February 23, 2021

Cartas onde se diz que os professores são essenciais ao funcionamento da sociedade sem nunca se falar de professores




Sedo certo que nas escola trabalham outros funcionários (da secretaria, auxiliares, seguranças), são os professores quem assegura a educação das crianças e adolescentes. A escola não é uma entidade abstracta. 


Somos um grupo de cidadãos e cidadãs, pais, professores, epidemiologistas, psiquiatras, pediatras e outros médicos, psicólogos, cientistas e profissionais de diferentes áreas, que se dirigem a V. Exas. para que a escola, um serviço essencial, reabra rapidamente em moldes presenciais, com segurança e de forma contínua, começando pelos mais novos.


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Para além da carta dizer opiniões erradas sobre o que se passa nas escolas (Filinto Lima é um director fofinho da tutela) ainda diz mentiras, nomeadamente que nas escolas há condições para cumprir todas as regras com rigor e que quase não houve casos de covid nas escolas.

Enfim, ontem na reunião do Infarmed, a maioria dos especialistas referia que apesar da situação ter melhorado no número de infetados, óbitos e internados, ainda era cedo para reabrir e que não se podia ainda facilitar, porque os hospitais estão sobrecarregados e não têm folga no caso de aumento do número de infectados e pessoas a precisar de tratamento e internamento. Também que não conseguem dar atenção a outras doenças como as oncológicas que precisam, urgentemente, de ser atendidas. Estamos a falar de mais de 400 mil pessoas.

Fui ver quem são os professores de escolas que assinaram a carta. São estes 12, entre os quais quatro directores:

Teresa Maria Cabral Vozone (Directora do Jardim de Infância O Pinhão),
Ana Teresa Ribeiro dos Santos Morgado (Educadora de Infância),
Ariana Furtado (Professora do 1.º Ciclo e Coordenadora da Escola Básica do Castelo),
Aurora Cerqueira (Professora do Ensino Básico e Secundário em Aveiro),
Helena Sapeta (Professora do 1.º Ciclo),
Teresa Maria Cabral Vozone (Directora do Jardim de Infância O Pinhão),
Inês Castro (Professora e Diretora do Agrupamento do Monte da Caparica),
Manuel Martins (Professor, Presidente da CAP da E. S. Peniche),
Maria Alexandra Amaral (Professora do Agrupamento de Escolas Luís de Camões),
Maria Oliveira (Professora do Ensino Básico e Secundário),
Filinto Lima (Professor e Diretor),
Eloísa Cristiana de Faria Gonçalves (Professora na Escola Secundária de Carlos Amarante)

Também acho piada que na carta nunca se fale dos professores a não ser para lhes chamar velhos,

Argumentamos que a escolha entre a vida dos mais velhos e a educação das crianças e jovens é um falso dilema e que é possível conciliar os direitos à saúde e à educação, 

De resto, falam sempre que a escola é essencial para isto e para aquilo, mas nunca que os professores são essenciais. A escola é um entidade abstracta e os alunos têm aulas abstractamente... deus nos livre de referirem os professores como trabalhadores importantes, mesmo essenciais..  ... depois tinham que tratá-los decentemente, em termos de carreiras, salários, VACINAS...

Estes mesmos que assinam a carta com este tom de pânico por as crianças e adolescentes não estarem a ser orientados por professores (dizem até que é nas escolas que os alunos aprendem medidas promotoras de saúde) hão-de ser os mesmos a gritar contra os professores (director incluído), quando os professores exigirem salários e carreiras justas relativamente ao trabalho essencial que fazem.

Verdades que andamos a dizer há séculos, 

Décadas de pesquisas em psicologia do desenvolvimento relataram como a educação pré-escolar e a escola permitem melhorias cognitivas, mas também motoras, sociais e emocionais (mais motivação académica, menos agressividade, menor prevalência de comportamentos de risco e de dependência).

O ensino a distância é menos eficaz do que o ensino presencial e tem sido um multiplicador de desigualdades de todos os tipos

Portugal é um dos países da União Europeia com menos condições para ensino a distância, devido ao baixo nível de qualificações dos pais

...privação material em que vivem muitas famílias com crianças, sofrendo de pobreza energética e habitacional, mas também à cobertura desigual da rede de 4G e de fibra. Mais de um quarto das crianças até aos 12 anos vivem em casas com problemas de humidade e infiltrações, 16% em alojamentos sobrelotados, 13% em casas não adequadamente aquecidas. Há 9% das crianças abaixo dos 12 anos cujas famílias não têm capacidade financeira para oferecer uma alimentação saudável...

... sempre negadas pelas tutelas para terem pretexto de desvalorizar a profissão e nos cortar salários, de repente estas luminárias descobriram-nas e acham que o governo vai atendê-las agora numa semana - ou não acham mas estão-se nas tintas para os professores. 

E concluem com um caderno de mais de uma dezena de reivindicações, a partir deste princípio:

Providenciar meios efetivos às escolas para, cumprindo as orientações, permitir em todo o país o regresso ao ensino realmente presencial. 

Pois, é isso: condições e meios efectivos... cadê?

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