas com os alunos de maneira que eles saibam e sintam que podem contar connosco se precisarem. Essa tem sido a minha experiência e já este ano aconteceu vieram-me falar de situações e pedir ajuda o que é um bom sinal. É sinal de já haver confiança. 
Uma coisa boa foi que puseram duas psicólogas clínicas, não sei se educacionais, na escola. Para já estão a trabalhar com os alunos do básico, mas eu tenho uma aluna a quem andava a tentar arranjar um psicólogo e já a encaminhei. Não sei se é só este ano que lá estão, espero que não, porque nós professores, o mais que podemos fazer é ouvir, porque quando se trata de ajudar, no sentido de ensinar estratégias de equilíbrio psicológico, isso tem que ser com profissionais.

Há  características às quais estou atenta porque afectam o rendimento de trabalho dos alunos, como a autocrítica, a baixa perceção de controlo e eficácia, a dificuldade de atenção e concentração, as alterações na memória, a dificuldade em tomar decisões, falta de confiança, dificuldade de conceptualização, de linguagem, escrita e oral, de apropriação de conceitos e outras. Essas vejo-as e sei corrigi-las. As outras, emocionais? Muitas vezes nem dou por elas. Às vezes os alunos namoram com outros da turma e não me apercebo. 

Agora, a ideia que muitos dirigentes, jornalistas e psicólogos têm que as aulas são locais onde os alunos vêm expor os seus problemas pessoais e onde estamos à conversa sobre sentimentos e outras cenas do género, é errada. As aulas são uma hora e meia de trabalho sem parar.


Sinais de mal-estar psicológico nos jovens

Rute Agulhas

Soubemos nesta semana que têm aumentado os pedidos de apoio psicológico em todas as faixas etárias e, em particular, entre os mais jovens. Uma tendência que já se verificava em 2020 e que continua a crescer.

A pandemia e os confinamentos, a escola em casa, o distanciamento social e as limitações que todos conhecemos têm tido um impacto particularmente significativo no bem-estar psicológico dos adolescentes, para quem a integração social e no grupo de pares se assume como uma tarefa de desenvolvimento especialmente relevante. Acrescem as situações de violência no seio da família, o aumento das separações e divórcios, o desemprego, as dificuldades económicas da família, as mortes... eventos stressores que exigem aos mais jovens um conjunto de recursos, internos e externos, nem sempre disponíveis.

Neste contexto, assistimos a um aumento de quadros depressivos e de ansiedade que, embora possam manifestar-se de formas muito diversas, apresentam alguns sinais de alerta que importa conhecer.

Quais são os sinais de alerta a que os pais ou professores devem estar especialmente atentos?

A nível físico, destacam-se as alterações nos padrões de sono (e.g., insónias, sono agitado, pesadelos) e alimentares (e.g., diminuição ou aumento do apetite), a inibição/lentidão de movimentos, náuseas, alterações gastrointestinais, tensão muscular, tremores, dores no corpo, alterações na forma de respirar, alteração no ritmo cardíaco e tonturas. A nível emocional, surgem frequentemente sentimentos de tristeza, medo, preocupação, culpa, raiva, vergonha e ansiedade. Muitos jovens evidenciam ainda alterações de humor ou ataques de pânico. Do ponto de vista cognitivo, observa-se com elevada frequência uma sensação de desesperança e confusão mental, pensamentos negativos, autocrítica e baixa perceção de controlo e eficácia, a par de dificuldades de atenção e concentração, alterações na memória e dificuldade em tomar decisões. Por fim, a nível comportamental, surgem muitas vezes crises de choro, evitamento de atividades que antes geravam prazer e também de novas atividades, incapacidade em lidar com tarefas diárias, comportamentos de maior passividade ou agressividade, isolamento social e comportamentos autolesivos.

Perante qualquer um destes sinais ou sintomas, é fundamental que o adulto consiga escutar e comunicar de forma empática, criando um clima de confiança que permita ao jovem partilhar aquilo que pensa e sente. Depois, importa pedir ajuda especializada, abrindo caminho para um processo de autoconhecimento e mudança que permita um crescimento mais saudável e harmonioso.

November 17, 2021

Gosto das minhas turmas

 


Hoje entreguei testes e nem todos estão positivos, o que é normal, tendo em conta que era o 1º teste de filosofia que alguma vez fizeram, mas é claro que os miúdos que não tiraram positiva ficam desiludidos. No entanto, não os deixei deprimir. Falámos daquele lema, 'ter método de estudo e confiar no processo' e atiraram-se ao trabalho para o próximo teste. Não esmorecem e ficam bem dispostos. Têm sentido de humor. Cansa, mas dá gosto trabalhar com eles.


November 12, 2021

Os alunos e os pais andam stressados e eu culpo o ministro e o SE da educação

 


Tanta conversa histérica que esses dois fazem a toda a hora sobre os alunos estarem todos em perigo por causa do confinamento, que os pais repetem essas parvoíces e andam em pânico. Vamos no meio do 1º período, no 10º ano, que é um ano de início de um ciclo de três e há alunos stressados com pais ainda mais stressados a dizer que não vão conseguir fazer nada, a querer mudar de curso porque tiveram uma negativa a FQ... antes de ontem, ao fim da tarde, quando cheguei à porta da sala de aula, estava lá uma mãe no meio dos miúdos...

Os miúdos vêm do básico onde só por estar sentado na cadeira e não bater em ninguém, já se tem 3. Também por isso culpo esses dois que transformaram o ensino básico numa indulgência que os prejudica. Agora vêm com uma 'filosofia' (chamam filosofia a tudo) ubuntu porque, dizem, os alunos do que precisam é de auto-conceito positivo. O auto-conceito desalicerçado faz mais mal que bem. A confiança em si mesmo advém dos resultados positivos do trabalho, de se alcançar metas. Ora se o ensino é de molde a não dar aos alunos ferramentas para conseguirem alcançar objectivos, de que interessa o auto-conceito positivo? Para pensarem que já são muito bons nos trabalhos, não sendo? Do que os alunos precisam é de aprendizagens sólidas que lhes permitam alcançar objectivos.

Ao contrário do que dizem esses dois, a maioria dos meus alunos não anda triste nem depressivo, só stressados com as notas. Os pais também.

Hoje tive uma grande conversa com as turmas para acalmar esses stresses. 

É preciso ter método de estudo, segui-lo e... confiar no processo 🙂 passei este lema às turmas.


September 19, 2021

Os estudantes MAGA* americanos estão a expulsar os professores das escolas

 



I’m a Teacher. I’m About to Quit.


So are thousands of others


The MAGA students are getting worse. They’ve always complained about safe spaces. The classroom is supposed to be one.

They’ve turned classrooms into one of the most dangerous places in the world. Imagine a bunch of people with different views and experiences, all randomly thrown together in a room and asked to talk to each other while learning how to debate topics like abortion and global warming. Now let some of those students have guns, and add a deadly virus.

I’m teaching online now, but that can’t last forever. I might get to teach online in the spring, but eventually I’ll get sent back into the classroom, where my state allows them to carry guns.

Let me repeat that last part. My state allows my anti-masking, anti-vaxxing students to bring guns to class. I’m supposed to evaluate these students and give them grades they might not like.

I’ll never feel safe in a classroom.

Not anymore.
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Make America Great Again

March 31, 2021

Com amigos como o presidente da ANDAEP quem precisa de inimigos?




Diminuir o número de alunos por turma é a medida mais fácil? Fácil? É por isso que andamos há dezenas de anos a lutar por ela em vão? Por ser fácil? 

"Há turmas com muitos alunos que podem funcionar muito bem" - Pois há: se juntarmos 30 alunos excelentes trabalhadores, autónomos, motivados, com antecedentes excelentes, a turma provavelmente funcionará bem (tirando a questão do distanciamento em tempos de pandemia que nunca funciona a não ser que a sala seja gigante, tipo auditório), mas quais são as probabilidades disso acontecer? Uma em cada dez mil? 
E, mesmo que isso acontecesse, a turma não beneficiava do professor ter mais tempo para cada aluno: para as suas questões, modos de trabalhar, desenvolver interesses, para a possibilidade de ser criativo nas metodologias, de os alunos poderem participar na aula em vez das aulas serem todas unidirecionais?

A questão devia ser posta em termos inversos: uma turma não poder ter mais que x alunos, a não ser com uma justificação razoável que o fundamentasse. 

O princípio de prudência manda que se acautele o interesse do aluno. Ora, uma turma mais pequena nunca prejudica o aluno, ao passo que turmas grandes prejudicam na maioria esmagadora dos casos e, de maneiras telescópicas. Aqueles alunos tímidos e que passam despercebidos no meio duma turma enorme e que têm dificuldades vão acumulando, de ano para ano, défices de aprendizagem cada vez mais vastos.

Para além disso, o senho Filinto, sabe muito bem que se for deixado ao critério das escolas, as escolas enfiam o máximo de alunos para agradar à tutela que vê tudo isto não como um investimento no país mas como um mero custo.

O que se infere é que este senhor é moço de recados do dois ministros da educação e está a despejar a cassete que lhe encomendaram.

Outra coisa que não faz sentido é ter coadjuvantes e contratar professores para apoios, se se pode diminuir o número de alunos (e de turmas) dos professores. Pois se cada professor tiver um número razoável de turmas e de alunos por turma, os alunos, por regra, não precisarão de outros professores, enquanto que nas turmas enormes cheias de alunos com problemas (são a maioria) acabam por precisar de apoio quase todos porque nenhum professor consegue multiplicar-se: se a turma tem 30 alunos e a aula é de 90 minutos, o professor tem 3 minutos para cada um, por aula. Reduzir o número de alunos permite a intervenção do professor e é até uma maneira de responsabilizar os professores. 

Compreendo estes apoios especiais no próximo, por conta dos problemas de aprendizagem e outros causados pela pandemia mas isso parece-me uma medida temporária. Permanente tem que ser a redução do número de alunos por turma.

"alocar mais recursos humanos às escolas, leia-se mais professores - para apoios mais personalizados, para coadjuvações em contexto de sala de aula".

January 24, 2021

A vida na província

 


Assim que saímos à rua somos logo reconhecidos. Assim que pus um pé dentro da sala de voto ouço logo, 'Olá, professora!' Era o Bruno. Estava na mesa de voto. O Bruno foi um aluno que tive há uma dúzia de anos. Tinha uma vocação natural para a matemática e para a filosofia, mas era muito bom aluno a todas as disciplinas. Quando acabou o 12º ano não sabia o que seguir. Primeiro tentou engenharia, mas não gostou. Depois tentou medicina, mas também não gostou. Sempre com excelentes notas. Acabou por ir para o ISEG. Hoje-em-dia encontro-o sobretudo na Gulbenkian porque ele gosta de música clássica. Aliás, até pensei que estivesse a morar em Lx porque trabalha lá, mas pelos vistos continua a morar aqui. O Bruno é uma pessoa que dou como exemplo aos alunos quando me vêm dizer que não têm tempo para estudar, porque ele trabalhava enquanto andava na escola e tinha actividades extra-curriculares. Gostei de vê-lo.


August 01, 2020

Também se aprende com quem se ensina



Uma amiga (ex-aluna) que já não vejo há um tempo mandou-me agora mesmo esta fotografia que tirou com um telescópio que tem na casa que era dos avós do companheiro e onde foram ficar um tempo enquanto estão em Portugal. Disse-me que pensa em mim muitas vezes. Eu também penso nela. Gosto dela e foi uma pessoa que me marcou. Acho que tenho sorte nisto dos alunos e ex-alunos. Levei tempo a perceber que esta profissão é essencialmente filosófica, se a levarmos a sério e, em parte, quem mo ensinou foram os alunos.



June 25, 2020

Ensino à distância - final amargo



Estive a despedir-me de uma turma do 10º ano de que gosto muito, assim desta maneira sem jeito. Aproveitámos para pensar um bocadinho acerca do que se pode aprender com as más experiências da vida e o que se pode aprender com esta em particular. Enfim, pode ser que nos vejamos para o ano, quem sabe, mas é frustrante, eles foram-se desmotivando à medida que passava o tempo, de estar há meses fechados em casa contra tudo o que é a vivência da adolescência. Espero que apesar da quantidade de deputados medíocres arcaicos que pensam que se pode trabalhar com 30 alunos x  4, 5 ou mais turmas e atender a cada um em particular, exista ainda alguém com cabeça e menos egoísta que se lembre que a educação é uma aposta no futuro.

June 22, 2020

Diário de bordo



Acabei a avaliação dos trabalhos dos 10s anos. Foram poucos os que fizeram o trabalho facultativo dos dois dilemas, na totalidade das turmas. Uma quinzena. Um dos dilemas -o dilema imaginário da prof. de Filosofia- era difícil e como os alunos sabem que não descem as notas do 2º período, se calhar pensaram que não valia o esforço, por um valor. Dessas quinze, tive três respostas bastante boas. Não é mau.
Faltam os trabalhos do 12º que chegaram ao mail este fim-de-semana.
Estou a trabalhar às escuras e com uma barulheira desgraçada. Andam a lavar para depois pintar a fachada do prédio. Está um tipo na minha varanda com uma pistola de alta pressão daquelas de jacto de água a lavar as paredes. Parece o motor de um avião.

O que vale é que a o som da do player está mais alto que a pistola de água e a música é boa 🎸


June 18, 2020

Rússia implementou o sistema de Orwell nas escolas - verdadeiramente assustador



Vão espiar os miúdos - os coitados já não podem dar um beijo às escondidas a ninguém sem que o país veja, em directo. E vão vigiar os professores, claro. Deixa ver se aquele demorou mais dois minutos na casa-de-banho do que devia.

Russia to Install ‘Orwell’ Facial Recognition Tech in Every School – Vedomosti


More than 43,000 Russian schools will be equipped with facial recognition cameras ominously named “Orwell,” the Vedomosti business daily reported Tuesday.

The state technology firm Rusnano’s Orwell platform is described as a image-recognition monitoring system that uses computer vision algorithms. It will be integrated with face recognition developed by NTechLab, a subsidiary of Russian President Vladimir Putin’s close associate Sergei Chemezov’s Rostec conglomerate.


The technology will ensure children’s safety by monitoring their movements and identifying outsiders on the premises, said Yevgeny Lapshev, a spokesman for Rusnano’s subsidiary Elvees Neotech.

In the future, the surveillance technology could be used to take attendance, monitor teachers’ working hours and be used for distance learning, an NTechLab spokesperson told Vedomosti.

So far, Vedomosti reports that “Orwell” has been installed at more than 1,608 schools in 12 Russian regions.

May 29, 2020

Ensino à distância



Os miúdos motivam-me. Hoje estamos a entrar no tema da ideia de sociedade de Rawls e da sua Teoria da Justiça e como preâmbulo falámos do Estado, da necessidade de leis, do Direito e da organização política das democracias, dos orgãos de soberania - as funções de cada um e como se relacionam e porquê. Às vezes os miúdos não se interessam muito por estas questões mas esta turma de hoje tem vários alunos à beira dos 18 anos e outros que já os têm e interessaram-se e o dinamismo deles, pegou-se-me um bocadinho.
Tenho pena que não seja uma aula presencial porque quando há esta dinâmica positiva fazem-se aulas muito interessantes.
Evidentemente não lhes disse que, na prática, a independência dos orgãos de soberania nem sempre é o que devia ser. Não vale a pena torná-los cínicos na idade própria de se entusiasmarem e lutarem por ideais. Até porque o entusiasmo é uma dinâmica que se pega, e preciso muito que se pegue, muito mais facilmente que o vírus.

May 13, 2020

Post to myself



Uma coisa que me vai custar é chegar ao fim do ano e não poder dizer adeus aos alunos do 12º ano que trago desde o 10º e de quem gosto muito. Vai ser uma espécie de história sem o capítulo final. A eles há-de estar a custar-lhes a ideia de não terem o baile de finalistas e aquela festa toda que costumam fazer. É claro que vamos dizer adeus na internet, não vamos desaparecer de repente e esfumar no ar, mas não é a mesma coisa.

May 02, 2020

Descaramento...



Tenho meia dúzia de alunos que ainda não deram sinal de vivos, embora eu saiba por outros que estão. Dois deles resolveram começar agora o 3º período e só agora estão a tentar inscrever-se na plataforma e baixar o office... acontece que, por qualquer razão, não estão a conseguir. Então, desde sexta-feira que me enviam emails do género, 'omg, omg, que não consigo entrar e não vou poder assistir às aulas'. Só que as aulas já começaram há 3 semanas... nem desculpe, nem justificação, nada... o descaramento de me virem chatear ao fim-de-semana, depois de 3 semanas de silêncio total... na segunda-feira logo lhes respondo à maneira.