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April 15, 2024

Há EE muito mal educados

 

Uma colega nova que está lá na escola, uma rapariga que ainda não tem trinta anos, mas que leva o trabalho a sério, é dedicada aos alunos e quer muito fazer as coisas bem, hoje contou-me que na última reunião de pais, vários disseram-lhe que é uma miúda, que ainda usa fraldas (usaram esta expressão), que não tem idade para lhes dizer coisa alguma dos filhos e outras coisas do género. Bem, ofenderam a professora de tal maneira e com tal agressividade que ela chamou uma pessoa da direcção porque não se sentiu segura. Sabotaram a reunião da professora que mais está em posição de poder ajudar os filhos. Se os pais tivessem cabeça, apoiavam os professores que são quem apoia os filhos...

Acho estes pais mesmo pessoas estúpidas. Não há professores, os que há trabalham que se fartam, as turmas, mesmo quando são de pessoas impecáveis e se trabalha bem com elas, cansam brutalmente, porque é preciso uma enorme carga de energia para acompanhar a energia dos adolescentes e estar ali 1 hora e meia com a máxima concentração a fazer 30 coisas ao mesmo tempo, no meio de se trabalham os temas e se mantém os alunos em situação pedagógica e em ordem, porque sem respeito não se faz nada, mas estes pais vão à escola e falam aos professores duma maneira que não ajuda em nada os filhos. Mal educados, ignorantes, boçais na maneira de falar.

Uma professora nova e com pouca experiência como ela, fica já de pé atrás em voltar a ser diretora de turma. Ninguém nos paga estas ofensas diárias de encarregados de educação que sabotam os próprios filhos. Não percebo: será que acham que hostilizar as únicas pessoas que ajudam os filhos, para além das famílias, beneficia os miúdos?

No pouco tempo em que fiz parte de outro blog, havia indivíduos que me falavam duma maneira tão grosseira e vulgar e hostilizavam por sistema pela simples razão de ser professora, como se isso fosse um demérito. Chamaram-me arrogante, atrasada, retrógrada, anormal, monte de esterco, insinuaram que me vendo às editoras, mandaram-me aprender a escrever... Um dia escrevi uma cena sobre os perigos do abuso dos telemóveis na aprendizagem e nos comportamentos na escola. Chamaram-me tudo. Pessoas ignorantes que percebem zero de educação escolar e estão por fora de todos os assuntos da educação escolar e que têm opiniões cliché tiradas das redes sociais - mas que detestam professores, calculo que pela mesma razão que PPC e JMT: por ser uma profissão de mulheres. São machistas. Essas pessoas com essa mentalidade e linguagem são quem vai para as escolas sabotar os professores e prejudicar os filhos só para terem a satisfação de falarem mal e serem ordinários com mulheres. São o mesmo tipo de pessoas que vão para os jornais fazer comentários ordinários.

O maior problema das crianças e adolescentes são os pais que têm.

Já no ano passado estava lá um professor novo, muito bom, o tipo de pessoa que se vê que há-de vir a ser um excelente professor (se o ME e os pais não derem cabo dele) que passou um inferno com umas mães de uma DT. Um inferno. Todas as semanas iam lá infernizar a vida dele. Os emails que lhe mandavam... Era a primeira vez que era DT e disse-me que nunca mais queria voltar a ser DT, que os pais são completamente cegos em relação aos filhos. É claro que ele dizia estas coisas porque estava farto e já não suportava aqueles pais. Em situações destas, a certa altura qualquer professor perde completamente a vontade de ir trabalhar com essa turma. Vai para lá sempre a pensar em tudo o que diz na perspectiva de poder ser mal interpretado e de os pais ainda lhe inventarem mais chatices. Há pais que estragam a aprendizagem de uma turma inteira e estragam professores, achando que são muito espertos.

Hoje-em-dia os pais formam grupos no WhatsApp só para dizerem mal dos professores nos termos mais ordinários possíveis. Deixam que os filhos tenham acesso àquelas conversas e chamam tudo aos professores. Quando conhecemos certos pais percebemos os comportamentos dos filhos.

Há pais que estragam professores. Não é coisa de gente sem cabeça? Nos dias que correm é preciso ter experiência, costas largas, nenhum medo de intimidação, muita resiliência e uma direcção na escola que apoie os professores, para se aguentar as DT. Têm que se impor limites. E ter muito cuidado com certas coisas. Muito cuidado, porque há pessoas muito mal formadas e não podemos contar com o apoio do empregador que é o ME. Está sempre contra os professores.

Estes pais são uma minoria mas se não temos cuidado arrastam outros atrás e fazem muita mossa. Eu, como já ando nisto há muitos anos e sou DT há dezenas de anos e de há muito tempo para cá até tenho sempre 2 DTs, tenho estratégias para lidar com os pais no 10º ano, que é quando os conheço pela primeira vez e minimizar as situações e oportunidades de serem mal educados mas, vou sempre mentalmente preparada para ter que lidar com gente mal educada, que vai para ali exigir que os professores façam o que não quiseram nem querem fazer. 

Uma grande maioria de pais já não educa, só quer ter tempos agradáveis com os filhos e vão gritar com os professores porque não souberam educar os filhos, cultivar-lhes o gosto pela aprendizagem, impor-lhes limites, etc. 

Em Inglaterra e nos EUA, de há uma dezena de anos para cá, estes professores novos que vêm para as escolas cheios de entusiasmo vão-se embora ao fim de cinco anos. É o número de anos, em média, que aguentam estas situações. Os jovens já não são como no meu tempo que aguentavam certas situações e perseveravam. Não. Vão-se embora e arranjam outro emprego que os trate bem. É o que vai acontecer aqui. E fazem eles bem, porque esta profissão, como está, já não se recomenda a ninguém.

É revoltante porque vemos esses professores novos cheios de entusiasmo e interesse pelos alunos e depois meia dúzia de pais infernizam-lhes a vida. Desmotivam-nos sem razão nenhuma. Isto deve-se muito à desvalorização da profissão e ao modo como os ministros e a nossa pseudo-elite tratam os professores e, dessa maneira, incentivam os pais a tratar mal os professores. Alguns aconselharam os pais a fazer queixas e denúncias anónimas e tudo. Tenho um desprezo tão grande pelos governantes que ocuparam a pasta e estragaram, desvalorizaram, destruíram... 

Tenho lido muito artigos, ultimamente, sobre as prioridades para o país. Nem um único refere a educação, mesmo sabendo que milhares de alunos não têm professor e para o ano ainda será pior e assim sucessivamente. Falam em devolver o tempo trabalhado há mais de 15 anos, em 5 anos. A minha sugestão é que o façam em 30 anos para garantir que não têm de gastar um só tostão com um único professor. E depois, já agora, sugiro ao ministro e SEs que aconselhem os pais a ir às escolas acabar com os professores (na sexta passada uma mãe foi à escola ameaçar uma professora porque não gostou da correcção de um teste da filha). 

Quando não houver nenhum professor ou tiverem de contratar delinquentes à altura de certos encarregados de educação, o país vai poupar um dinheirão na educação. É assim que vamos tirar o mais da pobreza. Continuem que vão de vento em popa.


September 25, 2023

Uma ideia bem intencionada mas incorrecta nos termos - 'esqueci-me do filho no carro e ele morreu: vamos lá culpar a escola'




Uma coisa é haver um protocolo estabelecido para as creches e jardins de infância em que alguém tem a tarefa de ligar aos pais se a criança está ausente e ninguém avisou a creche ou jardim de infância dessa ausência, outra muito diferente é legislar no sentido de desresponsabilizar os encarregados da educação da criança e responsabilizar a creche pelos cuidados de parentalidade em falta. Isto não é correcto. É aos encarregados de educação que cabe o cuidado com os filhos até serem entregues às creches, não às próprias creches. 
Isto é muito típico dos pais actuais: são as escolas que têm de responsabilizar-se pelos seus filhos, mesmo quando os filhos estão fora da escola à guarda dos pais e este peticionário, em vez de pensar um protocolo para os próprios pais não se esquecerem dos filhos, passa a responsabilidade para a escola e sugere logo punições. Não acho isto normal, nem sequer compreender que a primeira responsabilidade dos filhos, cabe aos pais. E qual é o argumento dele para punir os estabelecimentos? Poupar o sofrimento aos pais que causam a morte aos filhos involuntariamente... quer dizer, se ele se esquecer do filho no carro e ele morrer, ao menos não tem que lidar com a culpa, pois fica estabelecido por lei que a culpa é da creche... incrível.
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«Desde há muitos anos, dentro e fora de Portugal, surgem casos de cidadãos que, transportando consigo no automóvel um bebé ou filho pequeno para o levar à creche, se esquecem dele no carro, ficando a criança exposta ao risco de desidratação ao longo do dia e acabando muitas vezes por falecer», pode ler-se na petição. 
«Um esquecimento destes poderá acontecer a qualquer um, mas a tragédia pode e deve ser prevenida de forma socialmente solidária, não sendo justo ignorarmos esta questão como se fosse apenas da responsabilidade dos envolvidos», frisa, destacando que solicita à Assembleia da República e ao Governo «que legislem no sentido de os profissionais das creches e jardins de infância terem obrigação de contactar os encarregados de educação aquando da não comparência de qualquer das crianças a seu cargo após 60 minutos da sua hora de entrada habitual, caso tal não tenha sido previamente avisado». 
«Esta iniciativa de comunicação, por telefone ou com recurso a mensagem escrita, só deve ser considerada efetiva mediante a confirmação de a mesma ter sido recebida. 
O não cumprimento desta obrigação poderá acarretar alguma espécie de contra-ordenação para o estabelecimento de ensino ou de penalização para os envolvidos, o que é pouco face ao sofrimento que tal medida pode evitar», evidencia, realçando que «as alterações climáticas, com o consequente aumento da exposição ao calor, não permitem antecipar a redução do problema».


November 30, 2019

Os psiquiatras a fazer o trabalho dos políticos




A ministra da Saúde, Marta Temido, avançou hoje que o Orçamento do Estado para 2020 irá ter um “reforço claro” na saúde mental, reconhecendo a existência de um “bom programa nacional” com necessidade de ser implementado.


Os estudos mostram que há uma ligação entre as condições sociais de vida e a doença mental. Setúbal, por exemplo, é o distrito do país com maior incidência de doenças mentais. É também o distrito mais pobre. A vida demente das pessoas em trabalhos com condições deprimentes atira-os para situações de cansaço extremo e dificuldade em gerir a vida de modo equilibrado, o que por sua vez atinge os filhos, danos colaterais de uma vida vivida no limite das forças físicas e mentais. Compensam com a bebida, com a droga... 
Os miúdos vão para as escolas compensar os desequilíbrios das famílias e acabam medicados, seja por perturbarem a normalização do ambiente e serem diagnosticos com síndrome de hiperactividade, seja por não aguentarem a pressão do sucesso e viverem vidas de ansiedade constante. Depois encaminham-se para os psiquiatras para que lhes diagnostiquem depressões que não têm -pois o que têm é tristeza e a frustração de não conseguirem adaptar-se a um sistema de louca competição-, para os mediquem de maneira a conseguirem sobreviver num sistema social doentio. Eles e os pais.
É claro que, se os políticos fizessem o seu trabalho, melhoravam as condições de vida das pessoas e os serviços públicos de apoio às famílias: a saúde, a educação, a assistência social.
Do que as pessoas precisam, em primeiro lugar, é de uma vida decente que não seja só trabalho, casa, trabalho, em condições execráveis e a ganhar tão mal que precisam de dois empregos para alimentar a família. Mas como os políticos não fazem o seu trabalho, são os psiquiatras e os psicoterapeutas quem acaba por remediar essa falha. Não resolvem a vida das pessoas mas medicam-nas para que consigam produzir num sistema que fomenta a patologia mental.

November 16, 2019

O que gostava de ver nos títulos dos jornais em vez de, 'chumbar ou não chumbar'




Gostava de ver, 'orçamento da educação foi reforçado'; 'o número de alunos máximo por turma fixa-se nos 22'; 'todas as escolas têm refeitório ou instalações desportivas ou casas de banho em condições, etc'; 'não há falta de funcionários nas escolas'; nenhum professor tem aulas de apoio que o ME conta como não-aulas'; 'nenhuma escola tem falta de técnicos de apoio especializado'; 'nenhum professor tem mais de 100 alunos com quem trabalhar'; etc. O que quero dizer é que gostava de ler nos títulos dos jornais notícias sobre investimento na educação no sentido de prevenir os problemas que levam aos chumbos porque enquanto se continuar a poupar dinheiro à custa da educação todas as medidas serão economicistas e sem valor pedagógico. Medidas de máscara.

Onde é que vão apoiar alunos com dificuldades? Quem o vai fazer? Nós professores que já temos o horário atestado? E os alunos do básico, por exemplo, que têm os horários cheios de manhã e de tarde? Vão ter apoio à noite? E porventura sabem que a maioria dos alunos do secundário (os outros não sei) a quem propomos apoio não o quer e rejeita-o? Que muitas escolas têm nos horários dos professores uma hora semanal de preparação para o exame (nos anos com exame) e só uma minoria aparece? Os outros aparecem uma semana antes do exame? Ou vamos obrigar os alunos à paulada a frequentar as aulas de apoio?
Os problemas dos chumbos têm que ser resolvidos na prevenção e não na remediação. Têm de ser prevenidos, logo desde o início da escolaridade, não quando já estão no 7º ano ou no 9º ano e muito menos no 10º ano.

Uma primeira medida que causaria um impacto positivo era mudar os títulos dos jornais que fazem parecer que o problema dos chumbos é um problema dos professores não perceberem que chumbar é negativo. Como se nós não fossemos os primeiros a saber disso, nós que trabalhamos com esses alunos.
Essas notícias retiram às famílias a noção do dever de acompanharem e apoiarem os filhos e colaborarem com os professores.

Os governantes e os dirigentes em geral é que imprimem dinâmicas de actuação com as suas políticas e a dinâmica que têm espalhado é de desresponsabilização de si próprios e do seu desinvestimento e incúria e das famílias nos seus deveres de acompanhar os filhos e colaborar com os professores e dos estudantes, também eles desresponsabilizados do seu próprio percurso como se fossem seres meramente passivos  e não activos em todo o processo educativo. O que acontece é que os alunos, ou têm famílias que não ligam ao que os governos dizem porque têm os seus objectivos e princípios pedagógicos para os filhos e, esses são os que colaboram connosco e acompanham os filhos ou, têm famílias que ligam aos discursos dos governos e desresponsabilizam-se completamente da educação dos filhos que vêem como uma obrigação apenas dos professores e das escolas. Nem suas, nem dos próprios filhos, só dos professores e das escolas.

Eu trabalho com turmas de todas as áreas de estudo dado que a Filosofia é uma disciplina de formação geral de todas as áreas. Dou-me conta, por isso, das diferenças de dinâmica entre essas áreas. Os alunos das turmas de ciências entram no 10º ano já com a noção de que estão numa área que necessita de muito investimento em trabalho por causa da matemática e da física, sobretudo. Mesmo aqueles que não gostam de estudar e não são bons alunos não discutem isso, de modo que estão já com uma pré-disposição e uma dinâmica para o investimento pessoal que os ajuda muito a ultrapassar dificuldades. Já os alunos de artes e os de humanidades, que escolhem essas áreas, quase todos, para fugirem ao trabalho que a matemática e a física implicam, vêm, a grande maioria, com uma dinâmica de esforço mínimo ou nenhum esforço. Estas turmas são difíceis de trabalhar (um aparte - há professores instalados nas escolas que se recusam a trabalhar com elas e ano após ano só têm das outras turmas. São os que têm menos turmas e só têm dessas outras... acham-se muito competentes... lol)

Enfim, os governos transformam as escolas, não em centros de conhecimento e de formação mas em fábricas de certificação com técnicos administrativos controlados ao minuto e depois querem que formemos cidadãos livres, críticos... como se isso não implicasse alunos que investem activamente na sua própria formação.
Se as escolas ainda são centros de conhecimento e formação é porque muitos professores resistem a ser meros técnicos que trabalham para inglês ver e se preocupam em ajudar os alunos a desenvolver-se como seres humanos e futuros cidadãos, mesmo contra a vontade deles, dos pais e dos governos que os tratam como unidades de custo.

De ano para ano, cada vez mais tenho noção de que não trabalho para este ou para outro governo. Não sou funcionária deste ou de outro governo mas do meu país. E não sou um braço administrativo acéfalo deste ou de outro governo que existo para aplicar 20 reformas em 10 anos, mais coisa menos coisa.

Chumbar ou não chumbar?