R. A escola pública não é uma despesa, é um investimento para o futuro. É preciso pagar bem aos professores e ensinar o aluno a respeitá-los. Não sou eu quem diz isso, hein. Platão já dizia. Se acreditamos que computadores e tablets resolverão todos os problemas, estamos em um erro grave. O professor é imprescindível. E é preciso formar os jovens de modo que sejam mais adaptáveis, com menos medo de mudar. Assim, haverá menos frustração. E muito importante: é preciso dar muito mais importância à arte e à cultura. Caso contrário, só nos restará o shopping!
R. Sem dúvida.
P. Não acha que se instalou na sociedade uma espécie de aristocracia tecnológico-computacional?
R. Totalmente, e é um problema. É bom formar elites tecnológicas, mas acho que vamos acabar pagando um preço por essa situação. Porque o ser humano é complexo. Veja, eu observo muitos pesquisadores, matemáticos, físicos e engenheiros de nível bem elevado que cantam em corais. Ou que se inscrevam em cursos de teatro ou de pintura. Não sei por quê, mas acontece. Talvez simplesmente não encontrem um sentido pleno em seu trabalho. E isso é também a democracia. A democracia não é só ter eleições livres, é formar indivíduos que desfrutam, que sejam ricos em suas habilidades, e não apenas instrumentos de voto e de trabalho.
P. O senhor fala do longo prazo como opção social. Infelizmente, não parece que...
R. Ah, eu não sou político. Não tenho um programa. E o que estou propondo não teria um resultado eleitoral direto, é claro. O hiperindividualismo, um assunto sobre o qual escrevi, não é apenas uma retração egoísta. É também um desejo de expressão de si. O hiperindivíduo quer gostar do que faz. E que o que faz lhe agrade. Conheço muitas pessoas que ganham muito dinheiro, pelo que sei, mais de 10.000 euros por mês e que detestam seu trabalho. É claro que não são uns coitados, mas, sim, frustrados. A democracia tem a ver com o enriquecimento da pessoa —um enriquecimento não econômico—, e nesse sentido estamos vivendo um fracasso democrático. A democracia não pode ser só um instrumento de eficiência utilitarista. Da mesma forma que lutamos contra a degradação do meio ambiente, temos que trabalhar contra a degradação das qualidades criativas da pessoa. Os jovens querem sentir estima por si mesmos, a autoestima é um dos grandes temas da nossa sociedade.
P. Refere-se a um apoio político prioritário à educação e à cultura? E é raro encontrar isso. Na Espanha, não, por exemplo, isso está claro.
R. Sim, falo sobre isso, mas não são necessários grandes projetos. Sou contra projetos culturais grandiosos! No final, isso acaba só no star system. Se Mitterrand tivesse dedicado o gasto de suas obras faraônicas em Paris a melhorar a infraestrutura cultural das cidades pequenas ou a melhorar a situação dos subúrbios das grandes cidades, tudo teria sido melhor. Trata-se de mobilizar pintores, escritores, músicos para que ensinem as pessoas a fazer coisas enriquecedoras, especialmente as crianças, como atividades extracurriculares, mas a sério, e não necessariamente a cargo do professor. Os professores não podem fazer tudo. Se um ator de uma companhia profissional de teatro diz a um adolescente em que consiste este ou aquele trabalho do século XVIII, isso adquire um significado totalmente diferente e há uma boa chance de que a criança goste. Investir nisso custa muito menos do que em usinas nucleares, é claro. É uma questão de vontade política, trata-se de fazer com que as pessoas digam o que gostam, não só quem detestam!
P. O que o senhor fala, definitivamente, é de um novo contrato social, não só de política.
R. Uma sociedade cujos eixos exclusivos são as telas, o trabalho e a proteção social é uma sociedade deprimente. É preciso investir em educação. E as possibilidades de investimento em assuntos educacionais são infinitas. Um dos maiores fracassos nas sociedades ocidentais do pós-guerra foi a "democratização da cultura". Pensou-se que, ao abrir muitos museus por muitas horas e com grandes obras, graças ao dinheiro do Estado, muita gente nova se juntaria às visitas, mas não foi assim. Quando se presta atenção, ao longo do tempo as pessoas que vão aos museus são as mesmas de sempre: gente de um certo nível educacional. Os camponeses e os operários da construção em geral vão pouco. É uma questão de educação.
P. Talvez seja mais uma questão de princípios do que de dinheiro. Ou de que o primeiro garante o segundo.
R. Sem dúvida alguma. Pais e professores têm aí uma responsabilidade crucial.
P. O senhor escreveu contra o fato de que os pais eduquem seus filhos com luvas de pelica. O que queria dizer exatamente?
R. É um erro imenso. É indispensável que o professor recupere a autoridade. Há alunos que insultam o professor, e isso é inadmissível. Educar não é seduzir. Há obrigações. Em um dado momento, é preciso obrigar a fazer coisas. Nem tudo pode ser flexível, agradável, discutível. É preciso trabalhar duro, e forçar a trabalhar. O homem é Homo faber, é preciso ensinar a fazer. E é preciso recuperar a retórica, ensinar as crianças a se expressarem e a raciocinar, porque o computador não vai fazer isso por eles. O homem é Homo loquens, o ser que fala.
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