explicação (s.f.)"explicação", especialmente do significado de uma frase ou passagem, literalmente "um desdobramento", década de 1520, do francês explication, do latim explicationem (nominativo explicatio), substantivo de ação do radical do particípio passado de explicare "desdobrar; explicar", de ex "para fora" (ver ex-) + plicare "dobrar" (da raiz TORTA *plek- "trançar").
também da década de 1520Entradas que remetem para a explicação
ex-
elemento formador de palavras, significando geralmente "fora de, de", mas também "para cima, completamente, privado de, sem" e "anterior"; do latim ex "fora de, de dentro; de que tempo, desde; de acordo com; em relação a", do TORTA *eghs "fora" (fonte também do gaulês ex-, do irlandês antigo ess-, do eslavo eclesiástico antigo izu, do russo iz). Em alguns casos, também do cognato grego ex, ek. PIE *eghs tinha forma comparativa *eks-tero e superlativa *eks-t(e)r-emo-. Muitas vezes reduzido a e- antes de -b-, -d-, -g-, consoante -i-, -l-, -m-, -n-, -v- (como em elude, emerge, evapora, etc.).
*plek-
Raiz proto-indo-europeia que significa "trançar". É uma forma alargada da raiz *pel- (2) "dobrar".
Forma o todo ou parte das palavras: cúmplice; aplicação; aplicar; complexo; complexar; complicar; complicação; cumplicidade; duplex; duplicar; duplicidade; explicitar; explícito; explorar; implexo; implicar; implicação; implícito; implicar; multiplicar; perplexidade; perplexidade; trançar; plash (v.2 ) "entrelaçar;" plissar.
Grego plekein "trançar, entrançar, enrolar, torcer," plektos "torcido;" Latim plicare "deitar, dobrar, torcer," plectere (particípio passado plexus) "trançar, entrançar, entrelaçar;" O eslavo eclesiástico antigo plesti "trançar, entrançar, torcer", o russo plesti; o gótico flahta "entrançar"; o nórdico antigo fletta, o alto alemão antigo flehtan "entrançar"; o inglês antigo fleax "tecido feito de linho, linho".
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Portanto, «explicação», «explicar» é tirar para fora o que está oculto num entrançado, num emaranhado de fios. A maior parte daqueles a quem chamamos, «explicadores», não o são. E nem todos os professores são bons explicadores. Podem ser bons noutras dimensões da profissão, mas não nessa.
Agora que já li bastante de Hegel e vou no fim da Fenomenologia, que comecei há tempos mas interrompi quando começaram as aulas, dou-me conta que não tive um bom professor/explicador deste filósofo. Li a Fenomenologia com interrupções para procurar explicadores, em livros e na internet, de certas passagens ou conceitos obscuros e difíceis de entender - para mim. Ler por traduções põe-nos dependentes da interpretação do tradutor, que nem sempre é um bom escritor/explicador, de maneira que é necessário fazer comparações com outras traduções e procurar 'desentrançadores' de Hegel. E não são muitos, mas existem. E os que existem são tão bons a desemaranhar as frases onde se ocultam as ideias dele e a retirar delas os significados, que cada parágrafo de explicação deles corresponde a uma légua na progressão da compreensão das ideias do filósofo.
Uma das maneira de desentrançar ideias complexas de um filósofo ou de uma teoria é filiá-las, situá-las no contexto da sua origem. As ideias dos filósofos não surgem do nada. Surgem de problemáticas do seu tempo ou antigas mas que voltaram a ser pertinentes e, em todos os casos, as ideias deles têm origem em outros filósofos que contribuíram para a problemática de uma maneira ou de outra. Seja para contrariá-los, ultrapassá-los ou adoptá-los em parte, os filósofos referem-se sempre a outros filósofos. Conversam com outros que os precederam. Saber qual é o ímpeto de uma filosofia, com quem o filósofo estava a conversar e porquê, descomplica logo uma grande parte das suas ideias na medida em que dá um referencial orientador e um sentido. Para se ter uma compreensão das filosofias é necessária uma chave de entrada nesse mundo particular da mente dessa pessoa e essa chave é-nos dada pelo ímpeto e pelo sentido da sua filosofia.
Nunca começo um tema nas aulas sem o enraizar e filiar, porque sem isso os alunos não têm "uma alavanca e um ponto de apoio" para entrar e "movimentar aquele mundo". Por exemplo, não começo a Lógica Proposicional sem explicar a lógica da Lógica, passe a expressão. Porque é que Leibniz resolveu desenvolver uma Lógica dessas e o que é uma aritmética do pensamento; o que é que o preocupava para ter feito isso e porque o fez desta maneira e não de outra e porque é que a LP é importante para os raciocínios da ciência, da filosofia e da vida em geral. Se entrar naquilo a escrever 'p's e 'q's e a falar de silogismos hipotéticos ou de modus ponens, eles até podem aprender a resolver fórmulas porque decoram as regras, mas não entendem nada do que estão a fazer, porquê e para quê, com que sentido. O que me lembra o modo como aprendi Hegel: sabia dizer as frases que importavam (as que vinham nos textos) e falar dos conceitos (que o absoluto se desdobra e se objectiva para se conhecer, por exemplo) mas não fazia ideia do que é que aquilo queria dizer sobre a vida, sobre o mundo e sobre o sentidos das coisas. Ora, é isso que importa.
Não é fácil encontrar um bom explicador de ideias complexas, um bom desentrançador.