May 26, 2020

Notícias insuportáveis



As pessoas trabalham com riscos acrescidos, não ganham mais por isso (quem ganha muito são os administradores do Novo Banco, da Parvolarem -li há bocado que esses ainda recebem 800 milhões por ano e que os administradores recebem grandes salários-, os assessores do 70 ministros e secretários...), ficam infectados e como castigo de ficarem infectados perdem o salário e têm de devolver dinheiro. Isto é uma obscenidade.

Há enfermeiros que têm de devolver dinheiro ao Estado

Profissionais estão a ser descontados pelo período em que estiveram em isolamento, sem saber quando receberão da Segurança Social.

O excesso de optimismo traz em si os seus próprios anti-corpos?



No seu ensaio, “Kleist Dies and Dies and Dies”, Földényi nota que nenhuma morte foi tão celebrada como a do duplo suicídio de Kleist e de sua amante e musa, Henriette Vogel, perto de Berlim em 21 de Novembro de 1811. Juntou-se ao suicídio ficcional do Jovem Werther como o cúmulo do gesto romântico. Mas o que verdadeiramente interessou Földényi foi que Kleist começou a sua carreira como uma espécie de iluminista optimista, com um trabalho escrito na viragem do século (1799) chamado, Ensaio Sobre a Maneira Certa de Encontrar a Felicidade Mesmo no Meio de Grandes Tribulações. No entanto, dois anos depois, Kleist passou por aquilo que chamou a sua 'crise kantiana' na qual a sua fé na verdade foi obliterada. Escreveu à sua irmã, "O pensamento de que nós, aqui na Terra, podemos não saber nada acerca da Verdade...este pensamento despedaçou-me no mais sagrado recanto da minha alma." Aqui e noutras partes do livro, Földényi  parece sugerir que uma insistência na felicidade (seja política ou quasi-teológica) encoraja e produz melancolia e desespero - o oposto sombrio que era suposto banir.

James Wood citando Földényi (“Dostoyevsky Reads Hegel in Siberia and Bursts Into Tears” (Yale)) em, The Scholar Starting Brawls with the Enlightenment - Has the cult of rationality blinded us to the power of transcendence? - The New Yorker (tradução minha)

Leituras pela manhã



If we think a phenomenon is beyond man, we immediately say it’s God’s work; our vanity will accept nothing less, but couldn’t we be a bit less vain and a bit more philosophical in what we say? If nature presents us with a problem that is difficult to unravel, let’s leave it as it is and not try to undo it with the help of a being who then offers us a new problem, more insoluble than the first.

Diderot, citado por James Wood em, 
The Scholar Starting Brawls with the Enlightenment - Has the cult of rationality blinded us to the power of transcendence?

May 25, 2020

Sem tradução


"... se eu escrevesse de escrever não escreveria para ser entendida. Há para isso os correios, telégrafos e até falar” (Mª Velho da Costa in Cravo)

Silenci @ffdomenech

Poesia ao entardecer - Rosario Castellanos



Destino

Matamos lo que amamos. Lo demás
no ha estado vivo nunca.
Ninguno está tan cerca. A ningún otro hiere
un olvido, una ausencia, a veces menos.
Matamos lo que amamos. ¡Que cese esta asfixia
de respirar con un pulmón ajeno!
El aire no es bastante
para los dos. Y no basta la tierra
para los cuerpos juntos
y la ración de la esperanza es poca
y el dolor no se puede compartir.

El hombre es anima de soledades,
ciervo con una flecha en el ijar
que huye y se desangra.

Ah, pero el odio, su fijeza insomne
de pupilas de vidrio; su actitud
que es a la vez reposo y amenaza.

El ciervo va a beber y en el agua aparece
el reflejo del tigre.

El ciervo bebe el agua y la imagen. Se vuelve
-antes que lo devoren- (cómplice, fascinado)
igual a su enemigo.

Damos la vida sólo a lo que odiamos.

Rosario Castellanos

Miúdos, antes dos telemóveis



 Kaca Ljubinkovic 

Pensamentos de dois melréis



Li, já não lembro onde, um texto de Alain de Botton, onde dizia que, se as pessoas usassem com os adultos os instintos e o esforço que têm para com os bebés, o mundo seria muito melhor. Ele falava de como nós estamos dispostos e fazemos um grande esforço para compreender os comportamentos dos bebés e das crianças pequenas: se choram, se vomitam, se fazem uma birra, etc., não partimos do princípio que o fazem por serem malvadas ou nos quererem fazer mal, antes pelo contrário, assumimos que algo lhes aconteceu que provocou aqueles comportamentos e fazemos um esforço grande em perceber a sua causa. Sabemos que uma comida ou um excesso de ruído podem ter grandes efeitos negativos no comportamento dos bebés e das crianças e aplicamos todo o conhecimento, experiência e intuição a tentar percebê-los e ajudá-los. Se nos aplicássemos da mesma maneira com os adultos, teríamos um mundo com melhores relações entre as pessoas.

A Psicologia é a disciplina que faz exactamente isso: aplica todo o seu conhecimento, intuição e experiência a tentar perceber o comportamento dos outros - bebés, crianças, adultos e não apenas os humanos, mas de outros animais também- e ajudá-los.

Já a Filosofia faz exactamente a mesma coisa mas não aos comportamentos, antes à totalidade do real: os seres humanos e os seus pensamentos e os processos mentais humanos e as camadas de contextos em que eles se dão, temporais e supra-temporais.

Porque é que não aplicamos aquela intuição e esforço à maioria dos adultos? Fazemo-lo quando gostamos das pessoas ou elas nos interessam, o que significa que sabemos fazê-lo.

Talvez porque sabemos que a maioria das pessoas, a partir da idade em que se acaba a adolescência e entra na idade adulta, não muda e, sejam quais forem as causas dos seus maus comportamentos, não são passageiras nem voláteis como as dores de barriga dos bebés e os viciosos, mesmo que não saibam as causas dos seus vícios, são conscientes deles.

São muito poucas as pessoas que mudam na idade adulta. É preciso um grande esforço, auto-domínio, grande humildade, inteligência (naquele sentido abrangente) e capacidade de introspecção. Por isso é tão difícil o trabalho do psicólogo e o do analista. A ideia de que a idade acaba por mudar as pessoas e dar-lhes sabedoria é um engano e geralmente só lhes vinca os defeitos e torna-as mais hipócritas, ou mais cínicas ou sonsas.

Não é por ficar mais velha que a macieira do quintal passa a dar pêras. Embora seja possível -pôr uma macieira a dar pêras ou uma laranjeira a dar limões- implica um enorme esforço e trabalho inteligente, consciente e persistente, de modo que é uma raridade.

A outra maneira como algumas poucas pessoas mudam é com acontecimentos dramáticos. Situações-limite daquelas de que falava Karl Jaspers: uma grande tragédia, um grande amor, o contacto com uma qualquer realidade chocante (no sentido de causar um abanão ou desvendar os olhos) que levam a um despertar da consciência e de uma outra dimensão da pessoa que estava bloqueada.

Mas sim, se estivéssemos dispostos a fazer um esforço com todos os outros como fazemos com os bebés e as crianças pequenas, o mundo seria diferente. Muito diferente.

Garantir a segurança não pode significar assediar



É bom que tenham algum tino e não andem a chatear as pessoas e isso de fechar praias por não serem vigiadas, é uma ideia sem tino nenhum que espero ninguém leve avante.

Drone controla banhistas na praia

Com o início da época balnear a 6 de junho, a Autoridade Marítima prepara meios e dispositivo para garantir a segurança nas praias algarvias.

Um drone sobrevoou este domingo algumas das maiores praias algarvias, entre as quais as de Quarteira (Loulé) e a da Manta Rota (Vila Real de Santo António), para monitorizar e evitar eventuais aglomerados nos areais. 

"Estes atuarão sobretudo nas praias não vigiadas", esclareceu ainda o comandante Rocha Pacheco, considerando que "não deverá haver praias fechadas na região algarvia, ainda que não estejam vigiadas."

As coisas à distância são sempre belas



Não se vêem, nem as barragens, nem os eucaliptos, nem a devastação dos fogos. Só o azul dos meandros do rio e as pregas da serra.

Rio Zêzere, em Trinhão. Pampilhosa da Serra. Beira Serra. Portugal.
Foto de Luis Ferreira

Ensino à distância - 1º balanço



Ao fim de 2 meses de ensino à distância já dá para fazer um primeiro balanço da experiência.

Não estou de acordo com muitos artigos que leio sobre toda esta experiência. Nem estou de acordo, nem com os pressupostos, nem como as conclusões.

1. Penso que todos concordamos que a experiência podia ter corrido melhor se as famílias tivessem outras condições, nomeadamente acesso a internet e a equipamentos como computadores individuais. Ainda, privacidade. Mas mesmo com essas condições, o grau de educação académica do país ainda é, em geral, muito baixo para que os pais possam ajudar os filhos, quando é necessário.
Dado que é previsível que outras situações, parecidas a esta, possam voltar a obrigar a fechar as escolas, tem que trabalhar-se para uma situação de menores desigualdades sociais, uma internet a preços decentes -em França paga-se 1 euro por mês pelo acesso à internet de banda larga-, facilidade para alunos e professores comprarem computadores, introduzir nas escolas formação em ensino à distância, etc.

2. Não estou de acordo com as declarações de muitos responsáveis -outro dia li-as no texto de um director da OCDE, o que nos chamou nomes- que alegam que cada aluno tem uma maneira diferente de aprender e gostava muito que produzissem uma evidência que fosse dessas declarações de princípio. É que já levo mais de 30 anos de trabalho com alunos e não é isso o que observo. Há 4 ou 5 maneiras um bocadinho diferentes de trabalhar e nem todas igualmente rentáveis nas diferentes disciplinas. Não por acaso uns alunos têm mais inclinação e talento para umas disciplinas que outras.

O que acontece é que os alunos chegam às aulas em diferentes níveis de desenvolvimento-maturação e com níveis diferentes de proficiência na aprendizagem - desde os que vêm muito bem preparados, ao nível dos conhecimentos, das técnicas e dos métodos de estudo até aos que estão quase a zero em tudo, há um uma escala intermédia graduada e isso também complica tudo.

Portanto, uns aprendem num instante porque têm maturidade suficiente e têm interiorizados todos os recursos mentais e técnicos necessários e outros necessitam de muitos recursos suplementares para colmatar essas faltas. E se juntarmos a isso a diferença de riqueza pedagógica/vivêncial do contexto familiar, as coisas ainda se complicam mais.

No entanto, nada disto tem que ver com maneiras diferentes de aprender. Essa ideia de que cada um aprende de maneira completamente diferente é um mito, um engano que faz estragos porque os alunos beneficiam muito em ter uma parte grande do ensino com objectivos comuns que os obriga a adaptar-se e a usarem a sua plasticidade mental para ultrapassarem certa rigidez de aprendizagem e de conhecimentos e também ultrapassarem-se a si próprios.

Da mesma maneira que dizem que os professores têm que dar aulas para a individualidade de cada um concluem que todos os professores têm que fazer fazer aulas digitais e da mesma maneira. Isso é completamente enganoso. Há várias maneiras de trabalho que têm a ver com a especificidade das disciplinas e a maneira do professor as rentabilizar. A pedagogia e a didáctica são ciências humanas -uso aqui o termo ciência naquele sentido muito lato dos antigos-, não exactas.

Nem um mesmo professor usa as tecnologias da mesma maneira em anos e disciplinas diferentes.
Por exemplo, foi-me fácil passar as aulas do 12º ano de Psicologia para esta modalidade à distância. De qualquer maneira já fazíamos um trabalho muito dependente dos meios digitais e de investigação documental -texto, imagem e vídeo- na internet.
Os alunos já têm 17 e 18 anos, alguns 19 e fazem leituras e pesquisas que indico e quando chegamos à hora da aulas vêm preparados com perguntas, ideias de trabalho, outras leituras que fizeram, etc.
Já não estão completamente dependentes de mim como estavam no 10º ano, nem pouco mais ou menos e há aprendizagem, mesmo feita à distância. Só estragou a apresentação oral de trabalhos.

Os 10s anos de Filosofa são diferentes, muito dependentes do professor e a minha maneira de trabalhar com as turmas é à base de discussão dos conceitos. No início do ano nem usamos nada digital (a não ser o email para comunicar quando é preciso fora das aulas) e as aulas são com textos de filósofos e questões para discutir e só depois depois de muita discussão e de eles já terem feito o trabalho mental quase todo é que organizo as ideias sobre os assuntos e fechamos pontas soltas. Isso não dá para fazer à distância, a não ser em pequeníssima parte e porque estamos no 3º período. Se tivesse sido no 1º nem essa pequena parte dava para fazer. Teria sido muito difícil não transformar a Filosofia numa espécie de catálogo de conceitos e argumentos. No entanto, os professores que dão as aulas de Filosofia com essa orientação, que está na moda, terão tido muito menos problemas no ensino à distância do que eu.

Normalmente, tenho que ensinar os alunos do 10º ano como fazer uma pesquisa online para não ficar reduzido a wikis ou a sites de pouca ou nenhuma confiança, como usar o processador de texto, como usar o email... ao contrário do que se diz, os alunos sabem pouco de computadores porque os usam, sobretudo, para estar no instagram, no Twitter ou no youtube a ver e criar canais; ou ainda para jogar jogos. Não para trabalhar e não sabem usar um computador para trabalhar. Não sabem onde ver um filme, ir buscar legendas... Agora, é verdade que aprendem todas essas coisas num instante.

Naturalmente isto que disse para as disciplinas que ensino não serve para todos as disciplinas/anos de escolaridade, mas que a tecnologia é um instrumento e não um fim em si mesmo, isso já serve.

Parece-me que pode introduzir-se mudanças na educação no sentido de passar a haver parte do ensino à distância, em algumas disciplinas, não em todas (como fazer prática laboratorial à distância, por exemplo?), mas isso só será rentável a partir do 7º ano e em dose muito pequena, por exemplo, um quinto do tempo de aula até ao 11º e depois um quarto do tempo de aula.

Falo de aulas, mas é evidente que a escola não é um local apenas de aulas, é também uma parte fundamental da socialização das crianças, adolescentes e jovens adultos que não se substitui, sem grandes perdas de desenvolvimento, pelo ensino à distância.

É preciso ver que esta situação de ensino à distância que estamos a ter não é uma solução, é uma remediação e qualquer estratégia  que seja pensada para o ano que vem deve ter em isso em conta.

Novo Banco 850 milhões, escolas 0



Este governo é só conversa...

O século XIII no século XXI



Estes pais vão ter problemas com este filho/a. Just saying... 🤣


May 24, 2020

Clouded horizon



... and yet, there is light.

(Marshy Landscape)". Emil Nolde. 1916.

É isto: as pessoas já não suportam governantes que se comportam como monarcas



... impõem regras, mas estão acima delas. Cummings, aqui a ser insultado por populares, por ter violado as regras da quarentena para sintomáticos de COVID. Ouve-se um dos populares gritar que tem os pais doentes, assutados e sozinhos por ser proibido visitá-los enquanto ele foi viajar para ver a família, estando com suspeitas de estar infectado. E anda na rua, em vez de estar os 14 dias em casa. A falta de respeito que os políticos têm pelos outros.

Não há dúvida de que Ventura vai de vento em popa



Frequentemente é o assunto do dia e não pelas razões certas, mas porque os que deviam estar ocupados a pensar acerca da razão de cada vez mais gente apostar nele e de como contrariar esse facto, se reduzirem à prática de chamar-lhe nomes, censurá-lo e rogar-lhe pragas. É assim que Ventura vai a caminho de roubar muito votos à chamada direita (O CDS) e até ao PDS, partidos que perdem seguidores todos os dias por estarem sem cabeça e sem rumo. Vem isto a propósito da quantidade de disparates que leio nas notícias, contra e a favor de Ventura, nem uns nem outros com argumentos dignos desse nome: ou escrevem a chamar-lhe fascista abjecto e coisas do mesmo teor -em que é que isso ajuda a refutar/desmascarar as posições dele e a mudar as ideias de quem vê nele um corajoso que se atreve a dizer o que todos calam subservientemente-, ou escrevem discursos pseudo-filosóficos, como este que acabo de ler de um tal Gabrial Mithá Ribeiro, uma colagem de palavras mal empregues e com parágrafos inteiros ocos de significado.

Não há dúvida de que Ventura vai de vento em popa e, se nada mudar nesta estratégia que faz dele uma vítima, havemos de ver o partido dele aumentar os deputados na próxima legislatura, não por os portugueses serem direitistas, mas por a direita portuguesa pensante estar perdida, sem rumo e sem cabeça. E como a direita não produz um discurso de alternativa contra as ideias de Ventura, quanto mais os da esquerda o ofendem e achincalham mais votos ele rouba à direita tradicional, de modo que esta direita, a pensante, devia ter uma estratégia para combater a vitimização de Ventura, que é o que lhe dá votos. E assim, em vez de o proibir e censurar, como fez a Cofina que recebeu milhões do governo de Fero Rodrigues que odeia o Ventura, deviam era demolir os seus falsos-argumentos. Pelos vistos não sabem como é que isso se faz, só sabem é chamar nomes. é um favor que lhe fazem a ele e à esquerda.

Quando o vício de veste de virtude



Um homem é multado porque anda a passear com a namorada com umas calças de cintura descaída. Pequenos homens com pequenos poderes.


As coisas simples da vida





Yaroshenko Nikolai Alexandrovich 1846 - 1898

O grande problema do conhecimento



by Sofia Warren

Citação deste dia



"Nature is trying very hard to make us succeed, but nature does not depend on us. We are not the only experiment." -Buckminster Fuller


Enrico Fossati

Quando a realidade imita a arte



"Bavarian forest...It felt like standing inside of a painting...No borders between the leyers..."