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July 22, 2024

A inutilidade do belo

 



Na cultura mediterrânica, a folha de acanto significa vida duradoura - por isso, foi incorporada diretamente nas colunas.
Pequenos pormenores como este ligam-nos ao passado (vários milénios, neste caso)

 (The Cultural Tutor)

Até algo tão mundano como o mobiliário urbano pode fazer isso. Os curiosos "bancos esfinge" de Londres eram uma homenagem à chegada das Agulha de Cleópatra, do Egipto, em 1878.
O banco moderno não conta histórias. É um testemunho do totalitarismo do funcionalismo massificado.

O que falta aqui?
O humano em nós - "põe o que és em cada coisa que fazes"

Praga não é bonita por causa dos seus grandes monumentos mas por toda a beleza 'desnecessária', 'inútil': estátuas esculpidas à mão e nichos em cada esquina...
Essas cidades antigas foram o resultado de pessoas que moldaram organicamente o seu ambiente ao longo do tempo, com o objetivo de lhe pertencerem.

Cada esquina conta uma pequena história sobre a sua origem.
A esquina moderna, em grelha, não diz nada. É simplesmente o ponto de encontro das paredes de cortina. As ruas não pertencem realmente a ninguém.

A construção da nossa identidade, enquanto indivíduos ou cidadãos, ao longo da vida, está sempre encostada a um contexto ambiental-arquitectónico que nos forra as memórias, as vivências, a energia (positiva ou negativa), os horizontes, a auto-confiança, o sentimento de coesão com o passado, o presente e as possibilidades de futuro. 
Há uma tristeza deprimente nestas cidades esquecíveis, sem história nem poesia. 

O valor do belo não está na sua inutilidade funcional? Porque é que uma amizade é bela? Porque o nosso 'amigo' pensa que lhe podemos prestar serviços? Que pode usar-nos como uma função do seu interesse? Quem quereria uma amizade dessas? Porque é que uma cabeça de cavalo é bela? Porque podemos usá-la ou vendê-la por bom preço ou porque a sua contemplação nos causa um prazer interior e uma ligação fundamentalmente humana entre o passado e o presente? O que é que os turistas vêm ver a Lisboa? O edifício do novo museu dos coches, o edifício da EDP? Ou a Torre de Belém, os Jerónimos, a Rua Augusta, as ruelas da Mouraria, da Graça e do Bairro Alto, com as suas escadinhas, arcos, brasões de pedra e casas coloridas a contarem histórias milenares? 

April 29, 2024

Arquitectura de poder sombrio versus arquitectura de luz



A arquitectura expressa muito bem a visão do mundo, as intenções e as relações de poder dos seus criadores.



O Pavilhão alemão na Exposição Mundial de Paris, 1937



O Pavilhão soviético na Exposição Mundial de Paris, 1937



ambos os pavilhões frente a frente - esmagam todos os outros na sua óbvia competição pelo poder total


Veja-se o pavilhão da Alemanha na feira internacional de Barcelona nove anos antes, em 1929, desenhado por Ludwig Mies van der Rohe e Lilly Reich: um edifício de serenidade, cheio de luz e aberto - inclusivo como se diria actualmente - em contraste com aquele bloco fechado, gigantesco, de intimidação. Oito anos e um político criminoso predador de diferença... É difícil não fazer comparação com os 8 anos de diferença entre Janeiro de 2014 e Janeiro de 2022 do predador da Rússia relativamente à Ucrânia...





March 03, 2024

Deixar a marca da evolução das ideias nos espaços ou apagá-la?

 


A view of the Temple of Diana at Evora - curiosa gravura de produção inglesa datada de 1795, parte integrante da obra "Travels in Portugal, trhough the Provinces of Entre Douro e Minho, Beira, Estremadura and Alem-Tejo", de James Murphy.


É particularmente interessante porque nos mostra a aparência que tinha ainda nesse tempo, tão diferente daquela que hoje ostenta.
Não foi, no entanto, unânime o destino a dar ao Templo Romano de Évora, quando a partir dos anos cinquenta do século XIX se começou a ter noção da sua real importância como polo central da identidade histórica da cidade.
Com efeito, por esses anos, o monumento permanecia ocultado numa espécie de torre medieval, com os espaços entre as colunas emparedados com paredes de alvenaria e coroado por ameias, fruto das transformações arquitectónias operadas durante a Idade Média, convertido em estrutura militar e depois em açougue.
Consultou a Câmara de Évora diversas personalidades nacionais habilitadas na matéria para se eleger a melhor solução, tendo sido díspares as opiniões sustentadas.
Para uns, a demolição do Templo. Para outros, mantê-lo como estava. Para outros ainda, o mais correcto seria o expurgo dos acrescentos medievais, os quais, no seu entender, constituíam uma profanação e abastardamento da traça romana, que urgia recuperar.
Em Julho de 1870, perante os resultados da consulta, a Câmara Municipal determina que se proceda ao restauro da traça original do Templo Romano, entregando a direcção da obra a Giuseppe Cinatti, o autor das Ruínas Fingidas do Passeio Público de Évora.
Para esta decisão, em muito terá contribuído a opinião de Alexandre Herculano, o mais conceituado historiador da sua época, que numa visita a Évora em Maio de 1870 se pronunciara a favor da completa desobstrução das estruturas romanas.
José Luís Espada-Feyo via A Torre do Tombo

November 29, 2023

Revivalismo arquitectónico

 


Dresden - os Atalantes em primeiro plano e a Catedral de Nossa Senhora, reconstruída, ao fundo.

Alguns países da Europa que tiveram os monumentos das suas cidades destruídos estão num revivalismo arquitectónico. Dresden, na Alemanha, é um desses casos, a Hungria é outro.

@Yunhehtn


March 21, 2023

Arquitectura de fusão: o estático e o dinâmico num só

 


November 15, 2022

Ver concretamente no abstracto

 


Os começos são sempre difíceis e o que sustém é a fé num futuro projectado e visionado. 


Barcelona, Espanha 1906. Basílica da Sagrada Família no início da construção. 

(via a beautiful culture)

December 22, 2021

December 11, 2021

Chão de pedra

 


Veneza, Basílica de São Marcos. Detalhe do chão: dodecaedro estrelado desenhado por Paolo Uccello, século XV.


December 07, 2021

Chão de pedra

 


Roma, Stanza della Segnatura no Palácio Vaticano. Por muito que o olhar se encante com a visão dos frescos divinos de Rafael, por favor preste também a devida atenção ao maravilhoso chão renascentista Cosmatesco, uma obra-prima frequentemente negligenciada durante as visitas.
Foto por Lure.
Dottrina dell'Architettura




October 23, 2021

Uma casa

 


Casa Katana (pela forma de lâmina das linhas da casa), Creta, Grécia
Perfeitamente integrada no ambiente.















KRAK. architects

By Naser Nader Ibrahim

October 11, 2021

Arquitectura

 


Uma casa na montanha, em British Columbia, Canadá desenhada por Milad Eshtiyaghi.















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(a house or a dwelling is not a home...)



September 20, 2021

Arquitectura elegante

 


Museu de Arte Moderna de São Francisco (Califórnia)


Em 2016, o Museu de Arte Moderna de São Francisco (SFMOMA) passou por uma renovação que acrescentou nova energia ao espaço. A renovação foi conduzida por Snøhetta (uma comissão que ganhou num concurso que contou com a Adjaye Associates, Diller Scofidio + Renfro, e Foster + Partners). A expansão acrescentou 235.000 pés quadrados de espaço aos interiores do edifício, ao mesmo tempo que contribuiu muito para a integridade arquitectónica da cidade com o exterior do edifício.





Photo: Courtesy of Snøhetta/Henrik Kam

August 01, 2021

A poética do espaço

 




House under the hill in Nashtarood, Iran by mrk office / Mohammad Reza Kohzadi


July 22, 2021

Elegância

 


Uma arquitectura elegante resiste ao tempo, às modas, às idiossincrasias do gosto. Anima o espírito, o equilíbrio interior e a boa disposição em geral. O efeito psicológico -positivo e negativo- da arquitectura, nas pessoas, é muito subestimado.




Jókúti GyörgyArchitecture
Budapeste - Hungria

June 12, 2021

A democracia não se vê só nas urnas

 


Um dos aspectos que faz de Lisboa uma cidade com tanto encanto é ter conseguido manter a sua traça e a sua atmosfera doce. Tem mantido essas duas características com a prudência de não deixar que a arquitectura agrida o espírito da cidade e retire a luz que a envolve. 

Tenho pena que não se reconheça ainda a arquitectura como uma das vertentes mais importantes no bem-estar e qualidade de vida das pessoas.

Vem isto a propósito de uma intervenção num monumento onde estive na semana passada e um edifício relativamente recente, ambos em Lisboa, que me parecem ir contra a prudência, sendo que um deles me choca mesmo. Falo da intervenção no Torreão do Palácio da Ajuda e do novo Museu dos Coches.

Eu bem sei que os arquitectos gostam de dizer que o povo não percebe nada de arquitectura e que por isso não têm que levar em conta a posição do povo, mas isso, não só é incorrecto como anti-democrático. Seria o mesmo que dizer que como o povo não percebe nada de leis não deve ser ouvido acerca delas. 

A arquitectura modifica a cidade e a cidade é de todos e não apenas dos arquitectos.

No que me diz respeito, julgo a arquitectura com alguns critérios:

1. A obra apela-me, faz-me sentir viva, por assim dizer, interpela-me, faz-me olhar para ela, provoca-me, puxa-me? Ou, pelo contrário, repele-me, agride-me, faz-me sentir opressão, fechamento ou ainda, é monótona, indiferente, não cativa?

2. A obra é coerente com o espaço que ocupa?

3. A obra não é coerente com o espaço envolvente mas brinca com ele e o contraste torna ambos mais vivos?

4. A obra é coerente com o conteúdo?

Pois nestes dois casos referidos, as respostas àquelas perguntas são todas negativas.

No que respeita à intervenção no Torreão do Palácio da Ajuda:

Este H que puseram em frente da fachada do Palácio não tem continuidade com o resto do edifício. É monótono,  desinteressante e incoerente com o conteúdo - na verdade parece ser uma placa de um dos edifícios da Caixa Geral de Depósitos 'colada' aqui).
Não dignifica o palácio. 
O Torreão é particularmente feio. Olho para ele e vejo espigueiros transmontanos empilhados uns em cima de outros e toda a coisa me repele.
- espigueiro do Norte

O outro edifício é o do novo Museu dos Coches. Os lisboetas manifestaram-se formalmente contra o projecto, mas a Câmara não deu importância à posição e vontade dos moradores da cidade e entendeu valorizar o arquitecto brasileiro. Foram 40 milhões para o museu.


O novo museu é um bloco, um paralelepípedo fechado como se uma pedra brutal e de tamanho gigantesco tivesse aterrado na cidade e, por azar, tivesse ido cair numa zona de construção baixa, em declive a descer suavemente para o rio e ficasse ali a tapar a vista.
Não tem coerência com o espaço que o envolve, também não o provoca ou brinca com ele. Isto estaria bem, talvez, em Brasília, um espaço muito aberto, estendido e amplo, mas não aqui, uma zona residencial pequenina e mimosa.
Um projecto que o arquitecto diz que era para renovar toda aquela zona de Belém, não envolve as pessoas, pois é um shopping fechado que ocupa um quarteirão inteiro com lojas e restaurantes.
Dizem-me que por dentro os coches estão lá postos com se fossem objectos de arte contemporânea.

Isso ao certo não sei porque de cada vez que passo ali sinto agressão e o edifício repele-me como um tumor, uma coisa que está ali viva mas a invadir malignamente e, por isso, ainda não consegui obrigar-me a ir ver.

O edifício retirou o encanto rosado e a luz doce de toda aquela zona e enfia ali uma coisa bruta.

E que coerência tem com o seu conteúdo?

A democracia não se vê apenas na hora de ir colectar votos às urnas para poder ocupar cargos e ir gastar o dinheiro do povo. Vê-se no respeito pelas pessoas, pelas suas vidas quotidianas. Os edifícios ocupam espaços públicos e o público não pode ser completamente ignorado como se não tivesse que viver nos espaços.

Tenho pena que não se reconheça ainda a arquitectura como uma das vertentes mais importantes no bem-estar e qualidade de vida das pessoas. Vi, aqui nesta cidade que não é a minha, mas onde moro, como se feriu o espaço público em vinte anos. Uma cidade naturalmente tão bem disposta junto a uma serra linda e um rio com uma baía tão bonita, toda construída com brutalidade de costas voltadas para o rio e a cortar-lhe a luz. A arquitectura, sendo uma arte, pode fazer-nos sentir bem e vivos, na cidade, como pode, sendo má, fazer-nos sentir apertados, oprimidos e deprimidos. Viver numa cidade onde dá gosto viver e onde há beleza envolvente, torna as pessoas mais alegres e produtivas.

Isso e não apenas a opinião dos arquitectos que querem fazer experiências e deixar o seu nome, tem que ser levado em conta. Este edifício do no Museu dos Coches, de cada vez que passo por ele, fico negativamente incomodada com a brutalidade daquilo naquele espaço outrora aprazível. 

(nenhuma das imagens é minha)