Um dos senhores do PS escreve um artigo a inventar que há um movimento anti-parlamentar muito forte em Portugal, que está cheio de populistas que querem acabar com o Parlamento e com a democracia. O PS, diz ele, está na primeira linha de defesa do regime democrático e que sempre houve bons e maus deputados. Como se fosse disso que se tratasse quando o governo manda os deputados do seu partido no Parlamento cozinhar um relatório à sua medida e estes obedecem submissamente.
Deixa-me rir à gargalhada. Primeiro porque não há nenhum movimento anti-parlamentar no país, o que há é um povo de olhos abertos a ver o partido do governo, no Parlamento, a entregar a sua soberania aos caprichos do governo de Costa sem nenhum respeito, nem pelo Parlamento, nem por nós, o povo que deviam representar. Segundo, porque populista é este artigo vir a disparar tiros gritando, 'aqui d'el Rei' para distrair do facto deste governo ser um comboio descarrilado, cheio de gente que não devia sequer poder estar próximo de dinheiros públicos, quanto mais geri-los.
Segundo este senhor, o problema não está em os deputados do partido do governo usarem a sua maioria absoluta para destruirem, por dentro, a democracia, o problema está em nós repararmos e falarmos nisso. Este senhor, Vitalino Canas, foi posto pelo PS no TC, de maneira que este truque de inventar factos como manobra de diversão, que seria só uma chico-espertice à maneira de Galamba quando manda 'classificar' tudo para ninguém ver a porcaria que faz, é um bocado assustador. Se ele faz isto, o que mais fará num cargo com tanto poder?
O grau de exigência que a democracia coloca sobre os governantes vai muito além da ostentação de um autoelogiado espírito crítico, dirigido aos encore de uma plateia.
Vitalino Canas
É por isso que uma das grandes fraturas das democracias na atualidade é entre aqueles que continuam a entender que a instituição parlamentar, mal ou bem, é a linha da frente da democracia e aqueles que não. Como sempre sucedeu em todos os parlamentos, há maus e bons deputados, que fazem funcionar, uns mal, outros bem, os mecanismos parlamentares, sob a vigilância dos eleitores. Ainda não se descobriu melhor forma de representar democraticamente o soberano.