Já eram recorrentes muitos anos antes de haver falta de professores, quando já havia problemas a agravar-se na carreira docente, desmotivação a crescer e pessoas a desaparecer das escolas e continuam na mesma senda, mesmo já depois de não haver professores - coisa que há-de agravar-se nos próximos anos.
A não-solução dos problema já nos custou os professores e vai-nos custar a qualidade do ensino porque agora, ao contrário do que acontecia, já não é possível ir escolher bons profissionais. Agora é mais, 'tudo o que vem à rede é peixe'. Pois mesmo assim, em vez de se resolver os problemas que assolam a educação, faz-se queixa das greves.
Sim, as greves prejudicam as aulas e os alunos - embora nós, professores, tenhamos estratégias preparadas para eventualidades e percalços - mas o que mais tem prejudicado os alunos nestes anos todos é o total desprezo a que a educação foi votada para poupar dinheiro.
Fizeram esta cama mas não se querem deitar nela...
Ainda na semana passada li que a IL
defende aulas online para combater falta de professores. Se não há professores onde se vão arranjar professores para as aulas online? O que é que a IL pensa que são aulas online? Como se fala muito em «dar aulas», as pessoas pensam que ser professor é «dar» palestras que temos decoradas na cabeça. Como é que as aulas online diferem das outras? Não implicam avaliações, fichas de trabalho, testes, discussão com os alunos, preparação diferenciada de aulas à distância, preenchimento de burocracia para cada aluno, etc? Quem é que vai dar aulas online? Os professores que dão aulas presenciais e já têm o horário cheio e com horas extra? Cada turma a mais representa uma enorme quantidade de trabalho de horas não lectivas, isto é, noites e fins-de-semana.
No mesmo artigo, a IL diz que, segundo as contas do seu líder, a redução de número de funcionários públicos pouparia entre 1500 a 2 mil milhões de euros. Lá voltamos à mesma de fazer contas de diminuir, em vez de dar qualidade aos serviços. Temos falta de professores, falta de médicos, de enfermeiros, de funcionários administrativos... mas a IL quer reduzi-los ainda mais. Se calhar devia ir ver onde estão esses funcionários públicos excedentários: nas administrações locais e central, vá ver os adjuntos, os assessores, os estagiários filhos de amigos do partido e todos esses que pedem aos amigos da política, "dá-me aí uma merda qualquer a ganhar 11 mil euros por mês, de preferência no estrangeiro".
O dinheiro dos salários dos funcionários públicos são uma gota no oceano de desperdícios do Estado, da banca e das empresas públicas que são na ordem das dezenas de biliões.
Portanto, há 15 ou 20 anos que estes artigos de jornal aparecem recorrentemente, com as mesmas queixas e as mesmas não-soluções, mas parece que todo o mal são os funcionários públicos que o fazem e, em particular, os professores.
A educação em suspenso: falta de professores, greves e alunos sem aulas
A instabilidade crescente no sistema educativo já deixou milhares de alunos sem aulas. Esta realidade não só limita a aprendizagem dos alunos, como também acentua as desigualdades já existentes.