February 03, 2021

A vida na estação espacial

 


algumas coisas não precisávamos saber... como usam a casa de banho e isso... outras achávamos piada saber: sex in the EEI...? will be out of this world 😅 really 😅)


Covid-19 - Assim que fecharam as escolas

 


... baixaram logo o número de mortos e infectados. Para quem dizia que uma coisa não tinha que ver com outra. E ainda só passou semana e meia.


Mais 240 mortes e 9083 casos em Portugal. 

É o valor diário de óbitos mais baixo desde 22 de Janeiro e a quarta-feira com menos casos identificados desde 30 de Dezembro, quando foram reportados 6049 novas infecções.


Isto é espectacular!

 


Inspirador.

A sério??

 


Então comprei duas vezes o mesmo livro?? Agora vieram entregar-me um livro que já me tinham entregue a semana passada. Fui ao site. Então não é que comprei o livro duas vezes?? Que esperta...


Quase, quase

 




O que é aqui relatado só não choca porque já estamos anestesiados quando se trata da proverbial incompetência dos serviços do país

 


Pessoas sem perfil, sem cabeça e sem competência são os preferidos do poder para encabeçar organismos. Depois, dá sempre nisto.


José Manuel Martins Ferreira
Professor da Faculdade de Tecnologia, Ciências Naturais e Marítimas, Universidade do Sudeste da Noruega - 


Não se surpreenderá o leitor se lhe disser que não havia, quando desembarcámos em Portugal, quem realizasse o teste no aeroporto, como o Dec-Lei determina. "Estavam a chegar”. Relato do caos instalado


Permita-me o leitor começar pela explicação, porventura desnecessária, de que é falso o argumento de que as realidades de Portugal e da Noruega não podem ser comparadas, dada a abissal diferença de recursos que existe entre os dois países. Está longe de ser apenas isso, como estas linhas demonstrarão. Tenho, desde 2013, uma posição de professor a tempo inteiro naquela que é atualmente a quarta maior universidade pública do país. Aquilo que verdadeiramente nos distingue, e que justifica o título escolhido, é a organização e o respeito que o Governo tem pelos cidadãos. Até ao eclodir da pandemia, costumava alternar duas semanas na Noruega e duas em Portugal. Atualmente, tenho passado um mês em cada país. Esta última deslocação oferece-nos um bom exemplo da acusação que o título encerra.

Viajei para Oslo no passado dia 6 de janeiro, via Frankfurt, saindo de cá no voo que deveria partir pelas 06:20 horas da manhã. Deveria, mas não partiu, porque as baixas temperaturas da noite deram origem à formação de gelo nas asas. Foi o próprio piloto que veio ao terminal de embarque falar a todos os passageiros, para os informar de que iríamos sair atrasados porque o aeroporto do Porto não dispõe de meios para o descongelamento. Acrescentou que nunca na sua carreira tinha tido tal experiência e que a única solução seria esperar pelo nascer do dia, colocar o avião ao sol e esperar que o descongelamento acontecesse naturalmente. E foi isso mesmo o que aconteceu – embarcámos apenas pelas 08:30 horas, com mais de duas horas de atraso, e esperámos pacientemente ao sol, que entretanto nascera, até às 10 horas, quando finalmente pudemos levantar voo. Com quase quatro horas de atraso, perdi a ligação seguinte para Oslo, onde cheguei apenas alguns minutos depois da meia noite. Já nessa altura, a Noruega exigia aos passageiros que trouxessem um teste Covid-19 negativo à entrada, a que se acrescentava a exigência de realizar outro à chegada e ao cumprimento de uma quarentena de 10 dias. O teste realizado à chegada, gratuito, poderia ser substituído por outro realizado fora, desde que o resultado fosse apresentado nas 24 horas seguintes. Não foi preciso esperar pelo resultado no aeroporto, porque as autoridades sabiam como e onde contactar cada um dos passageiros.

Daremos agora um salto no tempo até hoje, 31 de janeiro, em que regresso a Portugal. Consultei naturalmente o site SNS24 antes da viagem, para saber o que deveria apresentar. Ainda à hora em que escrevo estas linhas, este site continua taxativamente a afirmar que os passageiros vindos de “países UE e do espaço Schengen não têm de apresentar teste à Covid-19 no momento da partida, serão apenas submetidos a controlo de temperatura à chegada ao aeroporto” O endereço da página é inteiramente geral, sem referência de data, fazendo parte da prevenção dos viajantes relativamente à Covid-19.

A viagem com a Lufthansa, conhecida pela excelente organização, não começou da forma habitual. Pela primeira vez desde há largos anos, não pude fazer o check-in online, tendo recebido da companhia a explicação de que o bilhete estava “sob controlo do aeroporto” e seria lá que teria que o realizar, “à moda antiga”. Suspeito agora porquê – a companhia, sem informação sobre as novas formalidades de entrada em Portugal, não sabia se teria autorização para realizar o voo e deve ter procurado esclarecimentos até à última hora. Ao embarcar, a informação recebida foi de que as autoridades portuguesas exigiam agora o preenchimento de um formulário eletrónico no portal “portugalcleanandsafe.pt”, que devolveria (como devolveu) um código QR para mostrar no controlo de passaportes. Após uma breve escala em Frankfurt, embarcámos para o Porto, onde chegámos no horário, pelas 11:25 horas da manhã.


E aqui entramos verdadeiramente no desgoverno que o título proclama. Os funcionários do SEF pediam um teste Covid-19 que era agora exigido pelo Decreto-Lei (DL) nº 20/2021, que entrara em vigor pelas 00:00 horas deste próprio dia. Dezenas de pessoas, desconhecedoras de uma exigência que as informações já referidas no portal SNS24 continuam a ignorar, não dispunham de teste. Poderá imaginar-se a confusão criada, as discussões, até o desespero – em particular, de uma senhora que tinha viajado unicamente para participar no funeral da mãe, marcado para as 14 horas.

Não se surpreenderá também o leitor se lhe disser que não havia, quando desembarcámos, quem realizasse o teste no aeroporto, como o DL determina (“estavam a chegar”). A longa fila formada, se não criou mais riscos para a propagação da doença, certamente também não constitui um bom exemplo de como a combater
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Fila de passageiros a aguardar a chegada dos técnicos para realização do teste


Quando, finalmente, chegou a minha altura de realizar o teste, eram 15:30 horas, isto é, cerca de quatro horas depois de ter aterrado. Para agravar a situação, as autoridades exigem que ninguém saia do aeroporto antes de ser conhecido o resultado, que os técnicos do laboratório esclareceram demorar “pelo menos oito horas”, uma vez que não se trata de um teste rápido, mas antes de um teste PCR com captura de amostra em ambas as narinas e na garganta. Escusado será também dizer, que o responsável pelo laboratório, argumentando com a falta de informação atempada, recusou o pagamento dos 100 euros exigidos a cada passageiro através dos respetivos seguros de saúde, por não terem podido acautelar essa situação.

No momento em que escrevo estas linhas, mais de uma centena de passageiros aglomera-se no espaço que rodeia uma pequena cervejaria, no piso das partidas, que foi a solução “desenrascada” para os acantonar, enquanto esperarão ainda várias horas pelo resultado para saberem se poderão finalmente seguir para os 14 dias de confinamento. A extraordinária falta de organização e planeamento que este episódio evidencia constituem, por si só, a melhor explicação para o estado em que o nosso país se encontra.

Este parágrafo final é escrito no dia seguinte. O resultado chegou pelas 21:41 horas, o que me permitiu abandonar, por fim, o aeroporto cerca das 22 horas. Quanto ao código QR… ninguém pediu para o ver. Perdoe-me o leitor esta deselegância final, mas a melhor descrição para aquilo que me foi dado presenciar está nas palavras de um destacado membro do Governo, Ministro de Estado, quando há tempos se referiu despropositadamente nestes termos a uma reunião da Concertação Social: “É uma feira de gado”.

Uma entrevista que vale a pena ler




Não é que diga novidades, mas diz o que tem de ser dito todos os dias até que o ruído seja tão insuportável que os partidos e outras forças sociais comecem a agir no sentido de mudar esta triste realidade e, ainda, propõe soluções. 



Isabel TavaresEntrevista

2 fev 2021

A corrupção em Portugal equivale a 10% do PIB. André Corrêa d'Almeida, professor da Columbia University, quer combater o fenómeno e aponta um caminho, a começar pela criação de uma nova entidade de fiscalização independente que reporte diretamente ao presidente da República.


É português, professor na Universidade de Columbia, e iniciou em outubro do ano passado um protesto pacífico em Nova Iorque, onde vive: #freemycountryfromcorruption [#libertemomeupaísdacorrupção]. André Corrêa d'Almeida quer sensibilizar e promover soluções para o problema da corrupção em Portugal.

Está nos Estados Unidos desde 2005, os primeiros dois anos em Denver, os últimos 13 em Nova Iorque, para onde foi fazer um doutoramento num misto de Ciência Política e Administração Pública, que concluiu há dez anos. A tese é sobre questões de desenvolvimento, especificamente a inovação no setor público: cidades, parlamentos, estruturas públicas urbanas.

Viveu em Moçambique os dois primeiros anos de vida, entre 1970 e 1972, enquanto o pai serviu o exército português como médico na frente moçambicana da Guerra do Ultramar.

Em 2018 publicou "Smarter New York City: How City Agencies Innovate", um livro sobre inovação nas cidades, concretamente sobre a administração das câmaras municipais e vereações, tendo como exemplo o caso de Nova Iorque. Um ano depois, para fechar o ciclo, passou do nível local para o nacional e coordenou o livro "Reforma do Sistema Parlamentar em Portugal".

A experiência multicultural e multi-institucional comparada tem sido fonte de discernimento sobre o que significa ser português e também uma fonte de inspiração para ideias sobre Portugal e o seu futuro.

"Há uma afetividade própria relacionada com Portugal, mas a um nível mais racional o que me interessa é estudar as questões da inovação a partir de um espaço onde poucos acreditam que haja inovação, que é o setor público", explica.


Inovação e corrupção parecem assuntos distintos, mas inovação pode ser uma ferramenta no combate à corrupção. É nisto que acredita André Corrêa d'Almeida e foi por aí que começámos a conversa, num dia soalheiro e com as praias da linha do Estoril como cenário de fundo.


"PENSO QUE A OPINIÃO PÚBLICA ESTÁ MUITO ENVIESADA, E UM DOS DESAFIOS À INOVAÇÃO MUNICIPAL É O DA IMAGEM E DO PRESTÍGIO DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS".


Há espaço para a inovação no setor público ou estamos condenados a fazer assim porque sempre foi assim?

Absolutamente. Calcula-se que em 2050 cerca de 80% das pessoas viverão em cidades. As cidades têm de certeza, por isso, algo que nos faz vir para elas, e isso está muito relacionado com a capacidade de as autoridades locais tornarem as cidades espaços mais ou menos habitáveis. Não é certamente por causa do setor privado que temos as praias limpas; nasci em 1970 e, nessa década e metade dos anos 1980, todas as praias da linha do Estoril eram um esgoto. Foi devido ao dinheiro que veio da União Europeia - e esse dinheiro é também um elemento público -, mas também às opções tomadas pelas câmaras de Cascais, de Oeiras e de Lisboa que se recuperaram as praias. Penso que a opinião pública está muito enviesada, e um dos desafios à inovação municipal é o da imagem e do prestígio das instituições públicas.

Por que motivo diz que a perceção que existe é enviesada?

O que se passa no setor público não é muito diferente do que se passa no setor privado. No entanto, as histórias de inovação que se ouve contar são de bancos, de startups, de empresas como a Samsung ou a Apple. Não digo que o setor público é perfeito, o que digo é que há um grande enviesamento das perceções a desfavor do funcionamento dos organismos públicos, precisamente porque a persistente falta de integridade e transparência em alguns casos mais sonantes, e muitos deles a nível nacional, encobre e mina a prestação mais integra e inovadora de muitas autarquias. No entanto, veja a quem se recorre, por exemplo, para a saúde. A luta americana para ter um serviço de saúde público - eles chamam-lhe universal, mas é público - é imensa. O gosto e o orgulho que os portugueses têm, apesar de todos os defeitos, no seu Serviço Nacional de Saúde, prova isso. Michael Moore, realizador do documentário "Fahrenheit 9/11", de 2004, realizou e dirigiu um novo documentário em 2015, "Where to Invade Next" [O Invasor Americano], uma recomendação ao governo americano, numa sátira à tradição que os EUA têm de invadir países por tudo e por nada, sobre países a invadir. E um dos países que devia ser invadido é Portugal. Michael Moore diz que os americanos deviam invadir Portugal por causa da experiência positiva na despenalização do consumo de drogas; somos um case study, enquanto a experiência americana é a oposta - e Obama contribuiu muito para a massiva penalização do consumo de drogas.

Entre público e privado existem diferenças, desde logo o "acionista", a origem do capital e a prestação de contas.

O público tem questões específicas, isso é inegável. A minha investigação não vai no sentido de negar esses problemas, vai no sentido de trazer à superfície as dinâmicas específicas de inovação que já existem - em termos de transporte público, do papel dos serviços de saúde, dos serviços de proximidade...

O que descobriu com a sua investigação?

A minha investigação procura criar diálogo. No caso de Nova Iorque, o regime local que mais estudei, o livro aponta para o potencial de parcerias público-privadas, que podem ser desenhadas a partir do que já existe, e mostra como se podem criar agendas de inovação em cidades tão falidas. O livro é uma crítica à lógica das smart cities, porque apontam para um futuro, uma ficção científica, apenas possível de alcançar se as cidades tiverem rios de dinheiro para investir em tecnologia e em sistemas de dados. O discurso das cidades inteligentes ajuda muito vinte ou trinta cidades em todo o mundo - e deixa as indústrias todas contentes porque tem ali belíssimos clientes - mas, numa perspectiva de desenvolvimento global, é uma coisa que não interessa. Tive essa experiência: mayors de pequenas e médias cidades que não querem participar neste tipo de conversa porque não têm um ou dois milhões de dólares ou sequer 15 mil euros para embarcar nisto. O livro acaba por ser uma identificação, até muito na lógica de Michael Porter, do talento que já existe. Há uma quantidade imensa de talento nas nossas vereações e municípios que não é utilizada, redes informais que podem ser potenciadas.


Como se passa da inovação no setor público para o combate à corrupção?

Uma primeira resposta é que nos cinco anos anteriores à Columbia University foquei-me nas questões de desenvolvimento em Moçambique, a partir do papel da diáspora moçambicana na melhoria das instituições africanas. Estávamos ainda no período dos oito objetivos do milénio, muito focados em matérias relacionadas com a pobreza extrema. Foi essa a razão que me levou a fixar-me no hemisfério sul, principalmente em África. Depois há um hiato de tempo de adaptação à universidade - fui convidado para criar um mestrado na área do desenvolvimento e tive muito pouco tempo para a investigação. Estávamos no primeiro ano da troika quando eu, já mais organizado profissionalmente, pude voltar a dedicar-me à investigação. E, como cidadão, como apaixonado por Portugal, comecei a pensar num Portugal pós-troika: falei com pessoas que estiveram ligadas à primeira intervenção do FMI [Fundo Monetário Internacional], em 1977, e fui formulando esta ideia de que uma área específica de intervenção para melhorar as condições socioeconómicas e políticas em Portugal é a Assembleia da República, o órgão de excelência de gestão do país.

Que deu origem ao livro "Reforma do Sistema Parlamentar em Portugal"

Repare que a ideia da inovação está sempre lá: em Moçambique era a questão da inovação das instituições, que pudesse favorecer o desenvolvimento de um país em situação de pobreza extrema, depois a inovação no Parlamento, de forma a melhorar as condições económicas, sociais e políticas em Portugal. Pela investigação casei dois amores, o que descreve um pouco o meu trajeto de vida; apaixono-me pelas coisas e mergulho profundamente nelas, por isso utilizo muito a investigação aplicada e não apenas a investigação.


Gostava que contasse um pouco o processo de investigação...


Criei um grupo, formado por 13 deputados, representantes dos então sete partidos com assento parlamentar, que, ao longo de três anos, trabalhou de uma forma muito low profile. Era um espaço de diálogo, reuníamos de quatro em quatro meses, que acompanhava os trabalhos dos investigadores. Correu de tal maneira bem que foi fácil ter os deputados dos partidos a escreverem o prefácio do livro, com excepção d'Os Verdes.

Quer trazer o debate para a sociedade civil. Acredita que por ter tido a colaboração de deputados, da Assembleia da República, o livro terá um efeito prático?

Depende do uso que lhe for dado na academia e no Parlamento. Por coincidência ou não, tenho ouvido falar no código de ética dos deputados, na questão do regime de exclusividade, na Comissão Eventual para a Transparência [Comissão Eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas]... Não sei se há uma relação causa-efeito, mas quero acreditar que o livro ajudou pelo menos um bocadinho. Porque a investigação, embora independente e autónoma, foi feita em conjunto com as lideranças parlamentares, através de deputados com peso em cada bancada - André Silva, do PAN, António Filipe, do PCP, também muito ativo, Ricardo Baptista Leite, do PSD, na altura júnior e agora mais importante no partido, Sandra Cunha, do BE, muito próximo da liderança, Porfírio Silva, do PS, juntamente com Carlos Zorrilho. Além disso, houve muitas conversas com a Presidência da Assembleia da República, várias reuniões com o Jorge Lacão.


"NÃO É PRECISO MUITA CIÊNCIA PARA SE ACHAR INCONCEBÍVEL QUE UM DEPUTADO QUE ESTÁ NA COMISSÃO PARLAMENTAR QUE TRATA DA PRIVATIZAÇÃO DA EDP SEJA AO MESMO TEMPO QUADRO SUPERIOR DO BANCO QUE FAZ A ASSESSORIA AOS CHINESES QUE ESTÃO A COMPRAR A EMPRESA"

O que virá a seguir?

Há projetos que estão a ser desenvolvidos. Por exemplo, criei uma equipa que integra engenheiros informáticos da Universidade de Braga, da Universidade do Porto, da Universidade Católica, do Instituto Superior Técnico e da Universidade de São Paulo, e estamos a produzir uma ferramenta com base em inteligência artificial para estudar os conteúdos produzidos na Assembleia da República. São conteúdos públicos, disponíveis online no site do parlamento, mas que não são utilizados por quase ninguém. Começámos este projeto há quatro meses e a ideia é, resumidamente, carregar os algoritmos que estamos a desenvolver com uma quantidade imensa de dados em torno de iniciativas legislativas, atas dos votos eleitorais, atas das comissões parlamentares e das resoluções plenárias e, depois, criar um conjunto de métricas que permitam dar vida ao discurso político ou ao comportamento histórico dos políticos. Isto é: o que é que o deputado x, y, z - não vamos começar com os 230, estamos a testar com um número mais reduzido - defendia há cinco anos? Quem são os campeões anticorrupção? Como é que o discurso se descaracterizou em relação a cada pessoa? Esta ferramenta vai permitir analisar certos temas e a coerência e evolução dos partidos e dos políticos em determinadas matérias. Esperemos que sirva de incentivo e crie uma concorrência positiva, porque o discurso político atual é negativo, quem disser mais mal ganha porque faz o outro sofrer mais. Ao mesmo tempo isto permitirá conhecer melhor dos nossos representantes.


"HÁ COISAS QUE NÃO SÃO ILEGAIS APENAS PORQUE NÃO ESTÃO REGULAMENTADAS E MUITOS CASOS TÊM IMPLICAÇÕES DIRETAS NO ERÁRIO PÚBLICO"


Uma das críticas que faz é que, em matéria de boas práticas, já quase tudo foi escrito.

Claro, porque não é preciso muita ciência para se achar inconcebível que um deputado que está na comissão parlamentar que trata da privatização da EDP seja ao mesmo tempo quadro superior do banco que faz a assessoria aos chineses que estão a comprar a empresa. Ou que um conselheiro do Banco de Portugal seja, imagine-se, gestor de um fundo de investimento.

E, no entanto, esses casos aconteceram e continuam a acontecer.

Banalizou-se, claro. Se o PS faz, diz que o PSD também fez. Quando o PSD fizer, diz que o PS fez antes. E andamos assim, felizes e contentes. Há duas questões em particular que me interessam: a das portas giratórias e a dos conflitos de interesses. Mesmo que se diga que a questão da corrupção existe em todo o lado, mesmo que se diga que, apesar de tudo, nos últimos cinco anos os tribunais e os procuradores têm sido mais ativos, há coisas que não são ilegais apenas porque não estão regulamentadas e muitos casos têm implicações diretas no erário público.

Habitualmente acontece o contrário, legaliza-se comportamentos duvidosos. Foi assim com o caso "Family Gate" ou com a escolha de Mário Centeno para o Banco de Portugal.

A questão é essa. Qual é o incentivo que existe para fazer diferente? Por isso tenho muitas dúvidas, para não dizer que tenho a certeza, que esta mudança alguma vez venha do Parlamento ou do governo. Qual o incentivo que têm para se autorregular?

De onde pode, então, vir a mudança?

Gorbatchov auto-regulou-se; representava uma máquina e disse que queria que aquilo que representava deixasse de representar o que quer que fosse. Nelson Mandela também se autorregulou: disse não continuaria a alimentar o regime e a primeira coisa que fez foi pedir ao staff branco que ficasse no governo. A mudança tem de vir da Presidência da República, dos tribunais e da sociedade civil, caso contrário é difícil que venha.

O presidente da República tem tido esse papel?

Não penso que seja um problema deste presidente da República, creio que é uma tradição das presidências, que se foram demitindo do sistema semi-presidencialista consubstanciado na Constituição. Acredito que o único verdadeiro presidente que tivemos no que se refere ao que a Constituição prevê que seja um presidente da República foi o general Ramalho Eanes.


"PORTUGAL ADOPTOU APENAS UMA DE 15 MEDIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO PROPOSTAS PELA COMISSÃO EUROPEIA"

Que ferramentas tem a sociedade civil, além das eleições?


Tem de ser mais do que as eleições. Temos o ativismo, mas a última grande mobilização foi na altura da troika, em 2011, porque nos foram diretamente ao bolso.


Iniciou em outubro uma série de ações de rua em Nova Iorque: hashtag libertem o meu país da corrupção. Porquê em Nova Iorque e qual o objetivo?

O objetivo principal é sensibilizar e promover soluções, que já são conhecidas, para o problema insidioso da corrupção em Portugal. Em Nova Iorque porque é lá que eu vivo. Protesto contra duas coisas: o imobilismo do legislador, que se recusa a legislar sobre as coisas mais básicas já recomendadas por autores internacionais e nacionais. Portugal adotou apenas uma de 15 medidas contra a corrupção propostas pela Comissão Europeia. Não surpreendentemente descemos do 23.º para o 30.º lugar em termos de perceção da corrupção. Este é o meu contributo para que o legislador mude de atitude, mas também a obrigação que sinto de não me ficar pelos papéis, pelos livros e pelos bitaites nos social media e entre amigos e família. Acima de tudo, é uma coisa que devo a mim mesmo, é uma questão de coerência. Mas sou uma voz entre outras - Medina Carreira, Paulo Morais, José Gomes Ferreira, Luís de Sousa, Susana Coroado, Nuno Garoupa. Se o facto de ser emigrante e a simbologia de estar em Nova Iorque ajudar, melhor ainda.


"QUANDO A CORRUPÇÃO COMEÇAR A SER O ASSUNTO, QUANDO TODOS PRESSIONARMOS PARA QUE SEJA UM ASSUNTO, A COISA VAI LÁ"

Falou em dois motivos, qual é o segundo?

É lutar contra um certo imobilismo das pessoas, da sociedade civil. Sou o mais velho de nove irmãos, se mobilizar a minha família, já é um número simpático. Se a isto juntar amigos e o meu círculo de social media, já é um número considerável. Fui criado numa tradição em que a família, de forma geral, acreditava que a política era para os políticos: "Deixa lá os políticos", "não te metas, que eles lá se entendem". É uma família de classe média-alta, muito ligada à Igreja, aos escuteiros, à comunidade local, que era Carnide. Meter-me na política era igual a arranjar chatices. Agora, o que quis fazer foi dar um contributo, o testemunho de que isto não é uma coisa para deixar para São Bento, porque não se vai alterar por dentro.

Há pelo menos uma geração inteira que nunca viu Portugal numa rota ascendente, viu o país sempre em crise.


Temos muita urgência na transformação durante a nossa geração, temos muita urgência de as coisas terem de mudar enquanto ainda somos vivos. Mas ao nível da história e da ciência política 44 anos é pouco. Há dez anos falar de sustentabilidade era uma coisa tonta, que se deixava para a responsabilidade social. Quando a corrupção começar a ser o assunto, quando todos pressionarmos para que seja um assunto, a coisa vai lá. Mas são processos lentos. Há pontos positivos, sinais de esperança. O alargamento do número de partidos com assento parlamentar de seis para dez mostra que o eleitorado está mais disperso por ideias diferentes. Mesmo se considerarmos que os níveis de abstenção estão a aumentar, vejo isso como um sinal de que já não é só PS e PSD. Depois, os casos mais mediáticos da justiça, sobretudo desde Sócrates, e apesar de todas as deficiências e confusão, mostram que esta área se democratizou. Até o facto de estarmos a ter esta conversa mostra isso: eu não previa ser embaixador do tema corrupção até há pouco tempo, mas chegou-se a um nível que não é comportável.


Gostava que definisse corrupção.

A Transparency International Portugal define-a como “abuso do poder confiado para obtenção de benefícios privados. A corrupção pode ser classificada como grande, pequena e política, dependendo do volume de dinheiro perdido e do setor em que ocorre”. O meu trabalho de investigação e foco como cidadão centra-se na corrupção política a nível central - órgãos do Estado - e local - municípios e freguesias. A definição de corrupção política da Transparency International Portugal é: “Manipulação de políticas, instituições e regras de procedimento na distribuição de recursos e no financiamento, por parte de decisores políticos, que abusam da sua posição para manter o seu poder, estatuto e riqueza”.


"SE NÃO SE ALTERAR O SISTEMA ELEITORAL, O CANDIDATO A DEPUTADO NÃO SERÁ ESCOLHIDO PELA COMPETÊNCIA TÉCNICA, MAS POR VARIÁVEIS COMO A LEALDADE À LIDERANÇA DO PARTIDO"


Qual a extensão e o impacto da corrupção em Portugal?

O Corruption Perception Index [Índice de Percepção de Corrupção] de 2019 indica que nos últimos 19 anos Portugal regrediu do 23.º para o 30.º lugar em termos de corrupção no setor público. A GRECO, entidade do Conselho da Europa que monitoriza o combate a este fenómeno, indica que apenas 6,7% das medidas anticorrupção recomendadas por este organismo europeu foram implementadas em Portugal (2019). O Flash Eurobarómetro (2019) sobre empresas e corrupção indica que mais do que o pagamento de subornos (34% das respostas), são o favorecimento de amigos e/ou familiares em negócios (55% dos inquiridos) e em instituições públicas (59%) as práticas mais comuns em Portugal. A Transparência e Integridade Portugal (2020) considera a estratégia nacional de combate à corrupção 2020-2024 apresentada pelo governo “vaga, insegura e acanhada, excessivamente legalista e muito pouco ambiciosa”. Dois estudos levados a cabo no âmbito do Parlamento Europeu, em 2016 e 2019, apontam para que a corrupção em Portugal tenha um custo entre os 8% e os 10% do PIB.



"EXISTEM MUITAS FORMAS DE CORRUPÇÃO, INCOMPATIBILIDADES, CONFLITOS DE INTERESSE E ABUSO DE PODER QUE NÃO ESTÃO ILEGALIZADAS EM PORTUGAL, O QUE É INACEITÁVEL"


Qual seria um fator decisivo no combate à corrupção ou por onde começaria a mudança?

Começa pela separação de poderes: se autoridade é competência, é ela que confere legitimidade útil ao poder. A escolha aleatória confere uma legitimidade que pode ser perigosa. A primeira coisa a fazer é deixar de permitir que o candidato a deputado nos seja imposto. Se o sistema eleitoral fosse diferente, eu eleitor teria mais responsabilidade e mais autonomia na escolha específica da pessoa. Isso pode ser feito de diversas formas: listas abertas, voto preferencial... Mas se não se alterar o sistema eleitoral, o candidato a deputado não será escolhido esmagadoramente pelo mérito, pela competência técnica, mas por variáveis como o partidarismo, a lealdade à liderança do partido. A experiência positiva ao nível das eleições locais, com a possibilidade das candidaturas independentes, é algo que poderia acontecer a nível nacional [das eleições legislativas]. Mas não, tenho de vender a minha alma ao diabo se me quiser candidatar. Se não quisermos mexer no sistema eleitoral, em última análise a questão está toda no recrutamento. Mas até isto não é rocket science. Numa análise de medidas anticorrupção está-se a falar de medidas que promovam uma igual distribuição de riqueza, uma igual distribuição de oportunidades, e tudo o que possa promover essa igualdade é benéfico.

O caso do Procurador Europeu, José Guerra, é corrupção?

Se é ou não corrupção, só uma investigação imparcial o poderá determinar. Mas claramente que a falta de transparência que persiste sobre o caso após todas estas semanas (ninguém conseguiu ainda explicar cabalmente quais foram os critérios utilizados pelo governo na escolha do Procurador Guerra) é, por si só, indiciador não só de eventual corrupção, mas também, talvez, de abuso de poder, clientelismo, falta de ética, falha no código de conduta, conluio, fraude, falta de integridade e nepotismo. Voltamos à história do ilegal: temos de perceber que não ser ilegal não significa ser eticamente aceitável. Existem muitas formas de corrupção, incompatibilidades, conflitos de interesse e abuso de poder que não estão ilegalizadas em Portugal, o que é inaceitável. O Estado português nunca promoveu uma elevação e avaliação integral e multi-institucional dos seus alicerces de transparência e integridade. O que temos de avaliação integrada foi um trabalho muito inovador da Transparency International Portugal em 2012. Diversos organismos europeus desenvolvem relatórios setoriais periódicos.

Como poderia ter sido prevenido e como se podem evitar casos futuros?

É importante que se investigue este caso, mas, acima de tudo, que sirva de exemplo para tornar os processos de recrutamento público mais transparentes. Aprenda-se com os erros e inove-se; evolua-se. Temo, no entanto, que por não haver quem fiscalize seriamente (ou, havendo, não tem capacidade para investigar tudo o que deveria ser investigado sobre o funcionamento do Estado) nada se altere e modernize no sistema, tornando-o mais robusto e menos vulnerável a interesses particulares. Este caso poderia ter sido evitado se existisse um sistema nacional de integridade coordenado por um organismo nacional robusto, não dependente do Parlamento nem do governo, que avaliasse, fiscalizasse, investigasse, julgasse, penalizasse e recomendasse novas formas de combate à corrupção. Uma nova autoridade administrativa independente que resultasse da fusão de todas as atuais instituições, tais como o Conselho de Prevenção da Corrupção, a Entidade de Contas e Financiamentos Políticos, a nova Entidade da Transparência que ainda não saiu do papel, entre outras que ou são redundantes ou são ineficazes ou não têm os recursos necessários ou estão capturadas por interesses instalados.

A CRESAP - Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública foi um ato falhado?

Isso é tudo cosmética. Tudo o que não permita às pessoas mais capazes e talentosas desempenhar uma determinada função, discordo. Estou a terminar um manifesto com 13 pontos, um deles é que os reguladores sejam selecionados no mercado laboral internacional, por concurso público internacional. Podem candidatar-se todos, portugueses incluídos, e depois a seleção é feita por um painel independente. Não há nenhuma justificação para que essas pessoas sejam nomeadas, nenhuma
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Acresce que vamos ter cerca de 6 mil milhões por ano a chegar a Portugal até 2027.

E rejeitaram o portal proposto pela Iniciativa Liberal. Aqui está um belíssimo exemplo do motivo por que não acredito, mesmo com o meu otimismo racional, que a haver mudança ela possa vir da Assembleia da República. Possivelmente poderia vir de um presidente da Assembleia da República especialmente carismático, que não temos. Defendo que o plano de recuperação da União Europeia deve ser acompanhado por peritos independentes, pela sociedade civil e por uma UTAO [Unidade Técnica de Apoio Orçamental] com um orçamento três a cinco vezes maior que o atual, a criação de uma nova entidade de fiscalização da luta contra a corrupção independente, que reporte diretamente ao Presidente da República, e o recrutamento no mercado de trabalho internacional de presidentes e staff sénior das entidades reguladoras e de supervisão.

Como é que a inovação pode ajudar no combate à corrupção?


Primeiro, Bill Gates fazia parte do sistema da IBM, que não o apoiou. Saiu e fez a Microsoft. Jeff Bezos trabalhava num fundo de investimento ao qual pediu 10 ou 20 mil dólares para criar uma livraria online. Não teve esse apoio, saiu e fez a Amazon. Ou seja, a inovação causa estes momentos de rutura. Há dez anos, quando foi criada a Transparência e Integridade de Portugal, foi a primeira vez que foram feitas avaliações na área da corrupção, uma inovação brutal. O empreendedorismo de deputados como André Silva ou André Ventura, goste-se ou não, criou momentos de rutura com o sistema. Em todos estes exemplos há algo em comum, a redistribuição de poder. Por exemplo, os municípios cobram impostos, taxas e, no caso português, isso é menos de metade da média europeia. Isto é, o grau de dependência das autoridades locais do nível nacional é muito maior do que a média europeia. Uma vez mais, tudo o que se puder fazer descentralizar poder, distribuir poder é positivo. Mas enquanto São Bento continuar a ser uma réplica das cortes - tínhamos o rei e todo o séquito que andava pelos corredores - porque, querendo ou não, premeditadamente ou não, fazem todos parte de uma família, de um cartel, a realidade não mudará.


Carta aberta ao ministro do ambiente

 


Mais um ministro cuja mediocridade nos prejudica a todos. Um ministro que não tem respeito, nem sequer sensibilidade pelas questões ambientais não devia ter lugar em nenhum ministério, quanto mais no do Ambiente.

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Exmo. Senhor Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Eng. João Pedro Matos Fernandes,

O Ministro do Ambiente não tem de ser um ambientalista, como o Ministro da Saúde não tem de ser um médico, ou o da Justiça não tem de ser juiz. Disso estamos certos, pois o Senhor Ministro afirmou categoricamente em 17 de novembro de 2018: “Não sou de todo ambientalista”.

O senhor Ministro do Ambiente deve respeitar e considerar os cidadãos ambientalistas e as suas associações, pois a sua ação é fundamental para a defesa do ambiente, tem larga aceitação social e acolhimento Constitucional e legislativo, no quadro da Lei de Bases da Política de Ambiente e da Lei das Associações de Defesa do Ambiente.

O Senhor Ministro também disse ao Jornal Económico em 15 de junho de 2019: “Tenho alguma dificuldade em aceitar os que são nem-nem-nem, isto é, os que são contra tudo”, referindo-se à oposição dos ambientalistas ao modo como está a ser lançada a eventual mineração de lítio. Os ambientalistas são, Senhor Ministro, sempre a favor de tudo o que respeita a Natureza e a valoriza; são a favor do desenvolvimento sustentável, da produção e do consumo responsáveis, da preservação das paisagens e dos valores naturais, dos ecossistemas e da biodiversidade, das florestas, dos rios livres, do ar puro, sobretudo porque sabem que a o nosso Planeta está a chegar ao seu limite!

Os ambientalistas respeitam os limites da natureza e querem uma sociedade e um futuro mais justo para todos. O Senhor Ministro, apesar de não se considerar um ambientalista, deu as boas vindas à ativista Greta Thunberg, assinalando o seu contributo para a sensibilização de "muitas pessoas, desde jovens a gerações mais velhas, para o maior desafio dos nossos tempos".

Ambientalista ou politicamente correto, parece que concordamos no essencial: o maior desafio dos nossos tempos é reverter a perda de natureza e travar as alterações climáticas, pelo que devemos trabalhar em todas as frentes para, em conjunto, vencermos este desafio.

Na semana passada, o senhor Ministro, em plena audição na Assembleia da República, em resposta a uma questão do Deputado Nelson Peralta sobre o Fundo Ambiental e o financiamento tão necessário da conservação da natureza, incluindo o cofinanciamento de projetos do Programa LIFE da UE, respondeu “…viva a opacidade, viva a falta de transparência, deem lá dinheiro aos rapazes que eles estão aflitos”. Por “rapazes” o Senhor Ministro referia-se aos ambientalistas, às associações de conservação da Natureza, a todas as pessoas, homens e mulheres, que aqui trabalham com seriedade, profissionalismo, espírito de missão e muito amor à camisola — cientistas, professores, sociólogos, políticos, biólogos, comunicadores, financeiros, administrativos, voluntários, e até engenheiros!

O Senhor Ministro foi muito injusto com as ONGAs e com o trabalho que fazem em Portugal desde 1948, quando ainda não existia, nem se sonhava que viesse a existir, o Ministério do Ambiente. Menosprezando a importância do nosso contributo para a conservação da natureza, o Senhor Ministro cria cisões em lugar de promover a colaboração, que é o que sabemos fazer melhor, e o que lhe propomos: conjugar esforços para uma causa comum, a Defesa da Natureza.

Temos muitos sucessos dos quais nos orgulhamos no nosso currículo: os ambientalistas estiveram na génese do Parque Natural da Arrábida, da Reserva Natural do Estuário do Sado, da Reserva Natural da Malcata e da conservação do lince-ibérico, do Parque Natural do Tejo Internacional, da Reserva Natural Local do Estuário do Douro, da Reserva Natural local do Paúl da Tornada, exemplos de entre muitas outras joias do património natural nacional salvas por ação de cidadãos ativos que nos orgulhamos de ser.

Desde 1993, várias ONGAs implementaram dezenas de projetos LIFE (cofinanciados pela União Europeia) que, por exemplo, salvaram a planície de Castro Verde, que é hoje Reserva da Biosfera, de ser transformada num enorme eucaliptal; salvaram o priolo da beira da extinção e alavancaram o turismo de natureza na ilha de São Miguel, restauraram ilhas, turfeiras, florestas nativas e outros habitats naturais e salvaram várias outras espécies.

E não foram apenas as ONGAs (organizações não governamentais do ambiente), foram também associações locais que, recorrendo a projetos LIFE, criaram reservas naturais, como a Faia Brava, e desenvolveram o programa Volunteer Escapes, que organiza centenas de cidadãos voluntários para realizarem trabalhos de restauro da Rede Natura 2000. Isto porque conseguiram estabelecer parcerias e laços de comunicação com as populações locais, associações locais, agricultores, empresários, movimentos de cidadãos, universidades, empresas e autarquias.
ONGAS ANGARIAM MILHÕES DE EUROS PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

Neste processo, as ONGAs angariaram para a conservação da natureza em Portugal muitas dezenas de milhões de euros de fundos Europeus, conseguidos em concursos internacionais transparentes, fortemente competitivos e aplicados de forma diligente e sob apertada monitorização das autoridades nacionais e comunitárias. Os 12 projetos LIFE mais recentes executados por ONGAs permitiram um investimento de 24,4 milhões de euros na gestão da Rede Natura 2000, nos últimos 10 anos.

Por cada milhão de euros investido em projetos LIFE, o programa acrescenta pelo menos 2,1 milhões, e o Estado recupera 800 mil euros em impostos e contribuições sociais. E a Natureza agradece.

Para além do trabalho realizado no terreno, dos resultados de conservação e da dinamização da economia local e do tecido social, os projetos LIFE liderados pelos ambientalistas obtiveram vários prémios e reconhecimentos nacionais e internacionais.

Também o Senhor Ministro reconheceu o nosso mérito quando cofinanciou através do Fundo Ambiental alguns destes projetos LIFE. E esqueceu (quando falou de opacidade) que, devido ao "princípio da subsidiariedade" (Artigo 5.º do Tratado da União Europeia), Portugal – o seu Ministério - tem de dar parecer positivo prévio às candidaturas LIFE, antes da União Europeia as aprovar; e deu!

Por isso, chamar às ONGAs de Portugal “rapazes”, revela falta de reconhecimento pelo nosso trabalho e pela cidadania ativa. Quanto ao Fundo Ambiental, que o Senhor Ministro gere, a realidade não é exatamente a que apresentou no Parlamento. O Fundo Ambiental não gastou, em 2020, 17,8 milhões de euros na conservação da natureza; no orçamento aprovado (ainda não há relatório de execução) pelo seu Despacho n.º 8457/2020, estavam previstos apenas 9,47 milhões para esse fim, ou seja, 1,64% do orçamento total do Fundo Ambiental.

Notámos também que não referiu que 8,5% do orçamento do Fundo Ambiental se destinou em 2020 a financiar 49,149 milhões de euros de projetos e ações aprovados por protocolo, logo sem concurso público.

Para fechar, apelamos ao Senhor Ministro que coloque de lado diferenças que possa ter com as ONGAs e procure apoiar a sua capacidade de organizar parcerias, desenvolver projetos e apresentar resultados de conservação e restauro da natureza. Deste modo potenciado uma melhor colaboração entre organismos públicos e organizações de cidadãos, a favor do interesse da sociedade.

Os ambientalistas continuarão a procurar cumprir os compromissos que assumiram, com coragem e determinação, com profissionalismo e espírito de missão. Não desistimos de lutar contra a degradação do nosso património natural e em defesa da Natureza. Na verdade, face a esta tarefa de salvar o Planeta e a qualidade de vida das gerações futuras, estamos em crer que hoje somos todos ambientalistas, pois não nos resta alternativa, não é Senhor Ministro?

ANP | WWF - Associação Natureza Portugal em associação com WWF
FAPAS - Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade
GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente
LPN - Liga para a Protecção da Natureza
QUERCUS - Associação Nacional de Conservação da Natureza
SPEA - Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves

Deambulações a propósito de uma aguarela de Dürer

 


Um bom artista, tem um olhar próprio e uma linguagem própria que é o estilo, uma mistura de técnica e gosto particulares. E tal como acontece com as pessoas, nem todos os artistas são fáceis à primeira vista. Alguns têm uma visão muito diferente da nossa. Tiveram outra experiência de vida e são, interiormente, pessoas diferentes, quer dizer, são movidas por questões e interesses diferentes dos nossos que lhes moldaram a visão de um certo modo. E outros ainda, se bem que até semelhantes, têm uma linguagem que nos é estranha, à primeira vista (os abstractos, por exemplo) antes de nos familiarizarmos com ela. Alguns são como as pessoas difíceis a quem precisamos de nos habituar. Requerem esforço e paciência. No entanto, se o artista é bom, é um esforço recompensado, pois tal como acontece na literatura e na filosofia, quando entramos na sua visão, é um mundo novo de possibilidades que se abre e é por isso que a arte é enriquecedora. 

Dürer tem um olhar que é dele e uma linguagem muito própria. Reconhecemos os trabalhos dele e os dos que imitam a linguagem dele. Esta aguarela faz parte de um grupo de cinco estudos que Dürer fez de pedreiras depois de voltar da viagem a Itália em 1495. A ideia dele era treinar um certo tipo de atmosfera que se depreende destas formações rochosas que incluem vegetação e poder usá-la noutras obras. Escarpas rochosas eram um motivo tradicional da arte da Europa do Norte no século XV (fonte).

Na realidade reconhecemos nesta aguarela o Sul da Europa. Escarpas em tom barrento rosado com vegetação e uma atmosfera muito mediterrânica, langorosa e não agreste como a das escarpas dos países muito a Norte e ele conseguiu criar uma atmosfera onde entramos imediatamente. Uma atmosfera não é um cenário intelectual mas uma paisagem emocional: uma invasão de emoções, de memórias de sítios, luz e ambientes, de experiências. Quando entramos dentro do olhar de um bom artista, ele devolve-nos esse olhar nosso olhar com o dele e revela-nos coisas que nem sabíamos existirem em nós e no mundo. Outras que sabíamos vagamente mas sem definição, sem controlo objectivo e outras que pensávamos perdidas da memória. A arte tem até um efeito terapêutico parecido com o da psicanálise porque é capaz de de nos pôr a olhar o passado longínquo e a reinterpretá-lo, dar-lhe um sentido diferente que o 'limpa', por assim dizer, dos seus efeitos negativos.

A semana passada fui dar com um artigo de um professor de uma universidade americana cujo título era, 'como o, escrever bem, nos torna melhores pessoas'. Fiquei com curiosidade de perceber o que queria ele dizer com isso de escrever bem ter um efeito moral positivo e fui ler. Qual não é o meu espanto quando todo o artigo dele defende que devemos escrever [ele refere-se a filósofos e outros especialistas em geral] com palavras simples que a mais simples das pessoas possa compreender por uma questão de respeito, pois se as pessoas não compreender as palavras para quê escrever? Isto é que dizem os meus alunos do 10º ano no primeiro período porque vêm formatados com a ideia de que a educação e a aprendizagem não têm nenhum valor a não ser que dêem imediato prazer e que todo o esforço, sendo anti-prazer, é errado.

Esta é também a opinião do nosso ministro da educação e do seu SE que nivelam tudo por baixo e não compreendem que a aprendizagem requer um esforço de quem quer aprender e evoluir, ganhar outras visões, aceder a outros patamares de realidade cujo prazer e riqueza só depois de esforço e incómodo se alcançam, a não ser que o alvo da educação seja a mediocridade e o seu reforço. 

A qualidade não é independente da quantidade. Um artista, como um filósofo, como um cientista, um engenheiro, um professor, um médico, um marceneiro ou outra pessoa qualquer, só depois de muito trabalho, muito treino, muita prática, desenvolve uma sabedoria técnica e é sobre essa sabedoria das mãos, ou da linguagem, por assim dizer, que o talento se desenvolve. Uma mudança qualitativa requer uma quantidade significativa, que pode não ser igual para todos, mas que é necessária. 

Isso também é válido nos processos naturais: desde a mutação das espécies, a alteração das estruturas da matéria, até à imunidade de grupo, por exemplo. Só depois de uma quantidade significante se dá uma alteração qualitativa. 

Ninguém tem um desempenho complexo, uma visão complexa e rica sobre questões complexas se apenas aprender o simples.

Voltando à arte, um bom artista tem uma linguagem própria e nem sempre é simples e imediata, mas somos nós que ganhamos com a riqueza da sua visão e não ele com a nossa pobreza. Também ele próprio vai à procura do que o enriquece se quer expandir o seu talento. Dürer foi a Itália aprender com os mestres e por isso o trabalho dele tem uma marca d'água que os outros no seu país, na época, não conseguiram ter.



Albrecht Dürer, Quarry, 1506



Já que pediram médicos aos alemães

 


... peçam também dois ou três ministros. Pelos menos para substituir, o Cabrita e a Temido. Neste momento são os mais urgentes. O da educação não vale a pena porque o deles também não é grande coisa.


Chefe da equipa médica alemã espera ajudar a "aliviar" pressão no SNS

Os campos de concentração chineses

 


... onde estão presos para 'reeducação' mais de um milhão de Uyghur. Uma investigação da BBC encontrou evidências de violações e abusos de mulheres Uyghur nos campos de concentração chineses.


Estamos a cair nos índices de democracia - obrigada, sr. Costa

 


Portugal perde categoria de "país totalmente democrático"

A par da reversão das liberdades democráticas por causa da pandemia, outra das questões que contribuíram para a quebra da pontuação média de Portugal no Índice foram a redução dos debates parlamentares ou ainda "a falta de transparência no processo de nomeação do presidente do Tribunal de Contas".

February 02, 2021

"I love not Man the less, but Nature more."

 


"There is pleasure in the pathless woods, there is rapture in the lonely shore, there is society where none intrudes, by the deep sea, and music in its roar; I love not Man the less, but Nature more."  






via
W.K. Greyling


Deep blue



Halite & Sylvite crystals from Kerr McGee Mine, Carlsbad Potash District, Eddy County, New Mexico

Credit: Enchanted Minerals LLC

Bruxelas quer Portugal menos corruptos. Nós também queremos

 


... e nisso somos como Diógenes, com a lanterna, à procura de um homem honesto. Mas está difícil.

Comissão Europeia pede que Portugal "faça mais" no combate à corrupção

Leis, só por si, são insuficientes. Comissão Europeia defende mais recursos e especialização das autoridades policiais.


Covid-19 - Então isto não é inevitável? Ou há aqui qualquer coisa que me escapa?

 


Quanto mais infectados houver, mais variantes há-de haver também, não? À medida que o vírus passa de pessoa para pessoa, tendo que adaptar-se a um organismo diferente, modifica-se para sobreviver nesse organismo, não é verdade? De modo que, a não ser que vacinassem toda a gente, de repente, as infecções vão continuar e com elas, as inevitáveis mutações. 

Variante inglesa do SARS-CoV-2 sofreu nova mutação

"É um desenvolvimento preocupante. No entanto, não é totalmente inesperado", dizem os especialistas.


Livros lidos - Encabanada

 


Hoje li este livro da mulher canadiana que 'foi para os bosques' como Thoreau - foi-se encabanar, como ela diz, na floresta gelada, em pleno Inverno. São pouco mais de 100 páginas, lê-se num instante. Está escrito como um diário das resoluções qua a levaram ali e das provações que passou. Recusa de uma vida insípida e de joelhos. Um exame interior de vida. Muito bom e limpo como a neve que tudo cobre em seu redor.





Estou aqui numa maratona de filmes

 


Infelizmente, cada um mais parvo que o outro. Às vezes há uma que parece ir ser bom, como um que vi ontem sobre a adolescência, aquela terra no limbo entre a infância e a idade adulta em que já não se é mais também ainda não se é e em que a pressão para se adaptar e ao mesmo tempo ser diferente enlouquece os miúdos. Parecia ir ser bom mas caiu nos clichés do costume. Há bocado de manhã vi outro filme que também parecia ir ser bom sobre outro limbo: o do subconsciente que revela e esconde, mas acabou por descarrilar. Agora estou a ver este -Logan Lucky- que tem uma parelha de actores estranha... o Adam Driver com o Channing Tatum...  ... enfim, nesta cena estão os dez mandamentos de como assaltar um banco, mas na verdade podiam servir para muitas situações da vida.

ahh e o Daniel Craig! Okay.



Já isto é só estúpido

 


... e criminoso, dada a falta de sangue nos bancos de sangue.


Homossexuais impedidos de doar sangue apesar de lei o permitir: “Nesse dia deixei de salvar uma vida”

Apesar de a lei e a Direcção-Geral da Saúde não fazerem qualquer referência à orientação sexual na eligibilidade para doar sangue, o preconceito e a confusão dos profissionais na triagem ainda bloqueiam a possibilidade de centenas de pessoas serem doadoras, mesmo quando os níveis de sangue são preocupantes. ILGA diz que situação já tem “anos”. PAN, BE e JS querem respostas.

Isto só pode ser piada

 


... tolerância zero quando os políticos são os primeiros fura-filas a legitimar o roubo de vacinas?

Se isto é assim com as vacinas, imagine-se quando chegarem os tais 26,3 mil milhões de euros de ajuda europeia...


Mais de 340 casos de vacinas contra a Covid-19 administradas indevidamente

Secretário de Estado da Saúde fala em “tolerância zero” para casos que já causaram algumas demissões.