December 18, 2022

"Como todos sabemos, o dinheiro nasce em Bruxelas."

 


E morre nos gabinetes do governo.


Costa&Mariana entalados na Porta dos Fundos

Daniel ​​​​​​​Deusdado

Como todos sabemos, o dinheiro nasce em Bruxelas. Mesmo assim, é difícil de apanhar, dada a gigantesca indústria de consultoria, auditoria, gestão, verificação e distribuição montada para tanto milhão. A relação entre o investimento criado e o despendido na saga há de ser da ordem do surpreendente. E, quanto mais os anos passam, pior fica, embora seja anunciado que será sempre melhor. Infelizmente não: agora, chegou a corrupção. Em consequência, Costa agiu. Passou a pôr em marcha o sistema clássico do Grande Estado onde ninguém confia em ninguém: portanto, controla ele. Ou a Mariana. Os dois. Não vá Marcelo dizer não sei o quê. Surge então uma nova equipa de confiança para os Fundos. Com supervisores. E Conselhos de apoio. Mais a nova Agência de Coesão. E o IAPMEI. E o AICEP. E as equipas dos Competes e muitos outros instrumentos - alguém tem o mapa?

Recomeçando: nas remotas fábricas e oficinas onde gente espremida se desfaz em oito horas operárias para lutar contra o mundo como se não fossemos todos chineses, há uma mensagem a enviar ao poder central. A eles se juntam milhares de homens de mala na mão, prontos a voar sobre o globo inteiro para vender um sofisticado casaco ali, os sapatos de design arrebatador acolá, o molde para um bólide moderno, vinho espremido em labutas incessantes ou cortiça aeroespacial. Aglutinados em associações setoriais, pedem/imploram: paguem o que devem. As candidaturas. A inovação. A internacionalização. Fundos de 2015 e 2016 ainda por entregar. E por aí adiante.

É possível? Desde 2015!? Muitos milhões. Que não saem dali. Do circuito. Do fundo dos Fundos.

Costa não acerta na Economia. É o calcanhar de Aquiles do PS. Começou com três anos de Caldeira Cabral - era um erro de casting, disse-se. Depois entrou Siza Vieira, que conhecia a Economia com a profundidade dos oriundos das grandes sociedades de advogados. Quando já conhecia os transacionáveis, foi-se embora. Entra agora o visionário Costa Silva, que jamais terá paciência para a inoperacionalidade do Ministério. Do anterior Governo saiu o planeador Nélson de Sousa, que dominava a máquina e os Fundos de trás para a frente. Ficou refém das cativações das Finanças. "Delete". Restou Ana Abrunhosa, que tem o título de Ministra da Coesão Territorial, mas que não tem a Agência de Coesão, cuja coutada é de Mariana Vieira da Silva, cuja experiência na coesão da economia real é... (escolha a palavra). Até Marcelo se confundiu, ao dar recados sobre a Bazuca a Abrunhosa, esquecendo Mariana, a que manda. Mariana-Costa. Costa, do Castelo.

De 1989 a 2014 recebemos 104 mil milhões de fundos. De 2015 até 2027, Costa tem mão sobre mais de 60 mil milhões.

Agora é que vai ser. Para ajudar Mariana, chegou o ex-presidente do Instituto Politécnico de Setúbal, Pedro Dominguinhos, líder da novíssima-essencialíssima Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR-Bazuca. Mariana já tinha conseguido criar também a estruturalíssima Agência de Coesão, liderada por Cláudia Joaquim, ex-secretária de Estado da Segurança Social do pai Vieira da Silva e, portanto, de confiança. Entretanto, algum conhece, de experiência feita, a economia transacionável? Alguém com experiência na área pode dar uma mão? O ministro Costa Silva? Pena ter demitido os secretários de Estado que já conheciam a Economia.

Os papéis. Quais papéis? Como disse anteontem António Horta Osório, na conferência de aniversário deste jornal, em 10 anos podíamos duplicar o PIB. Poder-poder, podíamos. Mas estamos entalados na Porta dos Fundos. Conhecem? É de rir.

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