February 03, 2020

Acerca da intervenção política V




A democracia, penso, está a entrar em decadência porque o mundo do trabalho está a desumanizar-se e o mundo do trabalho está a desumanizar-se por causa da IA.

A palavra robô vem de uma palavra das línguas eslavas, rabota. Rabota significa trabalho não pago próprio do servo. Tradicionalmente o trabalho que os camponeses deviam ao senhor feudal, 6 meses em cada ano, para poderem viver nas suas terras.

Os robôs, o que hoje chamamos IA já são neste momento uma força de trabalho que substitui os seres humanos em inúmeras tarefas. Começaram por ser usados nas fábricas e nas universidades como auxiliares dos seres humanos mas neste momento invadem quase todo o espectro profissional e substituem os seres humanos. Na china há fábricas gigantescas que só têm 2 seres humanos a trabalhar. Tudo é feito com robôs. Em áreas como a educação ou a saúde, muitos procedimentos já são feitos com recurso à IA e em muitos casos já substituem os profissionais. Na arquitectura, nos militares e, em geral, em tudo que seja profissão científica a IA substitui-os de modo mais barato. Não fazem o trabalho com melhor qualidade que os seres humanos mas fazem-no com menos erros e mais barato e isso é o que interessa aos fazedores de dinheiro.

A questão é que as profissões estão a ser desvalorizadas e os profissionais ajustados ao valor dos rabotas que os podem substituir e, de facto, substituem, cada vez mais. Se juntarmos a isto o excesso de população que de si é um factor de desvalorização da individualidade, temos a tempestade perfeita para a desumanização do mundo do trabalho (os trabalhadores encarados como meras unidades de custo nivelados por baixo, pelo custo das máquinas ou menos, até. Em certas profissões as máquinas são muito caras e para as obter diminuem-se os custos humanos), consequente desvalorização social dos seres humanos e, por arrasto, das sociedades humanas.

Neste momento assiste-se, portanto, a uma divisão entre as grandes corporações que decidem e administram o mundo do trabalho e do entretenimento (uma cultura de prazer é essencial para domesticar as massas) mais os seus cúmplices, os políticos, que fortalecem o Estado para poderem ter nas suas mãos os instrumentos da repressão dos direitos sociais e, por outro lado, todos os outros trabalhadores, cada vez mais iguais, nivelados.

Exemplo: há muitos anos, quando a Lurdes Rodrigues destruiu intencionalmente a profissão de professor, assistiu-se a um triste espectáculo de menorização da profissão por parte dos professores universitários. Tinham grande prazer em denegrir os professores como se fossemos um batalhão de faltistas incompetentes - isto quando todos sabemos que o ensino universitário tem lá um ror de gente incompetente com cabecinha de alfinete- mas enfim... ainda hoje sofremos esse preconceito que nunca mais desapareceu. E era indiferente que lhes disséssemos que estavam a cavar a própria sepultura porque não só os alunos com que teriam de lidar também seriam vítimas desta desqualificação do ensino (como aconteceu) como a seguir seria a vez do ensino universitário ser desqualificado, como aconteceu. Mas as pessoas gostam sempre de considerar-se mais dignas que as outras.

O ser humano ter tendência a considerar que os outros têm menos dignidade que eles.  Se nos fazem mal e nos tratam com injustiça ou desconsideração temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se fazem um trabalho onde se ganha menos, temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se fazem um trabalho que suja as mãos, temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se fazem um trabalho que qualquer máquina pode fazer, temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se têm pressupostos políticos diferentes dos nossos, temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós; se cometem erros que nós não cometemos, não vemos os nossos próprios e temos a tendência a pensar que são menos dignos que nós...

Nós nunca somos os outros, estamos acima deles (como se dizia da Grécia). Ora, neste momento, nós quase todos somos 'os outros', esses desvalorizados profissionalmente e, por extensão, socialmente. Essa horizontalidade pode, pelo menos, ter a vantagem de unir as pessoas (?)

No entanto, enquanto vivermos num Estado de Direito, podemos fazer valer os nossos direitos com as leis e melhorá-las de modo a obrigar os representantes políticos a melhorar as suas práticas.

Como?

(continua)












andróide

2 comments:

  1. Ah, como eu gostava que este teu blog tivesse a quantidade de visualizações do Instagram do Cristiano Ronaldo.....

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  2. Ahahah muito mais gente me lê do que pensas. Tenho uma maneira própria de escrever e uso expressões muito minhas...
    E sabes? Há uma grande vantagem em ter um blog que não aparece esparramado no jornal que é o de ter uma grande liberdade para dizer o que me apetece. No outro blog tinha trolls, sobretudo quando era época de eleições. Apareciam a trollar. Aqui ainda não tenho trolls :)
    Quando mudei do sapo para aqui perdi milhares de leitores, como já calculava porque há muita coisa que escreves no google e aparece o meu outro blog como 1º resultado da pesquisa e este ainda não tem posts suficientes para isso.
    Para teres uma ideia, há mais de dois meses que não escrevo uma palavra no outro blog e ele continua a ter centenas de visitas todos os dias.

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