February 11, 2025

Está na moda defender a ocultação da informação?




Este senhor escreve este artigo a desacreditar um estudo sobre o bullying a professores mas sem nenhum argumento, a não ser o do, "não acredito que isto possa ser verdade". Este senhor nem sequer tem o argumento de trabalhar em escolas e, portanto, ter um ponto de vista de experiência pessoal. Trabalha em universidades.

Ora, no que me diz respeito, não sei da credibilidade do estudo, quero dizer, os critérios com que foi feito o inquérito, se a amostra é representativa, etc. Haverá, certamente, quem possa aferir da qualidade do estudo e dizer-nos se é fidedigno e qual a margem de erro.

Porém, este resultado não me surpreende e, ao contrário da conclusão deste senhor, segundo a qual, os professores serem vítimas de bullying, nas suas diversas formas, é um descrédito para os professores, penso que é um descrédito para aqueles que deviam ser curadores da nossa profissão e têm-na denegrido, desvalorizado, proletarizado, ao ponto da ofensa pública quase diária. 

Falo só de governantes, nem falo de jornalistas e professores universitários que se dedicavam (e continuam) a dizer mal dos professores sem saber um boi de educação escolar e do que se passa nas escolas. São às dezenas, todos esses que se dedicaram a dizer mal e a fazer mal aos professores de um modo sistemático e persistente. Só para citar os piores governantes: Mª de Lurdes Rodrigues, Crato, João Costa, António Costa, Centeno, Sócrates, Sampaio, Alexandra Leitão e muitos muitos outros. 

Se fossemos repescar os jornais e os artigos escritos contra os professores nos termos mais degradantes possíveis no tempo da Lurdes Rodrigues, do Crato, do João Costa, agora até era difícil de acreditar no que foi escrito. Lembro-me particularmente de um artigo num jornal nacional, no tempo da Rodrigues, a propósito dos professores se queixarem de passarem horas sem poder trabalhar estacionados à espera de fazer substituições, sem nenhum mérito nas condições impostas, em que o articulista sugeria que os professores se entretessem uns com os outros (usou outra linguagem) dado termos falta de nascimentos. Sei quem foi o ordinário que escreveu isto. Nunca mais esqueci. Estas coisas eram diárias e só abrandaram com este ministro. 

O anterior ministro tinha ódio aos professores e escreveu indignidades contra nós.

Portanto, vergonha é isto dos governantes que deviam proteger e acarinhar a profissão dos educadores terem trabalhado para a sua morte. A profissão está moribunda. E foi isso que descredibilizou os professores. Isso mais os cortes de salário e a destruição das carreiras e as condições de trabalho e os professores terem que viver em tendas e o incentivo a que os pais fizessem queixas de professores, só porque sim - ou já não se lembram da Rodrigues se gabar publicamente de ter ganho os pais contra os professores? É por isto que ninguém quer a profissão.

No entanto, este senhor diz que estas coisas não podem ter acontecido e não deve saber-se de nada. 

Não deve saber-se que as políticas educativas produzem ignorante encartados, não deve saber-se se há bullying nas escolas. Não saber nada parece ser agora uma moda.


Um “estudo” que é uma vergonha. Precisamos de outras imagens da profissão docente



Os professores precisam de se afirmar como autoridades no espaço público. Para isso não precisam de psicólogos e de decretos. mas apenas de um profissionalismo interativo e construtivo.

José Matias Alves

O autointitulado estudo “Instantâneos da Escola Pública: Inquérito Bullying a professores - Conclusões iniciais” realizado pela Missão Escola Pública traça sobre a profissão docente uma imagem de miséria e proletarização, contribuindo de forma expressiva para a sua desvalorização e desprestígio social.

As mensagens nucleares do relatório que foram intensamente mediatizadas são as seguintes: 59% dos professores relataram ter sido vítimas de bullying no ambiente escolar; as agressões verbais (63,3%) e as ameaças (47%) são as formas mais comuns de bullying; a maioria dos casos de bullying provém dos alunos (57,2%), seguidos por pais e encarregados de educação (53,5%);15% dos professores já estiveram de baixa médica devido ao bullying; 43% dos professores relataram coação, com 59% desses casos atribuídos às direções escolares; maior incidência de bullying ocorre em Lisboa (26,3%), seguida pelo Porto (18,1%) e Setúbal (15,4); as mulheres são mais afetadas pelo bullying (62%), e os professores na faixa etária de 51-60 anos são os mais afetados (45%).

Nesta breve nota analítica quero sustentar o seguinte:

Um “estudo” que é uma vergonha. Precisamos de outras imagens da profissão docente
i) o “estudo” não é representativo da classe docente. Obter 2529 respostas pode refletir a “estratificação da amostra e a diversidade da classe docente em Portugal”, mas o modo de inquirição e a obtenção das respostas não podem confirmar a representatividade do estudo.


Público

(o artigo é grande mas todo no mesmo teor - quem quiser que o vá ler)

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