No Conselho Nacional de Educação, vinga a ideia de que não importa ter comunidades devidamente informadas sobre o que se passa nas suas escolas.
(...) exames finais no 9.º ano (30% da nota), persistem lacunas graves em aprendizagens estruturantes. Elas são mais evidentes em escolas de contextos mais desfavorecidos, onde não se tem garantido, em muitos casos, os recursos necessários para que dêem respostas mais adequadas.
Andreia Sanches in Público
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É inútil fazer avaliações e não conhecer os resultados de maneira a poder operar-se sobre as falhas e melhorar os sistemas.
É inútil fazer avaliações que os alunos sabem que não interferem nas notas, pois eles não as levam a sério o que compromete os resultados e a possibilidade de melhorar. São uma perda de tempo. Os alunos não se podem monitorizar pensando que se pode dispor da sua agência como se fossem ratos de laboratório que respondem automaticamente às solicitações.
A virtude da avaliação está em o aluno perceber e ser capaz de concentrar o esforço intelectual e motivacional num certo período de tempo, sendo capaz de lidar com a pressão e a ansiedade para seleccionar aprendizagens relevantes para resolver os problemas que lhe surgem na avaliação. E o feedback é fundamental para que possa aperceber-se. É dessa maneira que a aprendizagem é formativa.
Por outro lado, se queremos uma escola pública relevante e de qualidade, temos que saber se as políticas relativas aos planos curriculares e metas da educação estão a resultar, ou não e, se não estão a resultar, onde falharam e porquê.
Nada disto é possível sem avaliações sérias, que contem para a nota e sem informação dos resultados das avaliações.
Como temos uma lógica de atribuição de classificações muito medíocre que torna possível um aluno chegar ao 10º ano sem saber ler, sem nunca ter tido uma positiva a matemática e até não tendo ido à maioria das aulas, querem agora acabar com o único instrumento que ainda existe que torna evidente esta fraude que tanto prejudica os alunos.
Todos os anos tenho alunos que só no 10º ano percebem que os anos anteriores sem estudar e a passar com negativas lhes destruíram a possibilidade de agora progredir. Só quando já têm uma certa idade e são postos diante do facto de não serem capazes de tirar notas positivas, com a consequência muito provável de irem falhar nos exames que vão ter de fazer para concluir as disciplinas, percebem que as falhas em muitas sequências do encadeamento das aprendizagens anteriores impede a real capacidade de, no presente, serem capaz de resolver os problemas da aprendizagem do ano de escolaridade em que estão, mesmo começando a estudar a sério.
Falta-lhes a linguagem, os conceitos operatórios lógicos, as técnicas básicas, os conteúdos estruturantes, vários elos da cadeia sem os quais não se consegue dar conta de problemas mais complexos. Alguns queixam-se: 'nunca ninguém me obrigou a estudar. Nunca foi preciso para passar.' Depois sentem-se mal, inseguros e desmotivados porque comparam-se com os outros para quem o estudo compensa.
O número destes alunos cresce exponencialmente. Era impossível, há meia dúzia de anos, numa turma de trinta alunos do 9º ano, só três terem nota positiva. Agora é normal. Ora, isto não é normal. E é uma responsabilidade cívica do país promover um ensino de qualidade com avaliações sérias e não uma farsa.
A avaliação é, em primeiro lugar, um direito do aluno, logo, um dever do sistema. Podemos discutir tipos de avaliação apropriados, podemos discutir o peso das avaliações, o modo como construímos a comparação das avaliações entre escolas (tem melhorado muito) mas não podemos fazer avaliações-farsa ou esconder as informações que nos permitem melhorar os sistemas ou negar aos alunos o direito a um ensino de qualidade com avaliações sérias que os comprometam na construção da sua própria aprendizagem da qual dependem as oportunidades de um futuro possível - para eles e para o país.
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