July 19, 2023

Vão dizer ao primeiro-ministro: penalizar os salários não tem benefícios económicos, é só injusto

 


Preservar os salários reais não cria inflação, defende estudo


Dois economistas criticam, em estudo publicado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas, políticas seguidas pelos bancos centrais e governos para responder à inflação.
Sérgio Aníbal

Uma estratégia de preservação do valor dos salários reais, com aumento nominais em linha com a inflação, não impede que a taxa de inflação registe, após o fim do choque de aumento dos custos da energia, uma descida ao longo do tempo, mesmo num cenário em que as empresas mantêm os seus lucros ao mesmo nível, concluem dois economistas, num estudo publicado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas, do Centro de Estudos Sociais (CES).

Uma das principais ideias defendidas pelos autores é a de que é infundado o receio – assumido por bancos centrais e governos – de que se possa criar, com aumentos salariais que respondam à inflação, uma espiral de salários e preços. No estudo, que critica as perspectivas da economia neoclássica predominantes na definição das políticas à escala mundial, é feita uma simulação sobre o que aconteceria num cenário em que, em resposta a um choque temporário nos custos com a energia e as matérias-primas, a subida de salários fosse idêntica à inflação, permitindo assim a preservação do seu valor em termos reais. A conclusão é a de que, mesmo com as empresas a manterem os seus lucros, a inflação acabaria por diminuir progressivamente.

“A única possibilidade de os aumentos salariais conduzirem a uma aceleração da inflação é no caso em que as empresas revejam a sua meta de taxa de retorno após o choque”, afirmam, assinalando que, em contrapartida, se os salários reais não forem preservados, aquilo que acontecerá será a ampliação da “desigualdade de rendimento em favor do capital”.

O documento faz também várias críticas à forma como o Banco Central Europeu – à semelhança do que acontece com a generalidade dos bancos centrais – está a reagir à subida da inflação, elevando de forma acentuada as taxas de juro directoras.

Por um lado, os autores defendem que “os valores actuais [da inflação] ainda se encontram bastante longe daqueles a partir dos quais a evolução dos preços se tornaria um obstáculo ao crescimento”, concluindo por isso: “o problema com que nos deparamos não é a inflação em si, mas sim a crise do custo de vida que resulta da compressão dos salários reais”.

Por outro lado, afirmam, “a subida das taxas de juro por parte dos bancos centrais é uma estratégia pouco eficaz do ponto de vista macroeconómico, visto que a inflação é um fenómeno resultante da subida dos preços em alguns sectores sistemicamente significativos – como o da energia e o dos bens alimentares –, sobre os quais a política monetária dificilmente produzirá efeitos”.

E, por fim, sinalizam que estratégia seguida pelos bancos centrais é também “injusta do ponto de vista social”, já que acaba por ter efeitos negativos sobre a actividade económica e o emprego.

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