November 28, 2021

Uma espécie de resposta a um artigo do DN




O aumento de casos de ansiedade e depressão nos adolescentes em idades entre os 15 e os 19 anos (é desse que falo, dos outros não sei) vem-se notando já há bastante tempo. Anos. As dificuldades económicas destroem o sistema imunitário das famílias e são um grande acelerador de todos os problemas da vida contemporânea. Acresce a falência dos serviços públicos que lhes prestam auxílio e apoio e que as deixam sozinhas. A pandemia agravou-os a todos, naturalmente. Os pais andam eles próprios em grande ansiedade e respondem à ansiedade e normal perturbação da adolescência dos filhos com mais ansiedade, o que infunde insegurança nos miúdos e ainda mais ansiedade. O futuro agora é ainda mais incerto o que cria ainda mais inseguranças e ansiedades.

Nós professores só nos damos conta de que algo está mal se os próprios alunos, os pais ou os colegas nos dizem ou se o aluno muda de repente o seu comportamento de forma notória, caso contrário, é muito difícil perceber porque os exemplos que aqui são dados -tristeza, medo, preocupação, culpa, raiva, vergonha, ansiedade, alterações de humor, pensamentos negativos, autocrítica e baixa perceção de controlo e eficácia, dificuldades de atenção e concentração, alterações na memória e dificuldade em tomar decisões- são mais ou menos comuns na maioria dos adolescentes e quando são em grau e intensidade preocupante não os vemos porque eles os escondem e as aulas não são locais onde estamos em conversa sobre sentimentos de modo que essas coisas surjam. 

A adolescência é um tempo de rupturas e perturbação e não por acaso é nela que surgem a maioria das doenças mentais.

As aulas são locais de trabalho. Uma pessoa está tão concentrada em ver se está a cumprir o plano da aula que tem na cabeça e a ver quem é que está a acompanhar, a testar feedback e a fazer ajustes e as mil coisas que é preciso atender durante uma aula, que não está focado nas emoções dos alunos. Ou as explicitam, de modo claro no comportamento, ou passam despercebidas. Bem, talvez sendo mais novos não consigam disfarçar mas na idade em que os apanho, conseguem muito bem. Mais ainda agora que andam todos de máscara.

Os miúdos, tal como os adultos, ajustam o comportamento para o ambiente em que estão e se entram no gabinete do psicólogo, põem-se em modo vulnerável, mas se entram na sala de aula põem-se em modo profissional, de trabalho. 
Às vezes o tema presta-se a que se façam incursões noutros assuntos e percebe-se qualquer coisa - por exemplo, na sexta-feira, estávamos numa turma a analisar argumentos e a pô-los na forma canónica e um dos argumentos era sobre os críticos do aborto. Um aluno fez um comentário à conclusão do argumento e embora não estivéssemos ali a considerar a justeza da conclusão mas apenas a formalização do raciocínio acabámos por falar um pouco do assunto e deu para perceber o investimento emocional de alguns alunos. Porém, isso são excepções e não a regra. 

Talvez na aula de moral e de cidadania onde os professores falam de outro modo com os miúdos, isso se note mais. No 12º ano, nas aulas de Psicologia, os alunos abrem-se muito porque muitos temas se prestam a isso. Ou sendo-se director de turma, onde falamos mais com os alunos, temos contacto com os pais e estamos por dentro de muitos assuntos que não sendo DT, nem sabemos. 

Os próprios pais não dão por nada. Os miúdos fecham-se nos quartos. Na sexta, perguntei nas turmas se já sabiam que iam ter mais uma semana de férias no Natal e que seria depois compensada no Carnaval e Páscoa. Alguns disseram logo que era uma chatice irem ficar enfiados em casa com os pais e os irmãos mais novos. Outros responderam que iam ficar no quarto toda a semana.

Portanto, na minha modesta opinião, o melhor que podemos fazer é criar um clima de confiança nas aulas com os alunos de maneira que eles saibam e sintam que podem contar connosco se precisarem. Essa tem sido a minha experiência e já este ano aconteceu vieram-me falar de situações e pedir ajuda o que é um bom sinal. É sinal de já haver confiança. 
Uma coisa boa foi que puseram duas psicólogas clínicas, não sei se educacionais, na escola. Para já estão a trabalhar com os alunos do básico, mas eu tenho uma aluna a quem andava a tentar arranjar um psicólogo e já a encaminhei. Não sei se é só este ano que lá estão, espero que não, porque nós professores, o mais que podemos fazer é ouvir, porque quando se trata de ajudar, no sentido de ensinar estratégias de equilíbrio psicológico, isso tem que ser com profissionais.

Há  características às quais estou atenta porque afectam o rendimento de trabalho dos alunos, como a autocrítica, a baixa perceção de controlo e eficácia, a dificuldade de atenção e concentração, as alterações na memória, a dificuldade em tomar decisões, falta de confiança, dificuldade de conceptualização, de linguagem, escrita e oral, de apropriação de conceitos e outras. Essas vejo-as e sei corrigi-las. As outras, emocionais? Muitas vezes nem dou por elas. Às vezes os alunos namoram com outros da turma e não me apercebo. 

Agora, a ideia que muitos dirigentes, jornalistas e psicólogos têm que as aulas são locais onde os alunos vêm expor os seus problemas pessoais e onde estamos à conversa sobre sentimentos e outras cenas do género, é errada. As aulas são uma hora e meia de trabalho sem parar.


Sinais de mal-estar psicológico nos jovens

Rute Agulhas

Soubemos nesta semana que têm aumentado os pedidos de apoio psicológico em todas as faixas etárias e, em particular, entre os mais jovens. Uma tendência que já se verificava em 2020 e que continua a crescer.

A pandemia e os confinamentos, a escola em casa, o distanciamento social e as limitações que todos conhecemos têm tido um impacto particularmente significativo no bem-estar psicológico dos adolescentes, para quem a integração social e no grupo de pares se assume como uma tarefa de desenvolvimento especialmente relevante. Acrescem as situações de violência no seio da família, o aumento das separações e divórcios, o desemprego, as dificuldades económicas da família, as mortes... eventos stressores que exigem aos mais jovens um conjunto de recursos, internos e externos, nem sempre disponíveis.

Neste contexto, assistimos a um aumento de quadros depressivos e de ansiedade que, embora possam manifestar-se de formas muito diversas, apresentam alguns sinais de alerta que importa conhecer.

Quais são os sinais de alerta a que os pais ou professores devem estar especialmente atentos?

A nível físico, destacam-se as alterações nos padrões de sono (e.g., insónias, sono agitado, pesadelos) e alimentares (e.g., diminuição ou aumento do apetite), a inibição/lentidão de movimentos, náuseas, alterações gastrointestinais, tensão muscular, tremores, dores no corpo, alterações na forma de respirar, alteração no ritmo cardíaco e tonturas. A nível emocional, surgem frequentemente sentimentos de tristeza, medo, preocupação, culpa, raiva, vergonha e ansiedade. Muitos jovens evidenciam ainda alterações de humor ou ataques de pânico. Do ponto de vista cognitivo, observa-se com elevada frequência uma sensação de desesperança e confusão mental, pensamentos negativos, autocrítica e baixa perceção de controlo e eficácia, a par de dificuldades de atenção e concentração, alterações na memória e dificuldade em tomar decisões. Por fim, a nível comportamental, surgem muitas vezes crises de choro, evitamento de atividades que antes geravam prazer e também de novas atividades, incapacidade em lidar com tarefas diárias, comportamentos de maior passividade ou agressividade, isolamento social e comportamentos autolesivos.

Perante qualquer um destes sinais ou sintomas, é fundamental que o adulto consiga escutar e comunicar de forma empática, criando um clima de confiança que permita ao jovem partilhar aquilo que pensa e sente. Depois, importa pedir ajuda especializada, abrindo caminho para um processo de autoconhecimento e mudança que permita um crescimento mais saudável e harmonioso.

2 comments:

  1. Olha então eu, que dou Inglês!! Vejo lá estados de alma!

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  2. Pois. As pessoas falam de uma maneira que se percebe que pensam que a escola é uma extensão da casa dos pais, uma espécie de babysitting. Não percebem o que são aulas e o que é a dinâmica das aulas.

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