February 23, 2021

Beba poesia sem moderação

 




Like a web

 


Roman mosaic of the Minotaur in the labyrinth from Conimbriga, Portugal.

Image: Sporadicq


Uma carta aberta a apelar à censura

 


É assim que a vejo. Um punhado de pessoas do PS e simpatizantes insurge-se contra o facto dos jornalistas não serem todos subservientes do governo PS. Se bem que seja verdade que os jornais só falam da pandemia até à náusea, o que indigna estes senhores é os jornalistas terem um tom, que eles consideram acusatório, face aos descalabros da acção governativa [classificação minha], quando falam dos assuntos da pandemia - desde a ruptura dos hospitais à falta de equipamento médico. Porque é evidente que tudo isso são mentiras da oposição para prejudicar o Salvador, a senhora da Saúde (não estou a falar da Nossa Senhora) e o Agnus dei. Como se o governo não tivesse já a mão em quase toda a comunicação social, estas pessoas imbuídas de espírito socialista querem que a hegemonia seja total.



esta imagem não é minha


Beber água publicamente já foi um acto de autonomia audaz

 



Rendall Harper, fotografado por Cecil J Williams nos EUA - anos 50, séc. XX

Governo tem dinheiro mas não o usa

 


Fui ao mercado. O senhor que vende as minhas maçãs disse-me que este ano estão quase a acabar, o que estranhei porque geralmente duram, mais ou menos, até Junho. O problema é que os produtores, que são da zona de Alcobaça, não têm dinheiro para pagar aos distribuidores e muitos destes deixaram de trabalhar porque também não têm dinheiro. Estamos a falar de pequenos produtores de uma fruta de pequena produção. Entretanto, esses dois factores conjugados, fizeram subir imenso o preço das maçãs e paguei quase um euro por maçã.


À volta a minha taxista disse-me que recebeu hoje uma ajuda do governo, de um programa que se chama, Ajuda... qualquer coisa. Já não lembro o nome. É um programa de ajuda a pequenos empresários: trezentos e vinte euros referente a quatro meses de trabalho! 

Disse-me que até tirou um fotografia e tudo.

O governo tem dinheiro para ajudar mas resolveu pôr o país em austeridade.

Incompreensível.

Os partidos da esquerda uniram-se contra a dedução em IRS do equipamento informático para os estudantes

 


É sempre bom saber com quem se conta, na hora da verdade.


Obrigados a adquirir equipamento informático de trabalho, mas sem poder deduzi-lo no IRS

Na votação das propostas dos Projectos de Lei do CDS/PP e PAN, no dia 18,  os partidos da esquerda uniram-se para evitar que os estudantes, qua gastam dinheiro para se equiparem com os instrumentos obrigatórios para o trabalho, pudessem, pelo menos, deduzi-los no IRS.

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Cartas onde se diz que os professores são essenciais ao funcionamento da sociedade sem nunca se falar de professores




Sedo certo que nas escola trabalham outros funcionários (da secretaria, auxiliares, seguranças), são os professores quem assegura a educação das crianças e adolescentes. A escola não é uma entidade abstracta. 


Somos um grupo de cidadãos e cidadãs, pais, professores, epidemiologistas, psiquiatras, pediatras e outros médicos, psicólogos, cientistas e profissionais de diferentes áreas, que se dirigem a V. Exas. para que a escola, um serviço essencial, reabra rapidamente em moldes presenciais, com segurança e de forma contínua, começando pelos mais novos.


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Para além da carta dizer opiniões erradas sobre o que se passa nas escolas (Filinto Lima é um director fofinho da tutela) ainda diz mentiras, nomeadamente que nas escolas há condições para cumprir todas as regras com rigor e que quase não houve casos de covid nas escolas.

Enfim, ontem na reunião do Infarmed, a maioria dos especialistas referia que apesar da situação ter melhorado no número de infetados, óbitos e internados, ainda era cedo para reabrir e que não se podia ainda facilitar, porque os hospitais estão sobrecarregados e não têm folga no caso de aumento do número de infectados e pessoas a precisar de tratamento e internamento. Também que não conseguem dar atenção a outras doenças como as oncológicas que precisam, urgentemente, de ser atendidas. Estamos a falar de mais de 400 mil pessoas.

Fui ver quem são os professores de escolas que assinaram a carta. São estes 12, entre os quais quatro directores:

Teresa Maria Cabral Vozone (Directora do Jardim de Infância O Pinhão),
Ana Teresa Ribeiro dos Santos Morgado (Educadora de Infância),
Ariana Furtado (Professora do 1.º Ciclo e Coordenadora da Escola Básica do Castelo),
Aurora Cerqueira (Professora do Ensino Básico e Secundário em Aveiro),
Helena Sapeta (Professora do 1.º Ciclo),
Teresa Maria Cabral Vozone (Directora do Jardim de Infância O Pinhão),
Inês Castro (Professora e Diretora do Agrupamento do Monte da Caparica),
Manuel Martins (Professor, Presidente da CAP da E. S. Peniche),
Maria Alexandra Amaral (Professora do Agrupamento de Escolas Luís de Camões),
Maria Oliveira (Professora do Ensino Básico e Secundário),
Filinto Lima (Professor e Diretor),
Eloísa Cristiana de Faria Gonçalves (Professora na Escola Secundária de Carlos Amarante)

Também acho piada que na carta nunca se fale dos professores a não ser para lhes chamar velhos,

Argumentamos que a escolha entre a vida dos mais velhos e a educação das crianças e jovens é um falso dilema e que é possível conciliar os direitos à saúde e à educação, 

De resto, falam sempre que a escola é essencial para isto e para aquilo, mas nunca que os professores são essenciais. A escola é um entidade abstracta e os alunos têm aulas abstractamente... deus nos livre de referirem os professores como trabalhadores importantes, mesmo essenciais..  ... depois tinham que tratá-los decentemente, em termos de carreiras, salários, VACINAS...

Estes mesmos que assinam a carta com este tom de pânico por as crianças e adolescentes não estarem a ser orientados por professores (dizem até que é nas escolas que os alunos aprendem medidas promotoras de saúde) hão-de ser os mesmos a gritar contra os professores (director incluído), quando os professores exigirem salários e carreiras justas relativamente ao trabalho essencial que fazem.

Verdades que andamos a dizer há séculos, 

Décadas de pesquisas em psicologia do desenvolvimento relataram como a educação pré-escolar e a escola permitem melhorias cognitivas, mas também motoras, sociais e emocionais (mais motivação académica, menos agressividade, menor prevalência de comportamentos de risco e de dependência).

O ensino a distância é menos eficaz do que o ensino presencial e tem sido um multiplicador de desigualdades de todos os tipos

Portugal é um dos países da União Europeia com menos condições para ensino a distância, devido ao baixo nível de qualificações dos pais

...privação material em que vivem muitas famílias com crianças, sofrendo de pobreza energética e habitacional, mas também à cobertura desigual da rede de 4G e de fibra. Mais de um quarto das crianças até aos 12 anos vivem em casas com problemas de humidade e infiltrações, 16% em alojamentos sobrelotados, 13% em casas não adequadamente aquecidas. Há 9% das crianças abaixo dos 12 anos cujas famílias não têm capacidade financeira para oferecer uma alimentação saudável...

... sempre negadas pelas tutelas para terem pretexto de desvalorizar a profissão e nos cortar salários, de repente estas luminárias descobriram-nas e acham que o governo vai atendê-las agora numa semana - ou não acham mas estão-se nas tintas para os professores. 

E concluem com um caderno de mais de uma dezena de reivindicações, a partir deste princípio:

Providenciar meios efetivos às escolas para, cumprindo as orientações, permitir em todo o país o regresso ao ensino realmente presencial. 

Pois, é isso: condições e meios efectivos... cadê?

Bom dia 🙂

 


February 22, 2021

Os antigos construíam para durar

 


Os antigos, tendo em consideração a construção rigorosa do corpo humano, elaboraram todas as suas obras, especialmente os seus templos sagrados, de acordo com estas proporções; pois encontraram aqui as duas figuras principais sem as quais nenhum projecto é possível: a perfeição do círculo, o princípio de todos os corpos regulares, e o quadrado equilátero". - Luca Pacioli

Foto: Ramesses II no templo de Abu Simbel, Egipto, 1865 (colorido)



Tempo e espaço




imagem da net



Just saying...

 


Eu sei que esta carapuça me assenta, mais coisa menos coisa, mas também sei que não sou pessoa de dizer coisas pelas costas dos outros e o que digo digo-o claramente. Toda a gente percebe. E mesmo quando o digo de maneira enviesada -como dizer que a Isabel do Carmo carregava explosivos porque na época não havia ginásios- toda a gente percebe.


Muitas pessoas vêm aqui, lêem posts e depois pensam que estou a falar deles e só sei isso porque depois começo a ouvir bocas. E levo tempo a perceber que são bocas para mim, que sou lenta nessas coisas. Mas a questão é que não estou a falar de ninguém. Se quisesse falar era evidente que estaria a fazê-lo. Às vezes uma música é só uma música. 

E se alguém tem alguma queixa, venha ter comigo e diga-o directamente que é a única maneira de resolver assuntos, em vez de mandar bocas como fizeram aqueles daquele grupo que ficaram irritadas/os por estarem habituados a acharem-se bestiais (mas não são) e em vez de falar comigo postaram um cartaz para ver se me envergonhavam publicamente, 'alguém precisa de ouvir que só é objectiva porque não tem problemas na vida (lol) e faça favor de ser humilde...é isso... quando não sabemos pensar os problemas fazemos shaming aos outros para disfarçar...  ... querem dizer-me alguma coisa digam-me. Não lido bem com cenas passivas-agressivas. E chateia-me ter que estar sempre a dizer isto. Que grande chatice.


Musica ao entardecer - Dierks Bentley ft. Elle King





Meditativo




"Existe uma parte de todos nós que vive fora do tempo."

Milan Kundera
















via apontamentos

Muito está por contar acerca da guerra do ultramar



Um testemunho impressionante de um guineense traído por nós.


Comandos Africanos: “Os portugueses traíram-nos, fomos abandonados sem piedade”

Mário Sani é um dos mais de 600 Comandos Africanos das Forças Armadas portuguesas na Guiné que Portugal abandonou à sua sorte, depois de a colónia que explorava ter conquistado a independência.
Por Sofia da Palma Rodrigues.


O “crime” que Mário cometeu foi ter integrado, em 1971, a primeira Companhia de Comandos Africanos das Forças Armadas portuguesas na Guiné.
...
Com as independências e a retirada das tropas metropolitanas de África, os africanos que incorporaram o exército português foram deixados para trás pelo país ao qual juraram fidelidade; e considerados traidores de raça e de classe pelas novas ordens políticas. Enquanto em Angola a maioria acabou assimilada pelas tropas locais, em Moçambique se constituíram Comissões de Verdade e Justiça e foram feitos pedidos de desculpa públicos, na Guiné-Bissau estes homens foram perseguidos, torturados e fuzilados.

O que é uma árvore?

 




A slice of life

 


“Human beings must involve themselves in the anguish of other human beings. This, I submit to you, is not a political thesis at all. It is simply an expression of what I would hope might be ultimately a simple humanity for humanity's sake.”

~ Rod Serling


Martin Scorsese acerca da sobrevivência do cinema e da pobreza das plataformas de streaming

 


Num texto forte, Scorsese castiga as plataformas de streaming

Num longo ensaio sobre Federico Fellini, o cineasta recordou que a omnipotência das plataformas de streaming ameaça seriamente a nossa visão das obras de arte.

Martin Scorsese está seriamente preocupado com o futuro do cinema. Já em 2019, tinha comparado os filmes Marvel a "parques de diversão" e lamentou a omnipresença de blockbusters na paisagem cinematográfica, com desagrado de mestres como Joss Whedon ou James Gunn. 

Hoje, numa altura em que a indústria está a abrandar devido à pandemia, publica um ensaio sobre Fellini para a Harper's Magazine, intitulado Il Maestro e, mais uma vez, defende a sua visão da sétima arte.

Volta em particular à definição do termo "cinema", que hoje parece perigosamente reduzida à de "conteúdo": "Até há quinze anos, o que é muito recente, o termo "conteúdo" só era entendido quando as pessoas discutiam o cinema de uma forma séria, em comparação com a "forma". 
Depois, pouco a pouco, foi sendo utilizado cada vez mais por pessoas que assumiram o controlo de empresas de comunicação social, a maioria das quais nada sabia sobre a história da arte, ou mesmo não se importava", escreve ele, visando explicitamente os gigantes do streaming. 

Embora o cineasta recorde que também ele beneficiou do apoio da plataforma - Netflix produziu o seu último filme, The Irishman e a Apple irá produzir o próximo, Killers of the Flower Moon - ele denuncia esta nova era em que "o cinema é sistematicamente desvalorizado, marginalizado, depreciado e reduzido ao seu mínimo denominador comum: conteúdo". Este termo refere-se a "um filme de David Lean, um vídeo de gato, um comercial do Super Bowl, uma sequela de super-herói, um episódio em série", acrescenta ele.


A ilusão de escolha democrática

"A apresentação de todo o tipo de filmes como conteúdo criou esta situação em que tudo é apresentado ao mesmo nível ao espectador. Cria a ilusão de escolha democrática, mas não é esse o caso. Porque este conteúdo é sugerido por algoritmos baseados no que já se viu", continua ele.
"Então é sugerido de acordo com o tema do filme ou do seu género, mas o que é que isso tem a ver com a arte do cinema? A cura não é "antidemocrática" ou "elitista", um termo que é tão frequentemente utilizado hoje em dia que perde o seu significado. É um acto de generosidade! Partilha-se o que se ama, o que o inspira. A propósito, as melhores plataformas de streaming, como o Criterion Channel ou MUBI, ou canais tradicionais como o MTC, fazem uma verdadeira cura. Os algoritmos, por definição, baseiam-se em cálculos, que tratam o espectador como um consumidor e nada mais".


Os tesouros da nossa cultura 

Martin Scorsese lembra-nos finalmente que deseja defender "o cinema e a importância que este tem na nossa cultura" e apela àqueles que conhecem a história do cinema a partilhá-la em massa: "Temos também de fazer compreender àqueles que detêm os direitos sobre estes filmes que eles representam muito mais do que um produto que pode ser explorado e depois deitado fora. Eles são os maiores tesouros da nossa cultura e devem ser tratados dessa forma. Penso que deveríamos redefinir a nossa noção do que é o cinema. E o que não é. 
Federico Fellini é uma boa maneira de iniciar esta reflexão. Pode dizer muitas coisas sobre os seus filmes, mas há uma coisa que é indiscutível: são obras de cinema. O seu trabalho a longo prazo tem sido a definição desta forma de arte.
Chamando ao falecido Fellini um "virtuoso do cinema", Scorsese conclui: "Tudo mudou - o cinema e a sua importância na nossa cultura. 
Claro que não é surpreendente que artistas como Godard, Bergman, Kubrick e Fellini, que em tempos governaram a nossa grande forma de arte como deuses, acabaram por se retirar para as sombras ao longo do tempo. Mas neste momento não podemos tomar nada como garantido.

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O que ele diz do cinema é o que se passa ao nível da cultura em geral e da educação em particular: dar às pessoas o que elas querem. Só que, em primeiro lugar não sabemos o que elas querem. Pelo facto de verem novelas daí não se segue que é o que querem ver: é aquilo a que têm acesso, de modo que é o que vêem e no reino do digital o algoritmo é rei. Em segundo lugar, em áreas da arte e da educação, em particular, dar às pessoas só que eles querem, ou seja, o que elas já conhecem e já gostam, é impedi-las de aceder a formas mais complexas, mais ricas, mais inspiradoras, etc.. da cultura. Como li outro dia um professor universitário, falar de modo simples, com palavras que as pessoas conhecem em frases simples que não as obrigue a fazer esforço é uma opção ética porque o oposto é envergonhá-las e desmotivá-las para a aprendizagem. Nunca vi argumento mais empobrecedor que este, a não ser nas criancices do SE da educação que também pensa assim: para quê dar a conhecer os poetas se os alunos gostam mais de escrever as suas 'opiniões' em plataformas digitais.

Devia escolher-se com um cuidado extremo as pessoas responsáveis por estas áreas da cultura e da educação. No Norte da Europa onde estas pedagogias do coitadinho já estão há muito implementadas na educação, assiste-se a uma gradual diminuição da fasquia geral do QI.

Como diz Scorsese, um autor partilha o que o inspira, aquilo que pensa, a sua maneira particular de ver e pensar o mundo e as relações entre as pessoas e tem uma linguagem própria que nem sempre é fácil. Não tem que ser fácil, nem ir ao encontro do que as pessoas quererem, porque na maior parte das vezes nem elas sabem o que querem antes de terem conhecimentos suficientes para perceberem que não sabiam o que pensavam saber.