Este governo quer seguir na senda dos anteriores e usar a educação como meio de poupar dinheiro. Então, publica estes, "estudos com aspas" para enganar a opinião pública e depois ter pretexto para fazer cortes sem agitação social. Quando entrei para a profissão, lá por meados dos anos 80, o ensino estava numa situação aflitiva, sem escolas nem professores; no entanto, havia esperança porque havia a vontade de formar professores e melhorar a educação. O que se fez em cerca de vinte anos. Deitou-se todo esse trabalho para o lixo e agora estamos na mesma situação aflitiva, porém agora o que há é desesperança e desânimo, porque se vê, em cada ano que passa, a intenção, não de melhorar, mas sim de destruir o ensino público e sacrificar milhares de crianças e adolescentes para poupar dinheiro e, provavelmente, financiar o ensino privado dos amigos.
Estudos com aspas
Paulo guinote
Ultrapassando o facto de o autor ter tido diversas responsabilidades na área da Educação, não apenas como governante, mas também como presidente do Conselho Nacional de Educação, sendo conhecidas as suas posições anteriores sobre algumas destas matérias, ficam por explicar diversos aspectos deste “estudo”, que exporei de forma breve e não-exaustiva, por questões de gestão de espaço.
Antes de mais, há questões de metodologia que me surpreendem, como a opção por não incluir um anexo documental com os dados de base para o tratamento gráfico da informação, impedindo a sua análise externa. Sendo divulgado em formato digital, não se coloca a questão de ficar demasiado volumoso, estranhando-se uma omissão deste tipo.
A outro nível, é passível de crítica o facto de ser essencialmente um “estudo de médias”, apresentando indicadores globais para números de escolas, alunos, professores, que depois se dividem para apresentar rácios e as tais “médias”, sem se detalharem aspectos relevantes como uma cartografia da dimensão das escolas e da carência de professores.
Existe correspondência entre as zonas com escolas de pequena dimensão e zonas onde há maior falta de professores? São, sequer, do mesmo ciclo de escolaridade?
Existem ainda “conclusões” sem sentido ou sustentação factual, como a que se refere à matriz curricular, pois ao (errado) aumento de disciplinas em 2018 não correspondeu um acréscimo de horas lectivas, pelo que não pode ser essa uma das razões para a falta de professores. O mesmo para a conclusão em que se refere a redução da carga horária no 12.º ano, sem que se entenda qual o efeito de redistribuir as horas pelos diferentes anos do Ensino Secundário.
Há a sensação de que se fizeram opções destinadas a dramatizar situações que não o justificam. Anunciar que “40% das escolas de Portugal continental têm menos de 15 alunos” ou dar a entender que existem quase 20% de escolas do 3.º ciclo com menos de 15 alunos (p. 45), não passa de uma mistificação da opinião pública. Para além de ser incompreensível o violento ataque a um Ensino Profissional que, em outros dias, tanto se elogiou como “alternativa” estimável.
Em suma, o “estudo” parece mais uma peça com pretensões políticas do que “científicas”, que visa criar a percepção de que a rede escolar pública deve ser “emagrecida”, que a sua gestão é “ineficiente” e que alunos e professores devem deslocar-se pelo país, para que as médias batam certo nas tabelas de Excel. Como “estudo”, merece as aspas.
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