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March 18, 2024

Iniciar?? Isto para mim vale zero

 


Isto de iniciar e devolver durante uns anos tinha tido valor em 2015 ou 1016 e tudo teria sido devolvido até 2020. Agora, passados quase 10 anos a ouvir dizer que é preciso iniciar ou que nem se inicia vai voltar-se 10 anos atrás e iniciar um processo que quando acabar já não há ninguém a quem repor a injustiça? Vão-se encher de pulgas, com todo o respeito. Pelas pulgas.


Novo governo terá “capacidade financeira” para iniciar devolução aos professores

No PSD cresce a convicção de que não será preciso um orçamento rectificativo para avançar com bandeiras da AD, como iniciar a devolução do tempo de serviço das carreiras docentes.


March 16, 2024

Uma escola diferente



Ontem, a propósito de um assunto, falei numa turma da rede social Distort e do artigo que li no WP: dos grupos de predadores que lá andam, dos cuidados que é preciso ter e de como é importante, em caso de se ser apanhado por um predador, não ter medo de falar logo com a família ou com um professor em quem confiem. Os miúdos ficaram chocados com a história. Muitos não entendem porque razão as vítimas fazem o que lhes mandam fazer. Não têm nenhuma noção do que são os processos psicológicos. Um rapaz da turma está nessa rede social e usa-a para jogar jogos.

As escolas são lugares onde a degradação das relações acompanha a degradação da sociedade: as pessoas estão mais pobres e, apesar disso fazer Centeno muito feliz, torna as pessoas mais irritadiças: pais, alunos e professores. Os pais não estão equipados para lidar com estes novos fenómenos das redes sociais e o que elas fazem aos filhos e esperam que a 'escola' resolva toda a vida deles. Não há professores, vão-se buscar pessoas que não têm formação - manter uma turma em ordem, disciplinada positivamente, livre de conflitos e, em muitos casos, de violência é uma tarefa muito difícil que não se coaduna com curiosos. Muito menos ser capaz de lidar com pais cada vez mais intrusivos e, não no bom sentido de colaboração. A escola precisa de seguranças que patrulhem os espaços exteriores, precisa de funcionários - há escolas fechadas, sem aulas, por não terem funcionários suficientes para assegurar as valências. Claro que nestas condições a violência aumenta.

Não tenho esperança nenhuma que as coisas melhorem, dado que umas elites políticas pensam que é excelente os portugueses serem pobres, outras que é preciso privatizar tudo porque 'os mercados' é que sabem pensar os seres humanos e todos eles entendem que não há razão para valorizar os professores, que qualquer um pode 'dar aulas' e que os alunos podem ser desviados para o ensino particular ficando o ensino público como uma espécie de escola de pobrezinhos para quem 6 anos de escola primária basta.

Há muitos anos que defendo que os professores novos, mesmo com formação especializada, devem ter nas escolas para que vão, um buddy - um professor mais velho, com experiência, que os oriente e ajude nos primeiros dois anos, por exemplo, mas para isso era necessário que houvesse professores suficientes. Neste momento, os que existem estão com horas extra para minimizar a falta de professores.

A ideia de ir buscar professores reformados para voltarem à escola é uma miragem. As pessoas querem mesmo ir embora. Quem está de fora não entende o ambiente dentro das escolas com a desgraça que têm sido as políticas na educação. Lá está, as escolas reproduzem o que se passa na sociedade: em cada escola há 10 ou 12 pessoas que estão excelentes à custa dos outros todos.

Ontem falava com um colega que está doente. Disse-me que trabalhou uma série de anos numa empresa e depois resolveu vir para o ensino por causa do horário flexível, mas que está arrependido porque o trabalho que tinha, embora obrigasse a estar dentro do escritório aquelas horas fixas por dia, não era um trabalho intensivo. Tinha momentos intensivos mas com muitas quebras em que ia beber um café, falava com os colegas, etc. e o trabalho na escola é muito intensivo/desgastante. Assim que se entra na sala de aula está-se concentrado com a máxima intensidade 90 minutos a representar o papel de uma peça, que recomeça várias vezes ao dia (com esse ou outro guião), com a diferença que tem de preparar-se cada um e todos os 30 da audiência para trabalhar, aprender, progredir, desenvolver atitudes e comportamentos positivos, aprender a pensar, adoptar metodologias de trabalho, ter rigor e brio no trabalho, estar preparado para a entre-ajuda, para ir a exame, para apresentar um trabalho, para regular emoções, para ter autonomia e iniciativa... etc. E depois disto e de lidar com a ansiedade e, por vezes, a hostilidade dos pais, mais a estupidez do ME e das pessoas que nas escolas professam com entusiasmo a estupidez do ME e de preencher grelhas infinitas vai-se para casa fazer fichas, ler, estudar, fazer formação, classificar testes, preocupar-se com este aluno e o outro... no geral, disse-me ele, a flexibilidade de horário que se podia ter não compensa este desgaste, mais a falta de uma carreira, a desvalorização social, a antipatia da sociedade pelos professores, os ataques constantes das tutelas, o paternalismo, o mau salário, o roubo de anos de serviço e agora, ter de trabalhar com pessoas sem nenhuma formação para o trabalho do ensino - nem são da área que ensinam nem têm alguma formação em pedagogia e didática. Algumas só arranjam problemas e aumentam o desgaste.


September 20, 2023

Inclusão é atirar os alunos para dentro da escola

 


Este ano tenho uma turma do 10º ano (29 alunos) com 3 casos de alunos com necessidades especiais, um deles complicado. Ainda tem um aluno ucraniano refugiado de guerra. Veio para cá a meio do ano passado mas tinha aulas online com a Ucrânia para poder passar o ano e ter equivalência. Resultado: não fala nem percebe português. Não há ninguém na turma que fale ucraniano. Ele tem Português Língua Não Materna, duas vezes por semana... isso é o quê? Nada. O miúdo precisava de um curso intensivo de português e de um intérprete para fazer a transição. Hoje tivemos a 1ª aula e tive que falar com ele em inglês. De início vou levar os documentos e fichas e tudo bilingue, em português e inglês, mas nas aulas estou a trabalhar em português e a falar português. Está o rapaz à nora, sem perceber nada. Inclusão é atirar os alunos para dentro da escola e depois desenrasquem-se. Agora ando na escola a tentar encontrar uma aluna do 12º ano que é romena e que me disseram que costuma ajudar os miúdos do Leste, para lhe pedinchar que faça o trabalho que era suposto ser feito por um profissional designado e entretanto vou ver se um aluno qualquer da turma fala inglês para se sentar ao lado dele e ajudar.

Entretanto, imensos professores estão com horas extra para evitar enviar horários de duas turmas a concurso e ficarem montes de alunos sem aulas por falta de professores.

E ninguém nos livra deste ministro.


September 11, 2023

Obrigada!

 

(...)

É por isso que tudo aquilo que é investido nas escolas não pode ser entendido como um custo. Cada cêntimo que é investido na educação e na escola é, isso sim, um investimento em cada um de nós.

É um investimento no futuro do país e a garantia de que as gerações vindouras estão mais bem preparadas para se realizarem plenamente, em harmonia com o ambiente e com respeito pelos nossos valores fundamentais. Bom ano letivo para todos!

Álvaro Araújo in com-a-escola-no-coracão
Presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e Vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses

April 05, 2023

Ontem passei a tarde a mandar emails para os alunos e para os encarregados de educação

 


O primeiro dia do período de férias escolares dos alunos, quando muitos viajam com a família, foi o dia em que a tutela resolveu abrir as inscrições para os exames (as inscrições decorrem durante as férias) e foi o dia em que enviou resmas de documentos de legislação sobre os exames. Algumas das orientações enviadas requeriam ser discutidas nos conselhos de turma, que já tinham sido realizados!!! Entretanto, os miúdos e os pais, que têm sempre dúvidas sobre os exames, agora estão de férias -alguns fora do país- e não têm os professores disponíveis, como acontece quando decorrem as aulas, para tirar dúvidas e pedir ajuda. Pessoalmente penso que estes dirigentes merecem uma medalha de mérito pelos serviços de incompetência regular que exibem, ano após ano. Não é para qualquer um. Não falham um ano.


January 24, 2023

Hoje tive a 1ª reunião de EE

 


Estava na expectativa de ver a reacção dos pais à situação da greve. Falei muito brevemente no assunto só para dizer que tem havido alguma perturbação devido à greve e que pelo caminho que as coisas estão a tomar não parece que venham a ser resolvidas rapidamente. Nenhum dos pais se manifestou contra ou algo do género e  alguns concordaram comigo sobre não parecer haver luz ao fundo do túnel por parte de quem governa. A reunião correu bem. Toda os professores gostam da turma, os miúdos são muito simpáticos.

Amanhã há outra, logo se vê como corre.

January 06, 2023

"Pela saúde da escola pública"





Pela saúde da escola pública

por Miguel Guedes

No momento em que a escola pública é alvo dos maiores ataques, pela ganância e cobiça de quem desvaloriza o seu valor fundador como semente de democracia, igualdade e progresso, é impossível não estabelecer paralelismos com os ataques ao SNS e à dificuldade que tem havido em racionalizar e garantir a progressão na carreira dos seus profissionais, em número e qualidade, valores maiores e garante de uma resposta capaz, de confiança e certezas. É a saúde da educação pública que está em causa, numa luta que promete fazer parar o país antes que ele se perca em actividades extracurriculares à História fora de aulas. Nunca a escola pública correu tantos perigos, nunca teve tantos algozes capacitados, ao virar da esquina do Parlamento, para a enfraquecer e destruir.

É ao poder político que compete dar o sinal que entende a algumas das legítimas reivindicações dos professores e comunidade escolar. Numa economia assolada pela espiral inflacionista, com a perda do poder de compra dos salários e pensões abaixo da inflacção, um mercado especulativo e disfuncional na habitação que justifica a criação (e bem) de um ministério, a subida das taxas de juro que prometem entregar casas das famílias aos bancos, com os fenómenos de demagogia e assalto ao sector público que germinam e proliferam, as legítimas greves no sector da educação devem ser proporcionais ao dano que, inevitavelmente, causarão a centenas de milhares de crianças e jovens que, após meses de covid à distância, irão mesmo ficar sem aulas, comprometendo a recuperação do seu percurso escolar e a dinâmica das famílias que, em tempo normal de trabalho, não as conseguirão reter em casa com acompanhamento.

A "municipalização" dos concursos poderá ser uma questão ultrapassável e eivada de preconceito e maus entendimentos. Mas décadas de subinvestimento nas escolas e nos seus profissionais, que culminam nos últimos anos de acrescidas dificuldades e congelamento do tempo de serviço e progressão nas carreiras, são verdades absolutas que resistem, indesmentíveis, à prova de todas as boas intenções. Uma actualização equilibrada e progressiva de vencimentos, uma avaliação de desempenho decente (que não seja autolimitada por "numerus clausus" e "ratios" completamente alheios à avaliação), uma nova equação para a "norma-travão" que, por inadequação à realidade, tem afastado docentes da vinculação e estabilidade, limitações ao excesso de burocracia e maiores garantias de respeito pelo papel dos professores nas escolas, terão de ser imperativos para a manutenção dos laços de estabilidade mínima entre aqueles que elegeram uma maioria absoluta pela ilusão de estabilidade e segurança que estes nove meses de permanente gestação executiva tudo têm feito para ilidir. Uma greve geral prolongada na educação pode ser dinamite no fim de um inverno rigoroso para o Governo. Competirá a António Costa perceber o momento.

January 02, 2023

Ladrilhozinhos de vitrais

 


É o que me faz lembrar a época filosófica em que vivemos. À semelhança da época helenística que a partir das grandes escolas filosóficas da Antiguidade se partiu em miríades de vidrinhos, de correntes filosóficas e suas subsidiárias, também a época actual é uma miríade de ladrilhozinhos multiplicados a partir das grandes escolas da idade moderna. É muito difícil alguém ter, nos dias de hoje, uma visão completa de tudo o que se pensa na filosofia, mesmo entre os investigadores universitários, tal é a catadupa de centenas artigos, textos, ensaios, teses e livros que se publicam constantemente. Isso em parte deve-se à obrigação que os professores universitários têm em publicar artigos (muito do que se publica acaba por ser, necessariamente, sem interesse) e aos milhares de pessoas que se dedicam à filosofia devido à democratização dos estudos universitários. 

É uma época interessante dado que há muita perspectiva nova a entrar no rio das ideias. Por outro lado, é preciso alguma inteligência para uma pessoa se orientar nesta enorme rede. Não sei até que ponto será possível um pensador desenvolver nos dias que correm uma grande filosofia - pensar requer tempo e dedicação para evoluir em profundidade e as exigências de burocracia e publicações que fazem aos investigadores juntamente com a sobrecarga de trabalho são um obstáculo à possibilidade de pensamento profundo e original de grande escopo. Muito do que se escreve (ou pelo menos do que leio do que se escreve, que é uma ínfima parte) são remakes de ideias do passado, sem nada daquele espírito típico dos filósofos que se reconhece imediatamente pela intuição penetrante e original com que perspectivam a 'realidade'.

Para uma pessoa como eu, que não sou investigadora e que ensino numa escola secundária, a vantagem dos dias de hoje é termos acesso a tudo o que se escreve e pensa. Há trinta anos isto não seria possível. Para ter acesso à investigação universitária era preciso ir às universidades consultar as teses de mestrado ou de doutoramento, procurar actas de colóquios, ler as revistas todas da especialidade, gastar rios de dinheiro em livros ou conhecer alguém de dentro que nos orientasse. E mesmo assim o que se acedia é um grão de areia quando comparado à situação actual. É certo que havia muito menos a que aceder e conhecíamos muito bem os grande especialistas neste ou naquele autor ou tema. Pois hoje temos acesso às mais recentes abordagens filosóficas à distância de um clique, se as sabemos procurar ou até mesmo sem procurar: o algoritmo envia-nos todos os trabalhos reputados dos temas que sabe que nos interessam.

Há bocado, à tarde, estava a preparar um pequeno plano para abordar na primeira aula do período a questão da possibilidade e valor do conhecimento. Pus-me a ver maneiras de estruturar a questão do cepticismo e o dogmatismo - não gosto da maneira como o tema é tratado no Manual adoptado. Fui dar com uma dúzia de tipos de cepticismo, alguns dos quais não sabia, como por exemplo, o neo-pirronismo, que tem origem no pensador brasileiro, Oswaldo Porchat e que hoje-em-dia domina o pensamento filosófico da América Latina. Muito interessante.

É claro que não me vou pôr a trabalhar todos estes tipos de cepticismo com os alunos, porque a Filosofia no ensino secundário não é um curso de especialização. Nem há a intenção que os alunos se posicionem a favor ou contra esta ou aquela perspectiva (isso são os totós que fizeram estas orientações do programa e que influenciam os exames). A maioria são trabalhadas para parecerem equipolentes (talvez algumas o sejam...) porque não estamos a ensinar verdades ou metodologias de verdade e essa diaphonía, embora apreça negativa para a mentalidade actual que quer respostas rápidas e enlatadas para tudo, é um caminho que leva à prudência no pensar e à consideração das perspectivas diferentes das nossas. De maneira que a Filosofia no ensino secundário é uma introdução -e se possível uma descoberta transformadora- às possibilidade do pensar crítico e racional e às virtudes da sua aplicação na vida de cada um e de todos, no pressuposto de que essa adolescência é uma idade em que o terreno ainda é permeável às sementes do pensar. 

Porém, podemos entrar um bocadinho nelas, porque é melhor que se perceba a complexidade da realidade, mesmo que não se consiga abarcá-la totalmente, do que se pense que tudo é trás-pás como se vê.


December 19, 2022

Desejos físicos e desejos metafísicos

 



Por que é que as universidades de elite injectam estudantes nas mesmas cinco indústrias: direito, medicina, tecnologia, investimento e consultoria de gestão?

Segundo o pensador René Girard a infância moderna está estruturada como um tapete rolante. Cada criança progride à mesma velocidade, independentemente do quanto aprenda. Suba para o tapete rolante e terá sucesso. O liceu leva à universidade, que leva à pós-graduação, que leva a uma carreira de prestígio.

Sempre que conheço um universitário, pergunto: "Preferes ter um C numa disciplina, mas na realidade aprender o material em estudo ou um A mas sem aprender nada"? A maioria obedece à lógica da correia transportadora e escolhe com relutância o A. Claro, alguns estudantes gostam do tapete rolante. Gostam de saber o que precisam de fazer e quando precisam de o fazer. Geralmente, estes conformistas estão mais interessados nas recompensas das boas notas do que nos frutos do conhecimento. São bons estudantes e bons empregados.

Outras pessoas, como eu, detestam o sistema de tapetes rolantes. Sentem que as recompensas não valem o esforço. Não querem seguir o programa na aula e certamente não querem que o seu manual de instruções para a vida venha de burocratas e professores da escola.

René Girard diz que há dois tipos de desejo: o desejo físico e o desejo metafísico. O desejo físico é querer um objecto pelas suas qualidades inerentes, como um copo de água porque se tem sede - ou aprender pelo desejo de saber. Isto é saudável.
O desejo metafísico é diferente. Adquirir o objecto só traz alegria porque é um meio de se tornar um certo tipo de pessoa. Só se preocupa com ele por causa do que ele diz sobre si - aprender apenas para obter boas notas ou um diploma é insalubre.

As pessoas movidas pelo desejo metafísico pensam que a sua realização lhes trará total satisfação. Pensam que as notas de 20 e um trabalho impressionante para os outros irão satisfazê-los. Mas independentemente do quanto progridam na esteira rolante, ainda se sentem vazias.

A esteira rolante funciona com o combustível do desejo metafísico. Copiamos os desejos de outras pessoas e confundimo-los com os nossos. Eventualmente, já não conseguimos ouvir os caprichos da nossa voz interior. Os nossos desejos minam-nos e vão contra os nossos melhores interesses. Demasiados estudantes ficam entorpecidos com as alegrias inerentes ao trabalho. "Aprender" é apenas um esforço digno quando os ajuda a avançar para a fase seguinte. As suas satisfações são passageiras e imediatamente seguidas de um vazio. Como uma miragem no deserto, nunca saciam a sua sede de realização.

Há uma escassez de desejo físico e um excesso de desejo metafísico. Mesmo após 16 anos na sala de aula, demasiados alunos desconhecem quem realmente são e que assuntos os interessa. Não têm qualquer sentido de curiosidade e não fazem ideia do que os interessa. Intuitivamente, sabem que algo está errado. São governados por um desejo metafísico. Como um estudante me disse recentemente: "Sinto que ninguém gosta da escola."

Quem segue o caminho do tapete rolante tem desejos espelhados, o que leva ao stress e à ansiedade. Todos os anos, cada vez mais alunos do ensino secundário sonham em entrar nas escolas da Ivy League que prometem a salvação da vida, mas limitam os seus números de aceitação como uma discoteca de Berlim.

Com a mentalidade de tapete rolante vem um medo de fracasso. Se cai, fica para trás... por isso não pode cometer nenhum erro. Um mau teste e o seu boletim de notas ficará para sempre manchado. Um semestre pobre, e as suas hipóteses de educação numa Ivy League desaparecem.

E uma vez que o seu avanço tem um limite máximo, porquê ser criativo?

Mas a vida real não funciona assim. Não há limite de velocidade. Uma vida interessante não tem um caminho concebido por outros em automatismo. A vida não acaba aos 30 anos. A aprendizagem é crucial, mas a perfeição não é o que está em jogo.

Se tivéssemos concebido explicitamente um ambiente para a competição mimética, construiríamos um sistema como o que temos hoje: competição insana por pontos limitados, a busca de recompensas sem sentido e estudantes indiferenciados que competem pelos mesmos escassos símbolos de estatuto.

Prémios sem sentido conduzem a rivalidades brutais. Reflectindo sobre o seu tempo nas universidades, Henry Kissinger disse uma vez: "A política académica é especialmente viciosa porque as apostas são muito pequenas".
A modernidade enganou-nos a pensar que os nossos desejos mais autênticos são os nossos desejos mais fortes. Mas isso é falso. Mesmo os nossos desejos mais fortes podem tornar-nos infelizes se os desejarmos não pela utilidade que nos proporcionam, mas pelo estatuto que supostamente nos trarão.

Porque é que a diferenciação é importante? Paz e estabilidade. As pessoas não invejam aqueles que são muito diferentes deles, razão pela qual as pessoas têm invejado historicamente os seus vizinhos e amigos mais que os bilionários. "Ama o teu próximo" é mais difícil do que amar alguém distante.

A pior luta acontece entre iguais. A primeira linha de Romeu e Julieta diz: "Duas casas, ambas iguais em dignidade". O ódio entre os Montéquios e os Capuletos é tão feroz porque são tão semelhantes.

Para Girard, a falta de diferenciação lança as sementes da violência. O arco da história está a conduzir a uma menor diferenciação. O núcleo comum tem todos os estudantes de escolas públicas na América seguindo o mesmo currículo. Os SATs têm-nos a estudar para os mesmos testes. O prestígio de um diploma da Ivy League leva-os a candidatarem-se às mesmas escolas. As empresas multinacionais têm-nos a competir pelos mesmos empregos. Quase todos os universitários querem trabalhar nas mesmas cinco indústrias: direito, tecnologia, medicina, investimento, e consultoria. Estão presos em bolhas claustrofóbicas e cegos às oportunidades.

Dizem aos miúdos que manterem-se no tapete rolante é a chave para o sucesso. Mas as escolas são máquinas de uniformidade esmagadoras. Os troféus são ocos. As notas são basicamente desprovidas de sentido. As suas recompensas trazem uma satisfação fugaz.

A alternativa é um sistema escolar que encoraje a diferenciação. Um sistema em que as crianças são encorajadas a explorar a sua curiosidade e a escapar à estreita e conformista esteira rolante. 

David Perell
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Este artigo é interessante e toca num ponto sensível, mas a sua conclusão não deriva logicamente das premissas. Se a sociedade incentiva as famílias a empurrarem os seus filhos para um sistema de aparências e recompensas, não é a escola que vai conseguir transformar a sociedade. Entre a escola e a sociedade há uma relação dialéctica, não unívoca.

Vejamos: as indústrias empurram as crianças e adolescentes para as mesmas redes sociais que existem no espaço da recompensa dos desejos metafísicos; os videojogos, diferentemente dos jogos antigos, incentivam a recompensa individualista; os jornais e os meios de comunicação social fazem publicidade aos alunos que têm notas de 20, que entram para os cursos onde se requer 20 valores de entrada como se isso fosse o ideal do estudante e do sentido da vida; só falam no sucesso, fazendo com que todos que não têm 20 se sintam um fracasso; as empresas publicitam que só vão buscar empregados a um número restrito de universidades; os políticos põem os filhos em certos colégios e universidades e depois atiram-nos com cunhas para assistentes de um ministro ou da presidência europeia; os ministros da educação discriminam professores não-uniformes e não-conformistas e premeiam os que aceitam as cangas do conformismo; punem o pensamento crítico e divergente; aliás, punem o pensamento e promovem a sua substituição pelo emocionalismo; promovem os testes 'de cruzinhas' classificados automaticamente por máquinas; o ensino é reduzido ao essencial (língua materna e matemática); os alunos passam todos indiferenciadamente, tenham ou não aprendido alguma coisa... é preciso dizer mais? Depois disto tudo ser pensado para esmagar professores e alunos com o cinto da uniformidade, pedem que a escola seja diferenciadora? Organizar a sociedade como um todo para a mesmidade e depois clamar que não há diferenciação? É completamente ilógico.

March 18, 2022

“Esta escola, que cansa os alunos, arrasa os professores” – Luís Costa

 


Estabilidade e mudança devem caminhar sempre juntas, num sábio equilíbrio. Excetuando os imprevisíveis momentos revolucionários, a segunda deve ir acontecendo, paulatinamente, sem nunca pôr em causa a primeira. É um princípio válido em todas as áreas da ação humana, mas especialmente pertinente no ensino, que se consubstancia, consolida e aperfeiçoa precisamente na estabilidade pedagógica, numa sensata longevidade das práticas. Só assim, num caminho que se faz caminhando, os professores, assessorados pelo tempo, podem planificar a sua ação didática, produzir os seus materiais pedagógicos, os seus instrumentos de avaliação, e aperfeiçoá-los, adequando-os cada vez mais aos seus alunos, ao que resultou ou não resultou tão bem. Depois, devem ter tempo para, com eles, tirar o devido partido das rotinas criadas, tornando a sua prática pedagógica mais eficiente, mais bem-sucedida, mais perfetiva, mais estimuladora e geradora de aprendizagens. Porém, o que acontece atualmente está nos antípodas.
Nas escolas portuguesas, presentemente, vive-se um autêntico (e tresloucado), vórtice de mudança. Tudo muda, a toda a hora, a todos os níveis, no início, no meio e no final dos anos letivos: muda-se, constantemente, os documentos mais estruturantes; muda-se, constantemente, todos os regimentos; muda-se, constantemente, todos os critérios; muda-se, constantemente, todos os restantes documentos de natureza mais pedagógico-didática; muda-se, constantemente, a própria carga horária das disciplinas; muda-se, constantemente, os objetivos programáticos/metas/competências essenciais; muda-se, constantemente, as regras de transição dos alunos; experimenta-se até a alteração da própria duração dos períodos escolares, em muitos casos só porque sim, como se tanta mudança não fosse já extravagante, como se as escolas vivessem, há muito, num sereníssimo lago de apatia e fizesse alguma adrenalina ao quotidiano escolar. Ao projeto Milagre, sucede o Eureca; ao Eureca, sucede o Flexi; ao Flexi, o Desmaia; ao Desmaia, o Passe-vite; ao Passe-vite, o Fornicoques. E assim… por diante! Mas a vertigem não se fica por aqui. Segura-te o leitor, toma um Rennie, porque a montanha-russa ainda tem mais uns “loopings” bué de loucos. São as maradas reviravoltas das interrupções e das intromissões.
(...)
Programas extensos para cargas horárias tão diminutas e uma infinitude de balões de água sempre a cair no espaço pedagógico, em nome de tudo e mais alguma coisa: da articulação, da cidadania, da transversalidade, da interdisciplinaridade, da sexualidade, do exercício físico, da ecologia, da solidariedade, dos valores, da leitura… do diabo a quatro. 
Não há nenhuma santa unidade que comece e acabe sem uma, duas, três ou mais interrupções. “Acabar” é um eufemismo, pois há muito que nenhuma unidade acaba efetivamente, visto que, há muito, deixámos de ter tempo para exercitar verdadeiramente, para consolidar, para aprofundar (já nem sequer falo em expandir), ou seja, para aprender realmente. E, nesta autêntica cozinha comunitária em que se está a transformar o currículo do ensino básico, todos os cozinheiros acabam por meter a colherada na sopa coletiva, desde os que moram nos andares superiores aos locatários do mesmo andar, passando pela vizinhança. 
Até a RNB (que mais parece a Rede Nacional de Bibliossecas) já se está a querer assumir, não como coadjuvante da nossa ação pedagógica e educativa, mas como entidade que impõe atividades, numa determinada regularidade, exige relatórios, estatísticas e evidências. Diz o povo, e com razão, que muitos cozinheiros estragam a sopa. É verdade, mas também é verdade que adrenalina não falta, e muita resulta da interação, cada vez mais apimentada, entre os diferentes actantes deste autêntico centro de atividadezinhas em que a escola básica tem vindo a ser transformada.
Esta escola, que cansa os alunos, arrasa os professores, fragmenta o currículo e “superficializa” as aprendizagens.

February 13, 2022

Os professores não são tratados como os outros profissionais





O ensino é uma das poucas carreiras em que o livre arbítrio dos outros tem um impacto diário e negativo na subsistência de um funcionário. Por exemplo, quando um estudante não faz os seus trabalhos de casa e a sua nota desce, entende-se como um problema para o professor resolver. Quando um paciente não faz o exame aos olhos que lhe foi aconselhado e a sua visão piora, entende-se que o paciente é responsável, não o seu optometrista. Todos compreendem o valor das consequências dos próprios actos e estes outros profissionais podem fazer o seu trabalho sem que as repercussões da irresponsabilidade de outra pessoa recaiam sobre as suas cabeças!

Aqui estão 7 exemplos que mostram como os professores não são tratados como os outros profissionais

1. Um paciente pouco saudável que não segue as recomendações não afecta a reputação ou o salário do seu médico, mas os baixos resultados dos testes dos alunos afectam os professores.

Ignorando descaradamente os conselhos médicos para deixar de fumar, os médicos diagnosticam uma pessoa com um enfisema. Sem vontade de mudar a sua dieta rica em gorduras e colesterol, uma pessoa sofre de obesidade e doenças cardíacas. Será que estes resultados negativos para a saúde afectam negativamente o salário e a reputação dos seus médicos? Absolutamente não! No entanto, nas escolas, as notas baixas dos alunos apáticos que não seguem uma única recomendação dos professores e não trabalham, têm um impacto negativo no financiamento das escolas, prejudicando os professores.

2. A perícia do arquitecto não é questionada, no entanto as qualificações dos professores são constantemente postas em dúvida.

Todos os dias, em todo o mundo, as pessoas entram em edifícios e casas sem receio de que os edifícios desabem. Porquê? Porque assumimos que a perícia do arquitecto nos protege. As pessoas em geral não depositam este nível de confiança nos professores, apesar dos nossos múltiplos graus académicos, certificações, horas de desenvolvimento profissional e envolvimento nas escolas. Os professores sabem o que funciona para os seus alunos, mas estamos constantemente a ter pessoas que nunca puseram os pés na sala de aula a questionar a competência dos professores e a dar conselhos de como as coisas se devem fazer. 

3. Os dentistas não são culpados quando os seus pacientes não escovam os dentes e não usam fio dental, mas a culpa é do professor quando os alunos não fazem os trabalhos de casa.

Quando não praticamos uma boa higiene oral e acabamos com os dentes cheios de cáries, sabemos que não podemos culpar o dentista. Ninguém espera que os dentistas ofereçam serviços gratuitos adicionais àqueles que descuram os cuidados básicos, nem tampouco que dali a um ano, esses desleixados tenham os dentes iguais ao do outro paciente que cuida primorosamente da sua saúde e higiene bocal. No entanto, a sociedade espera que os professores passem os alunos que não fazem os seus trabalhos mais básicos e descuram completamente a sua higiene pedagógica, espera que os ponham numa turma com alunos que cumprem os seus deveres e ainda espera que esses alunos desleixados, cheguem ao fim do ano seguinte no mesmo nível que os outros que cuidaram primorosamente dos seus deveres. Isto é irracional.

4. Os pilotos não são forçados a voar direito a um furacão, mas espera-se que os professores continuem imperturbáveis independentemente dos obstáculos.

Do tempo inclemente aos passageiros indisciplinados, mesmo os melhores pilotos não são imunes à forma como as influências externas afectam a sua capacidade de voar em segurança. Compreendendo a gravidade destes factores externos, as companhias aéreas há muito que implementaram certas salvaguardas, como a restrição do peso das bagagens de mão, por exemplo, ou a interdição dos passageiros incomodarem o piloto enquanto faz o seu trabalho, para garantir a eficiência e a segurança das viagens aéreas. Os professores perguntam como é ter esse tipo de apoio prático quando tentam ensinar face à oposição e interferência constante de pais, governantes, comunicação social e sociedade em geral. 

5. Não se espera que um chefe de cozinha alimente os comensais que não estão no restaurante, mas espera-se que os professores sejam responsáveis pelo sucesso dos que não vêm à escola.

Se eu fizer uma reserva para jantar e não aparecer no restaurante, o cozinheiro não é responsável pela minha fome. Não apareci, por isso não posso comer a refeição que tinham planeada para mim. No entanto, esta relação de causa e efeito aparentemente simples não se aplica às escolas. Se um aluno não vai às aulas, a tutela manda que não sejam eles os responsabilizados pela sua ausência, nem os pais, mas os professores, que estavam lá no seu posto, com um plano para a sua instrução. Como se fosse função do professor perseguir alunos fora da escola... Ajudar um aluno a recuperar o atraso por ter precisado de faltar a uma aula ou duas ou três, ou por ter estado doente, é razoável; mas mandar um professor acumular, para um aluno, um ano lectivo inteiro de aulas nas últimas semanas de Maio, como trabalho extra, porque esse aluno repetidamente faltoso decide finalmente aparecer nas aulas, para depois poderem passá-lo, é o oposto de razoável! 

6. As empresas só atendem ao seu mercado-alvo enquanto os professores têm de envolver todos os estudantes.

A Starbucks sabe que os seus consumidores são apreciadores de café, por isso a empresa fabrica produtos artesanais orientados para os apreciadores de café. Os professores, por outro lado, não se podem dar ao luxo de fazer marketing apenas para um público alvo previamente interessado no produto. Os professores vendem conhecimentos de matemática, de geografia, literatura, etc., a pessoas que não os querem à partida, e depois são julgados pelos conhecimentos que esses desinteressados, têm sobre matemática, geografia, literatura, etc. Duvido que os directores de marketing da Starbucks recebam avaliações profissionais negativas por não convencerem os detratores de café a ir todos os dias às suas lojas beber café e saber tudo sobre as suas misturas de café. Porém, aos estudantes que não querem aprender e esforçar-se não se pode dizer nada e, nem sequer os pais se responsabilizam pelos filhos não fazerem nada em casa ou passarem a noite acordados na internet. Não, em vez disso, rotula-se irracionalmente os professores como responsáveis, como se fossemos feiticeiros com magias de transmutação de personalidades amorfas.

7. O público vê os trabalhadores qualificados como insubstituíveis, mas acredita que qualquer ser humano adulto, por ter filhos ou por ter experiência em ser humano, pode liderar uma sala de aula com proveito.


Parece razoável contar com uma pessoa com vasta experiência e conhecimento para realizar um trabalho importante. Se temos um problema com o fogão a gás não procuramos o vizinho só porque é adulto e também tem um fogão; se partimos o braço não procuramos o vizinho só porque é adulto e tem experiência de ter braços; se alguém nos rouba e precisamos de justiça não pedimos ajuda ao vizinho só porque é adulto e sabe ler as leis em português: procuramos especialistas que saibam como ajudar com proveito. No entanto, aqui estamos nós, numa carência nacional de professores, a aceitar qualquer adulto sem conhecimentos ou formação para ensinar os nossos filhos. E até falam em substituí-los por robots para poupar dinheiro. É como se o público acreditasse realmente que os professores são dispensáveis e qualquer um soubesse perceber-lhes, orientar-lhes e desenvolver-lhes as potencialidades.

As criança e os adolescentes jovens tendem a tomar más decisões e a fazer coisas estúpidas - faz parte do crescimento! Mas as escolas devem ser o lugar seguro onde praticam ser responsáveis pelo seu comportamento, em vez de aprenderem a usar os outros como desculpas. 

(a partir de um artigo de por Stephanie Jankowski)

February 04, 2022

diário de bordo

 


Hoje saí de casa lá para as 7.40h da manhã, para ir para a escola e deixei as chaves em casa... foi lindo... depois, assim que cheguei à escola fizeram-me logo uma queixa de dois alunos e lá tive que chegar à aula, fazer cara séria e explicar as leis da vida. Mas os pais não se dão conta que os miúdos ficam até às 4 da manhã a jogar online, no YouTube, nas redes sociais...? Depois não conseguem estar acordados nas aulas... 


January 31, 2022

Porque é que os comentadores falam sempre da escola sem conhecimento de causa mas com grande à vontade?

 


E porque não vão informar-se antes de debitarem as suas rezas? À laia de resposta a este comentador, que não sei quem é nem o que faz na vida, queria só esclarecer o seguinte:

No ensino secundário, os alunos têm a Filosofia como disciplina obrigatória (até agora porque o ex-SE queria acabar sub-repticiamente com a disciplina - tem horror a pessoas que pensam) e não sei se o conseguiu. No 10º ano, é obrigatório o tema da Acção Política e, dentro desse tema temos o problema da organização de uma sociedade justa. Trabalha-se, obrigatoriamente, a Teoria da Justiça de John Rawls e as críticas que lhe fizeram. Ao abordar essa teoria é necessário explicar o funcionamento do Estado de Direito -os vários poderes e a sua independência uns dos outros- e o funcionamento de um Parlamento em democracia; ainda, as dificuldades e problemas que advêm da distribuição da riqueza e as várias perspectivas sobre esse assunto.

Antes desse tema, damos o tema da Ética e dentro da Ética abordamos a questão dos deveres para com os outros, isto é, da vida em sociedade e dos deveres éticos que suportam as sociedades.

É só isto que queria dizer: ao contrário do que alega, isto é, que os alunos não aprendem nada sobre a organização da sociedade política e que é por isso que se alheiam dela, os alunos aprendem sobre o assunto (enfim, não sabemos se o SE acabou com isso ao querer acabar com a filosofia nas escolas), de modo que se calhar não se interessam pela política porque a política não se interessa por eles. Em segundo lugar, gostava que antes de falar da escola e dizer o que a escola deve fazer e ser, podia, da próxima vez, informar-se.  Eu sei que é fácil dizer mal da escola e dos professores,  é uma espécie de desporto nacional, mas não deixa de ser medíocre.


Crónica do dia de reflexão – sugestões para a questão da corrupção


António João Maia

Em primeiro lugar, uma aposta mais clara relativamente à formação e educação para a cidadania. Não apenas numa perspetiva do que seja eticamente aceitável em termos da procura de uma sã convivência social, mas também numa perspetiva de formar e informar os cidadãos, sobretudo as gerações mais novas, sobre a importância do Estado e da participação e envolvimento responsável de todos no seu funcionamento.

Receio que ainda subsistam muito concidadãos, alguns mesmo com formação académica de nível superior, que desconheçam, pelo menos com um detalhe minimamente adequado, como está organizado o Estado, como se articulam as suas estruturas, qual a sua função, e porque razão somos ciclicamente chamados a participar em atos eleitorais. Afinal a democracia faz-se por todos. E se as pessoas não se encontrarem minimamente despertas para o que está em causa, o mais provável será que não se identifiquem com o que delas se espera. Que considerem que não é com elas. Numa palavra, que não se envolvam. A este propósito são importantes os resultados revelados no âmbito do projeto Abstenção e participação eleitoral em Portugal: diagnóstico e hipóteses de reforma, de João Cancela e Marta Vicente.

E estes sinais de um certo “alheamento” ou “distanciamento” da política não se ficam a dever a qualquer incapacidade das pessoas. Será mais o efeito de um certo desconhecimento do que está em causa.

E quanto a este ponto, os políticos, sobretudo os que têm exercido funções executivas, não podem deixar de perceber que devem ter uma ação importante. Dinamizar políticas públicas formativas e informativas em todos os níveis de ensino. Apetece-me escrever, a este propósito, que sou do tempo em que, no ensino secundário (no liceu como então se designava), havia uma disciplina de Introdução à Política. Nela ficávamos a conhecer o modelo de organização política do Estado. O modo com as diversas estruturas que compunham essa organização – estruturas políticas (o Presidente da República, o Parlamento e os deputados, e o Governo), e também as estruturas da Administração Pública (os departamentos, serviços e entidades públicas ligadas aos diversos ministérios) – se interligavam e funcionavam, e o papel central do cidadão em todo este processo.

November 17, 2021

Difícil não ficar deprimido II

 


Uma colega enviou-me uma mensagem. Está desde as 4 da tarde numa reunião de grupo... estarão a resolver o buraco de ozono?? Chiça!


October 19, 2021

1-0 amanhã há mais

 


Agora não posso beber um copo de vinho para relaxar porque comecei e tomar um antibiótico para uma cena que vou ter que fazer, mas vou pôr-me ao fresco e em estado psicadélico. 🙂



Wassily Kandinsky
Movement I, 1935

September 16, 2021

Ainda o ano não começou a sério e já fiz dez mil passos a brincar

 


A ir e vir a pé da escola. E não foi mais porque agora mesmo vim com uma colega.

As minhas turmas parecem engraçadas. Isso é logo uma boa perspectiva. Esta cena de não vermos a cara dos alunos...nem os reconhecemos com máscara nem os reconhecemos se um dia os virmos sem máscara... podíamos ir lá pela fotografia mas eles entregam fotografias de quando tinham dez anos. E os pais? Vai ser a mesma coisa... enfim. É o que for.


September 13, 2021

Back to school 😷

 


Uma pessoa desabitua-se logo do trabalho. Habituar é que é mais difícil 🙂. Por exemplo, esta azáfama de início de ano, já a tinha esquecido lol, assim como esquecei das burocracias e outras cenas próprias desta altura. Tirei tudo da cabeça e agora é preciso pôr lá tudo outra vez.




June 02, 2021

Isto não é verdade




“É uma iniciativa que procura transformar a escola para que esta deixe de ser uma indústria. As crianças trabalham cada vez mais e a escola não pode ser o trabalho infantil do século XXI", aponta.

   — O psicólogo Eduardo Sá em entrevista à SIC Notícias.

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Quando andei na escola (pública), na altura chamada primária, tinha aulas das 9h da manhã até às 3h da tarde com um intervalo de uma hora para almoço e um intervalo de 30 minutos a meio da manhã. Às 3.30h da tarde íamos para casa da professora (um grupo grande), para um anexo que ela tinha no jardim e estudávamos, fazíamos os trabalhos de casa até às 6h da tarde. Sem intervalo. Tanto nas aulas como depois no estudo, trabalhávamos intensamente, não havia distracções nem brincadeiras. Hoje em dia não se trabalha assim nem pouco mais ou menos. O que não é mau, diga-se de passagem porque aquilo era um regime demasiado formal e adulto e sem nenhuma pedagogia. A professora era horrível enquanto pessoa. Batia a torto e a direito e todos tinham medo dela. No entanto, sabia ensinar. Portanto, tendo em conta que as coisas deviam ser idênticas na maioria das escolas públicas (a experiência dos que conheço da minha idade é semelhante), não é verdade que as crianças hoje em dia trabalham mais e que a escola seja trabalho infantil. Este senhor fala muito como se fosse especialista em educação escolar. Só que não é e vê-se em muito do que diz. Passar muitas horas dentro de escolas não significa trabalhar muitas horas. Significa que a escola se tornou um depósito de crianças.

May 27, 2021

segundo a Jéssica, e eu acredito, e as colegas poderão testemunhar, o menino é um bocadinho chato, é imaturo, ele é um bocadinho pica miolos, está sempre a chatear…”

 


A filha tem quase um metro e oitenta, mas como tem 13 anos, a mãe chama-lhe criança. E afinal, a filha acha o rapaz um chato. 

Os pais têm muito que ver com as atitudes dos filhos. Esta mãe justifica o acto da filha (uma calmeirona com mais de 1.75m, adolescente, a quem a mãe chama criança) com características do rapaz que a filha não gosta. Portanto, todos têm que agradar à Jéssica? A resposta da mãe foi tirar 'coisas' à filha. Assim como calculamos que os prémios da rapariga sejam 'coisas'. Portanto, o que tem valor para esta rapariga é o que tem valor para a mãe: as 'coisas' que lhe dão e tiram. Não as pessoas, porque vê-se que a mãe não valoriza o rapaz agredido como pessoa, por ser um chato, na opinião da filha, que a mãe valoriza acima de tudo.

Pais destes são cada vez mais frequentes e justificam tudo o que os filhos fazem, mas tudo mesmo, a partir da 'opinião' que os filhos têm sobre os outros. Filhos esses, 'crianças' durante todo o percurso escolar, mesmo que saiam de lá com 21 anos. 



Mãe de “agressora” reage ao atropelamento de criança vítima de bullying

O vídeo chocante – que optamos por publicar- , mostra imagens de um grupo de alunas de uma escola na Arrentela, Seixal a fazer bullying a um colega, que ia fugindo. Chamavam-lhe nomes e provocavam-no ao pé da Estrada Nacional 10-2. Quando tentava fugir, passou a estrada e foi atropelado.
(...)
O jovem sofreu ferimentos ligeiros e já se encontra em casa. À SIC, falou Cláudia Barata, mãe de Jéssica, uma das intervenientes no vídeo.
(...)
“A minha filha está com a cabeça desfeita em água, está de castigo, retirámos-lhe tudo, não sei se querem que eu faça um vídeo a dar-lhe uma tareia e que ponha nas redes sociais, porque neste momento nas redes sociais é aquilo que acho que pretendem que eu faça, que é gerar violência depois do que aconteceu. Neste momento toda a gente quer a cabeça da Jéssica, querem que ela seja punida e eu não sei o que é pretendem: se é que ela seja crucificada em direto, não faço ideia“.
Tal como já tinha sido noticiado, o caso segue agora para o Tribunal de Menores: “Os pais tiveram direito de fazer uma queixa da PSP, isto vai para Tribunal de Menores, não sei porque é que não aguardaram o final da história. Preferiram meter nas redes sociais, que isto fosse para a televisão, para que toda a gente soubesse, eu tentei falar com a mãe, a mãe não quis falar comigo, toda a gente está a tentar denegrir a imagem dela mas podem falar com a diretora de turma, com os professora, com os colegas da Jéssica“, prosseguiu, culpando os pais da vítima pela divulgação do vídeo.

Em defesa da filha, Cláudia reitera ainda que a filha não é “um monstro” e que tudo não passou de “uma brincadeira que correu muito mal. “O menino decidiu atravessar a estrada sem olhar. A minha filha tem mais de 1,75 m, mas é uma criança, tem 13 anos e não podemos considerar tudo bullying, isto é um episódio que correu muito mal, infelizmente“, reiterou.

A mãe de Jéssica fala ainda num episódio anteriror, revelando que os jovens são da mesma turma e que existe um conflito prévio. “A Jéssica teve um episódio um ou dois dias antes em que também lhe tinha dado um murro, mas segundo a Jéssica, e eu acredito, e as colegas poderão testemunhar, o menino é um bocadinho chato, é imaturo, ele é um bocadinho pica miolos, está sempre a chatear, foi a reação dela, não foi por mal…”