November 27, 2019

O que o governo tem atirado para cima de nós, professores




Hoje resolvi, ou melhor, deixei encaminhado um caso de um aluno com um passado muito difícil e muito, muito complicado, não só em casa mas em situações escolares e sociais e sem apoio capaz de o ajudar a um nível satisfatório. Só este caso levou-me duas semanas a pensar o que fazer, desde que o processo (gigantesco) dele chegou à escola e mais duas a resolver. Metia problemas de saúde física e psicológica. Telefonemas para contactos que tenho e que arranjam consultas e acompanhamento, conversas com o aluno (que começou por não querer ajuda), com a mãe, evidentemente, que quer muito ajuda para o filho, etc.

A questão é que não sou, não somos, nós professores, assistentes sociais. Dantes, não éramos nós que tratávamos dos processos dos alunos, agora somos. É claro que uma pessoa pode ignorar o que lê no processo e fazer só o que a lei manda que é encaminhar para a equipa de apoio e lavar as mãos mas, porque vemos que elas são poucas e também não são especialistas (a não ser uma pessoa que é psicóloga mas não tem formação para casos assim complicados) e porque uma pessoa não consegue ler aquilo e ficar de braços cruzados, acaba por ter uma trabalhão que não lhe pertence. O trabalho que fiz é para uma assistente social, não é para mim. Assim como o trabalho de sinalizar alunos para a CPCj também é para uma assistente social e não para mim. Isto não é o trabalho de um professor.

E não tenho tempo para gastar assim semanas a tratar de um caso porque tenho quase sessenta alunos nas duas DTs e tenho o trabalho regular das turmas para fazer: preparar aulas, fazer fichas, testes, classificar... Cheguei a casa, estou a receber emails das turmas do 10º ano que têm teste esta semana. Já respondi... Epá! Ninguém nos paga para isto... Não admira que as pessoas andem exaustas. Os governos tratam-nos muito mal e abusam de nós. Nós somos o contentor para onde atiram tudo e mais alguma coisa que não querem ver nem tratar e em doses cavalares. Carradas de alunos, de turmas, de trabalho extra...

Não admira que todos queiram ir embora e ninguém queira ser professor.

Compensações




... que a vida não pode ser só frustrações, esperas, incertezas, distâncias, doenças e negações. Por cada negação, frustração, distância, espera e incerteza, vou passar a compensar com um marcador somático positivo, como este aqui... este são vários... oito bombons e duas orangettes 🙂 é suposto durem três dias mas não estou a ver que durem tanto, não...



Este governo socialista




O fisco leva-nos quase tudo, o Centeno gaba-se de ter 1000 milhões a mais (13.7 milhões por dia...) mas para onde vai o dinheiro? Para pagar as dívidas aos hospitais de modo a termos acesso aos medicamentos e podermos tratar-nos? Não... vai para a banca porque eles merecem como diz o Presidente que, como alguém dizia outro dia, é um Américo Tomás dos nossos tempos. Já nós, os doentes, não merecemos nada e o grande presente de Natal que dávamos ao país era mesmo finarmo-nos, se possível antes do Natal, para o Centeno poupar ainda mais dinheiro. Para a banca e os amigos.



Fisco saca 137 milhões por dia

Cofres do Estado recebem mais 4,5 milhões por dia do que em igual período de 2018
Finanças revelam excedente de quase mil milhões 
Presidente da República admite possibilidade de nova injeção de capital no Novo Banco este ano

November 26, 2019

O nosso país é isto...




Quando me ligam do hospital a dizer que não vale a pena aparecer lá amanhã para fazer o tratamento oncológico porque não têm o medicamento. Talvez para a semana, não há a certeza...

Optimismo III - realizar que há pessoas que vivem para construir em vez de destruir






Carlos Lopes Pereira é moçambicano e venceu o prémio "Príncipe William para a Conservação da Natureza em África", atribuído anualmente como reconhecimento de quem pela sua dedicação ao longo de vários anos contribui para a conservação da vida selvagem em África.

Este veterinário ajudou a fomentar o estabelecimento de leis de proteção da vida selvagem de Moçambique, a restaurar o Parque Nacional da Gorongosa após décadas de guerra civil e, mais recentemente, a impedir a caça furtiva de elefantes na Reserva Nacional do Niassa.

Ao aceitar o seu prémio das mãos do duque de Cambridge, Carlos Lopes Pereira disse: "Todos nós temos a responsabilidade de difundir conhecimento, conscientização e educação sobre a natureza e sobre como dependemos dela. Devemos desafiar quaisquer mitos e crenças culturais que ponham em perigo a vida selvagem, e devemos enfrentar a escuridão do crime organizado".

Optimismo II - realizarmos a pregnância da História




... e a capacidade de sonho, talento e perseverança por detrás de tantos edifícios por que passamos todos os dias, materializações dos sonhos de alguém, com um pé no seu tempo e outro na eternidade.
Passado, presente e futuro.




Architetto David Napolitano

Holkham Hall, obra-prima de William Kent e da arquitetura palladian no Reino Unido.
[as colunas são jónicas]


Optimismo é realizar que as árvores com os troncos cheios de cicatrizes também florescem lindas 🙂

































Savitri Ari Ernaningtyas‎

Citação deste dia





As revoluções não são factos que se aplaudam ou que se condenem. Havia nisso o mesmo absurdo que em aplaudir ou condenar as evoluções do Sol. São factos fatais. Têm de vir. De cada vez que vêm é sinal de que o homem vai alcançar mais uma liberdade, mais um direito, mais uma felicidade. Decerto que os horrores da revolução são medonhos, decerto que tudo o que é vital nas sociedades, a família, o trabalho, a educação, sofrem dolorosamente com a passagem dessa trovoada humana. Mas as misérias que se sofrem com as opressões, com os maus regímens, com as tiranias, são maiores ainda. As mulheres assassinadas no estado de prenhez e esmagadas com pedras, quando foi da revolução de 93, é uma coisa horrível; mas as mulheres, as crianças, os velhos morrendo de frio e de fome, aos milhares nas ruas, nos Invernos de 80 a 86, por culpa do Estado, e dos tributos e das finanças perdidas, e da fome e da morte da agricultura, é pior ainda. As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias.


Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora'


Estar a chegar o tempo dos políticos e outros 'especialistas' irem para as escolas, pessoalmente, testar as suas ideologias de estimação




Já agora se vão buscar professores sem formação para certas disciplinas críticas para as quais se tornou muito difícil encontrar professores. Outro dia, uma aluna disse-me que este todo o oitavo ano sem professor de português. Vários da mesma turma estiveram sem professor de Geografia no ano passado. Quase todos os alunos já têm experiência de estar períodos extensos sem professor de alguma disciplina. Daqui a uns anos, segundo a lei da oferta e da procura, dado o desinteresse por uma profissão tão maltratada, qualquer um, mesmo, é professor. É então que os políticos podem ir, pessoalmente, testar as suas ideologias in loco.



Na página 51 do Estudo do CNE é apresentado um quadro com a previsão anual de aposentações até 2030, por grupo de recrutamento.

*foram apenas considerados os grupos de recrutamento com 500 ou mais docentes com 45 ou mais anos a 1 de setembro de 2019

Amanhece





A poética do espaço










~John Sell Cotman (1782–1842)

Arches in the West Side of the Cloister of Saint. Georges de Bocherville, near Rouen, Normandy, circa 1818 Graphite and brown wash and brown ink on medium smooth cream wove paper. Height: 238 mm (9.37 ″); Width: 337 mm (13.26 ″) Yale Center for British Art

Leituras pela madrugada - Saudade: the untranslatable word for the presence of absence




Saudade: the untranslatable word for the presence of absence

Michael Amoruso



Writing in 1912, the Portuguese poet Teixeira de Pascoaes defined saudadeas ‘desire for the beloved thing, made painful by its absence’. It is an acute feeling, often described as occurring in the heart. The language of saudade is evocative. Portuguese speakers complain of ‘dying of saudades’ (morrendo de saudades), or wanting to ‘kill saudades’ (matar saudades) by fulfilling desire. Though hyperbolic, the word’s morbid poetics throw light on how affective ties make for a meaningful human life....
...
Are there culturally specific emotions? At issue is whether the emotions signified by words such as saudade are unique to particular cultures, or instead whether humans everywhere can experience the same range of emotions but recognise and emphasise those emotions differently based on the cultural availability of certain emotion concepts. The psychologists Yu Niiya, Phoebe Ellsworth and Susumu Yamaguchi suggest that ‘emotions named by a language may act as magnets for emotional experience, attracting undefined feelings’ toward well-known concepts. This would also mean that emotion words such as nostalgia or saudade take on different affective shadings in different places and historical periods.

Brazilian intellectuals have often distinguished their saudade from that of the Portuguese. In 1940, the Brazilian writer Osvaldo Orico described Brazilian saudade as ‘more happy than sad, more imagination than pain … a saudadethat does not cry, but sings’.

November 25, 2019

A kind of graffiti




Não sei ao certo se disseram isto mas podiam tê-lo dito.

Maks Viktor Antiquarian Books


Antecipando a noite








Estava sol e de repente ficou assim e a temperatura baixou imenso



Precisava de um inventor ajudante




Já inventei tanta proposição lógica, tanto argumento e tanto exercício que já falha a imaginação e começam a sair parvoíces. Fui ali ler uma página de Padre António Vieira para voltar à realidade. Vi lá argumentos mesmo a jeito para pôr num teste. Não sei se os alunos vão gostar :) just saying...





Tudo que respeita à educação entrou numa espiral de insanidade...




Fui ver a informação de exame de Filosofia, que agora se chama prova... enfim, dou com isto escrito:

Objeto de avaliação

A prova tem por referência os documentos curriculares em vigor para os 10.º e 11.º anos (Programa de Filosofia e Aprendizagens Essenciais) e permite avaliar a aprendizagem passível de avaliação numa prova escrita de duração limitada. 


A sério que escreveram isto??? "Avalia a aprendizagem passível de avaliação"e "numa prova de duração limitada"... isto para quê? Porque os novos pais podem queixar-se que pensavam que a prova era até à eternidade? E que avaliava o que é não é avaliável? Ou os novos alunos do, 'aprender a aprender' poderiam alegar que pensavam que o teste, digo, a prova, podia levar-se para casa e acabar quando desse jeito, num ano mais conveniente?
Já agora porque não acrescentam que a prova dirige-se a seres humanos bípedes e mortais? Ou outra lapalissade do género?
Qualquer dia incluem na informação do exame o significado da palavra informação não vá alguém pensar que a informação é já a prova.
O pior é que depois nas escolas toda a gente se põe a imitar estas parvoíces com medo que lhes caia o céu na cabeça...

(já agora que estamos aqui: o meu PC não deixa abrir os documentos do IAVE. Diz que o site é inseguro. Calculo que não tenham pago o domínio...?)

Acerca do 25 de Novembro, das datas que dividem e dos que defendem a censura




Só faço notar duas coisas:

1. O 11 de Março dividiu-nos, cerceou-nos a liberdade e pôs-nos à beira de uma guerra civil, o 25 de Novembro pacificou-nos e devolveu-nos a liberdade;

2. Os que defendem e tentam silenciar, ostracizar, censurar, calar, proibir não são os que estão do lado da liberdade.



Porquê a arte? Não sei, mas tem de ser. É como o café da manhã, sem ele não funcionamos de modo são




Ontem a Manuela e eu fomos ver a Bela Adormecida. Uma companhia de ballet russa mas da 2ª divisão... teve partes boas e partes cómicas. Foi de menos a mais. Se o bailado tivesse mais um acto acabavam a dançar muito bem. Ou estiveram a aquecer durante o primeiro acto ou, como diz a Manuela, levaram um puxão de orelhas ao intervalo porque vieram de lá a dançar consideravelmente melhor. Aquilo é difícil porque o bailado é quase todo dançado em pontas mas, mesmo assim, o primeiro acto foi um desatino. Salvou-se a fada má que por acaso era um homem, um feiticeiro espectacularmente expressivo.
A plateia estava cheia de pais, enfim, mais mães que pais, com mais filhas que filhos. Estávamos rodeadas por miúdas entre os 6 e os 10 anos. Todas numa grande excitação. Algumas via-se que devem praticar ballet, outras mesmo só pela magia que são os espectáculos que se passam num palco iluminado com bons cenários, dança, cores alegres e boa música numa sala escura. Foi giro.

Citação deste dia




“My faith in realism and my faith in critical rationalism are not, however, commitments, but merely conjectures, since I am quite ready to give them up under the pressure of serious criticism. Yet with respect to realism I feel very near to Parmenides. For should I have to give up realism I think I should lose all interest in ideas, since the only reason for my interest is my desire to learn something about the world, and for this we need ideas, especially theories about the world. It seems to me almost miraculous that we have learnt so much about the world, even though all this knowledge is conjectural, and beset with unsolved problems, which constantly remind us how little we know.”

― Karl Popper, 'The World of Parmenides'.

The stars within

















Deb Garlick