Ontem, a propósito de um assunto, falei numa turma da rede social Distort e do artigo que li no WP: dos grupos de predadores que lá andam, dos cuidados que é preciso ter e de como é importante, em caso de se ser apanhado por um predador, não ter medo de falar logo com a família ou com um professor em quem confiem. Os miúdos ficaram chocados com a história. Muitos não entendem porque razão as vítimas fazem o que lhes mandam fazer. Não têm nenhuma noção do que são os processos psicológicos. Um rapaz da turma está nessa rede social e usa-a para jogar jogos.
As escolas são lugares onde a degradação das relações acompanha a degradação da sociedade: as pessoas estão mais pobres e, apesar disso fazer Centeno muito feliz, torna as pessoas mais irritadiças: pais, alunos e professores. Os pais não estão equipados para lidar com estes novos fenómenos das redes sociais e o que elas fazem aos filhos e esperam que a 'escola' resolva toda a vida deles. Não há professores, vão-se buscar pessoas que não têm formação - manter uma turma em ordem, disciplinada positivamente, livre de conflitos e, em muitos casos, de violência é uma tarefa muito difícil que não se coaduna com curiosos. Muito menos ser capaz de lidar com pais cada vez mais intrusivos e, não no bom sentido de colaboração. A escola precisa de seguranças que patrulhem os espaços exteriores, precisa de funcionários - há escolas fechadas, sem aulas, por não terem funcionários suficientes para assegurar as valências. Claro que nestas condições a violência aumenta.
Não tenho esperança nenhuma que as coisas melhorem, dado que umas elites políticas pensam que é excelente os portugueses serem pobres, outras que é preciso privatizar tudo porque 'os mercados' é que sabem pensar os seres humanos e todos eles entendem que não há razão para valorizar os professores, que qualquer um pode 'dar aulas' e que os alunos podem ser desviados para o ensino particular ficando o ensino público como uma espécie de escola de pobrezinhos para quem 6 anos de escola primária basta.
Há muitos anos que defendo que os professores novos, mesmo com formação especializada, devem ter nas escolas para que vão, um
buddy - um professor mais velho, com experiência, que os oriente e ajude nos primeiros dois anos, por exemplo, mas para isso era necessário que houvesse professores suficientes. Neste momento, os que existem estão com horas extra para minimizar a falta de professores.
A ideia de ir buscar professores reformados para voltarem à escola é uma miragem. As pessoas querem mesmo ir embora. Quem está de fora não entende o ambiente dentro das escolas com a desgraça que têm sido as políticas na educação. Lá está, as escolas reproduzem o que se passa na sociedade: em cada escola há 10 ou 12 pessoas que estão excelentes à custa dos outros todos.
Ontem falava com um colega que está doente. Disse-me que trabalhou uma série de anos numa empresa e depois resolveu vir para o ensino por causa do horário flexível, mas que está arrependido porque o trabalho que tinha, embora obrigasse a estar dentro do escritório aquelas horas fixas por dia, não era um trabalho intensivo. Tinha momentos intensivos mas com muitas quebras em que ia beber um café, falava com os colegas, etc. e o trabalho na escola é muito intensivo/desgastante. Assim que se entra na sala de aula está-se concentrado com a máxima intensidade 90 minutos a representar o papel de uma peça, que recomeça várias vezes ao dia (com esse ou outro guião), com a diferença que tem de preparar-se cada um e todos os 30 da audiência para trabalhar, aprender, progredir, desenvolver atitudes e comportamentos positivos, aprender a pensar, adoptar metodologias de trabalho, ter rigor e brio no trabalho, estar preparado para a entre-ajuda, para ir a exame, para apresentar um trabalho, para regular emoções, para ter autonomia e iniciativa... etc. E depois disto e de lidar com a ansiedade e, por vezes, a hostilidade dos pais, mais a estupidez do ME e das pessoas que nas escolas professam com entusiasmo a estupidez do ME e de preencher grelhas infinitas vai-se para casa fazer fichas, ler, estudar, fazer formação, classificar testes, preocupar-se com este aluno e o outro... no geral, disse-me ele, a flexibilidade de horário que se podia ter não compensa este desgaste, mais a falta de uma carreira, a desvalorização social, a antipatia da sociedade pelos professores, os ataques constantes das tutelas, o paternalismo, o mau salário, o roubo de anos de serviço e agora, ter de trabalhar com pessoas sem nenhuma formação para o trabalho do ensino - nem são da área que ensinam nem têm alguma formação em pedagogia e didática. Algumas só arranjam problemas e aumentam o desgaste.