Estamos passados o meio de Novembro. Cai uma chuvinha miúda que bate de mansinho na grade da varanda. É uma chuva sossegada, pessoana. O meu jasmim resolveu florescer agora. Bom dia.
Estamos passados o meio de Novembro. Cai uma chuvinha miúda que bate de mansinho na grade da varanda. É uma chuva sossegada, pessoana. O meu jasmim resolveu florescer agora. Bom dia.
Porque é que o sapateado desapareceu?
That’s insane😳 pic.twitter.com/1fP4caKGH9
— Big_Hetty (@HenriettaSheman) May 31, 2025
World Skate
Shou Xin (手訫) from Henan, China
Gato à chuva
pequeno conto
de Ernest Hemingway
Havia apenas dois americanos hospedados no hotel. Não conheciam nenhuma das pessoas por quem passavam nas escadas, no caminho de ida e volta para o quarto. O quarto deles era no segundo andar, virado para o mar. Também estava virado para o jardim público e para o monumento à guerra. No jardim público, havia grandes palmeiras e bancos verdes. Quando estava bom tempo, havia sempre um artista com o seu cavalete. Os artistas gostavam da forma como as palmeiras cresciam e das cores vivas dos hotéis virados para os jardins e para o mar. Os italianos vinham de muito longe para olhar para o monumento à guerra. Era feito de bronze e brilhava à chuva. Estava a chover. A chuva pingava das palmeiras. A água formava poças nos caminhos de cascalho. O mar quebrava numa longa linha à chuva e deslizava de novo pela praia para subir e quebrar de novo numa longa linha à chuva. Os carros desapareceram da praça junto ao monumento à guerra. Do outro lado da praça, à porta do café, um empregado de mesa olhava para a praça vazia.
A mulher americana estava à janela a olhar para fora. Lá fora, mesmo por baixo da janela, um gato estava agachado debaixo de uma das mesas verdes a pingar. O gato tentava tornar-se mais compacto para não apanhar os pingos.
“Vou lá abaixo buscar o gatinho”, disse a mulher americana.
“Eu faço-o”, ofereceu o marido da cama.
“Não, eu apanho-o. O pobre gatinho está a tentar manter-se seco debaixo de uma mesa.”
O marido continuou a ler, apoiado nas duas almofadas no lado dos pés da cama.
“Não te molhes”, disse ele.
A mulher desceu as escadas e o dono do hotel levantou-se e fez-lhe uma vénia quando ela passou pelo escritório. A sua secretária ficava no fundo do escritório. Era um homem velho e muito alto.
Il piove, diz a mulher. Ela gostava do dono do hotel.
Si, si, Signora, brutto tempo. O tempo está muito mau”.
Ele estava atrás da sua secretária, no fundo da sala escura. A mulher gostava dele. Gostava da forma mortalmente séria como ele recebia as queixas. Gostava da forma como ele a queria servir. Gostava da forma como ele se sentia em relação a ser hoteleiro. Gostava do seu rosto velho e pesado e das suas mãos grandes.
Gostando dele, abriu a porta e olhou para fora. Estava a chover com mais força. Um homem com uma capa de borracha atravessa a praça vazia em direção ao café. O gato deve estar à direita. Talvez ela pudesse ir junto, por baixo do beiral. Quando está à entrada da porta, um guarda-chuva abre-se atrás dela. Era a criada que cuidava do quarto.
“Não deve molhar-se” e sorriu, falando italiano. Claro que foi o dono do hotel que a mandou.
Com a criada a segurar o guarda-chuva, andou ao longo do caminho de cascalho até estar debaixo da janela. A mesa estava lá, pintada de verde brilhante pela chuva, mas o gato tinha desaparecido. De repente, sentiu-se desiludida. A empregada olhou para ela.
Ha perduto qualque cosa, Signora?
“Havia um gato”, disse a rapariga americana.
“Um gato?”
Si, il gatto.
“Um gato?” a empregada riu-se. “Um gato à chuva?”
“Sim”, disse ela, ‘debaixo da mesa’. Depois, “Oh, queria muito um gato. Queria ter um gatinho.”
Quando ela falou em inglês, a cara da criada ficou tensa.
Anda, Signora, disse ela. “Temos de voltar para dentro. Vai ficar molhada”.
“Acho que sim”, disse a rapariga americana.
Voltaram pelo caminho de cascalho e entraram pela porta. A empregada ficou cá fora para fechar o guarda-chuva. Quando a rapariga americana passou pelo escritório, o padrone fez uma vénia da sua secretária. A rapariga sentiu-se muito pequena e apertada. O padrone fazia-a sentir-se muito pequena e, ao mesmo tempo, muito importante. Teve uma sensação momentânea de ser de suprema importância. Subiu as escadas. Abriu a porta do quarto. George estava na cama, a ler.
“Apanhaste o gato?” perguntou ele, pousando o livro.
“Já tinha desaparecido."
“Pergunto-me para onde terá ido”, disse ele, descansando os olhos da leitura.
Ela sentou-se na cama.
“Today is one of those excellent January partly cloudies in which light chooses an unexpected part of the landscape to trick out in gilt, and then shadow sweeps it away. You know you’re alive. You take huge steps, trying to feel the planet’s roundness beneath your feet.”
Annie Dillard, Pilgrim at Tinker Creek