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February 22, 2023

Pensamentos de dois melréis

 

Costa quer a liberdade e o capitalismo para si e para os amigos e o comunismo para os outros todos porque não sabe resolver os problemas do país de maneira a que seja possível melhorar o nível de vida em geral - embora se tenha candidatado a governar o país para isso e já leve 20 anos de experiência no poder.


January 01, 2023

Pensamentos de dois melréis - não é preciso ser-se filósofo para se ter uma atitude filosófica

 


A Filosofia não é um conceito ou uma extravagância inútil, é uma aprendizagem de disciplina de vida e de pensamento. É uma certa atitude de questionamento e dúvida enriquecedores perante a realidade, que se desenvolve com certos hábitos: ler bons livros, observar e discutir com outros que sejam melhores que nós e saibam ver para além das aparências e considerar perspectivas diferentes e mais enriquecedoras que as do comum. A maioria das pessoas encara a vida como uma bucket list individual e tem meia ou uma dúzia de templates integrados no seu sistema mental que aplica a todas as situações -profissionais e pessoais- no sentido de progredir na sua lista. Depois constroem redes de contacto com outros que têm os mesmos templates e ficam presos nesses cenários limitados e limitadores e desempenhar performances, incapazes de ver realidade para além deles. E nas situações-limite da vida sentem-se perdidos. A vida é, para todos nós, um conjunto de desafios e obstáculos contextuais que é preciso enfrentar e ultrapassar individual e colectivamente, mas podemos vivê-la, não como uma colecção de conquistas, mas como uma presença com sentido, o que é mais pleno (individualmente) e útil (colectivamente) que ter muitas coisas, muitas honras e muitos títulos - e a Filosofia proporciona orientação e critérios de escolha nessa vida de presença com significado. As conquistas são importantes se têm significado para além das honrarias. A Filosofia pode não trazer a felicidade mas traz sentido, orientação e presença. De maneira que não é preciso ser-se filósofo para se aprender com a Filosofia a ter uma atitude filosófica, assim como ter um título de 'filósofo' não garante que se tenha essa atitude, como se vê em tanto auto-intitulados filósofo nos dias que correm. Quando é que sabemos que temos uma atitude filosófica? Nunca. Como dizia Jaspers, 'filosofar é estar a caminho'.


November 23, 2022

Pensamentos de dois melréis

 


Segunda-feira saí da escola pelas cinco da tarde. Vinha andando a remoer a cena de um problema de um aluno quando já perto de casa, passo por uma rapariga que me diz olá. Confesso que fiquei a olhar para ela, percebendo muito bem que devia ser uma ex-aluna, mas sem saber quem, até que ela sorriu e vi logo quem era. Uma rapariga da idade do meu filho que foi minha aluna aí há quase 20 anos. Uma pessoa muito focada, estudiosa e voluntariosa que sabia o que queria. Ela é psicóloga. Então contou-me que a filha mais velha, que vai fazer sete anos, aos quatro apareceu-lhe um linfoma, assim do nada. Anda desde então em tratamentos, já teve que interrompê-los porque teve um AVC como reação a um dos medicamentos da quimioterapia. Entrou este ano para a escola, mas tem problemas de concentração, compreensão e memória por causa da químio. Perdeu o cabelo todo. Tem problemas de imagem, inseguranças que não são próprias daquela idade. Entretanto teve outro filho. A vida dela tem sido um inferno. Disse-me que está no trabalho mas desconcentrada e sem vontade, Uma pessoa que adora a profissão, mas está sempre numa grande angústia pela filha.. Disse-me que ela e o marido também tiveram o cancro, por vicariação. Uma miúda tão nova e com estes problemas todos às costas. Abalou-me. Acabei esta semana o tema da filosofia da religião com o problema do mal - o mal moral e o mal natural, como este do cancro da filhinha da S. Nenhum argumento a favor da existência de Deus nos convence da coexistência do mal como possibilidade e muito menos da sua utilidade. É claro que podia haver um Deus maligno, ao modo cartesiano. Pelo menos faz mais sentido quando se olha para estes sofrimentos inúteis. Enfim, cheguei a casa curvada com o problema daquele aluno, mais o do outro que ainda é pior, mais o desta rapariga cuja filha tem um cancro desde os quatro anos. Passei o o dia de ontem com uma nuvem na cabeça por causa destes problemas. Hoje um amigo disse-me que talvez a realidade seja relacional. Talvez não existam substâncias, objectos no sentido da física tradicional, mas interações quânticas, filosóficas e talvez sejamos apenas em função dos outros, do modo como nos afectam e os afectamos a eles. Ao modo do Sofista de Platão: se interages comigo e me afectas és real. E vice-versa.


August 20, 2022

Pensamentos de dois melréis

 


A nossa relação com o mundo é poética. As crianças começam por ter uma relação poética com o mundo. Se viajam numa noite de luar, olham pela janela e perguntam, 'porque é que a lua corre atrás de mim'? A lógica mundana vem mais tarde com os pais, presos às TVs, ao quotidiano das contas para pagar, à artificialidade das redes sociais.
Aos poucos adormecem para a poesia, deixam de atentar no maravilhoso que espanta e a única relação que têm com o mundo é funcional. Andam adormecidos, mortos em vida. Porém, de vez em quando comovem-se: com um pôr-do-sol, com a expressão de um cachorro, com o amor, com um filho que nasce... por momentos estão despertos e sentem-se vivos e cheios de poesia. Depois voltam a adormecer e a construir uma relação simulada e puramente utilitária com o mundo, intermediada pelas coisas, pela acumulação de riquezas, pelas honras, pela ostentação, pela competição, pelo poder.

O poder rouba a poesia da nossa relação com os outros, com a natureza e com o mundo. Torna tudo bruto e nessa medida mata, obscurece as possibilidades de interagirmos com o mundo e com os outros a um nível profundo e poético.
Não há atenção, nem desvelação, nem descoberta, nem projecção da imaginação, nem caminho e esforço de nós em direcção ao outro e ao mundo para o ouvir e atentar. Retiramos-lhe agência, personalidade, voz e vontade como quem esventra uma montanha para lhe retirar à força as pedras desejadas.

A vida moderna, esmagada pela tecnologia e pelas redes sociais afastou-nos da natureza e, portanto, de nós mesmos, da nossa origem profunda, de tudo o que é maravilhoso no mundo, nos espanta e nos enche mais plenamente e que é apercebido na nossa relação poética com o mundo. Se estamos despertos e atentos, a nossa relação com o mundo nunca perde o contacto com a sua poesia: a vertente comovente, bela, figurativa, metafórica, significante, delicada e profunda do perfume dos outros e do mundo. Se não estamos despertos, não vemos poesia em coisa ou pessoa alguma, mesmo que nos venha bater à porta e esteja cara-a-cara connosco. 


June 08, 2022

Pensamentos de dois melréis

 


Cada pessoa é o centro do seu mundo mas não é o centro do mundo. São dois círculos que se sobrepõem, um mais pequeno dentro de outro. Como estão sobrepostos de maneira que os centros coincidem, em situações de expansão (como o poder e a riqueza por exemplo) esbatem-se os limites do círculo interior como se todo o espaço fosse uno e o centro do seu mundo fosse o centro do mundo exterior objectivo. 



June 05, 2022

Dia Mundial do Meio Ambiente

 


O meio ambiente não é só a qualidade do mundo natural, é também a qualidade do mundo humano, social e político. Queremos um planeta onde possamos, humanos e não humanos, viver uns com os outros em equilíbrio, sem subjugação nem exploração, em paz.



alunoon.com.br

April 21, 2022

A inteligência é a capacidade de ver mais além

 


Há vários tipos de inteligências, segundo Gardner: lógico-matemática, linguística, musical, corporal-cinestésica, existencial, interpessoal, intrapessoal, espacial, etc. A maioria de nós, para não dizer todos, não temos todas as inteligências desenvolvidas, mas apenas algumas. O que existe em comum em todas as inteligências, penso eu, é a capacidade de ver mais além. Ver o que não está visível, a não ser em potência. A capacidade de usar as informações para construir conhecimentos e os conhecimentos e os raciocínios para ver mais além, num sentido e noutro: ver padrões, caminhos, possibilidades, sequências e actualizações e ver relações causais regressando até aos postulados. É por isso que pessoas com acesso às mesmas informações não são igualmente capazes de construir conhecimentos, de inferir possibilidades de perceber padrões de funcionamento e de ver as actualizações dos potenciais. 


February 20, 2022

Pensamentos de dois melréis

 


É precisa muita coragem para ser-se pessoa humana. Todos nascem a habitar o humano, mas ser pessoa é outra coisa diferente. O ser humano cumpre os requisitos das características da sua espécie animal: reage aos estímulos, age sobre os impulsos e responde aos mecanismos de condicionalismo com comportamentos padrão, interpretáveis pelas doutrinas [pós]darwinistas - uma a uma vai assinalando as quadrículas dos conseguimentos sociais cobrindo-se de imagens, avatares, até confundir-se com eles, alienando-se de si. Espera que esses conseguimentos projectados de sucesso sejam um bilhete para a felicidade. Vivem para ter mais e mais, para parecerem mais espertos que os outros, para causar inveja aos outros, para se sentirem vencedores da luta darwinista. É o medo de si mesmos que os move a serem como os outros esperam. Não admira que tantos vivam na infelicidade do vazio porque nenhuma vida vivida no medo pode ser cheia e positiva por dentro. É precisa muita coragem para ser-se pessoa humana. Coragem para se conhecer a si mesmo, coragem para se culpar a si mesmo, coragem para se corrigir a si mesmo e coragem para ser essa realidade de si no meio dos outros. Não há vida sem sofrimento. Não é a ausência de sofrimento que traz a felicidade ou torna a vida cheia e significante. 

February 12, 2022

Auto-consciência

 


É a prática de, em cada momento mental ou emocional que experimentamos, estarmos conscientes da própria experiência mental em que estamos e, no próprio momento de a ter, racionalizá-la, sistematizá-la e conferir-lhe causa [razão] e significado. Um outro 'eu' observante e juiz constante de si mesmo. 


January 20, 2022

Pensamentos de dois melréis

 


Estamos sempre numa disposição. A disposição pode mudar -agora ser negativa, depois ser positiva, agora ser de raiva, depois ser de amor, agora ser dura, depois ser de compaixão- mas não há posição sem disposição. A disposição, no entanto, influencia a posição ou a perspectiva, se quisermos, o tipo de olhar sobre o mundo e os outros. Muda a lente com a qual filtramos as coisas e ora vemos o que é bom, ora o que é mau, mas ambos são, porque as coisas [e as pessoas] não são só uma coisa. Nesse sentido, é melhor aprender a pôr a lente da boa disposição e trabalhar sobre o que há de bom nas coisas [e nas pessoas e em nós], sempre que possível, que sobre o que há de mau porque ambos são fios que, quando puxados, se desenvolvem. Na educação, por exemplo, essa disposição é fundamental.


August 01, 2021

Pensamentos de dois melréis

 


      Ai de ti e de todos que levam a vida
      A querer inventar a máquina de fazer felicidade!

               — alberto caeiro



A vida é dar passos para fora de nós. É atirar-se e andar pelos caminhos 
e fazer-se outros e possibilidades, abraçar o novo, entusiasmar-se e confiar. 
Observar, aprender a ler as folhas e o vento
E desconfiar. Construir-se e reconstruir-se 
fazer a ecdise das verdades impostas 
das poses e máscaras,
filtros de enovoamento interno
— porém, há que deixar sempre um pé preso a casa 
para que não suceda afastarmo-nos tanto de nós mesmos ao ponto de não encontrar nunca mais o caminho de volta
e termos de viver como párias, alienados, sem nos reconhecermos.

June 17, 2021

Pensamentos de dois melréis



Às vezes o mundo impregna-se-nos e a neblina entra-nos na alma; outras vezes somos nós que o impregnamos, bastando apenas olhar a neblina fria, num mês de Junho a poucos dias do Verão e pensá-la como um testemunho de que nada está escrito na pedra eterna e tudo é possível ser, fazer e acontecer.


May 10, 2021

Pensamentos de dois melréis IV

 


A vida eterna não está para além das nuvens, está para além do medo, na poesia interna.


Pensamentos de dois melréis III

 


Traduzir-se de si para si é a tarefa mais difícil. Há quem nunca aprenda a ler a sua própria poesia, há quem a leia só com a linguagem técnica das competências e mesmo quem se compreende e sabe traduzir a sua poesia íntima, tem sempre, pelo menos, um ponto cego, de modo que nem para nós próprios somos tradutores completamente autênticos. Durante um tempo, até ao fim da adolescência, para a maioria e mesmo depois disso, para muitos e muitos, acontece haver quem traduza melhor a pessoa que ela própria, porque aprender a sua própria linguagem e sentido profundo é difícil. Na verdade, é a grande tarefa de uma vida: conhecer-se a si próprio. E assim se vê que tudo vai dar à filosofia 🙂


Pensamentos de dois melréis II

 


A minha prioridade e ambição como professora não é mostrar respostas aos alunos mas inspirar neles um profundo desejo de questionar e dar-lhes instrumentos para que o possam fazer.


Pensamentos de dois melréis

 


Cada ser humano é uma poesia com a sua linguagem, estilo e profundidade relativa. Por isso, somos todos tradutores assim que estabelecemos uma relação com alguém. A tradução melhora com a experiência de vida, a idade e a inteligência. De vez em quando aparece alguém que sente a nossa poesia e fala a nossa linguagem e quase não é necessário nenhuma tradução, mas isso é muito, muito raro; tão raro, como o oposto que é alguém estar tão preso na sua linguagem que não é capaz de traduzir ninguém ou ter uma linguagem tão diferente que é praticamente intraduzível. O que acontece mais é traduzir-se a linguagem do outro tecnicamente mas sem a compreensão do sentido mais profundo da poesia alheia. Daí a dificuldade das relações humanas.


April 04, 2021

Pensamentos de dois melréis

 


A vida humana não é o que se faz mas o como se faz. O que se faz fala do animal humano, o como se faz fala da pessoa.


March 01, 2021

Pensamentos de dois melréis

 


A Astronomia compele-nos a olhar para cima e guia-nos deste mundo para fora, expande-nos para uma realidade mais vasta. Dá-nos simultaneamente uma noção do infinitamente grande e do infinitamente pequeno e no ponto para onde convergem, ambos se tocam.





Pensamentos de dois melréis




Talvez julguemos superficial ou efémera uma aparência resultante da ausência dum movimento visível que se estende no espaço quando na realidade essa aparência pode esconder um infinito profundo. Para a maioria das pessoas a vida realiza-se fora delas, no mundo exterior, mas para algumas pessoas uma vida de acção pode ser uma vida de pensamento, aí se concentrando toda a actividade, energia e expressão do impulso de modificação. Uns orientam a acção para fora de si e mudam o espaço à sua volta, outros orientam-na para dentro de si e mudam-se a si próprios - nessa medida também mudam o mundo. Estes são como o Aquiles do paradoxo de Zenão que antes de alcançar o primeiro passo tem que alcançar o meio da passada, e antes de alcançar o meio da passada tem de alcançar o meio do meio da passada e assim infinitamente, de modo que, já a tartaruga chegou à meta, ainda Aquiles não avançou um passo: andou em profundidade, enquanto a tartaruga andou em extensão. Mas, há tanta actividade em Aquiles, que não se move, como na tartaruga que percorre toda a distância até à meta.
Conclusão: se a tartaruga precisa de ajuda para não se desorientar em extensão, talvez Aquiles precise de ajuda para se mover em extensão e não se perder na profundidade. 

January 13, 2021

Pensamentos de dois melréis

 


A beleza é efémera nas coisas, mas ferra-se em nós para sempre. A beleza de uma flor, de uma forma, de uma cor, de um pensamento, de um sentimento, de uma ideia, de um ser. Nem todo o belo está na forma e na cor, há outro tipo de belo que está na força, no milagre. A banalidade da vida só existe para quem não o vê ou vê mas não o reconhece.


(a flor do cacto Echinopsis rebenta durante a noite e dura apenas um dia)