🙋♀️
Era para ter trabalhado muito nesta pausa mas nem por isso...
Era para ter lido livros em atraso, mas nem por isso...
Vi alguns filmes em atraso...
Pouca coisa...
Nem sequer descansei muito. Dormi mal...
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Era para ter trabalhado muito nesta pausa mas nem por isso...
Era para ter lido livros em atraso, mas nem por isso...
Vi alguns filmes em atraso...
Pouca coisa...
Nem sequer descansei muito. Dormi mal...
Toda a gente me diz isso. E não falo da questão, saudável, de se preocuparem em ter uma vida própria para além do trabalho. Falo de ganharem o dobro do que algum vez hei-de ganhar, mas pensarem que isso é um direito que lhes assiste e que não vem com a obrigação de cumprir o contrato de trabalho. Podem não atender o telefone a um cliente porque são oito da noite - embora a flexibilidade faça parte do seu contrato e seja muito bem paga, entendem a flexibilidade apenas na parte de poderem entrar tarde no trabalho ou sair mais cedo. E dizem ao chefe, que pode ser o dono da empresa, a sua opinião sobre tudo e um par de botas, acerca da empresa, em qualquer sítio e altura. Até pode ser numa reunião com clientes. LOL Passam o tempo a queixar-se e tudo é uma ofensa aos seus direitos. E se alguém lhes diz alguma coisa respondem logo que é opressivo e mais não sei quê.
Aqui há uns anos uma colega professora que esteve um ano lá na escola -era o primeiro ano que trabalhava como professora- perguntou-me, 'Olha lá, fui convocada para uma reunião do grupo disciplinar. Achas que tenho que ir?' LOL Claro que tens que ir e se não vais tens falta. 'Que chatice -dizia ela- ainda por cima a delegada do grupo quer ter uma reunião só comigo para me dar trabalho. Porque é que tenho que fazer o que ela quer?' Porque estás a trabalhar sob contrato numa instituição que tem uma organização definida com hierarquias estabelecidas. E tens interesse em saber o que o grupo anda a fazer, trocar experiências, tirar dúvidas, etc. 'Mas eu sou de opinião que não tenho que ser obrigada a falar com uma pessoa de quem nem gosto e ir a reuniões que não me interessam' LOL Então fala disso na própria reunião ou na reunião geral de professores. Foi uma conversa surreal, mas típica desta nova geração.
A minha taxista tinha um indivíduo novo a quem dava serviço às vezes porque tem excesso de trabalho e ele é bom no trabalho. A certa altura ele pediu para ir trabalhar para ela. Quando ela lhe disse o trabalho que faz e ele tinha que fazer, ficou chocado. 'Fazer serviço à noite? E de madrugada? Ir para o aeroporto a essa hora? Ou para Espanha e só voltar passados dois dias? Eu a partir das seis quero ir para casa ver a minha mulher e os filhos. E ao fim de semana também não quero trabalhar. E vou sempre almoçar a casa'. LOL Um dia levou-me a um hospital e no caminho contou-me isto e eu ri-me. E diz ele, 'Está a rir-se? Mas a professora trabalha à noite?' LOL Noites, fins de semana, férias - sempre que é preciso. Tenho prazos para entregar os trabalhos, fazer avaliações, fazer as pautas. Se não o fizer não saem as notas. Ficou chocado, disse-me que acha mal e que ele não faz isso. Ele vê o negócio dela a prosperar imenso de ano para ano, mas não tem noção do que isso implica em termos de horários de trabalho e não está disposto a trabalhar o que é preciso. Mas queria o trabalho na parte de ir ganhar bastante bem.
Muitos miúdos que andam pelos vinte e tal anos e estão a começar a trabalhar não têm noção da vida e parece que pensam que o mundo lhes deve alguma coisa. Isto é uma coisa geracional. Passou-se do exagero oposto para esta falta de sentido das responsabilidades.
Na 1ª semana de aulas gastei tempo a explicar aos alunos do 10º ano a importância da metodologia. Mostrei-lhes como se faz um plano de estudo semanal que não seja pesado e permita ter as matérias sempre em dia. Desenhei no quadro: 2ª, 3ª, 4ª... sábado, domingo. 'SÁBADO E DOMIGO?' LOL. sim, se tiverem que apresentar um trabalho numa 2ª feita têm que trabalhar nesse fim-de-semana. Ou se tiverem um teste grande na 2ª. É uma excepção mas pode acontecer, de maneira que não podem considerar o fim-de-semana uma espécie de dia sagrado. Por outro lado, se um dia tiverem aulas de manhã e à tarde, nesse dia já não vão estudar, a não ser excepcionalmente. Diz logo um aluno: 'o professor de matemática mandou um trabalho de casa no dia em que temos aulas de manhã e à tarde. Podemos não fazer?' LOL Bem, poder pode, mas é do seu interesse fazer. No dia seguinte retire a parte do estudo da matemática ao plano, uma vez que já estudou neste dia fora do plano. Adapte. Mas quer dizer, achou logo que podia queixar-se de ser uma vítima de qualquer coisa...
Estou aqui a trabalhar nas DTs e preciso de entrar no programa de alunos e ir a várias páginas buscar informação, para deixar o trabalho das reuniões acabado e se poder afixar as pautas. O programa funcionar devidamente a partir de casa é uma anedota, uma ilusão, uma utopia ou o que lhe queiram chamar. Todos os professores se queixam. E porquê? Começa logo pelo facto do ME não comprar o domínio (deve estar à espera que a escola ou os professores o comprem do seu bolso com os seus salários extraordinários), o url indicar, 'não seguro' e o computador fazer os possíveis para bloquear a entrada no site e fazer-nos 20 avisos com pontos de exclamação. Quando se consegue entrar, para ir de uma página a outra é um inferno porque o computador deve fazer 500 verificações de segurança. A maioria das vezes bloqueia. É claro que podia não estar hoje a trabalhar que é sábado ou não ter trabalhado na 5ª feira que foi feriado ou nunca trabalhar na DT a não ser na hora do horário e na escola, (onde só há 4 computadores para a DT e os diretores de turma são 45 ou 50) mas se um professor só trabalhasse nos dias e horas previstas no horário, metade do trabalho ficava por fazer. No fim do ano, por exemplo, podia acontecer as pautas não serem afixadas nos prazos necessários para cumprir todos os procedimentos legais até aos exames, eles mesmo com os seus prazos fixados por lei. Portanto, esta de ter programas manhosos, deve ser outra das inúmeras melhorias deste ME, cujo lema é: se puderes dificultar o trabalho aos professores, 'just do it'.
American Factory é um documentário de 2019 acerca de um bilionário chinês que compra a antiga fábrica da General Motors em Ohio, fechada em 2008 no ano da grande crise, com milhares de famílias deixadas no desemprego. O documentário começa aí nesses milhares de pessoas que ficaram sem trabalho numa idade difícil e que tiveram que ir viver para casa de familiares e viver de cupões de alimentação. Em 2012 aparece este bilionário chinês que compra a fábrica para produzir vidro e emprega uns 1500 desses trabalhadores. De início ficam satisfeitíssimos e agradecidos que alguém lhes dê essa oportunidade, mas à medida que o tempo passa as coisas mudam. Em primeiro lugar, os trabalhadores dizem que quando trabalhavam para a GM, uns anos antes, ganhavam 29$ à hora e com o chinês ganham 12$ à hora, as pausas para almoço não são pagas, não têm condições de segurança dentro da fábrica e se têm acidentes de trabalho perdem pontos e são despedidos, todos os espaços de convívio são fechados, etc. Os chineses trazem consigo chefes e trabalhadores para mostrarem aos americano como se trabalha na China e levam alguns supervisores americanos à fábrica-mãe na China: turnos de 12 horas por dia, trabalhar ao domingo e ter uma única folga por mês, cantar de manhã a prometer trabalhar feliz para o chairman e outras coisas do género num clima de endoutrinação e lavagem ao cérebro que nada tem que ver com a cultura americana. Os trabalhadores começam a falar de ter um sindicato e o chairman faz logo saber que se tiver problemas com sindicatos fecha a fábrica e vai abri-la noutro país. Entretanto os chineses têm espiões a informar quem são os trabalhadores activistas sindicais e despedem-nos.
Quando pensamos que a China é um país comunista que defende o bem-estar dos trabalhadores e os direitos dos trabalhadores, mas na prática é um país onde um grupo de chefes do partido e seus satélites vivem em palácios (vemos o palácio do bilionário chinês) e escravizam os trabalhadores percebemos o que é o comunismo nos países onde foi implementado. Os americanos queixam-se que os chefes chineses não os respeitam enquanto pessoas, que esperam que obedeçam sem uma explicação como se fossem crianças ou escravos e que estão habituados a pensar que é possível uma fábrica ter lucro, o dono ter lucro e, ao mesmo tempo, os trabalhadores serem tratados com respeito.
Na China a fábrica-mãe é tão grande e tem tanta gente que fazem uma cidade à volta dela onde vivem os trabalhadores, grande parte dos quais só vai a casa uma vez ou duas vezes por ano e não vêem a família, mas repetem a ladainha de que a vida é pra trabalhar e estão felizes e tal.
Enfim, a certa altura vemos que há dois ou três trabalhadores de cada lado que criam laços com os da outra cultura e mudam um pouco a sua maneira de ver o mundo mas no geral permanecem como água e azeite.
No fim, um dos trabalhadores americanos diz que depois da crise de 2008 os patrões -que a provocaram- não só ficaram mais ricos como também mais autoritários, que em geral as condições de trabalho e os salários pioraram e que as grandes lutas sindicais do início do século XX que pareciam estar no passado tinham que voltar a fazer-se. O filme acaba com o chinês a dizer que vão substituir os trabalhadores por automação.
Os robots não se queixam nem precisam de sindicatos ou de folgas ou salários. Vivemos num mundo de ganância e se não se pensa o trabalho já, daqui a dez anos não há trabalho praticamente para ninguém.
Advices to keep the good employees pic.twitter.com/Pc5PVnHiim
— Tansu YEĞEN (@TansuYegen) November 17, 2022
Não sei se é assim em todo o lado mas em Setúbal é tudo feito lentamente e às três pancadas. Agora ia a caminho da farmácia e uma senhora à minha frente, com pouca mobilidade, ia caindo. E porquê? Há pouco tempo arranjaram esta zona toda e a última coisa que fizeram foi empedrar os passeios, mas como o brio no trabalho é um cavalheiro desconhecido, ficou assim como se vê nas fotografias. enormes extensões de pedras apenas postas ali, não betumadas, de maneira que têm enormes interstícios entre elas que são autênticos pequenos precipícios. Mesmo de saltos largos ou rasos, dado que as pedras são irregulares e não estão estáveis, o piso é todo irregular e instável.
Ponho-me a pensar: quem deu as ordens para que não se betumasse a pedra e quem a pôs assim e viu o serviço que ficou, se calhar são pais de alunos. Como podemos nós esperar que os alunos tenham brio no trabalho?
Work smarter, not harder! pic.twitter.com/84iTEUTa6L
— Work smarter, not harder (@EvoIution9) July 24, 2022
Ser produtivo não é trabalhar muitas horas.
Trabaja inteligente, no duro. pic.twitter.com/2intsbg4S0
— Fieras de la ingeniería (@FieraIngenieria) July 5, 2022
Estive a fazer os exercícios de avaliação da formação e um deles foi difícil. Estive uma hora de volta daquilo. Experimentei 4 maneiras diferentes de diagramar o argumento e nenhuma me pareceu excelente... e o argumento nem sequer era muito complexo, mas tinha muitas adversativas. Fazer isto é giro, mas dá trabalho. Lembro-me de uma frequência da cadeira de Lógica na licenciatura incluir uma avaliação lógica de uma página inteira do Parménides de Platão. Algo assim:
(excerto do Parménides de Platão)
E ouvir uma música qualquer de ficar bem disposta e estar na boa que tenho trabalhos para corrigir e classificar à tarde. Estive desde as sete da manhã até agora a trabalhar na DT. Chega, porque já ultrapassei em triplo as horas que tenho para isso.
Ontem fui levar a vacina da gripe e dói-me um bocadinho o braço, mas como já posso beber um copo de vinho...
Uma pessoa fica uns tempos afastada das aulas e DTs e quando volta está cheia de pica e até faz coisas que normalmente só costuma fazer lá para o meio do período ou no segundo período. Os colegas riem-se de nós, 'sim, sim, a gente quer ver-te daqui a um mês com essa pica' 🙂
As pessoas queixam-se dos serviços públicos terem maus funcionários, mas depois clamam que querem maus funcionários, ou pensam que pagar mal e oferecer uma não-carreira é um chamariz para ter bons funcionários? Não estou a defender que se paguem fortunas aos funcionários públicos, mas se não têm um salário decente e condições de trabalho decentes, quem quer ser funcionário público? Não percebemos, agora ainda mais neste contexto de pandemia, a importância dos serviços públicos? A saúde, a educação, ter políticos competentes, pessoas na administração pública de qualidade que não dependam de favores do governo de ocasião? Não vimos isso nos incêndios, no SEF, no caos dos hospitais por incompetência da ministra da saúde? Não estamos a ver a necessidade de bons funcionários públicos na justiça? Como é que se tem bons serviços públicos com funcionários mal pagos? Isso é querer ter o lucro sem o custo e esse é o problema dos trabalhados no privado: têm patrões que pagam mal para poderem comprar o segundo iate, a quinta em Sintra e etc. Aliás quando os salários da função pública sobem os dos privado também sobem, não é ao contrário. A função pública, ademais têm funcionários muito qualificados, ao contrário da maioria dos trabalhadores do privado. Porque é que, em vez de atacar os funcionários públicos, não se clama por melhores serviços e melhores salários no privado? Quantas falências fraudulentas com despedimentos de centenas de pessoas aconteceram no tempo da troika por os patrões não quererem baixar os lucros das empresas e receber menos e depois ter que vender o Ferrari? Os nosso empresários privados são maus, na maioria: pouca formação e pouca visão. Não querem pagar para ter bons funcionários. A função pública é grande parte da classe média do país. Temos pessoas a fugir ao fisco aos milhões, o fosso das desigualdades está cada vez mais largo e em vez de se atacar as causas desses problemas atacam-se os trabalhadores da função pública? Não percebo. Ou percebo. É ir ao mais fácil.
Já interiorizaram a necessidade de trabalho, de disciplina, de ter uma atitude motivada. É claro que é uma escola de elite e os miúdos sabem ao que vão, daí o discurso tão maduro, mas mesmo assim, se os alunos das escolas tivessem um décimo desta atitude em relação ao trabalho, a vida deles seria tão diferente...
As pessoas, na sua vaidade de poder, precisam que os outros as reconheçam como mestres, senhores, reconhecendo-se a si mesmos como escravos (porque aqueles recusam-se a reconhecer nos outros [que os querem] escravos). Se estes lhes negam esse reconhecimento, pois é evidente que esta relação, para ser, tem de ser mútua, não podem reconhecer-se como senhores [do poder]. Às vezes, isso resulta em obsessões doentias contra outras pessoas.