August 19, 2024

Ainda estou na fase da entropia

 


Hoje desarrumei a estante da poesia (estas 12 pilhas de livros aqui perto) mais a da música, alguns ali à direita - que estou tentada a vender... Espero que um amigo me leve aquela fila de livros mais longe e mais outros que não se vêem aqui. Se ele os quiser todos, dou-lhos todos. 

Isto tudo porque já tenho os livros de filosofia em tripla fila e os de história vão quase pelo mesmo caminho... é certo que podia talvez desfazer-me da maioria da estante dos dicionários. Afinal, quem é que precisa de 300 dicionários mais uma enciclopédia Luso-Brasileira? 

Pois, mas a questão é que gosto de lê-los e consulto-os amiúde. Outro dia, uma amiga veio aqui à procura de um livro sobre a origem da Argentina porque só encontrava sobre a história moderna da Argentina. Onde é que fui encontrar informação completa sobre o assunto? Na enciclopédia Luso-Brasileira. 

À procura de um livro sobre a Argentina descobri um sobre a ante-história do Uruguai enquanto tal. Nem sabia que tinha o livro, mas fiquei curiosa em ler. 

Enfim, ainda vou na fase da entropia. Os livros sairam das prateleiras e vão-se espalhando em liberdade. Hei-de ter que encontrar sítio para arrumá-los.

Sonho com o dia em que puder deitar fora os manuais escolares de filosofia, psicologia e sociologia mais as pilhas de papelada de fichas de trabalho, testes, preparação de aulas e o diabo a nove... ocupa-me seis prateleiras.

Podemos tirar os dissidentes da Rússia mas é difícil tirar a Rússia deles

 

A Rússia ser uma democracia? A Rússia tem uma mentalidade e uma história muito diferente da dos países europeus. Nunca viveu em liberdade, nunca aspirou a isso e muito menos viveu em democracia. Quando teve a possibilidade de viver em democracia não a quis. Afastou Gorbachev por ter deixado destruir o império, desprezou Yeltsin por ser um russo típico (embriagado) e aplaudiu o ex-KGB, Putin. A ideia de que a UE nunca terá paz se a Rússia não for aceite no seu seio, por ser o maior país da Europa é uma ideia imperialista que derrota a própria ideia de que a Rússia queira ser, ou venha a ser, uma democracia sem ambições imperialistas. Enfim, podemos tirar os dissidentes da Rússia mas é difícil tirar a Rússia deles.


Vladimir Kara-Murza: uma Europa pacífica só é possível se a Rússia pós-Putin for integrada na UE.

Vladimir Kara-Murza: "Não, Vladimir, desta vez não vai haver uma folha limpa, não vai haver um novo começo"



Obrigado Vladimir, estávamos todos a suster a respiração, ansiosos por ouvir a última edição de "O que o Ocidente deve fazer pela Rússia!". Mas não, Vladimir, desta vez não vai haver uma folha limpa, não vai haver um novo começo, não connosco, não outra vez.

Quando esse colapso chegar, e um dia chegará, não haverá "fundos de reconstrução", não haverá exércitos de voluntários "ocidentais" a angariar fundos para ajudar os russos, como fazemos com a Ucrânia, não haverá donativos nem braços abertos.

Durante muito tempo, nem mesmo os presidentes e chanceleres simpáticos que ocasionalmente encontrarão, poderão dar-vos isso, porque, ao fazê-lo, estarão a cometer suicídio político.

As atrocidades indescritíveis cometidas por centenas de milhares de russos, aplaudidas por dezenas de milhões de outros russos, estão gravadas nas mentes desta geração, que as gravará nas mentes da seguinte, que por sua vez fará o mesmo com a que se seguirá.

Não queremos integrar a Rússia, já não nos importamos muito com a nova versão do inferno em que a Rússia irá inevitavelmente descer, tal como aconteceu de todas as outras vezes.

O que nós queremos é ver a Rússia isolada e expulsa da Ucrânia, da Geórgia, da Moldávia e de todos os outros lugares onde o cancro russo conseguiu chegar.

O que queremos é ver o vosso império russo tão devastado militar e economicamente por esta guerra que começou, que tremerão de medo perante a ideia de travar outra guerra.


 

Na questão da recuperação do tempo de serviço um professor tem zero controlo sobre a sua situação - é essa a intenção?

 

Está em curso, supostamente, um processo de recuperação de uma parte pequena dos anos de tempo de serviço prestado, com todos os descontos e obrigações nos termos da lei, mas roubado aos professores. O ME tem uma página no site do IGEFE onde entramos com os dados da Autoridade Tributária (temos que entrar com o google, se utilizamos outros browser nem sequer conseguimos ter acesso) e vários separadores, cada um com informação do professor e das andanças da sua carreira. No fim, há um resumo onde nos dizem qualquer coisa que devemos validar - ou não.

No meu 'resumo' aparece uma mensagem a dizer que não tenho direito recuperar tempo de serviço porque faltam dados - contacte a escola. Já contactei.  Há ali imensos dados que não percebo, mas a questão é que também não sei os critérios do lançamento da informação, não sei se os números que aparecem em cada coluna obedecem a algum critério ou se há ali erros. O que sei é que não tenho nenhum controlo sobre a minha própria situação, dada a porcaria e o caos que o ME tem feito nestas últimas décadas na carreira dos professores e nas escolas. 

Ainda estou de férias (hoje enviei um email ao meu director que também está de férias -calculo-, mas que posso fazer se há o prazo de dia 29 próximo e se é ele que lança os dados...? - o ME fez de propósito para ver se as coisas saem engatadas e não tem que pagar a muitos milhares de professores?)  e o que estou a ver é que vamos chegar ao fim do mês e não vou ter direto a recuperação do tempo de serviço e vai acontecer o que aconteceu com aquele ano e qualquer coisa que Costa mandou recuperar, que foi ter tudo engatado no meu caso durante tanto tempo que só o recuperei mais de 3 anos depois de toda a gente já o ter. 

Com certeza, isto são estratégias do Ministro da Educação para motivar os professores e valorizar a carreira docente dada a situação catastrófica de falta de professores e das escolas - eu é que sou limitada e não estou a ver como.


August 18, 2024

Véspera de segunda-feira

 


O que se passa nos EUA?

 


Elon Musk oferece carros de combate aos russos e a administração Biden impede a Ucrânia de se defender? E isto no dia em que a Alemanha diz que vai deixar de financiar a defesa da Ucrânia? O que se passa nos EUA? Há alguma acordo feito às escondidas com os russos? Um acordo com o inimigo em tempo de guerra é traição.

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The Times: "Washington is in effect blocking Britain from allowing Kyiv to fire Storm Shadow missiles inside Russia, amid fears in the Biden administration of an escalation in the Ukraine war." 
The truth is out, loud and clear, and from a major source. Now the fight can begin.

Edward Hunter Christie


(The Times: "Washington está, de facto, a impedir a Grã-Bretanha de permitir que Kiev dispare mísseis Storm Shadow dentro da Rússia, no meio de receios na administração Biden de uma escalada na guerra da Ucrânia.")


Dois anos depois de Putin invadir a Geórgia


 
well... and there we are...

A Alemanha está a comportar-se da forma mais míope e vergonhosa. 
Nenhum país foi mais responsável por dar poder a Vladimir Putin do que a Alemanha.

John O'Brennan

Old Europe vs New Europe

 


Ditto.



Numa mesma semana foram-se, Gena Rowlands e Alain Delon

 

Dois actores da mesma geração mas de universos e calibres muito diferentes.


We must bear witness, spread the word, and show respect to those who endow us with their souls.
Tennessee Williams, em entrevista (1982), cita o nome de Gena Rowlands.


Rowlands não estava interessada em conclusões limpas, ficções arrumadas, nada que não fosse inteiramente honesto. Para ela, actuar era uma oportunidade de explorar as relações entre homens e mulheres e o quão difícil - e normalmente impossível - é viver entre outros que existem nas suas próprias neuroses e filosofias e nos seus próprios termos.
Ao longo da sua filmografia, Rowlands actuou com uma fluidez que parecia mais próxima do comportamento da vida real do que da representação cinematográfica. É por essa razão que as suas actuações foram muitas vezes confundidas com improvisação, apesar do método que ela lhes imprimia. Leitora em primeiro lugar, baseava muitas de suas atuações na sua própria análise do guião e apropriava-se de todos os papéis que representava. (vulture)

Duas grandes representações:


A Women Under the Influence (1974)


Opening Night
(with John Cassavetes)




Alain Delon foi um actor que, como acontece à maioria, entrou no cinema por ser bonito. Tinha uma 'cara de anjo' como se dizia na altura. Dado pelos pais biológicos a uma família adoptiva aquando do seu divórcio, desceu bastante na escala social, foi expulso de várias escolas, pequeno ladrão, preso ocasionalmente, soldado na marinha de guerra -de onde foi expulso- e finalmente gigolô em Montmartre, onde foi 'descoberto'. Valeu-lhe, talvez, ter tido essa infância e adolescência complicadas e cheias de peripécias que lhe deram muito material para compreender e criar as suas personagens. Costumava dizer que não representava papéis, vivia-os. 

Dois filmes: 

Le Samouraï, (1967) o filme que fez dele um ícone. Parece um livro de banda desenhada, animado. É o que gosto mais no filme.


La Piscine (1968) - confesso que não vejo este filme há perto de 40 anos. O filme é da década do 'amor livre' e vive da beleza de Alain Delon, Romy Schneider, Maurice Ronet e Jane Birkin, mais ou menos despidos o tempo todo e sempre em explosão sensual, numa piscina, em Nice, num mundo falsamente idílico, muito superficial. Na altura fez um enorme sucesso porque era um filme cheio de erotismo. Lembro-me de ter achado o filme machista (cheio do que hoje chamamos, the male gazecomo tantos dos clássicos franceses - e um bocadinho aborrecido também: os ciúmes, as tensões psicológicas do dinheiro e do sexo. Os franceses adoram o filme.
A ver este excerto é difícil não perceber a distância, em termos de representação artística, que separa Romy Schneider de Jane Birkin, uma modelo, casada com Serge Gainsbourg (um indivíduo asqueroso e repugnante), mãe de Charlotte Gainsbourg, esta sim, muito boa actriz.

Heinz Wismann: "L'Europe n'est pas un gène, elle naît de la séparation avec l’Asie"

 

Guillaume Erner fala-lhe aqui do seu último livro, Lire entre les lignes, sur les traces de l'esprit européen. Remontando ao mito da Europa, o filósofo analisa os fundamentos culturais da integração europeia, que teriam precedido quaisquer considerações geográficas, políticas ou económicas.

Segundo Wismann, a Europa nasce da separação com a Ásia, num acto cultural e não num acto político e durante muito tempo (desde Heródoto) a Europa era referida como o Ocidente por comparação com o Oriente - o 'Grande Ventre' que é a China.

Na Europa, a situação de uma comunidade de línguas diferentes obriga a que cada um se desprenda da naturalidade linguística -significante/significado- em que se encerrava como coisa evidente. Então, a diversidade que leva ao descentramento é o primeiro gesto europeu em oposição a civilizações unitárias que invocam constantemente a origem pura para manter as tradições. A Europa é como a música onde o mesmo e o outro coabitam na harmonia as sua dissonâncias particulares. É uma renovação constante da identidade pela alteridade.

Uma conversa muito interessante sobre a filosofia, a cultura, a política, a economia, a música, a Europa - e o futebol.

Heinz Wismann : "À la manière d'Ulysse, il est de bon de quitter sa langue pour mieux y revenir"

 

Historiador franco-alemão, filólogo e helenista, Heinz Wismann é um pensador que encarna o espírito europeu. 



Segunda parte da masterclass: leitura e comentário de um extrato

Facto e sentido. O papel da linguagem na experiência de um mundo partilhado.

"Todas as línguas naturais têm a dupla dimensão do dizer e do querer dizer. Com efeito, se o discurso nasce da necessidade de objetivar a nossa relação com a realidade, a sua função denotativa é complicada por uma sobredeterminação conotativa, que reflecte o ponto de vista do locutor. 
Isto explica por que razão a maior parte das palavras que utilizamos para designar factos são inicialmente metáforas que lhes conferem um significado subjetivo e objetivo. Para evitar esta ambivalência, que alimenta a imaginação poética, a filosofia começou a desenvolver uma linguagem conceptual destinada a garantir a coerência lógica da sua argumentação. 
As ciências seguiram o mesmo caminho, desenvolvendo terminologias ad hoc capazes de formalizar os seus enunciados fundamentais para evitar qualquer risco de equívoco. Este processo culmina nas ciências naturais, que adoptaram uma ferramenta semântica emprestada da matemática pura. 
O resultado é uma situação problemática, caracterizada pelo divórcio entre o discurso da ciência e o discurso sobre a ciência.
Enquanto a primeira é utilizada no interior de campos disciplinares, dando prioridade à sua relevância interna, a segunda faz parte do horizonte mais vasto de uma linha de raciocínio que tematiza o conhecimento enquanto tal. 
Quando uma determinada ciência pretende dar respostas que se aplicam a todas as questões científicas, torna-se cientismo; e quando a epistemologia geral ignora a diversidade da investigação actual, torna-se ideologia. 
Para contrariar estas derivas simétricas e preservar a ideia de uma partilha efectiva de conhecimentos, é necessário repensar o destino das línguas à luz da experiência da tradução".

Heinz Wismann, Ler nas entrelinhas. Nas pegadas do espírito europeu (Albin Michel, 2024)


Books are like men

 


Can't live with them, can't live without them...

Estou em processo de rearrumar livros -arranjar espaço para os livros-, dar livros (já dei uns 150 e ainda há muitos mais para dar) e mandar alguns para a reciclagem, porque estão tão velhos que quase se desfazem. Os livros são enganadores. Enquanto estão arrumados nas prateleiras nem parecem muitos, mas quando começamos a tirá-los, num instante se tornam um inferno. Desarrumei duas prateleiras e deu nisto - tirando ali as memórias da Academia das Ciências:

Com excepção dos livros de arte e mais uns 5 ou 6, como o T.S.Eliot e o Elie Wiesel que não dou, vou dar tudo o resto que aqui se vê. Já li, não vou ler outra vez, estão a encher prateleiras e dar-me cabo do juízo com a falta de espaço. E ainda há mais prateleiras para desarrumar.


Russos continuam a bombardear civis, porque a Ucrânia está proibida de destruir as suas bases

 


From the safety of where the US forbids Ukraine from striking, Russians are just scaling up their use of iskander missiles.

Ukrainians are dying every day only because the US continues to protect Putin.

Sumy, city center.
pic.twitter.com/Zo9dm0ap2m

— Jay in Kyiv (@JayinKyiv) August 17, 2024

Alemanha sendo ela mesma...




Ucrânia vai perder metade da ajuda militar da Alemanha já no próximo ano

A Alemanha, o segundo maior contribuinte de ajuda à Ucrânia logo a seguir aos Estados Unidos, planeia reduzir para metade a sua ajuda militar bilateral a Kiev em 2025, avançou uma fonte parlamentar à AFP. De acordo com dados do Instituto Kiel, até 30 de junho Berlim já tinha doado 10,2 mil milhões de euros em apoio militar, 3,05 mil milhões em ajuda humanitária e 1,4 mil milhões em auxílio financeiro.

DN

Mr. Biden, #StandWithUkraine: esta é a altura para levantar todas as restrições aos ucranianos

 

Seria imperdoável deixar fugir a oportunidade de acabar com a guerra. Putin nomear a sobrinha para ministra da Defesa indica uma purga nas chefias militares e políticas e um isolamento muito grande em relação a elas. Esta é a altura para levantar todas as restrições aos ucranianos e deixá-los acabar esta guerra. Biden tem poucos meses para deixar esta questão decidida.


Não há árvores que cheguem

 

Não admira que se rendam em massa aos ucranianos.


🇺🇦 A política de voltar as costas aos problemas tem como resultado levar um tiro nas costas

 

Ukrainska Pravda in English
🚀 @ZelenskyyUa: "As forças ucranianas têm de ser capazes de realizar ataques de longo alcance, os parceiros têm de levantar as suas proibições." 

Putin e Xi Jinping querem uma nova ordem mundial, querem destruir as democracias tal como as conhecemos. Só os ucranianos estão a lutar há quase 30 meses para impedir o desaparecimento das democracias ocidentais. E, no entanto, este mundo livre dá aos seus salvadores apenas 0,01% das suas armas..Jürgen Nauditt 🇩🇪🇺🇦

 

August 17, 2024

Onde está a ONU?

 


Isto é que era de valor

 


O exército russo recusar-se à guerra imperialista, colonialista de Putin. Não há notícias de os ucranianos terem entrado na Rússia a violar mulheres e crianças, a torturar e fazer explodir estruturas civis, etc. A internet está cheia de vídeos das povoações e cidades ocupadas. Vê-se angústia na cara das pessoas que abandonam as casas, mas as casas estão intactas e as pessoas também. Não há ordem de matar civis e destruir tudo como faz Putin, um terrorista encartado.


Uma pergunta: como taxar os bilionários donos de redes sociais

 

Pessoas cujos clientes ultrapassam fronteiras e são uma grande porção das pessoas do mundo e que, por isso, influenciam políticas, políticos, países inteiros e gigantescas massas anónimas de pessoas? Como impedi-los de levar a cabo manobras sistemáticas de desinformação e controlo de opinião pública? Pessoas com um desejo de controlo, logo, de poder, incomensurável? Taxar, segundo o que ouço, talvez só através dos Centros de Dados, que são entidades físicas mas impedi-los de controlo e desinformação só através de regulação, por um lado e, da educação das pessoas, por outro.

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Elon Musk não pára de tweetar. Em apenas sete dias da semana passada, fez cerca de 650 publicações na rede social que comprou em novembro de 2022 e que, sem grande entusiasmo, mudou de nome para X. Além disso, passou quase três horas a lutar contra problemas técnicos que mais tarde atribuiu a um ataque de hackers não comprovado, para ter uma "conversa" com Donald Trump, bem como para se transmitir em direto a jogar algumas horas do jogo de espadas e feitiçaria Diablo IV da Blizzard.

O volume do seu conteúdo já seria suficientemente impressionante por si só, mas mesmo sendo alguém tão viciado em publicar que gastou mais do que o orçamento do projeto Manhattan para comprar o site, a consistência de Musk é alarmante.

Ao longo da semana de tweets analisada pelo Guardian, houve um período de 90 minutos - entre as 3h00 e as 4h29 da manhã, hora local - em que Musk nunca publicou. Em todos os outros períodos de meia hora, de noite ou de dia, enviou pelo menos um tweet. (Guardian)