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January 25, 2025

The hedgehogs dilema

 

One cold winter’s day, a number of hedgehogs huddled together quite closely in order through their mutual warmth to prevent themselves from being frozen. But they soon felt the effect of their quills on one another, which made them again move apart. Now when the need for warmth once more brought them together, the drawback of the quills was repeated so that they were tossed between two evils, until they had discovered the proper distance from which they could best tolerate one another.

Arthur Schopenhauer

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Num dia frio de inverno, alguns ouriços juntaram-se muito perto uns dos outros para, através do seu calor mútuo, evitarem ficar congelados. Mas depressa sentiram o efeito dos seus espinhos uns nos outros, o que os fez voltar a afastar-se. Quando a necessidade de calor os juntou de novo, o inconveniente dos espinhos repetiu-se, de modo que foram postos entre dois males, até terem descoberto a distância adequada a partir da qual se podiam tolerar melhor uns aos outros.

December 31, 2024

"Uma infinita tempestade de beleza"

 

Um século depois de William Blake ver o universo num grão de areia, John Muir, o escritor escocês-americano e ambientalista, fundador das reservas naturais americanas, escreve:

A paisagem do oceano, por mais sublime que seja na sua vasta extensão, parece muito menos bela para nós, animais de cascos secos, do que a da Terra, vista apenas em trechos comparativamente pequenos; mas quando contemplamos o globo inteiro como uma grande gota de orvalho, listrada e pontilhada de continentes e ilhas, voando pelo espaço com outras estrelas, todas cantando e brilhando juntas como uma só, o universo inteiro aparece como uma infinita tempestade de beleza.


O filme, 'Infinite Storm' é baseado num acontecimento real, visto pela lente deste pensamento de John Muir.



Em Outubro de 2010, Pam Bales, uma enfermeira, guia montanhista e membro da Equipa de Busca e Resgate de Pemigewasset Valley do Monte Washington foi fazer uma caminhada pela montanha. Uma necessidade e uma terapia.
Uma sensação de paz tomou conta de mim assim que as minhas botas pisaram na terra. Na base da Jewell Trail do Mt. Washington, o sol de Outubro parecia quente nos meus braços nus. Mas, tendo crescido a explorar as White Mountains de New Hampshire, eu sabia que as condições no alto não seriam nada parecidas com as do vale. Em preparação para uma subida no final da temporada do pico de 2.000 metros conhecido como “lar do pior clima do mundo, carreguei a minha mochila com camadas extras e um par de óculos de proteção para a neve. Saí nesse dia para treinar, com uma mochila pesada e, para aproveitar algumas horas na minha área favorita.
O Monte Washington, com o seu clima imprevisível, ceifou mais de 150 vidas nos últimos 150 anos, o que o torna uma das montanhas mais mortais do país. Sentia-me forte naquele dia, mas podia ver nuvens espessas encobrindo a metade superior do pico. A 5.000 pés de altitude, a cerca de 5 quilómetros, o vento começou a aumentar. Parei para vestir mais uma camada de roupa.
A neve soprava no meu rosto enquanto continuava a subir, mas conseguia seguir a trilha de olhos fechados. Acima da linha das árvores, as rajadas de vento eram violentas e a temperatura caía. Disse a mim mesma que se o tempo piorasse ainda mais, voltaria; retornar ao meu carro era mais importante do que chegar ao topo.
Por volta dos 1.500 pés cheguei ao cruzamento com a trilha Gulfside. Foi quando notei pegadas recentes na neve que me causaram arrepios na espinha. Estava claro que essas pegadas não tinham sido feitas por botas de caminhada resistentes, mas por ténis de rua. Com este clima? Sabia que alguém estava em apuros.Virei-me para seguir as pegadas. Alguns passos depois, vi-o - um homem caído no chão com as costas apoiadas em uma pedra. Uma camada de neve cobria as suas roupas. Gritei e ouvi apenas silêncio.
Agachada ao lado do homem, olhei para o seu corta-vento fino, t-shirt e calças encharcadas. Como é que alguém veio caminhar até aqui tão despreparado? Ele respirava, mas a sua pele parecia de porcelana e tinha uma expressão vazia. Isso era mau sinal.
O filme conta a história deste resgate e salvamento heróico de um rapaz novo, com vinte e tal anos, que foi para a montanha para se deixar morrer, por uma enfermeira e montanhista de cinquenta e tal anos com metade do tamanho dele, em condições de tempestade muito severa numa paisagem gelada e agreste.

À medida que vamos acompanhando esta história de fortaleza de espírito humano, determinação, compaixão e resiliência, o realizador vai-nos mostrando a beleza dos picos eternos da montanha, a beleza da tempestade e das paisagens de infinitos mantos brancos de neve e a beleza do espírito e esforço humanos na conquista das adversidades.

No filme, uma semana depois de ela o ter resgatado e salvo eles têm um encontro emocional. Ele conta-lhe porque queria suicidar-se e ela conta-lhe que perdeu as duas filhas pequenas numa fuga de gás e houve uma altura que também queria morrer. O filme acaba com ela a dizer-lhe, "mesmo no meio do maior sofrimento, da maior tempestade, o Universo é uma infinita tempestade de beleza."

Na realidade eles nunca se encontraram e ela nunca soube o nome dele. Passado pouco tempo do acontecimento ele enviou uma carta, assinada John, o nome que ela lhe deu na montanha quando ele era incapaz de falar, com um donativo à Equipa de Busca e Resgate de Pemigewasset Valley. Nela explicava o sucedido, contava a proeza heróica dela e agradecia-lhe ter-lhe dado de volta a vida e a esperança.
Em algum momento de nossas vidas, cada um de nós já se viu caminhando com uma sensação de desamparo ao longo de uma montanha agreste, no meio de uma tempestade pessoal. Sozinhos, desprovidos de uma sensação de calor e segurança emocionais e sufocados pela escuridão das nossas emoções, alguns procuram aquele lugar fora da trilha como uma maneira de se libertarem. Tragicamente, alguns conseguem-no; outros conseguem salvar-se sozinhos e outros, como John, são resgatados por pessoas como Pam Bales.
O filme é meditativo, real e belo. Não foi um grande sucesso de bilheteira. Os críticos consideraram que lhe faltava a conclusão de tudo ter acabado bem e viverem felizes. 

An Infinite Storm of Beauty




I do not mean to scare you, but there’s winter in my bones- And when life gets too heavy, you can hear my glaciers groan. Sometimes I don’t go out, because my heart has been snowed in- And it doesn’t take too much, for avalanches to begin. But do not get me wrong, there’s beauty in the endless white- the ice along my lashes helps reflect back all the light. And it’s easy to find magic, skating on the frozen lakes, or in sticking out your tongue to catch the softly falling flakes. The forest floor is freezing, but the trees are wearing coats- And I’ve seen the whistling wind, wearing a scarf around his throat. So do not waste your worry on all my blizzards and storms- I’ve got my own internal flame, that always keeps me nice and warm.

- “The Winter Within” by Erin Hanson


from, 'Infinite Storm'

October 10, 2024

As coisas belas, por que motivo serão belas? E belas para quê?

 

As coisas belas,
As que deixam cicatrizes na memória dos homens,
Por que motivo serão belas?
E belas para quê
(...)
António Gedeão


Photo by: Lurdes Santander

September 27, 2024

"Death in Leamington"

 





She died in the upstairs bedroom
By the light of the ev'ning star
That shone through the plate glass window
From over Leamington Spa

Beside her the lonely crochet
Lay patiently and unstirred,
But the fingers that would have work'd it
Were dead as the spoken word.

And Nurse came in with the tea-things
Breast high 'mid the stands and chairs-
But Nurse was alone with her own little soul,
And the things were alone with theirs.

She bolted the big round window,
She let the blinds unroll,
She set a match to the mantle,
She covered the fire with coal.

And "Tea!" she said in a tiny voice
"Wake up! It's nearly five"
Oh! Chintzy, chintzy cheeriness,
Half dead and half alive.

Do you know that the stucco is peeling?
Do you know that the heart will stop?
From those yellow Italianate arches
Do you hear the plaster drop?

Nurse looked at the silent bedstead,
At the gray, decaying face,
As the calm of a Leamington ev'ning
Drifted into the place.

She moved the table of bottles
Away from the bed to the wall;
And tiptoeing gently over the stairs
Turned down the gas in the hall.
*
Betjeman

September 10, 2024

As coisas essenciais à vida

 




Paris, 1945? Fotografia de Branson Decou?, ou de Madame Decou?

September 04, 2024

Complexity for breakfast


What level are you at? And for how long? And why? And you still know how to get to the next level? And you think the passage is external?



da net


Hopper was here

 

Edimburgo, 2024, por Craig McIntosh 



August 22, 2024

Um bom princípio para reflexão

 

Nietzsche was the one who did the job for me. At a certain moment in his life, the idea came to him of what he called 'the love of your fate.' Whatever your fate is, whatever the hell happens, you say, 'This is what I need.' It may look like a wreck, but go at it as though it were an opportunity, a challenge. If you bring love to that moment--not discouragement--you will find the strength is there. Any disaster you can survive is an improvement in your character, your stature, and your life. What a privilege! This is when the spontaneity of your own nature will have a chance to flow.

Then, when looking back at your life, you will see that the moments which seemed to be great failures followed by wreckage were the incidents that shaped the life you have now. You’ll see that this is really true. Nothing can happen to you that is not positive. Even though it looks and feels at the moment like a negative crisis, it is not. The crisis throws you back, and when you are required to exhibit strength, it comes.

~Joseph Campbell, Reflections on the Art of Living.

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Nietzsche foi quem fez o trabalho para mim. A certa altura da sua vida, surgiu-lhe a ideia daquilo a que ele chamava "o amor do nosso destino". Seja qual for o teu destino, aconteça o que acontecer, dizes: "É disto que eu preciso". Pode parecer um desastre, mas encara-o como se fosse uma oportunidade, um desafio. Se trouxeres amor a esse momento - em vez de desânimo - verás que tiras daí força. Qualquer desastre a que consigam sobreviver é uma melhoria do vosso carácter, da vossa estatura e da vossa vida. Que privilégio! É nessa altura que a espontaneidade da vossa própria natureza terá a oportunidade de fluir.

Então, ao olhar para trás, verá que os momentos que pareciam ser grandes fracassos seguidos de destroços foram os incidentes que moldaram a vida que tens agora. Verás que isto é realmente verdade. Não te pode acontecer nada que não seja positivo. Mesmo que, no momento, pareça e seja sentido como uma crise negativa, não o é. A crise atira-te para trás, mas quando te é exigido mostrar força, ela aparece.

~Joseph Campbell, Reflexões sobre a Arte de Viver.

(não acredito bem nisto desta mentira mas em parte, sim e é um bom princípio para reflexão)

June 25, 2024

Porque é que o Cristiano Ronaldo é uma figura fascinante?

 

Porque são muito poucas as pessoas, quase nenhuma, que podem dizer que viveram a vida que se propuseram viver. Não é por ele ser um grande jogador, de talento, porque outros talentos no futebol ou em outras áreas viveram e vivem vidas que não se propuseram viver e a maioria sofreu com os talentos com que nasceu e viveu vidas miseráveis, por vezes cheias de dinheiro, mas vazias. Não é o caso dele: sempre quis a vida de futebolista, quis ser o melhor, quis ser um exemplo para os outros, quis uma família e ser um pai melhor que o que teve, quis ajudar a mãe. Fez isso tudo e está a viver a vida que se propôs viver. Os raríssimos casos como ele fazem pensar que talvez a vida possa ter um propósito, porque em geral, a vida parece não ter nenhum propósito. Estamos aqui e às vezes temos a sorte de encontrar ou de ir dar a um caminho e de nos construirmos nele e algumas coisas fazerem sentido, mas sabemos que podíamos ter ido por outro caminho e faríamos outras coisas com outros sentidos. Porém, isso é muito diferente de ter conseguido viver a vida que nos propusemos viver. Talvez também por isso muitos o detestam, porque invejam.


March 24, 2024

Emaranhamentos

 

Teias de vida entrelaçadas.




Károly Pató
Thicket" linocut 87x58 cm

February 29, 2024

O que é preciso para andarmos satisfeitos com a vida?



Cientistas da Universidade Autónoma de Barcelona, em Espanha, e da Universidade McGill, no Canadá, viajaram por todo o mundo para inquirir cerca de 3000 membros de 19 sociedades pobres e de pequena escala localizadas em 18 países diferentes. Visitaram Kumbungu, no Gana, Laprak, no Nepal, Vavatenina, em Madagáscar, e Lonquimay, no Chilé, entre muitos outros locais remotos. 
A expedição científica destinava-se sobretudo a um projeto mais vasto sobre as alterações climáticas, mas os investigadores também avaliaram a satisfação dos indivíduos com a vida.

"A média de satisfação com a vida relatada entre as nossas 19 sociedades de pequena escala inquiridas é de 6,8 em 10, apesar de a maioria dos locais ter rendimentos monetários anuais estimados em menos de 1.000 dólares americanos por pessoa", relataram os investigadores. 
Valores de satisfação com a vida tão elevados só se registam normalmente em países com um PIB per capita superior a 40 000 dólares por ano.

Um gráfico que mostra a percentagem de pequenas e médias empresas nos EUA, sem correlação direta com a satisfação com a vida.


Relação entre a satisfação com a vida e o rendimento, apresentada numa escala logarítmica. (Crédito: Galbraith et al. / PNAS)

Então, o que explica este salto para um nível mais elevado de felicidade? Os antropólogos ocidentais que visitaram comunidades de pequena escala descobriram que estas pessoas obtêm uma grande satisfação de actividades simples como ouvir música, dar um passeio ou simplesmente relaxar. 
As relações com amigos e familiares, bem como o convívio social, também trazem muita alegria. Os membros da comunidade também tendem a valorizar muito o facto de passarem tempo na natureza. Vários estudos demonstram que estar ao ar livre em habitats naturais e imaculados melhora o humor, a saúde e o bem-estar geral.

Uma razão potencial óbvia para que as alegrias simples, como a interação social e a vivência da natureza, desempenhem um papel de relevo na satisfação com a vida em comunidades de pequena escala é o facto de muitas destas sociedades não estarem fortemente monetizadas. 
Numa investigação anterior, membros da mesma equipa de Barcelona e McGill visitaram outras pequenas sociedades e compararam o seu bem-estar coletivo. Descobriram que nas comunidades onde o dinheiro desempenhava um papel mais importante, os factores de felicidade relatados mudavam: As pessoas deixaram de desfrutar de actividades experimentais em contacto com a natureza e passaram a dar prioridade a factores sociais e económicos. Em vez dos simples prazeres da vida, era o dinheiro que trazia felicidade.

A principal conclusão, segundo os investigadores do presente estudo, é que a satisfação com a vida "não exige as elevadas taxas de consumo material geralmente associadas a rendimentos monetários elevados". Quando as necessidades básicas das pessoas - como habitação, alimentação e segurança - são satisfeitas, a alegria pode ser encontrada nas pessoas e nos lugares que nos rodeiam.

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