Showing posts with label professores. Show all posts
Showing posts with label professores. Show all posts

August 19, 2024

Na questão da recuperação do tempo de serviço um professor tem zero controlo sobre a sua situação - é essa a intenção?

 

Está em curso, supostamente, um processo de recuperação de uma parte pequena dos anos de tempo de serviço prestado, com todos os descontos e obrigações nos termos da lei, mas roubado aos professores. O ME tem uma página no site do IGEFE onde entramos com os dados da Autoridade Tributária (temos que entrar com o google, se utilizamos outros browser nem sequer conseguimos ter acesso) e vários separadores, cada um com informação do professor e das andanças da sua carreira. No fim, há um resumo onde nos dizem qualquer coisa que devemos validar - ou não.

No meu 'resumo' aparece uma mensagem a dizer que não tenho direito recuperar tempo de serviço porque faltam dados - contacte a escola. Já contactei.  Há ali imensos dados que não percebo, mas a questão é que também não sei os critérios do lançamento da informação, não sei se os números que aparecem em cada coluna obedecem a algum critério ou se há ali erros. O que sei é que não tenho nenhum controlo sobre a minha própria situação, dada a porcaria e o caos que o ME tem feito nestas últimas décadas na carreira dos professores e nas escolas. 

Ainda estou de férias (hoje enviei um email ao meu director que também está de férias -calculo-, mas que posso fazer se há o prazo de dia 29 próximo e se é ele que lança os dados...? - o ME fez de propósito para ver se as coisas saem engatadas e não tem que pagar a muitos milhares de professores?)  e o que estou a ver é que vamos chegar ao fim do mês e não vou ter direto a recuperação do tempo de serviço e vai acontecer o que aconteceu com aquele ano e qualquer coisa que Costa mandou recuperar, que foi ter tudo engatado no meu caso durante tanto tempo que só o recuperei mais de 3 anos depois de toda a gente já o ter. 

Com certeza, isto são estratégias do Ministro da Educação para motivar os professores e valorizar a carreira docente dada a situação catastrófica de falta de professores e das escolas - eu é que sou limitada e não estou a ver como.


June 19, 2024

da sala dos suplentes

 


Hoje estive com outros colegas na sala de suplentes dos exames do dia. Um colega, que anda a um par de anos dos 50, contou que há três ou quatro anos trabalhava em quatro escolas diferentes. Todas aqui no Concelho mas distantes o suficiente para não poder andar de umas para as outras de transportes públicos. Gastava uma data de dinheiro em gasolina e estacionamento e andava sempre numa correria porque tinha aulas e reuniões quase sobrepostas em escolas diferentes. Andava com uma mochila às costas com as coisas que precisava para todas as escolas porque a maior preocupação era acertar na escola do horário desse dia. 

Foi nisto que transformaram a «carreira» dos professores. Portanto, as migalhas que agora dão (se derem!) são pouca coisa face à realidade e a realidade é que ninguém quer esta vida...


May 27, 2024

Em suma... (porque muitos de nós estamos exactamente na situação aqui descrita)




Já tudo foi escrito e reescrito, lido e treslido, mas convém, de qualquer modo, sumariar o assunto de modo muito breve, mesmo se pode parecer chato a quem o conhece ou a quem insiste em não o querer conhecer.

Em finais de Agosto de 2005, como outras, a carreira docente sofreu um congelamento das progressões que durou até final de 2007 e foi retomado durante os anos de 2011 a 2017. Os “famosos”, 9 anos, 4 meses e 2 dias. O que nem sempre é lembrado é que em 2007 foi aprovado unilateralmente um novo estatuto que reformulou a carreira, inserindo-lhe, de início, uma segmentação horizontal (a questão dos titulares), mas também dois novos escalões na fase intermédia da carreira, acrescentando 6 anos à progressão. Isto significa que aos professores atingidos por essa medida, no início de 2018, o impacto das medidas da década anterior equivalia a um retrocesso superior a 15 anos na referida progressão, algo que nem sempre é tido em conta. Porque há quem tenha sido obrigado a regredir 2 ou 3 escalões. Falo em todos os que, por exemplo, como eu, passaram do anterior 7.º para o actual 4.º escalão e assim ficaram muitos anos. Ou mesmo mais de uma década.

Quando se deu a recuperação parcial do tempo congelado, equitativa em relação a outras carreiras sob falsos pretextos, para muita gente, aos 6 anos, 6 meses e 23 dias em falta, acresciam os tais 6 anos que tinha sido necessidade cumprir para atingir o mesmo patamar que antes era acessível. Para além da questão das quotas na transição para os novos 5.º e 7.º escalão.

Este facto não é estranho ao modo como agora se encara a anunciada recuperação faseada do tempo congelado porque, na verdade, não se trata de ver um copo meio cheio ou meio vazio. Para a larga maioria das pessoas, o copo está, à partida, meio vazio. E há quem tenha saído da carreira, por idade ou opção, com ele completamente vazio. E nem sempre quem chegou mais tarde e entrou na carreira já com ela com a estrutura em vigor compreende ou sequer conhece o contexto de quem teve outro percurso. Porque sente que vai recuperar todo o tempo que lhe foi congelado e ficar, aparentemente, sem quotas para a progressão. E estranha que exista quem não se entusiasme sem reservas.

(...) relembre-se que a geração de professores a que pertenço, que em 2007 estava até ao tal patamar do 7.º escalão da carreira anterior, levou com um alongamento de 6 anos, para além dos dois congelamentos. Por questões de idade, muitas pessoas que viram o seu contrato original adulterado, só agora estão nos escalões a que deveriam ter chegado, ali por 2010 ou 2015. E prestes a aposentar-se sem forma de recuperarem qualquer dos 6 anos e meio de serviço. Sim, há quem já se tenha aposentado sem qualquer recuperação, mas em muitos casos foram pessoas que não levaram com os tais 6 anos adicionais de carreira.

Se todos ficam a perder, porque o tempo que não avançaram foi tempo em que as perdas materiais aconteceram, é capaz de ser justo reconhecer que há quem nunca conseguirá encher metade do copo, sequer. Porque foram duplamente prejudicados, não há a possibilidade de encararem o copo como meio cheio. E há quem não compreenda isso ou sequer conheça as razões.

Claro que a situação é neste momento muito mais favorável do que era o ano passado ou há 5 anos. É óbvio que, logo que o descongelamento aconteceu, deveriam ter sido tomadas medidas para não prolongar mais uma situação profundamente injusta, que só se manteve por manifesto capricho de um punhado de governantes - e seus prolongamentos mediáticos - que nunca perdoaram a contestação que lhes foi movida desde 2007.

É importante que muitas pessoas, que parecem ver só o copo a encher, entendam que os pontos de partida e chegada não são os mesmos. O copo nunca poderia ficar cheio, haveria sempre quem ficasse a perder, mas não venham dizer que ficará meio cheio para todos porque não é verdade.

Paulo Guinote in meio-copo-meio-cheio/

May 06, 2024

Como não resolver nenhum problema da educação: começar o mandato a tentar enganar os professores em conluio com o ministro das Finanças (é possível ser mais burro...?)

 

(...)
Comecemos exactamente pelo ministro da Educação que não quis inovar nessas mesmas negociações, começando-as com a apresentação de uma proposta inaceitável, na tentativa de fazer acreditar que está a cumprir uma promessa eleitoral, quando a esvazia de qualquer efeito prático. Quer fazer acreditar que está a “dar” algo, quando na verdade acaba por propor a retirada de escassos direitos antes conseguidos.
(...)
Explicando: a proposta do ministro da Educação de recuperação de 20% do tempo de serviço docente por recuperar (477 dias, mais concretamente) é apresentada como sendo para entrar em prática no próximo dia 1 de Setembro, mas traz consigo a contrapartida de revogação do decreto-lei 74/2023, talvez por ironia chamado de “acelerador da progressão” da carreira docente.
(...)
Digamos para simplificar que com esta proposta, quase nenhum@ professor@ progredirá de escalão em 2024 com esta forma de recuperação do tempo de serviço, dando razão às recentes declarações do actual ministro das Finanças.

Ministro das Finanças a quem ainda tenho espaço para sugerir que leia jornais, que muito disso precisam, de preferência em papel, mas que por comodidade também pode ser online. Se o fizesse teria percebido que a larga maioria das despesas, decorrentes de resoluções do governo anterior, que agora apresenta como se fossem desconhecidas, foram noticiadas com abundância, incluindo os custos dos apoios aos agricultores, das vacinas para a covid ou as verbas para recuperar instalações escolares, em parte cobertas pelo PRR.

Paulo Guinote in temos-maus-politicos/

May 03, 2024

Dêem-nos o que nos devem há 15 anos, já! Estamos fartos de conversas de treta

 

As negociações sobre a recuperação do tempo de serviço dos docentes arrancam esta sexta-feira com bastante expectativa, mas também preocupação, por parte dos professores, depois de, na semana passada, o ministro das Finanças ter colocado em cima da mesa a possibilidade de a devolução desse tempo se iniciar apenas em 2025. Depois de terem recebido do ministro da Educação abertura para que a recuperação se iniciasse já este ano, os sindicatos do sector exigem que essa devolução comece o mais rápido possível. Se tal não acontecer, admitem voltar aos protestos.

professores-exigem-recuperacao-tempo-servico-comece-ano


April 19, 2024

Em contra-corrente

 

Falaram-me neste vídeo da Porto Editora e vim ver do que se tratava. Estou em contra-corrente em relação ao tom dos elogios que ouvi, porque o vídeo não me parece um apreço dos professores. Alguém só se lembra da professora quando tem um filho e não sabe ajudá-lo a fazer os trabalhos de casa. É então que lhe liga na expectativa de que a professora faça de explicadora. Nem uma pergunta sequer sobre se está bem - passa logo ao assunto de dizer que está à rasca e a professora fica logo toda contente de ir fazer de explicadora do filhos do ex-aluno, que nunca se lembrou dela a não ser quando estava em dificuldade. Sei lá, podia ter-se lembrado dela no ano passado e no outro anterior quando os professores sairam para a rua a exigir ao ex-ministro que pelo menos os ouvisse e ao primeiro-ministro que tivesse a decência de negociar as dívidas dos governos para com os professores. Os professores são aquelas pessoas por quem não se dá um passo para apoiar a sua valorização, mas que se espera que estejam ao serviço, até morrer, se for preciso.

April 06, 2024

Quanto mais destróis os professores da escola pública mais bem visto és e mais sobes na vidinha



Compensa Ser Professor em Portugal? Não e daí que ninguém queira dedicar-se a esta profissão. E Porquê? Porque os políticos não querem saber. Por exemplo, leio que a Alexandra Leitão, uma pessoa que, em conjunto com João Costa, mais contribuiu, quando era SE da educação, para a calamidade actual da carreira de professor, foi agora promovida pelo PS. Portanto, quanto mais destróis os professores da escola pública mais bem visto és e mais sobes na vida.



A descida dos salários dos Professores

Com a discussão centrada na reposição do tempo de serviço, o país carece de vontade política capaz de tornar a carreira docente mais atrativa e colmatar a escassez de professores recém-formados.
05 abr. 2024, 00:147

Compensa Ser Professor em Portugal?

De 2009 a 2023 o salário líquido real dos professores diminuiu 21.1% para o 1º escalão e 23.4% para o 9º escalão, como se vê na Figura 1. Esta descida não se deveu só aos anos da Troika. Durante o período 2015-2023, que compreende os Governos de António Costa, o salário líquido real dos professores desceu 5.8% para o 1º escalão e 1.6% para o 9º escalão.




Subsídios em Duodécimos

A Figura 1 inclui os subsídios de Natal e de férias. Caso contrário, não seriam visíveis os cortes em 2011 e 2012, em que foram pagos 13.5 e 12 meses, respetivamente.

Além da descida dos salários, nos últimos 15 anos houve também uma compressão dos salários dos professores com o salário mínimo (Figura 1). Enquanto em 2006 um professor em início de carreira recebia um salário 174% acima do salário mínimo, hoje em dia ganha apenas 61.8% mais. A compressão não só retira prestígio à carreira docente, como também diminui o valor relativo do diploma de um mestrado de ensino. Ou seja, o retorno que um estudante obtém do mestrado é menor comparativamente a outras opções.

Tanto a descida dos salários por escalão quanto a aproximação destes ao salário mínimo contribuem para a descida da atratividade da carreira docente. Por sua vez, a baixa atratividade reflete-se no baixo número de professores formados nos últimos anos.

Um Sistema em Apuros


O sistema de ensino português enfrenta uma situação crítica de renovação. O índice de envelhecimento dos docentes atinge recordes (DGEEC e DSEE 2022). Nunes et al. (2021) estimam que 39% dos docentes empregues em 2018/19 reformar-se-ão até 2030/31. O mesmo estudo projeta que, durante o mesmo período, o número de alunos matriculados nas escolas públicas reduzirá cerca de 15%.

Logo, há uma clara necessidade de contratação de professores. Nunes et al. (2021) estimam que terão de ser contratados 3450 novos docentes por ano até 2030/31, em média. No entanto, no ano letivo 2019/20 foram formados 1674 professores, um número muito aquém da meta (Figura 2).


É verdade que a evolução do número total de recém-formados é pouco animadora. Porém, o problema vai além deste indicador. O número total é a soma de todos os cursos. Se desagregarmos, vemos que há ramos do ensino que são mais afetados pela falta de professores.

Por exemplo, dos 1674 diplomados em 2022 só 299 tinham habilitações para dar aulas ao ensino secundário e 3.º ciclo. Desses 299 quase metade são habilitados para história e Geografia (Figura 3). Logo, há áreas como Matemática, Português e Física e Química onde a situação é particularmente grave, como é visível na Figura 3. A falta de professores nessas disciplinas não pode ser colmatada com professores de outras áreas.



Esta ideia é reforçada pela Tabela 1, que expõe os casos mais alarmantes ilustrados na Figura 3. O mais chocante é o de Física e Química, disciplina para a qual, nos últimos quatro anos, Portugal só formou 27 professores.



Tempo de Agir?

Perante uma escassez de oferta, os mercados tendem a ajustar através da subida de preços. Neste caso, o preço é o salário pago aos professores. No entanto, conforme revela a Figura 1, não tem sido essa a decisão tomada pelos últimos Governos.

Mais ainda, o foco da discussão nacional não está em aumentar a atratividade da carreira docente. A proposta mais discutida é a reposição integral do tempo de serviço dos professores. Na verdade, todos os partidos com representação parlamentar já sinalizaram algum tipo de apoio a esta medida, diferindo apenas no horizonte temporal da reposição.

A proposta é apresentada como um contributo para aumentar a atratividade da carreira docente. No entanto, não aumenta o salário de novos entrantes, nem acelera a sua progressão na carreira. Ao invés disso, a reposição simplesmente promove professores já docentes. Portanto, é esperado que tenha um impacto quase nulo na atratividade da carreira. Se as mesmas verbas fossem alocadas a um aumento de salários por escalão haveria um maior incentivo para os jovens que querem ser professores em Portugal ingressarem nessa carreira.

Além disso, como a Figura 3 demonstra, o problema da futura falta de professores é heterogéneo: não afeta todas as áreas de forma igual. Fica claro que a disciplina de Física e Química irá passar por uma maior crise do que História e Geografia. No entanto, nenhum partido político em Portugal defende que os salários (ou outras condições) variem consoante a área de especialização do docente.

Perante estes factos, e com a discussão política centrada na reposição do tempo de serviço perdido durante os anos da Troika (uma medida que não afeta o salário de novos entrantes), o país carece de vontade política capaz de tornar a carreira docente mais atrativa e colmatar a escassez de professores recém-formados.

March 08, 2024

da sala de professores

 

Hoje falava-se na impossibilidade de os alunos fazerem exames em formato digital com os computadores emprestados, como o ME quer. É que os alunos, quando mudam de escola, são obrigados a devolver os computadores. Na escola seguinte, voltam a pedir computadores. Acontece que, como já passaram uns anos desde que os computadores chegaram às escolas, quando esses alunos pedem um computador na nova escola, já só há computadores usados por outros e fora do prazo da garantia. Resultado: os pais recusam esses computadores, autênticos presentes envenenados. Portanto, o ME vai obrigar os alunos a receber computadores nestas condições? Não me parece que o possa fazer.

A meio da manhã entraram na sala de professores alguns homens da junta de freguesia, de um certo partido político. Vinham com cravos vermelhos e um marcador de livro com um poema que li por alto e que dizia algo como, 'mulheres, sejam livres mas humildes, o 25 de Abril e tal...'. Saí dali a correr antes que me entregassem flores e poemas a apelar a que seja humilde, para não dar uma resposta torta e dizerem que tenho mau feitio. É que apeteceu-me dizer, que passados 50 anos do 25 de Abril, ganhamos quase 250 euros a menos que os homens e que agradeço que me devolvam os 6 anos e meio que trabalhei, com um salário digno da importância da profissão. Eu depois trato de comprar as minhas flores.


November 30, 2023

É próprio dos ditadores exigirem servitude acéfala




A diretora do Agrupamento de Escolas Júlio Dinis, em Gondomar, que foi processada pelo Ministério da Educação por permitir a exibição de uma tarja por altura das greves dos professores vai ser suspensa e vai perder o mandato, denunciou, esta quinta-feira, o Sindicato dos Professores do Norte.

Diretora de escola de Gondomar vai ser afastada por causa de tarja


Em causa, duas tarjas que permanecem na fachada do Agrupamento de Escolas Júlio Dinis, em Gondomar, desde fevereiro, com duas mensagens: “Pela escola pública” e “Estamos a dar a aula mais importante das nossas vidas”.

As tarjas foram colocadas por alturas de maior visibilidade das greves dos professores e valeram à diretora do Agrupamento de Escolas Júlio Dinis, Glória Sousa, a abertura de um processo disciplinar por parte do Ministério da Educação.

Segundo, denunciou esta quinta-feira o Sindicato dos Professores do Norte (SPN), Glória Sousa já foi notificada da recomendação da Inspeção-Geral da Educação, após a conclusão do inquérito. É acusada de ter violado o dever de de imparcialidade e de lealdade, previstos nas alíneas c) e g) do n.º 2, bem como nos n.ºs 5 e 9 do art.ª 73 da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, e propõe-se a sua suspensão e a perda de mandato, ou seja, que deixe de ser diretora do Agrupamento, cargo que ocupa desde 2017.

“É incompreensível, enquanto advogado. Do nosso ponto de vista, não foi cometido qualquer ilícito disciplinar. A argumentação é a de que a diretora terá tomado parte de uma causa. Esquece-se o Ministério de Educação é que antes de ser diretora é professora. Não faz qualquer sentido”, considera o advogado do SPN, João Martins.

A situação de Glória Sousa merece “total solidariedade” do coordenador do SPN, João Paulo Silva, que aponta o facto de várias escolas ainda terem tarjas colocadas nas fachadas e o facto de ser inédito um processo disciplinar deste âmbito.

September 19, 2023

Fui ao simulador da Fenprof - a chatice dos factos

 

Pus lá os meus anos de serviço e deu-me isto:




Um email acabado de receber




Vem daquela firma alemã de onde encomendei aquele vinho italiano fantástico. Pu-lo no tradutor porque vinha em alemão e descobri esta conversa no 3º parágrafo:

-------------------------


Cara Senhora Alcobia,

Fontalloro e Rancia são ícones vinícolas da Toscana. O Gambero Rosso classifica a Fèlsina entre as dez adegas italianas de maior sucesso. Não se pode conseguir muito mais no panorama vinícola italiano.

Enquanto metade da Itália dependia do Cabernet & Co. nas décadas de 1970 e 1980, os vinhos puros de Sangiovese eram produzidos em Fèlsina, Fontalloro e Rancia, estreados em 1983 e que tornariam a Fattoria di Fèlsina mundialmente famosa. E em 1983 (!) já se tinha decidido produzir vinhos o mais próximo possível da natureza no futuro. Mais importante do que a quantidade de colheitas era uma elevada biodiversidade nas vinhas, a fim de proteger as áreas cultivadas de pragas em grande medida.

É claro que toda a família Poggiali ajudou durante estes anos exaustivos, incluindo a filha Gloria, que casou com o professor de literatura Giovanni Mazzocolin. E como ele ganhava tão pouco como professor, era suposto trabalhar também na adega. Na verdade, nas vendas. Mas o professor, amante da arte, estava mais preocupado com a qualidade dos vinhos. Conheceu Franco Bernabei, um enólogo do Veneto que tinha estudado em Conegliano e que, na altura, era ainda muito jovem. Redução dos rendimentos, novos sistemas de cultivo, colheita mais tardia, uvas mais maduras, técnicas de adega mais modernas e uma seleção de diferentes clones de Sangiovese.

Por isso, não é de estranhar que hoje em dia não só os dois ícones do vinho Fontalloro e Rancia causem sensação ano após ano, mas também os três Chianti Classico - do Annata ao Gran Selezione - ponham em evidência o nível constantemente elevado e a obsessão pelo cultivo da uva Sangiovese que está quase presente em Fèlsina.

Atualmente, as novas colheitas já chegaram e desejamos que as desfrutem ao máximo. Mas atenção, o Fontalloro e o Rancia, em particular, são feitos para durar muito tempo, por isso não os abram demasiado cedo...

Salute!
-------------

Esta desvalorização da escola que assenta na desvalorização do conhecimento, em grande parte dos países ocidentais, refere-se apenas à escola pública, não à privada. E não é que a privada seja melhor, é apenas porque é selecta na escolha dos alunos.

June 03, 2023

Porque é que o diploma dos concursos que o Presidente assinou de cruz, não interessa, nem aos professores que o ministro garantiu que o queriam II

 

( o tal concurso que obriga os professores a concorrer ao país e a ficarem efectivos onde forem calhar (numa zona em vez de uma escola) durante anos a fio e sem nenhum tipo de ajuda, ainda por cima) - isto deve fazer parte das estratégias do ME para atrair novos professores...)

---------------------

 Cátia Oliveira, natural da aldeia de Bilhó, no concelho de Mondim de Basto, distrito de Vila Real, já deu aulas na Madeira, por amor à profissão, há 14 anos. Por motivos de saúde, regressou ao continente e tem conseguido, ainda que, muitas vezes, com horários incompletos, ficar próximo de casa. Andar com a casa às costas, de novo, não faz parte dos seus planos” e optou por recusar aquilo a que chama “um presente envenenado do ME”.

“Não é obrigando os professores a ficar longe de casa e das suas famílias, com custos demasiado acrescidos (aluguer de casa e deslocações) e sem qualquer tipo de apoio, que se vai atrair professores, como eu, mudando toda a sua vida para irem lecionar para Lisboa ou outras localidades ainda mais distantes. Não é assim que se vai combater a precariedade, muito pelo contrário. A Vinculação Dinâmica não vem ajudar na fixação de professores, mas sim contribuir para o aumento de professores a andar com a casa às costas e por tempo indeterminado. Não quero este presente envenenado. Não quero ser obrigada a concorrer para todo o país, contra a minha vontade”, salienta. Ficar longe, diz, significaria “voltar a pedir ajuda monetária aos pais, para poder continuar a exercer a profissão”. Cátia Oliveira acredita numa debandada de professores contratados, que “abandonarão a docência para procurar outras alternativas de vida mais estáveis” – e espera “não ser uma delas”

Arlindovsky, in  “Não é assim que vão atrair novos professores”

 

March 21, 2023

Não percebo se este relato é a sério ou se é uma caricatura




É difícil de acreditar que haja uma direcção de escola com este nível de falta de bom senso e histeria ao ponto de mandar professores faltar a aulas por parvoíces, mas se ela existe, então o mais difícil de acreditar é que os professores se sujeitem a este tratamento arbitrário, lesivo do seu trabalho e completamente abusivo. Eu não me vejo a aceitar esta situação completamente abusiva e a minha pergunta é: porque é que os professores se sujeitam a tudo? Porque não recusam ser tratados assim? Têm medo? Epá, têm medo comprem um cão. A desobediência ao arbitrário e ao abusivo começa na escola, não na rua. Por muito que isso nos traga dissabores, para dizer as coisas de maneira muito suave. Nós não trabalhamos para directores, nem sequer para ministros ou governos desta ou daquela ideologia. Somos funcionário públicos e trabalhamos ao serviço do país, não trabalhamos para os interesses do sr. Tal. Sim, trabalhamos sob a orientação e ordem dos directores e ministros, mas no quadro da lei e dos direitos humanos, não no quadro dos caprichos ou abusos de alguém. Como é que os professores aceitam ser tratados desta maneira e vão a correr obedecer caladinhos? Não percebo.


A papelada da escola
 

por Rui Cardoso


Da secretaria avisam: o aluno saiu de casa a horas mas ainda não chegou à escola. De imediato alerto a Direcção, por escrito pois claro, redijo um e-mail, envio o e-mail, “o aluno saiu de casa a horas mas ainda não chegou à escola”, guardo o e-mail em formato Word, crio uma nova pasta com as iniciais do aluno e a data de hoje e guardo o ficheiro de Word na pasta, pasta essa transferida para a drive de assuntos confidenciais uma vez que estamos a falar do bem-estar de uma criança e a possibilidade de a mesma estar em perigo.

Precisamente, admoesta a Direcção, enviando em 47 segundos um e-mail de reposta com as ordens expressas para telefonar directamente ao aluno, guardo o e-mail e arquivo o e-mail e respondo indicando não ter o dito número de contacto, o aluno em questão sempre se escusou a partilhar o número de contacto (informação sobejamente conhecida, aliás, e a Direcção a testar o meu profissionalismo e tudo é um teste e se não passarmos já se sabe) mas talvez os amigos tenham o número e por conseguinte vou perguntar.

Guardo o e-mail de resposta na devida pasta e sigo corredor e pátio fora de caneta e papel em riste para falar com um aluno de cada vez enquanto a Direcção envia uma mensagem de texto a perguntar se já tenho o número e onde está o aluno e como é preciso sempre responder à Direcção ainda nem sequer consegui falar com um aluno sequer e portanto respondo com um subserviente pedido de desculpas e os votos expressos de tudo fazer ao meu alcance. Isto apesar do toque para a entrada há coisa de dois minutos e a mesma Direcção a perguntar por mensagem de texto o porquê de não estar na sala de aula e quem garante o bem-estar dos alunos. Mas como eu ainda estou a enviar para o e-mail da escola a primeira mensagem de texto e respectiva resposta, as quais serão arquivadas no regresso à sala, ainda não tive tempo de falar com nenhum aluno ou responder à segunda solicitação. Infelizmente, ou felizmente, uma vez depois do toque já não há alunos no pátio com quem falar e assim tenho tempo de confirmar o regresso à sala enquanto envio esta segunda mensagem de texto e consequente resposta para o e-mail da escola não vá, num futuro não muito distante, a Direcção acusar-me de negligência por não responder a mensagens de texto e já tenho uma pasta com todas as mensagens datadas e guardadas em formato Word. 

O tempo de redigir este parágrafo não impede a Direcção de me enviar uma terceira mensagem informando-me de uma colega para me substituir uma vez que o aluno ausente da escola é a prioridade e onde está o trabalho para os alunos. Mas se há uma professora para me substituir, porque não encarregar a professora de contactar o aluno ausente? Sem tempo para indagar ou discutir, uma vez que tenho de responder por escrito e por mensagem e enviar a resposta para o e-mail da escola, indico por escrito e por mensagem à colega qual o trabalho dos alunos mais o envio desta última mensagem e resposta para o e-mail da escola para uma pasta de correspondência com esta colega não vá a mesma acusar-me também de negligência no mesmo futuro não muito distante.

No meio disto tudo ainda não consegui falar com um aluno sequer e agora estão todos nas salas de aula. Conhecendo os amigos do aluno ausente, opto por interromper um número limitado de aulas mas primeiro tenho de enviar uma mensagem de texto por escrito, perdoem-me o pleonasmo mas acentua o ridículo, à Direcção a indicar quais os alunos, as turmas e as aulas susceptíveis de interrupção, mais uma resposta para o e-mail da escola para futuro arquivamento e aqui vou eu bater porta-a-porta e cada sala cada resposta e cada resposta cada e-mail, ainda não tenho o número, falei com este e aquele aluno até ter o número! Mas antes de poder fazer qualquer coisa, claro está, a resposta para a Direcção com o número, mais um e-mail e a Direcção a pedir-me para enviar o número para o processo do aluno na secretaria e a papelada sempre em primeiro e em primeiro sempre a papelada. No meu tempo, ou então eu sou de um tempo, ou antes – e por ainda não ter idade suficiente nem desejo de falar num tempo que foi o meu quando o meu tempo é agora – quero acreditar num tempo igualmente não muito distante sem net, sem redes, sem computadores, sem nuvens nem telemóveis mas com fios, muitos fios e assim a obrigatoriedade de falarmos uns com os outros e no falar a relação e na relação a confiança e na confiança a amizade e na amizade o bem-estar, a felicidade, a tranquilidade de espírito, a paz na alma. Isolados, divididos e derrotados, vivemos a eternidade na desconfiança e na desconfiança colocamos tudo por escrito. Esqueçam as aulas e a qualidade de ensino, o professor teve de enviar um e-mail, um não, quase duas dezenas agora que este texto por escrito e por mensagem chega ao fim.

E o aluno ausente? Acabou de chegar à escola. Perdeu o autocarro e teve de esperar pelo seguinte pelo que me contam na secretaria. O aluno passa por mim como se nada fosse e nem sequer lhe dou um olá. Tenho de enviar um e-mail, telefonar à mãe do aluno a dizer que está tudo bem, enviar mais um e-mail, guardar tudo e o dia ainda mal começou.

February 03, 2023

Leio por aí que o governo quer pôr o povo todo contra os professores

 


Que o governo e o PS apostam em arrastar o assunto dos professores (professores nas mãos de diretores que estão nas mãos de câmaras, recuperação de tempo de serviço, reestruturação das carreiras e vinculação efectiva de contratados) à medida que vão pondo a sociedade contra os professores e publicam em jornais escolhidos que os professores querem ter privilégios sobre todos os outros trabalhadores. E ainda que andam a preparar um suborno para diretores se passarem para o lado deles como no tempo da Rodrigues. Pessoalmente acredito que o ministro da educação seja capaz disto tudo e muito mais, pois já se viu que é uma reprodução aprimorada da Lurdes Rodrigues. Li que hoje nem se deu ao trabalho de aparecer na reunião... Também acredito que o Medina é capaz disto e bem pior - uma pessoa que manda para Putin informações de vítimas é capaz de tudo... Porém, tenho dificuldade em acreditar que todos estejam de acordo com uma estratégia de pôr a sociedade contra os professores... é uma coisa miserável própria de gente miserável... 

January 20, 2023

January 18, 2023

Porque é que a negociação com a Rússia de Putin é impensável II

 

January 17, 2023

O exemplo de um pai da manada




-----------

Se és um professor contratado ou estás no 1º escalão da carreira e ganhas 900 euros ou 1000 euros, consoante o caso e se tens um filho e moras a 250 km da escola em que trabalhas, queres fazer greve, mas não podes porque dos 900 ou 1000 euros que ganhas, metade é para alugar uma segunda casa para morar ou, em alternativa, para pagar gasolina e portagens para ir a casa viver com a família [sim, os professores também são pais e têm os mesmos problemas que tu quando a escola dos filhos está em greve]. O resto é para os teus gastos: electricidade, água, comida, gastos com o filho - escola, roupas, médicos- comprar um livro, ir ao cinema, etc. Portanto, queres fazer a greve, mas porque tens um salário e condições de trabalho escravizantes, não podes exercer esse direito legal, porque fazê-la implica não poderes comprar uns sapatos de inverno para o teu filho, por exemplo. Nenhum professor paga a greve a ninguém porque nenhum professor tem salário que permita esse luxo de pagar o salário a outro. Não percebes isso, ó ignorante? Outra coisa diferente é sermos solidários uns com os outros. Continuo a ficar surpreendida quando esta gente diz ser, 'da esquerda', mas depois na prática só defende os direitos dos outros desde que não incomodem a sua vidinha e isso é que me parece ser uma grande cobardia burguesa - mas olha, ó pai da manada: podes sempre voltar a pôr as tuas filhas na escola privada para aprenderem a serem da manada como tu. O que Baldaia parece não gostar é a arrogância com que os professores lhe mostram que não desistiram de defender os seus direitos e os dos alunos da escola pública. A arrogância de serem livres, na sua cara.

Sem liberdade e sem projeção imaginante dum outro futuro que rasgue a camisa-de-forças da pobreza, do desinteresse e da banalidade, não há um Portugal futuro




António Carlos Cortez
 DN

"[...] Além do bem-estar material (do seu projecto) o socialismo implica uma autêntica participação dos trabalhadores nas decisões gerais e sectoriais, na condução política do país afinal: não só cumprindo ordens, portanto, [...]. Tal só é possível com "aquele mínimo de preparação cultural (não tenhamos medo da palavra por demagogia do momento) que permite o [...] debate e sobretudo o espírito crítico que faz parte dele e da sua coerente utilização. O ser explorado determina uma justa atitude de protesto e o mais que explicável desejo de intervir [...]"

Mário Dionísio, O Quê? Professor?! Casa da Achada, Lx, 2015, p.190.

Paulo Freire (1921-1997), em "A Pedagogia da Indignação" (Unesp, S.P, 2000) afirma: educar para uma permanente interrogação dos poderes que nos alienam, eis uma das nobres funções da docência. Quando o sistema global de educação tem como única ideologia o projeto de competição desenfreada, de corrida fratricida pelas energias já esgotadas do planeta, e do Outro, mais do que nunca ser-se professor é sinónimo de agente multiplicador de cultura. Ou assim deveria ser. 

Vivemos hoje uma educação vazia de sentido porque é a ganância, o sentimento da posse, o lucro e o deus-dinheiro as únicas traves-mestras do ser contemporâneo. A digitalização apenas veio dar força ao progressivo desmantelamento do sistema educativo, transformando o professor num mero gestor de unidades didáticas e num simples tarefeiro de ordens emanadas superiormente. Não se quer professores que leiam, que tenham tempo para ler e pensar -- o que se pretende é gente acrítica, apaniguados do tecnicismo mais aviltante. Tutores on-line, é isso que está no horizonte... Mais barato, mais fácil e talvez se poupem milhões, julga-se.

Sem espírito e sem missão, porque nos foi roubado esse espírito, e sem missão, porque diluíram a memória da Escola como lugar do Saber, nenhum pequeníssimo oásis de cultura pode medrar na Escola e na Universidade portuguesas. Uma fábrica de cretinice, de hipocrisia mascarada de rigor científico, eis o que temos. Sem liberdade e sem projeção imaginante dum outro futuro que rasgue a camisa-de-forças da pobreza, do desinteresse e da banalidade, não há um Portugal futuro. Rolo compressor de objetivos absurdos e que visam apenas fazer dos alunos novos escravos para o mundo do trabalho, a Escola disse não, com a manifestação de 14 de janeiro, à visão instrumental da docência e da aprendizagem. Uma Escola sem imaginação, sem memória e sem cultura, é isso que temos quase 50 anos depois do 25 de Abril. Como explicar isto?

Alguns factos: O esmagamento burocrático de que nós, professores, temos sido alvo, bem como os baixos salários que caracterizam, em toda a linha, o agradecimento dos sucessivos governos a uma classe profissional responsável pela formação das vossas crianças e jovens, essa é uma primeira explicação. Desde o magistério de Maria de Lurdes Rodrigues que o professor se transformou num mero técnico e as escolas em meros lugares onde os pais deixam os filhos para irem trabalhar, recolhendo-os ao fim do dia. Saber? Saber, de facto? Isso não importa nada.

Mais: O congelamento dos salários e a justa progressão na carreira, bem como o regime de colocações são problemas que asseguram que os melhores não queiram ser professores. Segundo o PORDATA, apenas 3% de jovens licenciados estão, em 2023, interessados em seguir a via de ensino. Em 1996, havia cerca de 14% de jovens licenciados a seguir a formação vocacional. Acresce a deficiente formação de professores, o fim dos estágios remunerados, o fim duma formação em ensino onde se pense, com bibliografia crítica, pertinente, o papel do professor na sociedade atual. Devemos perguntar: O que têm sido as reformas senão o empobrecimento dos programas, o facilitar das aprendizagens?

Nós, professores, seja na Escola Pública, seja nas Universidades, sentimo-nos vigiados na nossa ação pedagógica, pois que vivemos, sem escapatória alguma, entre o diretor pidesco, a rede burocrática e os pais fanatizados pelo endeusamento dos filhos. Pais - diga-se com frontalidade - que jamais pensam que os seus filhos estão a ser enganados por um sistema que lhes permite a transição de ano e de ciclos sem que eles, os filhos, sejam competentes nas áreas que escolhem seguir. Há, decerto, exceções, mas não é esta a realidade geral? Quem o pode negar? É, pois, urgente exigir currículos, programas adequados à competitividade do mundo global: disciplinas que suscitem o pensamento, consolidem a curiosidade! Porém, que discurso existe, da parte do ME, relativamente ao poder e respeito que se deve dar à classe docente para que os casos de violência sobre professores se não democratizem ao ponto da mais absoluta anarquia? Para quando um ministro que não endeuse as criancinhas e adolescentes e os pais, infantilizando e mentindo, ao mesmo tempo que diaboliza quem forma e educa?

Os professores indignam-se contra a ideologia oca dos últimos 25 anos, a qual resultou no empobrecimento da nossa vida coletiva. Todos nós somos hoje vítimas de um aparelho tentacular de estupidificação mediática que impõe a superficialidade e a ignorância como apanágio do que é cool e moderno. As turmas são hoje aglomerados de adolescentes e jovens adultos (mas há cada vez mais crianças com este perfil) para quem o professor é uma figura ridícula e a ridicularizar. Filhos do hip-hop, da brutalização da vida contemporânea, sem linguagem e tendo como única formação aquilo que os mídia lhes oferecem, que lhes importa, de facto, a escola? Qual o valor de se tirar um curso superior neste país quando se sabe, de antemão, que quer se estude ou não todos irão para a Universidade e farão um curso (diz-se) "superior"? Que ideia de mérito estamos a passar aos mais jovens?

Não se pergunta, quem nos governa, que Portugal é este de que a escola é o espelho? É o país dos heróis da bola, dos comentadores da camisa aberta, dos ditos "senadores" que ninguém entende por que razão são fazedores de opinião, sempre inquinados pela ideologia oca dos partidos que representam. País que, dos Gouchas e Cristinas, às estrelinhas do music-hall lusíada, tem de perguntar: Quem está a ganhar com isto? Nós, professores, agentes máximos da formação do país, temos de levar estas perguntas também para a praça pública e promover um debate profundo! Pensar a educação significa pensar a cultura no seu todo, e, no seu todo, sem pejo, reconhecer que educar só é possível com professores, pais e governantes críticos da alienação, a outra face dos regimes totalitários.

Lembro, nesta ocasião, Mário Soares: "Os portugueses têm direito à indignação". Agir e lutar criticamente - porque pensando a educação em alguns aspetos que aqui elenquei - isso tem de legitimar a força das nossas reivindicações. É que neste país há uma democracia a defender e sem professores dignificados, sem uma carreira que chame os melhores, Portugal está condenado a ser esse país à esquina da Europa, e do Planeta, como escreveu António Nobre.

Professor

January 16, 2023

A chatice dos factos: a crise não foi paga por todos

 


Salários de professores desvalorizam 45% desde 2005


Em 2005, um professor com 26 anos de serviço ganhava cerca de 800 euros a mais do que um docente com o mesmo tempo de serviço em 2022, estima o dirigente da Federação Nacional de Professores Vítor Godinho. "É uma desvalorização brutal de 45%", diz, o que ilustra o deteriorar da carreira.

January 15, 2023

" Os professores precisam do nosso apoio"




Os professores precisam do nosso apoio

Pedro Patacho

Os professores portugueses, fartos do desprezo a que têm sido votados, despertaram nas últimas semanas de 2022 e responderam maciçamente ao apelo de um pequeno sindicado (S.TO.P., nascido em 2018, com apenas 1300 associados), que defende um novo paradigma sindical e afirma não ter qualquer agenda secreta que não seja estar ao serviço de todos os profissionais do ensino. Os seus seguidores saíram para a frente dos portões das escolas, para a frente das câmaras municipais, para as ruas do país. No passado dia 17 de dezembro concentraram-se mais de 25 mil em Lisboa.

Este sábado voltaram a fazê-lo. Um mar de professores encheu a Avenida da Liberdade e invadiu o Terreiro do Paço. Terão sido entre 30 a 40 mil, segundo a imprensa. E não vão parar. Já na segunda-feira os protestos continuam. Querem mobilizar a sociedade em torno da necessidade de valorizar os profissionais da educação e repensar o ensino enquanto dimensão crítica do processo de desenvolvimento de Portugal. Precisam do nosso apoio.

O movimento foi inicialmente espoletado pela recusa da intervenção de estruturas locais no recrutamento e colocação de professores. Mas é agora muito mais vasto do que isso. O ministro da Educação apressou-se a encetar um processo negocial. Ventilou a possibilidade de recuperar o tempo de serviço congelado durante a troika, já que os professores constituem a única classe profissional na qual isso não aconteceu. António Costa desdobrou-se em explicações. Prometeu acabar com a precariedade, reduzir os quadros de zona pedagógica, e negou qualquer intenção de proceder à contratação local de professores. Mas quer um quer outro parecem não querer perceber o que verdadeiramente está a acontecer. Claro que os professores querem recuperar o seu tempo de serviço, valorizar a sua carreira e condições dignas para o exercício da profissão. Só que também querem outras políticas para a educação.

Esta é uma oportunidade para a sociedade portuguesa se unir aos professores e reivindicar a construção de um compromisso político para a educação em Portugal. Porque a escola, o ensino e os profissionais de educação são decisivos para o futuro do país.


Nesta nova economia, que assenta no conhecimento e no talento, a formação das novas gerações é o mais crítico fator de desenvolvimento económico. Não há nenhum cidadão que não passe pela escola. Tudo, para todos, começa na escola. O investimento na educação e formação, nas pessoas, é a única maneira de Portugal abandonar a sua condição semiperiférica e aproximar-se dos países mais ricos da União Europeia. Não há outro caminho. Por isso é necessário olhar seriamente para o setor da educação e abrir este debate a todas as partes interessadas. É um debate urgente que interessa a toda a sociedade civil e a todas as sensibilidades políticas, da esquerda à direita.

Este pode ser um momento decisivo para a educação em Portugal. Os professores estão a fazer a sua parte. Falharemos como sociedade se não os apoiarmos nesta luta, que vai muito para além das suas justas reivindicações de classe. Falharemos se, enquanto cidadãos, não formos capazes de exigir um debate nacional sobre o que se está a passar nas nossas escolas. Falharemos se não conseguirmos colocar a educação e a estabilidade das políticas educativas no centro das decisões sobre o desenvolvimento do país. Falharemos se, como portugueses, não conseguirmos que o governo e a oposição tenham a coragem política e a humildade democrática para reconhecer a relevância estratégica deste setor e assumir compromissos para a educação, colocando os interesses do país à frente dos interesses partidários.

Professor do ensino superior