February 04, 2020

Exemplos precoces do espírito europeu



... ou, como o hino britânico que celebra os reis ingleses foi escrito para a fístula do rabo de Louis XIV, por uma poeta francesa, Madame de Brinon, musicada por um italiano, Jean-Baptiste Lully e divulgada por um alemão, Haendel.

'And miles to go before I sleep'



The woods are lovely, dark, and deep,
But I have promises to keep,
And miles to go before I sleep,
And miles to go before I sleep.
~Robert Frost



Já voltaram atrás?



Mas o que anda esta gente a fazer no Parlamento?


Tensão esvazia no OE: PSD recua e, afinal, já não aceita impostos em troca do IVA da luz 



February 03, 2020

Aceitam-se sugestões



Precisava de um livro cativante mas sem ser pesado, bom para ler enquanto se espera :)
Alguém tem sugestões?

George Steiner 1929-2020




“O verdadeiro crime é viver demasiado”


Em “A Ideia da Europa” descreveu o continente dos cafés, da paisagem que pode ser atravessada a pé, do peso da memória. O que resta dessa Europa?
É uma pergunta muito difícil. Estamos agora num momento crítico. O ‘Brexit’ arrancou da Europa a sua democracia mais forte. Não sei como responder-lhe com convicção, pois ignoro o que o futuro nos trará, mas ainda tenho uma réstia de esperança. Ainda penso que a Europa tem grandes forças culturais e educacionais. Se poderá ou não competir com os recursos americanos — em universidades, em investigação — não é ainda claro. A América tem o poder financeiro. OK. Mas, sabe, depois da América virá a Índia, não tenho qualquer dúvida.

Disse um dia que o verdadeiro professor é aquele que alerta: “Vai acontecer.” Encontrou quem o ouvisse?
Sim, sim. Ainda tenho ótimos alunos, um pouco por todo o mundo, com quem mantenho contacto. E há cinco ou seis deles que são muito mais capazes e talentosos do que eu. Esta é a maior recompensa que um professor pode ter: saber que um aluno é mais capaz do que ele próprio.

Coisas ridículas que achei piada



No meu relatório das TACs que diz imensas coisas... mesmo no fim, diz que tenho traços, não recentes, de fracturas em 3 arcos costais, 3º, 4º e 5º. LOL Fracturei três costelas, algures no passado e não dei por nada e elas curaram-se sozinhas... what?? Mas isto é possível? As pessoas que conheço que fracturam uma vértebrazinha ficaram imobilizadas com coletes, semanas e até meses e eu andei com 3 costelas fracturadas sem dar por nada? Isto é lindo 🙂 e completamente ridículo. Depois pus-me a pensar e de facto, tenho uma vaga ideia de ter tido um período de tempo, há muitos anos, em que andei durante um tempo com dificuldade em respirar, sobretudo se tentava respirar fundo. Mas não me lembro ao certo quando foi. Sei que não fui a nenhum médico e pelos vistos aquilo curou-se sozinho. A sério? Mas uma pessoa para partir 3 costelas deve ter um grande acidente, ou queda, não? Não me lembro de nada disso. Lembro-me de duas quedas graves quando estava em Bruxelas que tinha umas escadas que escorregavam imenso. Fora isso, não me lembro de nada que fizesse partir costelas. Não percebo.

Não percebo estes prémios todos para o 1917




Melhor Filme, Melhor Realizador e mais cinco prémios: "1917" foi o grande vencedor dos BAFTA

Vi o filme. O filme é bom, no sentido de ser forte visualmente. Tem bons actores, o realizador é bom, mas esperava outra coisa com este título. Esperava um filme sobre a 1ª Grande Guerra e não é, embora seja passado nela. Quer dizer, é uma mistura de Resgate do Soldado Ryan -um indivíduo que tem que atravessar o cenário de guerra para chegar ao irmão e salvar um batalhão- e de jogo de vídeo. Seguimos um herói, a câmara atrás dele como nos jogos de vídeo e ele vai tendo que ultrapassar obstáculos em cenário de guerra. Ajuda toda a gente, nunca desiste. É um herói americano (embora seja inglês) numa época de Brexit em que os ingleses estão a precisar de se motivar e de se achar heróis capazes de ultrapassar todas as dificuldades.

A 1ª guerra foi horrível. Uma carnificina absurda. Nem um nem outro exército queriam a guerra, foi uma guerra de chefias e mataram-se uns aos outros estupidamente, enfiados durante anos anos em trincheiras horríveis. Li uma vez as memórias de guerra de Ernst Junger, um alemão, e ele conta contas horríveis, como por exemplo, os soldados estarem semanas a fio naquelas trincheiras com os pés sempre dentro de água, ao ponto da carne dos pés cozer e soltar-se do osso. E coisas piores. E o filme não consegue mostrar o horror que foi essa vida entrincheirada. Nem o absurdo. 

Ainda hoje o meu amigo me contava uma cena que leu acerca de trincheiras cavadas no gelo, nas montanhas da fronteira da Itália com a Áustria, onde os soldados inimigos estavam a umas centenas de metros uns dos outros e estiveram ali, nessa situação, durante três anos. Mataram-se todos uns aos outros. Uma coisa irracional e absurda. E o filme não consegue mostrar isso. Mostra umas cenas de cadáveres a boiar mas isso faz parte de todas as guerras e não é específico daquela. A cena melhor quanto a mim, nisso de mostrar um pouco do absurdo é a que se passa naquela cidade em ruínas, que penso ser Oradour-sur-Glane (pelo menos parece) com a mulher a viver com a bebé que não é dela naquele subterrâneo.

Depois, a 1ª guerra foi diferente da 2ª porque ainda foi uma guerra com cavalheirismo e os soldados foram para a guerra um pouco ingenuamente e a pensar que aquilo era uma coisa que se resolvia em 3 semanas. Não havia o ódio que houve na seguinte. Nem os aliados pensavam nos soldados alemães como criminosos. Ora no filme, a atitude dos ingleses face aos soldados alemães e o tipo de discurso é apropriado para a guerra seguinte e não esta. Não sei se precisam de processar a saída da UE...
De modo que o filme desagradou-me em muitos aspectos. É certo que vê-se bem, porque o realizador é bom, os actores são bons. Mas não é um filme sobre a guerra de 14-18. Não é.



Always look the bright side of life



Ou dizendo de outra maneira, aproveitar que estou sem fome para fazer um jejum. Estou sem fome porque almocei um belíssimo bacalhau à Gomes de Sá e comi-o com apetite. Fui almoçar com um amigo que não via há meses e me deixa sempre bem disposta, em parte porque relativiza as minhas queixas da doença e como ele também a tem, embora noutro sítio, isso faz-me perspectivar as coisas de maneira diferente. Deu-me um conselho que já outros me deram e acho que devia seguir, mas não sei se sou capaz... tudo o que obriga a um esforço emocional agora está difícil.

Uma aventura escusada



Uma pessoa mete-se no transporte a caminho de Lisboa e de repente olha pela janela e vê cegonhas e sobreiros a mais e dá-se conta que vai a caminho do Alentejo. Epá estou assim tão desorientada que me enfiei no transporte para Évora ou isso? Não. Foi o motorista que se enganou na saída (está muito pior que eu) e agora está a dar uma grande volta para apanhar a auto-estrada... se não fosse eu dar sempre uma enorme margem de segurança e chegar sempre cedíssimo aos sítios agora não chegava a tempo do médico.

Faz-me lembrar aquela vez que sai da Fundação tão tarde e cansada -deve fazer um ano e picos- que chamei um táxi e assim que entrei fechei os olhos. Quando os abri íamos em cima da Marateca que são 20 kms depois do destino. O totó do motorista não sabia sair da auto-estrada. Que dia esse... este ia ficando igual.

dos jornais - coisas boas e coisas más, começando pelas más



O primeiro ministro, naquela grande entrevista insubstancial que dá ao JN que serve para propaganda, para dizer que não tem nada a ver com o que corre mal (Tancos) e que é obrigado a gastar muito dinheiro com coisas necessárias como comboios e os incêndios (apagando a sua responsabilidade política nesses assuntos) faz um claro convite ao Livre, dizendo descarada e pragmaticamente que é mais próximo do Livre que do PSD. Pois, claro... O problema é que o convite há-de ser aceite porque o Livre colocou-se naquela posição de moribundo à conta da Joacine KM e agora não se pode dar ao luxo de recusar convites para festas mesmo que sejam de má nota.

“Eu seguramente estou mais próximo politicamente do Livre...'

'Agora, o primeiro-ministro diz que o programa eleitoral do PS acolhe sugestões destes partidos “como sinal de que se tenciona prosseguir a legislatura nas mesmas bases da anterior, agora alargada ao PAN e ao Livre”.'


Boas notícias é ler que o PSD, o BE e outros partidos vão entender-se para baixar o IVA da electricidade. É sinal de que começam a perceber que nós, o povo, esperamos que estejam na AR para servir os nossos interesses comuns e não os seus particulares.


(um aparte engraçado - escrevo tantas vezes a palavra Costacenteno que o meu pc corrige certas palavras automaticamente para 'Costacenteno'. Já pertence ao dicionário Ahahah)

Leituras pela manhã. Coincidências 🙂



Uma entrevista fascinante sobre a computação, a história científica da computação, as razões e motivações na origem da computação e da generalização do estudo da matemática, sobre o que é a racionalidade e como formalizá-la e para quem, sobre a falsa divisão entre ciência e humanidades... vou procurar o livro dela, Classical Probability in the Enlightenment (1988). Interessa-me.


In the 18th and early 19th centuries, probability theory was always subject to the judgments of reasonable people. If the results derived from the mathematical theory of probability diverged from those that a reasonable person might have concluded, it was probability theory that had to be revised and not the reasoning processes of a small elite of “reasonable people.”

That really changes over the course of the 20th century. You see it most vividly in the research done by Amos Tversky and Daniel Kahneman in their famous work “Judgment under Uncertainty,” in which human reasoning is seen to be intrinsically flawed as measured by the standards of Bayesian probability theory.
...

Over the course of the 19th century, schoolboys were increasingly replaced by women as the cheapest and most reliable form of labor. We can read interesting correspondences from astronomers at Oxford and Harvard recruiting the first generation of women college graduates to perform calculations for half the wages of men. By the late 19th century, the Bureau of Calculation at the Paris Observatory was entirely feminized.

One part of this story, then, is the association of calculation first with the division of labor, and then with very cheap labor. This is a simple economic story: an employer divides labor as finely as possible in order to employ the cheapest labor available on the market — schoolboys in this case, and then the highly educated, extremely conscientious labor of women.


There’s another element, however: the actual improvements in mechanical calculation, which allowed for the smoother working of a calculating machine. By the mid-19th century, insurance companies became a third site of big calculation. Prudential Insurance, for example, had a workshop entirely devoted to repairing broken-down calculating machines. Technical improvements strengthened the relationship between the notions of mechanical and calculation. Until the late 19th century, calculation was called mechanical labor, but no machines were involved. After about 1870, it was mechanical in a double sense: machines were involved, and the people who did the labor were considered mechanical.

L D has published widely in the history of science, including on probability and statistics, scientific objectivity and observation, game theory, and much else. Director at the Max Planck Institute for the History of Science since 1995 

Aqui numa palestra em Berlim, com o tema, Mechanical Rules before Machines: Rules and Paradigms. Agora não tenho tempo de ouvir tudo mas ouvi o princípio. As 'regras' de que fala o título da conferência são os algoritmos que tiranizam a nossa vida. Ela é muito interessante a falar.



Acerca da intervenção política V




A democracia, penso, está a entrar em decadência porque o mundo do trabalho está a desumanizar-se e o mundo do trabalho está a desumanizar-se por causa da IA.

A palavra robô vem de uma palavra das línguas eslavas, rabota. Rabota significa trabalho não pago próprio do servo. Tradicionalmente o trabalho que os camponeses deviam ao senhor feudal, 6 meses em cada ano, para poderem viver nas suas terras.

Os robôs, o que hoje chamamos IA já são neste momento uma força de trabalho que substitui os seres humanos em inúmeras tarefas. Começaram por ser usados nas fábricas e nas universidades como auxiliares dos seres humanos mas neste momento invadem quase todo o espectro profissional e substituem os seres humanos. Na china há fábricas gigantescas que só têm 2 seres humanos a trabalhar. Tudo é feito com robôs. Em áreas como a educação ou a saúde, muitos procedimentos já são feitos com recurso à IA e em muitos casos já substituem os profissionais. Na arquitectura, nos militares e, em geral, em tudo que seja profissão científica a IA substitui-os de modo mais barato. Não fazem o trabalho com melhor qualidade que os seres humanos mas fazem-no com menos erros e mais barato e isso é o que interessa aos fazedores de dinheiro.

A questão é que as profissões estão a ser desvalorizadas e os profissionais ajustados ao valor dos rabotas que os podem substituir e, de facto, substituem, cada vez mais. Se juntarmos a isto o excesso de população que de si é um factor de desvalorização da individualidade, temos a tempestade perfeita para a desumanização do mundo do trabalho (os trabalhadores encarados como meras unidades de custo nivelados por baixo, pelo custo das máquinas ou menos, até. Em certas profissões as máquinas são muito caras e para as obter diminuem-se os custos humanos), consequente desvalorização social dos seres humanos e, por arrasto, das sociedades humanas.

Neste momento assiste-se, portanto, a uma divisão entre as grandes corporações que decidem e administram o mundo do trabalho e do entretenimento (uma cultura de prazer é essencial para domesticar as massas) mais os seus cúmplices, os políticos, que fortalecem o Estado para poderem ter nas suas mãos os instrumentos da repressão dos direitos sociais e, por outro lado, todos os outros trabalhadores, cada vez mais iguais, nivelados.

Exemplo: há muitos anos, quando a Lurdes Rodrigues destruiu intencionalmente a profissão de professor, assistiu-se a um triste espectáculo de menorização da profissão por parte dos professores universitários. Tinham grande prazer em denegrir os professores como se fossemos um batalhão de faltistas incompetentes - isto quando todos sabemos que o ensino universitário tem lá um ror de gente incompetente com cabecinha de alfinete- mas enfim... ainda hoje sofremos esse preconceito que nunca mais desapareceu. E era indiferente que lhes disséssemos que estavam a cavar a própria sepultura porque não só os alunos com que teriam de lidar também seriam vítimas desta desqualificação do ensino (como aconteceu) como a seguir seria a vez do ensino universitário ser desqualificado, como aconteceu. Mas as pessoas gostam sempre de considerar-se mais dignas que as outras.

O ser humano ter tendência a considerar que os outros têm menos dignidade que eles.  Se nos fazem mal e nos tratam com injustiça ou desconsideração temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se fazem um trabalho onde se ganha menos, temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se fazem um trabalho que suja as mãos, temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se fazem um trabalho que qualquer máquina pode fazer, temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se têm pressupostos políticos diferentes dos nossos, temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se cometem erros que nós não cometemos, não vemos os nossos próprios e temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós...

Nós nunca somos os outros, estamos acima deles (como se dizia da Grécia). Ora, neste momento, nós quase todos somos 'os outros', esses desvalorizados profissionalmente e, por extensão, socialmente. Essa horizontalidade pode, pelo menos, ter a vantagem de unir as pessoas (?)

No entanto, enquanto vivermos num Estado de Direito, podemos fazer valer os nossos direitos com as leis e melhorá-las de modo a obrigar os representantes políticos a melhorar as suas práticas.

Como?

(continua)












andróide

Dear insomnia




February 02, 2020

Coisas belas



Um perfeito floco de neve na asa de um corvo.



" el profesor está más solo que nunca, en su tarea de educar"



Pablo Pérez: El profesor está más solo que nunca, en su tarea de educar



.... el profesor está más solo que nunca, en su tarea de educar, pues antes “también lo hacían la familia y la sociedad.

Sin embargo, hoy, la mayoría de las primeras no educa y la sociedad, engaña. Tenemos que enseñar nosotros solos (los maestros) y, además, compitiendo con lo que se dice fuera. Por ello, debemos estudiar mucho más”, dijo a los más de 150 estudiantes y docentes que asistieron al conversatorio.


É isto, sim. Dantes as famílias também educavam mas agora deixaram essa tarefa para os professores e os alunos chegam às escolas educados pelas redes sociais, ou seja, cheios de obstáculos à sua própria educação.
Penso que estamos a caminhar para uma sociedade tribal, num sentido particular e que no futuro a inteligência vai ser separada da educação que vai acabar como a conhecemos: um desígnio para o melhoramento das sociedades e para a promoção individual. Agora não me apetece falar disto... é deprimente.

Filósofos à chuva 🤔









Homrighausen: Nietzschean: Stands outside yelling at the sky whether this is all it has to offer, asking to bring on the hurricanes already 💪🏻 


Hajo Schilperoort Pragmatic: let's check my app and go out in-between rainfalls.

Kate Harris Schopenhauer: ‘Of COURSE it is raining. What is life but one long cloud that beleaguers us?’

Hajo Schilperoort Eco-centrist: this is good for nature.

Jaume Abella Freud: your mom makes the sky cry.

Richard Cuming Existentialist: 'I am free to choose whether to wear a hat or not'.

Anita Bressan Post-modern: "Define rain"

Adam Payson Sadist: Pushes others into the puddles

O que faz da Inglaterra uma democracia?



O profundo respeito que têm pelas leis. Repare-se que houve um referendo para sair da UE e o povo votou sim, contra a opinião da maioria das elites. Em outra qualquer 'democracia' europeia isso seria considerado pelas tais elites, um grande erro de ignorância e populismo e arranjariam maneira de fazer um novo referendo, como aliás a UE esperou que acontecesse, para conseguirem um não. Em Portugal, assuntos europeus que noutros países foram a referendo nem sequer houve essa possibilidade pois os políticos tiveram medo de ter que obedecer à decisão do povo. Mas não os ingleses. O povo falou e eles respeitaram a decisão, pese embora muitos não concordassem com o resultado. O que é que há de diferente em Inglaterra? Um antigo e profundo respeito pelas leis. Há que admirar essa virtude dos ingleses que nos falta. As leis e o respeito pelas leis. É por aí que as coisas têm que ser feitas. Não é que não se possam fazer outras coisas, mas essa aí é a raíz do sistema. Porque uma democracia não se resume a votar. Numa democracia o povo tem poder de agir, de mudar o que não quer, de influenciar as políticas. E se não tem já não é uma democracia a não ser no nome.

Educar para pensar




O jornal SOL de ontem traz um artigo grande sobre o projecto da Eutanásia que vai à aprovação no Parlamento e outro que é uma opinião do Gentil Martins. Comprei-o para levar para duas turmas do 10º ano, para lerem. Estou a orientar um trabalho de argumentação nas turmas do 10º ano acerca de temas polémicos, naturalmente.
Parece-me muito importante, em termos de formação pessoal e social, que os adolescentes sejam capazes de perceber a legitimidade das posições opostas às suas, que sejam capazes de as argumentar pacificamente e aceitar pontos de vista críticos dos seus. Alguns não têm sequer posição face aos temas e é uma maneira de os pôr a aprender e a reflectir em assuntos que são os da sua vida, actual ou futura.
É um trabalho que tem uma parte de dissertação escrita, com um guião que lhes dei, critérios de pesquisa e de avaliação e depois tem uma parte oral que consiste na discussão do tema. Os temas escolheram-nos eles de uma lista que sugeri. Cada tema é trabalhado por dois grupos que depois discutem as duas posições opostas, a favor e contra. Eu só avalio, não intervenho, a não ser que alguém comece a ser agressivo ou assim, mas isso nunca aconteceu, nestes anos todos. Já aconteceu um par de vezes um dos grupos faltar e deixar os colegas sem adversário para argumentar e aí argumento eu contra esse grupo.

Eu tento que aqueles que têm uma posição definida (ou que assim o pensam porque da minha experiência eles pouco sabem dos assuntos e muitos mudam de opinião ou ficam sem opinião definida depois de fazer e discutir o trabalho) escolham argumentar a posição oposta à sua, para desenvolverem essa capacidade de perceber a legitimidade do argumento do outro mas isso é difícil e a maioria não quer. Demasiado passionais para terem esse controlo emocional.
Um dos temas que escolheram foi a eutanásia, e é por isso que comprei o jornal.

O artigo do Gentil Martins tem tantas falácias de argumentação, mas tantas, que apetecia-me pegar nele como exemplo, porque é o assunto que agora estamos a trabalhar. Mas não posso. Dado que é um dos temas que vai ser argumentado e que uma das posições é contra, como a dele, não posso ir dar argumentos aos que são a favor e influenciar a argumentação.



Já vi alunos argumentar, a eutanásia, a IVG, as experiências médicas em animais, as corridas de touros, a possibilidade de paz perpétua ou a inevitabilidade da guerra, o direito a divorciar-se dos pais, a pena de morte, o direito aos downloads ditos ilegais, a proibição de jogos e programas violentos até uma certa idade, o direito a não fazer exames, o direito a usar armas para defesa pessoal, a violência estar, ou não, ligada à pobreza... há turmas que fazem discussões muito boas, preparam-se muito bem e têm dezenas de argumentos, gráficos, tabelas, estatísticas... e os miúdos quando se preparam bem são tão engraçados a argumentar. Levam aquilo a sério. Eu também levo aquilo tudo a sério.

Tive uma ideia -que surgiu há um par de meses a ler um artigo- para um trabalho que nunca fiz com os 10º anos que tem a ver com a questão da filosofia política de John Rawls, mas não sei se tenho tempo para fazê-lo. Acho que já vou um bocadinho atrasada. Tenho que recuperar. Mas se conseguir, pelo menos numa turma e se for bem pensado e bem feito é uma coisa fantástica. Não vou dizer o que é para não dar azar 🙂

Medina pensa que Lisboa é um brinquedo, o seu brinquedo




Vereador do PSD contra proposta de ZER na Baixa. 
“Medina está cada dia mais afastado do dia-a-dia das pessoas”“Antes de mais, lamento a reincidência de Fernando Medina em apresentar propostas ao público sem as dar a conhecer à vereação, que sabe o que se passa na cidade pela comunicação social, no dia seguinte a uma reunião pública”, lê-se no comunicado de João Pedro Costa.
O vereador social-democrata defende que a proposta “não é ponderada” ou justa, porque serve apenas a uma minoria, que não mora em Lisboa. “Temo que a Baixa se transforme num parque temático de recreio, para turistas e estrangeiros residentes com vistos gold que passam umas semanas por ano na cidade”, afirma.

“Que faz um cidadão sem dinheiro para ter um carro elétrico? Que faz uma mãe com dois filhos e os sacos das compras? Que faz um idoso? Que faz um cidadão com mobilidade temporariamente condicionada? Que faz um cidadão com uma carga pesada? Que faz o cidadão que andou com o carro noutras zonas da cidade e quer passar pontualmente pela Baixa?”, questiona o vereador.

O social-democrata acusa ainda Fernando Medina de estar “cada dia mais afastado do dia-a-dia das pessoas”, e deixa-lhe um desafio: “Comece por dar o exemplo do que pede. Deixe o motorista e passe a usar exclusivamente a Carris. Deixe os filhos na escola com a Carris, siga depois para os Paços do Concelho com a Carris, e daí para os almoços e reuniões, faça as compras da casa, vá buscar os filhos à escola, vá ao médico, sempre na Carris e de bicicleta”.
“Só depois tem autoridade para pedir o mesmo”, remata, deixando a promessa de irá perguntar ao presidente da câmara, em cada reunião nos Paços do Concelho, como veio trabalhar nesse dia para a Baixa.

Emmanuel Todd : La France au bord de l’implosion sociale ?