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November 22, 2019

Chumbar ou não chumbar não é a questão?




Pois não. A questão é: o que está o governo disposto a fazer, em termos de investimento, para não degradar a educação a um nível de mera performance teatral?
A maneira como se põem os problemas mostra a intenção das pessoas na sua solução. Aqui neste artigo,  o secretário de Estado põe a questão nestes termos: ou se é a favor de acabar, por decreto, com as retenções, como ele quer, ou se é contra qualquer esforço para evitar as retenções. Isto é, no mínimo, desonesto, pois evidentemente, há várias maneiras de lutar contra as retenções que não passam por menosprezar os alunos como indivíduos que não têm direito a uma educação exigente que lhes permita, de facto, e não em documentos para inglês ver, ter oportunidades de desenvolvimento pessoal, social e profissional.
A questão que nunca aborda, como se não existisse, é a da melhoria das condições de vida das famílias, coisa que sabemos bem, marca de modo determinante o sucesso dos seus filhos e, o investimento na educação que previna as retenções em vez de as remediar com diplomas que mascaram o (in)sucesso de fazer nada.




November 16, 2019

O que gostava de ver nos títulos dos jornais em vez de, 'chumbar ou não chumbar'




Gostava de ver, 'orçamento da educação foi reforçado'; 'o número de alunos máximo por turma fixa-se nos 22'; 'todas as escolas têm refeitório ou instalações desportivas ou casas de banho em condições, etc'; 'não há falta de funcionários nas escolas'; nenhum professor tem aulas de apoio que o ME conta como não-aulas'; 'nenhuma escola tem falta de técnicos de apoio especializado'; 'nenhum professor tem mais de 100 alunos com quem trabalhar'; etc. O que quero dizer é que gostava de ler nos títulos dos jornais notícias sobre investimento na educação no sentido de prevenir os problemas que levam aos chumbos porque enquanto se continuar a poupar dinheiro à custa da educação todas as medidas serão economicistas e sem valor pedagógico. Medidas de máscara.

Onde é que vão apoiar alunos com dificuldades? Quem o vai fazer? Nós professores que já temos o horário atestado? E os alunos do básico, por exemplo, que têm os horários cheios de manhã e de tarde? Vão ter apoio à noite? E porventura sabem que a maioria dos alunos do secundário (os outros não sei) a quem propomos apoio não o quer e rejeita-o? Que muitas escolas têm nos horários dos professores uma hora semanal de preparação para o exame (nos anos com exame) e só uma minoria aparece? Os outros aparecem uma semana antes do exame? Ou vamos obrigar os alunos à paulada a frequentar as aulas de apoio?
Os problemas dos chumbos têm que ser resolvidos na prevenção e não na remediação. Têm de ser prevenidos, logo desde o início da escolaridade, não quando já estão no 7º ano ou no 9º ano e muito menos no 10º ano.

Uma primeira medida que causaria um impacto positivo era mudar os títulos dos jornais que fazem parecer que o problema dos chumbos é um problema dos professores não perceberem que chumbar é negativo. Como se nós não fossemos os primeiros a saber disso, nós que trabalhamos com esses alunos.
Essas notícias retiram às famílias a noção do dever de acompanharem e apoiarem os filhos e colaborarem com os professores.

Os governantes e os dirigentes em geral é que imprimem dinâmicas de actuação com as suas políticas e a dinâmica que têm espalhado é de desresponsabilização de si próprios e do seu desinvestimento e incúria e das famílias nos seus deveres de acompanhar os filhos e colaborar com os professores e dos estudantes, também eles desresponsabilizados do seu próprio percurso como se fossem seres meramente passivos  e não activos em todo o processo educativo. O que acontece é que os alunos, ou têm famílias que não ligam ao que os governos dizem porque têm os seus objectivos e princípios pedagógicos para os filhos e, esses são os que colaboram connosco e acompanham os filhos ou, têm famílias que ligam aos discursos dos governos e desresponsabilizam-se completamente da educação dos filhos que vêem como uma obrigação apenas dos professores e das escolas. Nem suas, nem dos próprios filhos, só dos professores e das escolas.

Eu trabalho com turmas de todas as áreas de estudo dado que a Filosofia é uma disciplina de formação geral de todas as áreas. Dou-me conta, por isso, das diferenças de dinâmica entre essas áreas. Os alunos das turmas de ciências entram no 10º ano já com a noção de que estão numa área que necessita de muito investimento em trabalho por causa da matemática e da física, sobretudo. Mesmo aqueles que não gostam de estudar e não são bons alunos não discutem isso, de modo que estão já com uma pré-disposição e uma dinâmica para o investimento pessoal que os ajuda muito a ultrapassar dificuldades. Já os alunos de artes e os de humanidades, que escolhem essas áreas, quase todos, para fugirem ao trabalho que a matemática e a física implicam, vêm, a grande maioria, com uma dinâmica de esforço mínimo ou nenhum esforço. Estas turmas são difíceis de trabalhar (um aparte - há professores instalados nas escolas que se recusam a trabalhar com elas e ano após ano só têm das outras turmas. São os que têm menos turmas e só têm dessas outras... acham-se muito competentes... lol)

Enfim, os governos transformam as escolas, não em centros de conhecimento e de formação mas em fábricas de certificação com técnicos administrativos controlados ao minuto e depois querem que formemos cidadãos livres, críticos... como se isso não implicasse alunos que investem activamente na sua própria formação.
Se as escolas ainda são centros de conhecimento e formação é porque muitos professores resistem a ser meros técnicos que trabalham para inglês ver e se preocupam em ajudar os alunos a desenvolver-se como seres humanos e futuros cidadãos, mesmo contra a vontade deles, dos pais e dos governos que os tratam como unidades de custo.

De ano para ano, cada vez mais tenho noção de que não trabalho para este ou para outro governo. Não sou funcionária deste ou de outro governo mas do meu país. E não sou um braço administrativo acéfalo deste ou de outro governo que existo para aplicar 20 reformas em 10 anos, mais coisa menos coisa.

Chumbar ou não chumbar?


November 04, 2019

Os alunos servem para poupar dinheiro, já






Lei antichumbo no Ensino Básico poupa cinco mil euros por aluno


Plano de não retenção no básico pode representar poupança de 250 milhões de euros/ano.

O Programa de Governo prevê "um plano de não retenção no Ensino Básico" que pode representar uma poupança de 250 milhões de euros por ano. É este o valor que o Estado despende por ano atualmente com as reprovações de cerca de 50 mil alunos, segundo números do Ministério da Educação.
Ou seja, cada chumbo custa 5 mil euros ao Estado, valor que seria poupado com o "plano de não retenção" proposto no Programa de Governo. Na legislatura, a poupança seria de mil milhões de euros, a manter-se o atual nível de chumbos.
Entre os professores, este plano tem gerado indignação, visível sobretudo na blogosfera e em grupos nas redes sociais.
"É uma indignação que tem razão de ser porque há o receio de que se caminhe para uma solução administrativa de abolir as retenções, medida que não combateria o insucesso escolar", disse ao CM João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional de Educação (FNE).

Ministério nega passagens administrativas A tutela diz que o objetivo é continuar a reduzir a quantidade de retenções. "O Programa de Governo prevê que seja desenhado um programa assente em medidas pedagógicas que garantem a aprendizagem de forma mais individualizada, visando a progressiva redução das retenções."
Obrigação de repetir todas as disciplinas Uma das situações muito contestada é o facto de um aluno que reprove no Ensino Básico (1º ao 9º ano) ser obrigado a repetir todas as disciplinas, mesmo aquelas em que teve aprovação. Este ponto já foi muito criticado em 2015 num parecer do Conselho Nacional de Educação.
Menos 32 mil chumbosCom o anterior governo, que aboliu as provas finais dos 4º e 6º anos, a taxa de retenção no Ensino Básico foi reduzida de 7,9 para 5,1 por cento. Em 2018 houve 50 372 retenções, face às 82 294 de 2015, numa quebra de quase 32 mil chumbos.