Diana Soller: “A Rússia sempre lutou com duas ideias: tem tempo e gente suficiente para morrer. Foi assim que ganhou a II Guerra Mundial”
Com a cedência territorial da Ucrânia a tornar-se inevitável... ??
Donald Trump tem, por um lado, uma visão reacionária do mundo, mas também revolucionária. ??
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A Europa está cheia de anti-europeus, na maioria dos casos putineiros e trumpistas.
Uma nota: "foi assim que a Rússia ganhou a II Guerra Mundial" - não, não foi assim.
A União Soviética (não a Rússia) nunca teria ganho à Alemanha nazi sem o apoio militar dos EUA. Os EUA forneceram à União Soviética uma ajuda militar e industrial maciça através do programa Lend-Lease, num total de mais de 11 mil milhões de dólares (equivalente a centenas de milhares de milhões actuais - muito mais que os 200 mil milhões de activos russos congelados), incluindo material militar crucial: mais de 400 000 camiões/jipes, mais de 14 000 aviões, 13 000 tanques, grandes quantidades de alimentos/petróleo e enormes quantidades de matérias-primas (alumínio, aço) e equipamento ferroviário.
Quando Putin diz que a URSS ganhou a guerra sozinha contra a Alemanha nazi, mente. Mentir é o que ele faz mais e melhor. Nunca a URSS teria ganho sem o apoio dos EUA. Ele sabe-o e é por isso que o quer agora. Ou pelo menos quer impedir que esse apoio vá para a Ucrânia contra si. A Rússia só ganhará esta guerra se os EUA a apoiarem. Sem o apoio de Trump, mesmo com os obstáculos que Biden pôs à Ucrânia, a Rússia já teria sido derrotada.
Ao contrário das vozes que vaticinam a perdição da Europa, penso que os factos mostram, justamente, um caminho no sentido oposto. Com perigos e obstáculos, sim, mas que estão ao nosso alcance resolver.
Não vou comparar a Europa com a Rússia, um Estado que passou de uma ditadura totalitária para uma ditadura de mafiosos, liderada por um ex-KGB, um indivíduo que se mantém no poder através da prisão e assassinato de oponentes internos, corrupção de políticos e governantes estrangeiros e crimes de guerra.
Mas podemos comparar a Europa aos EUA desde a 2ª Grande Guerra e, em particular, nestes últimos anos, desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. O que vemos?
A Europa, gradualmente, desde o fim do mandato de Merkele, a tornar-se independente da Rússia, a fortalecer as instituições europeias, a lidar com os casos de interferência da Rússia em eleições, com os subornos de políticos por parte de russos e de países islâmicos apoiantes de terrorismo; vemos a Europa a lidar com os casos de corrupção, a fortalecer os procedimentos democráticos, a unir-se entre si e com a Ucrânia. A começar a lidar com a cumplicidade das instituições governamentais quanto aos crimes de imigrantes islamitas, os tais que Merkele forçou a Europa a aceitar em números de milhões.
Isto não significa que a Europa esteja isenta de problemas: o anti-semitismo está em crescimento, em vários países não há liberdade de expressão no que respeita aos abusos dos homens-biológicos-trans e violações de raparigas europeias por gangs de islamitas - a Inglaterra sendo o pior caso.
No entanto, tendo em conta a complexidade do sistema da UE, onde as decisões têm de ter o acordo de uma vintena, não de Estados de um mesmo país mas de países diferentes e com um historial complicado, eu diria que estamos bem encaminhados. Temos uma maioria de líderes fortes e capazes, pessoas competentes, não apenas à frente dos cargos da UE mas no governo de muitos países. Se continuarmos a fortalecer-nos e, sobretudo, se formos determinados na ajuda à Ucrânia para que os custos da guerra sejam tão grandes para a Rússia que seja forçada à paz, o futuro é promissor. Precisamos depois de resolver o problema do islamismo e terrorismo islâmicos. Precisamos de uma economia mais dinâmica e competitiva. Na tecnologia, por exemplo. Porém, não estamos a recuar como os EUA.
Quanto aos EUA, o que vemos é:
- primeiro mandato de Trump - os EUA começam a praticar a distância e a desvalorização dos parceiros europeus; a sociedade americana polariza-se, a religião envagélica começa a invadir os espaços institucionais públicos;
- presidência de Biden - a Ucrânia é invadida, os EUA não querem que a Rússia vença a guerra mas não a querem derrotada pela Ucrânia. Vão sabotando as iniciativas ucranianas até ao limite;
- segunda presidência de Trump:
- imposição de tarifas a todos menos à Rússia;
- encontros com Putin, ameaças a Zelensky;
- acordos secretos com Putin nas costas da Ucrânia e da Europa;
- contratação de amigos sem currículo nem experiência para os cargos mais altos das áreas mais sensíveis do Estado;
- tentativa de minar eleições na Europa;
- tentativa de desunir a UE;
- venda de informação secreta aos russos;
- discursos de poder total mundial;
- tentativa de comprar ou invadir países vizinhos;
- perseguição de oponentes - políticos, jornalistas, etc;
- implementação de políticas racistas e misóginas;
- encobrimento e perdão de insurrectos, ladrões, pedófilos, violadores, assassinos;
- teocratização do Estado e das suas políticas;
- prisão e deportação indiscriminada de imigrantes e à margem da lei;
- hostilização e humilhação pública de mulheres;
- recuo dos direitos das mulheres a meados do século passsado;
- radicalização da sociedade;
- linguagem pública e institucional agressivas e beligerantes:
- graves violações da liberdade de expressão;
- desmantelamento das instituições públicas em todas as áreas;
- degradação notória do Estado de Direito;
- práticas oligárquicas e autoritárias comuns;
- apoio explícitos a países que têm objectivo público de destruição das democracias ocidentais.
Portanto, à medida que a Europa se distancia e torna independente da Rússia, os EUA distanciam-se dos aliados e tornam-se dependentes da Rússia - como em tempos a Alemanha o fez, com o resultado que está à vista; à medida que a Europa se une em torno de objectivos comuns: a defesa da Ucrânia/da Europa, da democracia, da independência; a insistência nos processos de diálogo e respeito pelas instituições, os EUA radicalizam-se, destroem as instituições, atropelam os direitos mais básicos das pessoas, cometem crimes de guerra, hostilizam vizinhos e promovem a o racismo e a misoginia...
Não me parece que a Europa esteja numa grande decadência face aos EUA. Pelo contrário. Não estamos a recuar em termos sociais e políticos como os EUA e se soubermos ultrapassar esta situação -é preciso constância na união, solidariedade, confiança e determinação- saímos disto mais fortes. Já os EUA sairão mais fracos, tendo fragilizado as suas próprias instituições, os seus aliados e a sua influência no mundo.
O modelos de Trump são Putin e Orban. É só olhar para as sociedades que estes dois criaram.