Têm o propósito de a minar. Por exemplo, este artigo fala como se os professores das escolas não soubessem que os alunos são mais do que o seu código postal ou como se não soubessem o que é ser mentor e depois conta um conto de fadas sobre uma organização internacional cheia de dinheiro que contrata pares de jovens por dois anos (à maneira do serviço religioso dos mórmons) e dá-lha meios -dinheiro, apoio e recursos internacionais- para irem influenciar uns alunos, ou uma turma, como se isso fosse comparável ao trabalho diário de um professor com montes de turmas e outros trabalhos e sem recursos ou apoios, não durante dois anos, mas durante quarenta anos.
Neste momento há uma organização que pôs o Estado em tribunal por não cumprir a redução do tempo lectivo dos professores após os 50 anos de idade. Não só não cumpre como os enche de apoios pedagógicos (explicações, que são trabalho lectivo, às vezes a grandes grupos de alunos, ou seja, turmas) e horas extra para remediar a falta de professores. Imagine-se o que seria cada 2 professores terem apenas uma ou duas turma para trabalhar como acontece a estes mentores. E ainda terem dinheiro e influência para ter acesso a CEOs e ex-governantes para irem às escolas dar testemunho, como tem esta organização...
Aliás, nas escolas não é permitido ter mentores. Mentores dedicam-se a poucos alunos. É um luxo a que as escolas não se dão e é preciso ver que estas organizações internacionais, muitas nas mãos de milionários, têm maior orçamento para o seu jantar anual que uma escola para um ano inteiro. Há uma dezena de anos apresentei na minha escola um projecto de mentoria para alunos com potencial mas sem meios, que não implicava, nem horas, nem custos para a escola. Quis apenas passar para o papel, divulgar, algo que já fazia. Grande erro. O Conselho Pedagógico chumbou imediatamente com o argumento de que os projectos têm de ser para todos os alunos e não um ou dois. É claro, continuei a fazer esse trabalho mas sem dizer a ninguém. Só os alunos em questão e os pais sabiam. É a escola que temos.
Portanto, esta é a escola que temos: excesso de turmas, excesso de trabalho, falta de meios, falta de recursos, excesso de burocracias, imposições de reformas de 3 em 3 anos, lideranças caciqueiras e constante hostilidade dos meios de comunicação social, dos grupos de religiosos que querem que o dinheiro da escola pública financie os seus projectos particulares, dos grupos que transformaram a escola num bem de consumo mercantil em vez de uma responsabilidade cívica pública.
Não acho mal que corporações internacionais cheias de dinheiro ajudem a escola pública. Antes pelo contrário. Agora, não venham dizer, demagogamente, que são bons porque têm um truque que motiva todos os alunos e miraculosamente põe alunos de maus códigos postais a ultrapassar as suas condições de vida, como se as condições de vida (e a educação parental que isso implica) dos alunos e o continuo corte nos recursos das escolas pauperizadas fossem um pormenor sem importância que estes jovens de 20 anos resolvem em três tempos e que os professores das escolas não resolvem por incompetência.
Quanto mais hostilizam os professores menos candidatos de valor se interessam pela profissão. Isto tem sido demonstrado à exaustão, mas não se aprende nada com a história.
Teach for Portugal. Mentores em escolas difíceis baixam negativas em 26%
A organização aposta no modelo da mentoria para melhorar inclusão de crianças e jovens. No seu quinto aniversário convidou presidentes de grandes empresas a irem dar uma aula às escolas mais desfavorecidas. Programa já envolveu 30 mil alunos.
Esse pessoal desses projetos aparece nas escolas como turistas, cheios de dinheiro e apoios que os professores nunca alguma vez na sua vida imaginam, trabalham com meia dúzia de alunos durante um curto tempo e depois vão-se embora a dizer porque é que os professores não conseguem fazer o mesmo. #Nena
ReplyDeleteE os jornais ampliam essas ladaínhas. Sabe-se lá o que ganharão com isso...
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