Caso Ihor Homeniuk: filha leva ministra da Administração Interna a tribunal por promessa falhada
Hugo Franco
Nesta “intimação para prestação de informação”, a que o Expresso teve acesso, a jovem alega que o MAI está em falta com uma indemnização que lhe foi prometida pela então provedora de Justiça e atual ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral.
Em dezembro de 2020, Lúcia Amaral propôs formalmente que o Estado português pagasse a Veronika Homeniuk uma prestação anual de 3375 euros para apoio da formação escolar, estando previsto num documento redigido pela provedora de Justiça que a entrega da verba fosse acionada no início deste ano de 2025.
Em 2020, Lúcia Amaral propôs que o Estado pagasse a Veronika Homeniuk uma prestação anual de €3375
Agora, nesta intimação contra o MAI, a defesa da jovem recorda que a resolução do Conselho de Ministros de dezembro de 2020 aprovou a responsabilidade indemnizatória do Estado para com a família de Ihor Homeniuk. Na altura, ficou definido que o pagamento fosse suportado pelo orçamento do SEF. Com a extinção desta polícia, há dois anos, o caso passou para as mãos do MAI, apurou o Expresso.
A mãe de Veronika recebeu do Estado português mais de 130 mil euros por danos patrimoniais e não patrimoniais atribuídos à filha enquanto herdeira do pai. Mas nada em relação a esta renda anual de 3375 euros — valor atualizado pela defesa para 3888 euros devido à inflação e o aumento do custo de vida entre 2020 e 2025.
O “silêncio” do Governo
José Gaspar Schwalbach, advogado da jovem, garante que a defesa tem pressionado vários organismos do Estado no sentido de ressarcirem a vítima: “Infelizmente, pese embora os diversos pedidos enviados para a Provedoria de Justiça, para o MAI, para o gabinete do primeiro-ministro e para o ministro da Presidência, a 17 de dezembro de 2024, a 17 de julho e a 1 de setembro de 2025, nenhuma das entidades quis dar resposta.”
A defesa lembra que se trata de uma jovem de 19 anos que perdeu o pai em Portugal, enquanto o mesmo se encontrava à guarda do Estado português, e que se encontra a frequentar a Faculdade de Farmácia de Lviv, na Ucrânia. Os documentos assinados pelo diretor da faculdade foram já apresentados como prova. Para José Gaspar Schwalbach, esta verba anual que o Governo “se recusa a liquidar, sem qualquer justificação ou preocupação pela situação” ajudará a jovem a manter os seus estudos superiores.
O advogado é taxativo: “Com o silêncio do Governo e da ministra da Administração Interna, todos perdemos. Na segurança, na confiança nas instituições e dos próprios representantes que foram eleitos para nos proteger.”
O Expresso contactou o MAI no sentido de perceber em que fase se encontra este processo. Até ao fecho da edição impressa não houve respostas. Mas já ao final desta noite de quinta-feira, o ministério tutelado por Lúcia Amaral enviou uma resposta escrita que o Expresso publica na íntegra.
"No âmbito do processo relativo à morte de Ihor Homeniuk, cumpre esclarecer que o Estado português já procedeu, em janeiro de 2021, ao pagamento de uma indemnização global no valor de 712.950 euros aos familiares da vítima.
Por conseguinte, mais de 99% do valor total previsto já foi integralmente pago, incluindo à filha Veronika Homeniuk, a quem foi atribuído o valor de 132.875 euros.
Encontra-se ainda em falta um montante de cerca de 3.375 euros anuais, destinado a apoiar a sua formação académica.
O motivo pelo qual este pagamento ainda não foi concretizado prende-se apenas com a necessária articulação entre entidades administrativas, na sequência da extinção do SEF, não estando em causa qualquer falta de compromisso do Estado relativamente a esta obrigação, cujo valor será pago."





