Uma colega nova que está lá na escola, uma rapariga que ainda não tem trinta anos, mas que leva o trabalho a sério, é dedicada aos alunos e quer muito fazer as coisas bem, hoje contou-me que na última reunião de pais, vários disseram-lhe que é uma miúda, que ainda usa fraldas (usaram esta expressão), que não tem idade para lhes dizer coisa alguma dos filhos e outras coisas do género. Bem, ofenderam a professora de tal maneira e com tal agressividade que ela chamou uma pessoa da direcção porque não se sentiu segura. Sabotaram a reunião da professora que mais está em posição de poder ajudar os filhos. Se os pais tivessem cabeça, apoiavam os professores que são quem apoia os filhos...
Acho estes pais mesmo pessoas estúpidas. Não há professores, os que há trabalham que se fartam, as turmas, mesmo quando são de pessoas impecáveis e se trabalha bem com elas, cansam brutalmente, porque é preciso uma enorme carga de energia para acompanhar a energia dos adolescentes e estar ali 1 hora e meia com a máxima concentração a fazer 30 coisas ao mesmo tempo, no meio de se trabalham os temas e se mantém os alunos em situação pedagógica e em ordem, porque sem respeito não se faz nada, mas estes pais vão à escola e falam aos professores duma maneira que não ajuda em nada os filhos. Mal educados, ignorantes, boçais na maneira de falar.
Uma professora nova e com pouca experiência como ela, fica já de pé atrás em voltar a ser diretora de turma. Ninguém nos paga estas ofensas diárias de encarregados de educação que sabotam os próprios filhos. Não percebo: será que acham que hostilizar as únicas pessoas que ajudam os filhos, para além das famílias, beneficia os miúdos?
No pouco tempo em que fiz parte de outro blog, havia indivíduos que me falavam duma maneira tão grosseira e vulgar e hostilizavam por sistema pela simples razão de ser professora, como se isso fosse um demérito. Chamaram-me arrogante, atrasada, retrógrada, anormal, monte de esterco, insinuaram que me vendo às editoras, mandaram-me aprender a escrever... Um dia escrevi uma cena sobre os perigos do abuso dos telemóveis na aprendizagem e nos comportamentos na escola. Chamaram-me tudo. Pessoas ignorantes que percebem zero de educação escolar e estão por fora de todos os assuntos da educação escolar e que têm opiniões cliché tiradas das redes sociais - mas que detestam professores, calculo que pela mesma razão que PPC e JMT: por ser uma profissão de mulheres. São machistas. Essas pessoas com essa mentalidade e linguagem são quem vai para as escolas sabotar os professores e prejudicar os filhos só para terem a satisfação de falarem mal e serem ordinários com mulheres. São o mesmo tipo de pessoas que vão para os jornais fazer comentários ordinários.
O maior problema das crianças e adolescentes são os pais que têm.
Já no ano passado estava lá um professor novo, muito bom, o tipo de pessoa que se vê que há-de vir a ser um excelente professor (se o ME e os pais não derem cabo dele) que passou um inferno com umas mães de uma DT. Um inferno. Todas as semanas iam lá infernizar a vida dele. Os emails que lhe mandavam... Era a primeira vez que era DT e disse-me que nunca mais queria voltar a ser DT, que os pais são completamente cegos em relação aos filhos. É claro que ele dizia estas coisas porque estava farto e já não suportava aqueles pais. Em situações destas, a certa altura qualquer professor perde completamente a vontade de ir trabalhar com essa turma. Vai para lá sempre a pensar em tudo o que diz na perspectiva de poder ser mal interpretado e de os pais ainda lhe inventarem mais chatices. Há pais que estragam a aprendizagem de uma turma inteira e estragam professores, achando que são muito espertos.
Hoje-em-dia os pais formam grupos no WhatsApp só para dizerem mal dos professores nos termos mais ordinários possíveis. Deixam que os filhos tenham acesso àquelas conversas e chamam tudo aos professores. Quando conhecemos certos pais percebemos os comportamentos dos filhos.
Há pais que estragam professores. Não é coisa de gente sem cabeça? Nos dias que correm é preciso ter experiência, costas largas, nenhum medo de intimidação, muita resiliência e uma direcção na escola que apoie os professores, para se aguentar as DT. Têm que se impor limites. E ter muito cuidado com certas coisas. Muito cuidado, porque há pessoas muito mal formadas e não podemos contar com o apoio do empregador que é o ME. Está sempre contra os professores.
Estes pais são uma minoria mas se não temos cuidado arrastam outros atrás e fazem muita mossa. Eu, como já ando nisto há muitos anos e sou DT há dezenas de anos e de há muito tempo para cá até tenho sempre 2 DTs, tenho estratégias para lidar com os pais no 10º ano, que é quando os conheço pela primeira vez e minimizar as situações e oportunidades de serem mal educados mas, vou sempre mentalmente preparada para ter que lidar com gente mal educada, que vai para ali exigir que os professores façam o que não quiseram nem querem fazer.
Uma grande maioria de pais já não educa, só quer ter tempos agradáveis com os filhos e vão gritar com os professores porque não souberam educar os filhos, cultivar-lhes o gosto pela aprendizagem, impor-lhes limites, etc.
Em Inglaterra e nos EUA, de há uma dezena de anos para cá, estes professores novos que vêm para as escolas cheios de entusiasmo vão-se embora ao fim de cinco anos. É o número de anos, em média, que aguentam estas situações. Os jovens já não são como no meu tempo que aguentavam certas situações e perseveravam. Não. Vão-se embora e arranjam outro emprego que os trate bem. É o que vai acontecer aqui. E fazem eles bem, porque esta profissão, como está, já não se recomenda a ninguém.
É revoltante porque vemos esses professores novos cheios de entusiasmo e interesse pelos alunos e depois meia dúzia de pais infernizam-lhes a vida. Desmotivam-nos sem razão nenhuma. Isto deve-se muito à desvalorização da profissão e ao modo como os ministros e a nossa pseudo-elite tratam os professores e, dessa maneira, incentivam os pais a tratar mal os professores. Alguns aconselharam os pais a fazer queixas e denúncias anónimas e tudo. Tenho um desprezo tão grande pelos governantes que ocuparam a pasta e estragaram, desvalorizaram, destruíram...
Tenho lido muito artigos, ultimamente, sobre as prioridades para o país. Nem um único refere a educação, mesmo sabendo que milhares de alunos não têm professor e para o ano ainda será pior e assim sucessivamente. Falam em devolver o tempo trabalhado há mais de 15 anos, em 5 anos. A minha sugestão é que o façam em 30 anos para garantir que não têm de gastar um só tostão com um único professor. E depois, já agora, sugiro ao ministro e SEs que aconselhem os pais a ir às escolas acabar com os professores (na sexta passada uma mãe foi à escola ameaçar uma professora porque não gostou da correcção de um teste da filha).
Quando não houver nenhum professor ou tiverem de contratar delinquentes à altura de certos encarregados de educação, o país vai poupar um dinheirão na educação. É assim que vamos tirar o mais da pobreza. Continuem que vão de vento em popa.