As consequências de transferir a educação parental para a tecnologia e redes sociais
Utilização problemática dos ecrãs promove violência de jovens sobre paisPúblicoO estudo, realizado entre 2022 e 2024, focou-se na análise de 16 artigos científicos centrados na violência filioparental e concluiu que há uma “relação directamente proporcional” entre o tempo dedicado a jogar videojogos e o consumo de conteúdos audiovisuais violentos”, e a activação de estados hostis e a “gravidade dos comportamentos agressivos nos adolescentes”, que pode levar à “deterioração das relações entre filhos” e desencadear situações de violência filioparental, como também instabilidade emocional junto dos jovens.Além disso, a utilização abusiva das tecnologias — determinada não só pelo tempo dedicado aos ecrãs, mas também pelo equilíbrio e a existência de actividades offline — também se associa à “diminuição do desempenho académico” e à “vivência de um ‘eu virtual’ desvinculado dos valores familiares”.
“A prática excessiva de videojogos e o uso problemático da Internet são factores associados à violência filioparental”, aponta a investigação. E explicação é simples: estas actividades, realizadas num ambiente familiar ou de forma desenfreada, “tendem a gerar distanciamento, conflito e uma escalada de violência", principalmente, quando "os pais tentam regular" estas práticas. Os episódios mais violentos acontecem, sobretudo, diz o estudo, em momentos de “regulação parental” do tempo da prática de videojogos e do tempo dedicado aos ecrãs.
As crianças e jovens têm dificuldade em aceitar que ficam restringidos, porque não têm a plena consciência de que estão a utilizar os ecrãs de forma excessiva", começa por justificar. Além disso, “quando se vêem restringidos, voltam-se contra quem está a restringir”, adiciona a psicóloga clínica.
“Nós não aceitamos que qualquer pessoa nos imponha regras. É preciso uma relação, com comunicação clara e participada, com limites bem definidos e com uma ligação afectiva [para aceitarmos]”. Se os filhos e os pais não têm “estes alicerces muito bem estruturados” e se não houver “o cultivar” desta relação, cria-se um fosso, que é, por sua vez, “preenchido pelos ecrãs” e que dificulta “o reconhecimento da autoridade” por parte dos mais novos. Consequentemente, nestas situações, pode-se verificar “a inversão da hierarquia familiar” e a “emergência de violências de filhos sobre pais”.
“Na adolescência, os jovens ficam mais vulneráveis à influência dos pares” e acabam por legitimar comportamentos e adoptar acções a que estão expostos nas redes sociais, esclarece a psicóloga clínica. Associado a isto, “se não tiverem uma estrutura familiar, com referências afectivas e educativas bem sólidas”, geram-se mais disputas.
Além dos videojogos, a exposição à violência na televisão e a músicas violentas são também apontados pelos pais como factores que contribuem para “o estado hostil” dos filhos, adiciona o estudo. “A mente das crianças e dos jovens fica sobrecarregada” e estes não têm a “capacidade de gerir, do ponto de vista cerebral”, o “excesso de estimulação” desencadeada pelos ecrãs, diz Neusa Pauteleia. No mesmo seguimento, “não têm tempo para gerir frustrações e angústias, e para aprenderem a estabelecer limites, porque não têm tantas oportunidades para desenvolver estas competências com o outro” e, como tal, “ficam mais nervosos e ansiosos”.
A investigação publicada na Revista de Psicología Clínica con Niños y Adolescentes vai ao encontro do que é defendido pela psicóloga clínica ao revelar que os jovens que têm mais supervisão familiar enquanto utilizam os ecrãs tendem a evidenciar níveis de stress mais baixos. Em contrapartida, os adolescentes envolvidos em violência filioparental têm níveis mais elevados, apresentando ainda ansiedade, depressão, sentimentos de inadequação e stress social.
O estudo reforçar igualmente que o “uso compulsivo” das tecnologias, — muitas vezes acompanhado de “preocupações cognitivas, deterioração de relações interpessoais e intrapessoais e/ou o aumento dos sintomas de depressão” — “impede o desenvolvimento adequado” da vida quotidiana dos mais novos.
(...) de forma a preservar o bem-estar das famílias, “é necessário insistir na prevenção e na formação de bons hábitos” de acesso aos ecrãs "desde cedo” e sensibilizar os cidadãos para esta temática, diz a investigação.
“É muito importante que os pais, desde o início, invistam nas relações com a noção das principais funções na parentalidade”, que são orientar, definir limites, ter disponibilidade emocional e afectiva e ser uma figura de autoridade. “Actualmente, as pessoas estão mais centradas nas suas questões e desafios e vão muito a medo ao assumirem as suas funções parentais, acabando por se igualar e posicionar numa situação muito simétrica com os filhos”, pondo em causa o papel de autoridade e orientação que têm para com estes.
Um dos 16 artigos, citado pela investigação, refere ainda que o uso das tecnologias “provoca conflitos familiares”, sendo que os adolescentes estão mais propensos à utilização problemática dos ecrãs. Outro documento nota também que a violência filioparental não está relacionado com a prática de videojogos em geral ou com o contacto com jogos violentos, “mas com os estados alterados de consciência” que surgem desta actividade.
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