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June 14, 2023

"No PS, deviam ter noção que quando a retórica política agressiva nasce, é para todos"

 


Artigo acerca de Costa, de cognome, 'O Coitadinho'.

Entretanto:

Representação do rei D. Carlos, entre 1902 e 1905. (é verdade que lhe desenharam a cara bonitinha, bigode e tudo)



Cartoonistas: respeitinho pelo senhor primeiro-ministro, se faz favor!


Maria João Marques 

Os cartazes que professores brandiram no 10 de junho em Peso da Régua? Não gostei. Defendo a linguagem institucional e educada no combate e no conflito político. Os anos de Donald Trump mostraram-nos a degradação democrática de um político constantemente a abandalhar o discurso público. É um recurso da extrema-direita (orgulhosamente reprovadora das contenções do politicamente correto): apura o discurso para ser tão ofensiva quanto consegue.

Não julgo que cartazes com um primeiro-ministro com lápis enfiados nos olhos seja uma mensagem que os professores – em conflito deflagrado com o Governo – devam brandir. Há uma negociação e, como sempre nestes contextos, respeito mútuo é essencial. Porém, a reação do primeiro-ministro aos cartazes e do spin socialista e dos aliados socialistas foi mais problemática que os cartazes.

Se António Costa quer gritar “racismo” a propósito dos cartazes, vou reputar tal indignação de bastante desesperada. António Costa é um filho do privilégio. Cresceu com um enorme capital social – que lhe terá potenciado os méritos e os talentos que tem. A mãe vem de uma diferenciada família portuguesa. As boas famílias de origem goesa – e o pai de António Costa era brâmane – sempre foram aceites sem qualquer reserva ou sobranceria pela sociedade lisboeta. André Gonçalves Pereira, Alfredo Bruto da Costa, Margarida Mercês de Mello – para dar uns poucos exemplos.

O próprio António Costa tem noção do seu privilégio. Partindo da sua experiência, dizia há dois anos ao PÚBLICO como o preocupavam as fissuras criadas pelas guerras culturais à volta do racismo e da memória histórica. Criticava Mamadou Ba, equiparando-o a André Ventura.

Nada me leva a crer que António Costa se tenha sentido alvo de racismo com os cartazes. Como político talentoso que é, aproveitou uns cartazes insultuosos para tentar retirar aos professores a simpatia popular pelas suas reivindicações profissionais. Já não é a primeira vez que o primeiro-ministro usa a cartada do racismo contra opositores. Já o fizera, do nada, com Assunção Cristas num debate parlamentar.

E, no entanto, vi um assessor e uma deputada do PS, na sequência da polémica dos cartazes, a descrever António Costa como “racializado”. Nem consigo qualificar o ridículo de embarcarem nesta narrativa. António Costa não é um político fura-vidas que veio de um bairro pobre da periferia e teve contra si o preconceito de professores e de empregadores – e de eleitores. Pretender que António Costa partilhou das experiências das pessoas racializadas em Portugal pode ser bom para animar a burguesia de esquerda das redes sociais, mas presumo que seja ofensiva para quem, efetivamente, veja as potencialidades da vida a estilhaçarem-se devido ao racismo. Para todos os demais – querem lá saber dos sentimentos do primeiro-ministro; interessam-se pela qualidade da governação.

Contudo, isto é só uma narrativa mediática mal concebida de um partido político. O resto é mais dantesco e salazarento.

Para argumentar que os cartazes dos professores são racistas, hordas foram pesquisar toda a produção artística do cartoonista que os desenhou. Claro, a necessidade de desenterrar outros desenhos com alusões racistas – há um único: Costa com um turbante de sikh e em cima de uma cama de pregos de fakir – mostra que os da manifestação não eram racistas. Ora este vasculhar da obra de uma pessoa que ousou desenhar o primeiro-ministro de modo pouco elogioso é francamente pidesco.

Chamem-me esquisita, mas eu prefiro que o escrutínio (violento ou delicado) seja aplicado aos detentores do poder do que a quem faz caricaturas sobre o poder. O humor sobre o poder é uma forma de o conter, de o criticar, de tirar as ilusões de grandeza de que todos os políticos sofrem. O humor, por definição, hiperboliza e distorce para evidenciar as críticas.

Entendo bem que numa sociedade estupidificada e com incapacidade para ler as várias camadas das mensagens que escapam à literalidade, bem como o contexto atual de conseguir ver ofensas em tudo, o humor e a arte sejam alvos preferenciais. Contudo, cabe-nos contrariar esta estupidificação.

Se posso preferir não ver cartazes violentos numa manifestação política, a verdade é que isso é menos grave do que o bullying político e mediático a um artista autor de cartoons ácidos. E que dizer da súbita exigência de respeitinho pelos nossos governantes socialistas? Afinal, há limites no discurso político. Afinal, não se deve abastardar a retórica política.

É curioso que António Costa não veja como abandalha o discurso político quando fala de “queques” que “guincham” referindo-se aos militantes da IL. Aparentemente, para o primeiro-ministro, pode-se gozar com pessoas porque são de uma certa classe social. Ou a má-criação com que as últimas críticas de Cavaco Silva – um ex-Presidente da República que merece respeito, sejam ou não as suas ideias simpáticas para cada um – foram comentadas no PS. Falou-se em “raiva”, “ódio”, “descer à terra” (esta foi do primeiro-ministro, como se Cavaco Silva já estivesse morto), “mal resolvido”. No PS, deviam ter noção que quando a retórica política agressiva nasce, é para todos.

É enormemente mais grave a linguagem agressiva e pouco institucional vinda dos que exercem o poder do que panfletos visuais violentos numa manifestação. Merece mais censura a precariedade de carreira a que os professores são sujeitos do que um cartaz animalizando o primeiro-ministro. É pidesco vasculhar-se a obra de um cartoonista e diabolizá-lo nas redes sociais como vingança por ter satirizado o primeiro-ministro.

O poder está do lado do Governo de maioria absoluta. É uma herança salazarenta exigir respeitinho pelos governantes todo-poderosos e perseguir quem faz pouco do poder – quando o poder é socialista, claro; quando é exercido pelo PSD, a liberdade de expressão na crítica é um valor absoluto. A hipocrisia vive nesta polémica.

Na Idade Média, existiam os bobos nas cortes dos reis e dos senhores feudais. Já então se percebia a necessidade de dizer a verdade ao poder através do humor. E dos efeitos terapêuticos de ridicularizar o poder. Hábitos sanitários desconhecidos do spin socialista do respeitinho e das tribos ululantes das redes sociais.

February 02, 2020

Medina pensa que Lisboa é um brinquedo, o seu brinquedo




Vereador do PSD contra proposta de ZER na Baixa. 
“Medina está cada dia mais afastado do dia-a-dia das pessoas”“Antes de mais, lamento a reincidência de Fernando Medina em apresentar propostas ao público sem as dar a conhecer à vereação, que sabe o que se passa na cidade pela comunicação social, no dia seguinte a uma reunião pública”, lê-se no comunicado de João Pedro Costa.
O vereador social-democrata defende que a proposta “não é ponderada” ou justa, porque serve apenas a uma minoria, que não mora em Lisboa. “Temo que a Baixa se transforme num parque temático de recreio, para turistas e estrangeiros residentes com vistos gold que passam umas semanas por ano na cidade”, afirma.

“Que faz um cidadão sem dinheiro para ter um carro elétrico? Que faz uma mãe com dois filhos e os sacos das compras? Que faz um idoso? Que faz um cidadão com mobilidade temporariamente condicionada? Que faz um cidadão com uma carga pesada? Que faz o cidadão que andou com o carro noutras zonas da cidade e quer passar pontualmente pela Baixa?”, questiona o vereador.

O social-democrata acusa ainda Fernando Medina de estar “cada dia mais afastado do dia-a-dia das pessoas”, e deixa-lhe um desafio: “Comece por dar o exemplo do que pede. Deixe o motorista e passe a usar exclusivamente a Carris. Deixe os filhos na escola com a Carris, siga depois para os Paços do Concelho com a Carris, e daí para os almoços e reuniões, faça as compras da casa, vá buscar os filhos à escola, vá ao médico, sempre na Carris e de bicicleta”.
“Só depois tem autoridade para pedir o mesmo”, remata, deixando a promessa de irá perguntar ao presidente da câmara, em cada reunião nos Paços do Concelho, como veio trabalhar nesse dia para a Baixa.