Este advogado estranha a mudança de posição do CT porque está por fora daquilo em que as escolas se transformaram a partir da gestão imposta pela Rodrigues. Alguém da tutela manda o director forçar à obediência e este tem muiiitas maneiras de forçar os CT.
Como li alguém outro dia, 'hoje em dia o autoritarismo já não passa por obrigar todas as teses a terem, como na URSS, pelo menos uma citação de Lenine para serem aprovadas, mas passa por matar a carreira das pessoas com posições dissidentes. Dão-lhes cabo da vida: maus horários, excesso de trabalho, obstáculos e sabotagens do trabalho, indisponibilidade para resolver qualquer problema... enfim, fazem-lhes a vida num inferno... nomeadamente quando falamos de pessoas de má índole que mandam chumbar alunos por vingança. Sim, porque não há outra razão para que uma pessoa que faz legislação e pressiona para que passem todos, mesmo com 1000 faltas se for preciso e sem saber ler nem escrever, obrigue a chumbar alunos de elevado desempenho não só académico como comportamental. Não estamos a falar de alunos com mau comportamento.
O defensor, João Pacheco Amorim, estranha também que o mesmo Conselho de Turma — “órgão colegial, que não obedece a ordens de uma escala hierárquica” — “tenha decidido passar os alunos no ano letivo de 2018/2019, porque acharam que aqueles dois estudantes tinham todas as competências, e este ano, de uma forma limpinha, decidiu reprová-los, por faltas”.
Se o SE queria chatear alguém, chateasse os pais, não os miúdos. O que devia ter acontecido era a escola tentar um compromisso com os pais; não sendo capaz, reportar o caso ao ME e o ME tentar um compromisso com os pais ou ter tomado uma iniciativa legal contra os pais, em último caso, mas não contra os miúdos... são miúdos, filhos adolescentes a obedecer aos pais. E sem faltas de respeito a professores.
Isto é muito-anti-pedagógico. E um grande exemplo de incompetência e autoritarismo.
A cidadania é uma atitude de respeito pela lei, mas também pela discordância da lei. É uma atitude de respeito pelos outros que não têm as nossas opiniões - não é considerá-los nojentos, abjectos e outros adjectivos que vejo pessoas supostamente educadas usarem para se referir a quem não partilha dos seus valores.
Não o fazer, quer dizer, não educar para o respeito, é educar para a intransigência e maniqueísmo.
A cidadania não pode ser só ensinar a respeitar as pessoas que querem ter dois sexos, ou que são gays ou que defendem uma legislação que proteja os direitos da comunidade LGBT, também tem que ser, ensinar a respeitar os que não concordam com essa legislação.
E a disciplina de cidadania, bem como os que a defendem sem saberem que não há razão nenhuma para falar desses assuntos numa disciplina à parte, a não ser o SE querer pôr no seu currículo profissional que tem uma disciplina inovadora, o que é falso, não é inovadora, não fomenta o espírito crítico, não fomenta o respeito por todos os cidadãos nem pela diversidade de valores. Fomenta o respeito por certas posições nestas questões que são as que causam polémica nesta discussão.
Um exemplo: todos os anos, quando trabalho o tema dos valores (onde se fala no relativismo dos valores, no objectivismo e subjectivismo axiológicos, na influência da cultura, etc., etc) ponho os miúdos a argumentar um tema dos valores. Quando chega a essa altura já eles sabem que as questões dos valores são muito polémicas e dão azo a discussões intermináveis, porque não há uma resposta de certo ou errado. Não estamos no domínio das questões de facto (e até nesse domínio é complicado). As posições estão assentes em pressupostos valorativos ideológicos ou religiosas ou filosóficos que enformam toda a visão da pessoa nessa questão. Também falamos na revisão racional dos valores, nomeadamente através da discussão racional, argumentativa.
Embora sugira temas para discutir, deixo-os escolher um tema que os interesse porque a discussão obriga a muito trabalho, muita pesquisa, construção de um corpo de argumentos fundamentados em factos, gráficos, testemunhos, etc. Muitos ligam para as associações LGBT, falam com pessoal da saúde... enfim, é sério, não fazemos aquelas mediocridades da TV.
Escolherem temas relacionados com os direitos da comunidade LGBT é muito comum. Um ano, isto já há muito tempo, um colega tinha uma turma comigo disse-me, num intervalo, 'os alunos estão num grande alvoroço por irem apresentar um trabalho a Filosofia. A não-sei-quantas disse-me que o grupo dela vai apresentar um trabalho a defender a legitimidade da adopção de crianças por casais homossexuais.' Eu esclareci: não é bem uma apresentação - o grupo dela vai argumentar com outro grupo que tem a posição oposta de defender a não-legitmidade da adopção de crianças por casais homossexuais. Ele ficou a olhar para mim muito sério. 'Como assim? És contra?' Disse-lhe que não, sou a favor. Pergunta ele, 'mas vai deixar que argumentem contra?' Sim, eu dou uma disciplina de Filosofia e eles estão a fazer o trabalho no âmbito dos valores e o meu objectivo é que percebem a legitimidade de se ter uma posição diferente da sua e que aprendam a respeitar as pessoas que defendem posições diferentes em vez de as rotularem e querem obrigar. Se querem mudar as opiniões dos outros têm de o fazer racionalmente, argumentando.
Isto tudo para dizer que: a educação ou se faz a sério ou é melhor não fazer. Isso de criar umas aulas para os alunos ter uns pózinhos disto e daquilo (a educação, mesmo a universitária qualquer dia é um almanaque de assuntos que se discutiram como quem discute na TV) em vez de deixar que tratem os assuntos nas aulas respectivas, o que já fazem, não só não serve para nada como pode servir para conflitos, faltas de respeito e evangelizações que acabam com os mais altos funcionários do Estado e seus acólitos a chamar nomes uns aos outros no maior exemplo de deficiente noção de cidadania.
Melhor seria que a escola fomentasse os valores do respeito e da democracia em vez de fazer estes teatrinhos.